Florbela Espanca
A MULHER
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
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Florbela é assim, nos causa vertigem, emoções e tantos outros sentimentos logo de cara. E você, gostou desse poema da poetisa portuguesa?
Nascida em 8 de dezembro de 1894 na Vila de Viçosa – Portugal, a poetisa morreu muito nova, com apenas 36 anos, porém, não há de se negar que teve uma vida plena, conturbada, cheia de altos e baixos.
Batizada de Flor Bela Lobo, ela escolhe usar o pseudônimo Florbela D'Alma da Conceição Espanca. Bem a cara dela, não é?
Em seus poemas, Florbela sempre tratou de assuntos sobre a mulher, angustia, sensualidade. E tudo isso causava polêmica no meio acadêmico.
Sua obra, os poemas e contos, é considerada uma das mais importantes de Portugal. Ela também é considerada uma das primeiras feminista portuguesa.
Apenas dois livros da poetisa foram publicados em vida: as antologias "Livro de Mágoa" e "Livro do Sóror Saudade".
Em 1978, a TV portuguesa RTP lançou um filme sobre a poetisa (https://bit.ly/2VsN7kH).
Em 2012, a mesma TV lançou uma biografia intitulada "Floerbela".
https://youtu.be/l1CpVCtjRAU
CARACTERÍSTICAS DA POESIA DE FLORBELA
A poesia de Florbela Espanca é caracterizada por um forte teor confessional. Sua poesia é densa, amarga e triste. Seus temas prediletos foram amor, saudade, sofrimento, solidão e morte, sempre em busca da felicidade.
Florbela escreveu contos, poemas e cartas, mas foi no soneto que encontrou o melhor caminho para sua expressão poética.
A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir em seus poemas os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental.
Florbela Espanca não fez parte de nenhum movimento literário, embora seu estilo lembrasse muito os poetas românticos.
Com caráter sentimental, confessional, sempre marcado pela sua paixão e sua voz feminina, fato este que a tornou a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.
3 GRANDES POEMAS DE FLORBELA
ANGÚSTIA
Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! ... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! ...
E não se apaga, não ... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga ...
Vem sempre perguntando: "O que te resta? ..."
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
EU
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
O MEU ORGULHO
Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos faz nascer as rosas!
As minhas mãos outrora carinhosas
Pairavam como pombas... Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!
O que eu mais amo é que mais me esquece...
E eu sonho: "Quem olvida não merece..."
E já não fico tão abandonada!
Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!
Fontes: Bibliografias, links de sites e vídeos para pesquisas:
https://youtu.be/3NVrSMq2u0Q
https://youtu.be/yLwL34ps4s8
https://youtu.be/8Du6lk_ncUw
eBiografias:
Portal da Literatura:
Revista USP:
Jornal USP:
Tese USP - O Tempo, Fator de Identidade nas Obras de Florbela Espanca e de Cecília Meireles:
P.S. Os links estarão nos comentários.
LIVROS:
· ALEXANDRINA, Maria. A Vida Ignorada de Florbela Espanca. Porto: Edição da Autora, 1964.
· ALONSO, Cláudia Pazos. Imagens do Eu na poesia de Florbela Espanca. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997.
· . Florbela Espanca. Biografia. Lisboa: Guimarães, 2001 (4ª ed.).
· ____. Florbela Espanca. A Vida e a Obra. Lisboa: Arcádia, 1979.
· . Dicionário de Literatura. 3ª ed. Vol. I. Porto: Figueirinhas, 1982.
· FERNÁNDEZ, José Carlos, "Florbela Espanca: A Vida e a Alma de uma Poetisa", Lisboa, Nova Acrópole, 2011.
· FARRA, Maria Lúcia Dal. Afinado desconcerto (contos, cartas, diário). São Paulo: Iluminuras, 2001.
· ____. Florbela Espanca. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1994.
· ____. "Florbela inaugural". Literatura portuguesa Aquém-Mar, Annie Gisele Fernandes e Paulo Motta Oliveira, pp. 197–211. Campinas: Editora Komedi, 2005.
· ____. "Florbela: um caso feminino e poético". Poemas de Florbela Espanca. São Paulo: Martins Fontes, 1996, pp. V-LXI.
· FRANÇA, José Augusto. Os anos vinte em Portugal: estudo de factos sócio-culturais. Lisboa: Editorial Presença, 1992.
· FREIRE, António. Florbela Espanca, poetisa do amor. Porto: Salesianas, 1994.
· ____. O Amor Lusíada em Florbela Espanca. Vale do Cambra: Câmara Municipal de Vale do Cambra, 1997.
· GUEDES, Rui. Acerca de Florbela. Coleção Florbela Espanca. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1986.
· ____. Fotobiografia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1985.
· . Dicionário de Literatura Portuguesa. Lisboa: Editorial Presença, 1995.
· ____. Poesia Romântica Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.
· MATTOSO, José. História de Portugal. Vol. V (de VIII). Lisboa: Editorial Estampa, 1993.
· MOISÉS, Massaud. Literatura portuguesa moderna: guia biográfico, crítico e bibliográfico. São Paulo: Editora Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
· . "Florbela". Conhecimento da Poesia. Baía: Universidade da Baía, 1958.
· NORONHA, Luzia Machado Ribeiro de. Entreretratos de Florbela Espanca: uma leitura biografemática. São Paulo: Annablume, 2001.
· PAIVA, José Rodrigues de. Estudos sobre Florbela Espanca. Recife: Associação de estudos portugueses Jordão Emerenciano, 1995.
· . Ensaios de Interpretaçăo Crítica. Coleção Obras Completas. Lisboa: Portugália Editora, 1964.
· , . História da Literatura Portuguesa. 9ª ed. Porto: Porto Editora, 1976. pp. 967.
· . Florbela Espanca ou a Expressão do Feminino na Poesia Portuguesa. Porto: Fenianos, 1947.
· SILVA, Zina Maria Bellodi da Silva. Florbela Espanca: Discurso do Outro e Imagem de Si. São Paulo: Araraquara, 1987.
· . História da Literatura Portuguesa do Século XX. 1959.
· SOMBRIO, Carlos. Florbela Espanca. Lisboa: Edições Homo, 1948.
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