Apertei o copo d'água em minhas mãos, sentindo como estava gelado e tentando distanciar meu pensamento das pessoas conversando à minha volta. Ajeitei os cabelos uma última vez, encarando meu reflexo bem arrumado no espelho.

Estava cansada daquele mundo: das turnês infinitas, das pessoas à minha cola pedindo favores e de sempre ter um sorriso falso plastificado no rosto. Muito embora eu quem houvesse pedido para que isso acontecesse.

Aos sete anos, eu tinha a certeza de que desejava ser uma celebridade pelo resto da minha vida. Não por já ter o nome de uma famosa – uma homenagem feita por minha mãe à sua atriz favorita, Brigitte Bardot –, mas por querer com todo o meu coração infantil ser atriz e cantora.

Meu pai, um acadêmico apaixonado por história e que desejava que eu seguisse por um caminho menos tortuoso, se negara a permitir que isso acontecesse. Já mamãe, ficara tão deslumbrada com a ideia de ter uma filha estrela, que de alguma forma conseguira convencê-lo a permitir que eu tentasse. Sua única condição fora que eu não deixasse os estudos.

Aceitando seu pedido, havíamos começado a trilhar meu caminho e eu ficara muito feliz por isso. De pouco em pouco, os trabalhos foram surgindo e a fama chegando, acompanhando um aumento na minha conta bancária.

Conforme eu me tornava adolescente, a música fora ficando cada vez mais interessante e, aos doze, havia abandonado a atuação de vez, me dedicando à carreira como cantora de corpo e alma. Porém, com meus dezoito anos recém-completos, já não tinha certeza de que havia feito a escolha certa.

Olhei ao meu redor, notando que minha equipe esperava que eu dissesse algo. Afinal, seria o último show da turnê. Eu deveria dizer palavras bonitas e encorajadoras, mas simplesmente não tinha nada do tipo para falar.

— Obrigada a todos, por tudo. — Sorri, tentando olhar no rosto de cada um dos presentes. — Vamos fazer um show incrível, e espero que aproveitem bastante as férias.

Sob aplausos, completei mentalmente a frase como desejava ter dito: eu tentarei convencer minha mãe de que estudar é o melhor a fazer agora. Torçam por mim.

*

Ao fim do show, estava satisfeita por terminar mais uma turnê, sabendo que provavelmente seria a última por algum tempo. As ruas da cidade do Rio de Janeiro – que era nosso lar desde os meus sete anos – passavam como um borrão conforme o carro acelerava em direção ao conforto de nossa casa.

Eu amava aquela cidade, mas, com a resolução de voltar a estudar, escolhera o estado em que havia nascido como meu destino. Minas Gerais, mais precisamente a cidade de Belo Horizonte, era o lugar em que pretendia morar. A UFMG era a faculdade onde meu pai também havia estudado e dera aulas até falecer, devido a uma doença no coração, quando eu completara quinze anos.

— Fez um ótimo show, querida — mamãe chamou minha atenção, mas tinha os olhos presos em seu celular. Provavelmente tratava de novos contratos, que não seriam assinados.

Preciso conversar com ela logo.

— Obrigada, mamãe.

— Já sabe o que vai fazer durante as férias? Porque tenho algumas reuniões para você, relativas ao próximo álbum.

— Na verdade, precisamos conversar sobre aquele assunto que a senhora tem evitado.

Ela parou de encarar o telefone, parecendo irritada por eu tocar nele. Mamãe pensava que era perda de tempo interromper minha carreira para estudar. Afinal, eu já tinha uma profissão e não precisava mudar o rumo de tudo, era o que ela dizia.

— Hoje não, Brigitte — falou com firmeza, tentando não erguer o tom de voz.

— Mãe, precisa ser hoje — insisti, pois não poderia mais postergar o assunto. — Tenho uma novidade sobre isso.

Minha mãe me encarou por alguns segundos, até que bufou de leve e disse:

— Ok, após chegarmos em casa e deixar suas coisas no quarto, me encontre no escritório.

Assenti, permitindo que ela voltasse ao seu trabalho. Ela era minha empresária, mas, por mais que eu amasse trabalhar com quem talvez me conhecesse melhor do que eu mesma, precisava que fosse apenas minha mãe naquele momento importante.

(Continua...)

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