Capítulo 14

Lúcia tem um sonho

Enquanto a manhã começava a iluminar Nárnia, Lúcia Pevensie, com seus cabelos ruivos esvoaçantes, despertou com um grunhido alto que quase se assemelhava a um rugido, causando um susto que quase a fez pular. Ela olhou ao redor, notando que seus irmãos ainda estavam em um sono profundo, e percebeu a ausência no canto de Lya.
"É óbvio que Lya saiu para investigar o barulho", pensou a jovem, voltando a se surpreender quando escutou novamente o rugido. Dessa vez, decidida e corajosa, Lúcia levantou-se e dirigiu-se em direção às árvores. Parando por um momento, ela olhou para trás, vendo seus irmãos e o anão ainda adormecidos. Considerou chama-los, mas logo lembrou que seria difícil fazê-los acreditar. Em vez disso, decidida a mostrar o que estava acontecendo, seguiu em frente em direção ao som.
Enquanto corria entre as árvores, Lúcia admirava o nascer do sol, pintando o céu de azul e banhando a paisagem com uma luz dourada. O aroma fresco da grama molhada pela orvalho da manhã preenchia o ar; As árvores ao redor pareciam mais vivas nessa parte da floresta, com suas folhas verdejantes dançando suavemente ao vento.

— Lya! — Lúcia chamou, sua voz ecoava entre as árvores.

Lúcia avançou, passando por debaixo de um galho e por cima de uma pedra, enquanto o céu se iluminava cada vez mais com os primeiros raios do sol da manhã. De repente, um riso doce e suave cortou o ar, fazendo com que ela parasse abruptamente.
Quando virou na direção do som, deparou-se com as folhas de uma cerejeira que, aos poucos, pareciam tomar a forma de uma mulher. As árvores ao redor pareciam ganhar vida, como se estivessem se movendo em resposta à presença de Lúcia. As folhas dançavam ao redor de Lúcia, formando padrões hipnóticos no ar, antes de subirem em espiral para o alto e desaparecerem entre os ramos. O ar estava impregnado de uma energia mágica e a menina sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Desta vez, mais duas folhas retornaram para rodear a menina, dançando em um ritmo suave e gracioso ao seu redor. Lúcia ficou maravilhada com a coreografia natural das folhas, observando cada movimento como se fosse uma manifestação viva da própria essência de Nárnia. Ela se sentiu como se estivesse em um balé mágico, onde a música era o murmúrio do vento e os dançarinos, as folhas em movimento.
A menina caminhou lentamente, seus olhos brilhavam com a visão e sua mente estava cheia de admiração. Cada gesto das folhas parecia contar uma história antiga e sagrada, uma narrativa da própria alma da floresta.
As árvores começavam a se mover para abrir espaço para outro canto da floresta, Lúcia seguiu adiante.

— Lucia..– Uma voz grave tomou conta do lugar fazendo um enorme eco e se repetindo.— Lúcia..

Lúcia sentiu um arrepio de reverência percorrer sua espinha quando ouviu aquela voz majestosa ecoando ao seu redor. Ela sabia, no âmago de seu ser, que era Aslam, seu amigo e protetor, o ser mais grandioso que já conhecera.
Com passos cuidadosos, Lúcia subiu uma escada coberta por uma grama macia, que parecia ceder sob seus pés como um tapete verde. Ao alcançar o topo, seus olhos se encontraram com a visão imponente diante dela: um conjunto de árvores majestosas erguidas em volta de uma pedra, e sobre essa pedra, repousava Aslam.
Aslam emanava uma aura de nobreza e poder, seu pelo dourado brilhava à luz do sol da manhã, irradiando uma beleza que ia além do físico. Sua juba era como uma coroa celestial, esvoaçando suavemente com a brisa, uma manifestação de sua majestade e sabedoria.
Seus olhos, profundos e sábios, pareciam conter os segredos do universo, transmitindo uma tranquilidade que acalmava o coração de Lúcia. Seu semblante era sereno, porém carregado de uma autoridade gentil, uma presença que inspirava respeito e admiração em igual medida.
"O ser mais encantador que já se viu", como diria Polly Plummer.
Lúcia sentiu-se humilde diante da presença de Aslam, mas ao mesmo tempo, preenchida por uma sensação de paz e proteção.

Aslam recebeu Lúcia que o abraçou , ela se sentiu envolvida por uma sensação magnifica. Seu abraço era reconfortante, e o rosto de Lúcia se aninhou no pelo macio do leão. Aslam riu com uma risada plena de alegria e saudade, como se cada encontro fosse uma celebração especial.
Ao se afastar um pouco, Lú acariciou o rosto grande e majestoso de Aslam, e sua expressão revelou um misto de carinho e surpresa. Ela percebeu o quanto ele parecia maior do que da última vez que o viu.

— Que saudades de você! — murmurou Lúcia, seus olhos brilhando com ternura enquanto contemplava o rosto do leão.— Você cresceu.

— A cada ano que você crescer, maior eu parecerei. — explicou Aslam de maneira simples, mas suas palavras continham uma profundidade que transcendia a compreensão humana. Seus olhos honestos encontraram os de Lúcia, criando um elo especial entre eles, repleto de amor e confiança. Era como se o tempo não pudesse apagar a conexão única que compartilhavam.

Lúcia olhou para Aslam com um misto de curiosidade e preocupação. Seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão de perplexidade.

— Por onde andou? — indagou, buscando respostas em meio à confusão.— Porque não veio nos ajudar?

— Nada acontece duas vezes da mesma maneira — disse Aslam, suas palavras ecoando com uma profundidade que era característica dele; as palavras carregavam significado, mas ao mesmo tempo deixou Lúcia com mais perguntas do que respostas.

Um ruído estranho interrompeu a conversa, e Lúcia fechou os olhos, absorvendo os sons ao seu redor.

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Quando Lucia abriu novamente os olhos, percebeu que estava deitada, a mão ainda repousando suavemente em seu rosto. Era apenas um sonho, e a realidade cinzenta do dia se desenrolava diante dela, a grama desprovida de cor e maciez, muito diferente da visão vibrante e envolvente que acabara de experimentar.
Lúcia sentou-se, ainda absorvendo a estranha sensação deixada pelo que poderia ter sido apenas um sonho. Quando olhou ao redor não encontrou a Plummer em canto algum; O fato de Lya não estar no acampamento reforçava a ideia que agora Lúcia criava, não era apenas um sonho, mas talvez uma visão?
No entanto, um ruído misterioso vindo das árvores fez com que Lúcia se sobressaltasse. Ela cutucou Susana ao seu lado, procurando compartilhar a estranheza que a envolvia.

— Susana! — chamou, com uma ponta de agonia na voz.

Susana, ainda sonolenta, resmungou e virou-se, sem abrir os olhos completamente.

— O que foi, Lúcia? — respondeu, retornando rapidamente ao sono.

Lúcia suspirou, resignada, e levantou-se ao escutar o barulho persistente que vinha das árvores. Seus passos eram decididos, embora uma sensação de desconfiança a acompanhasse enquanto se aventurava na direção do som desconhecido, consciente de que, mesmo sob a luz do dia, a realidade poderia ser tão misteriosa quanto seus sonhos ou até mesmo iguais seus sonhos, contando que, as situações estavam sendo iguais como ela sonhou.
Lu esperava que as folhas da floresta se agitassem ao seu redor, como se a natureza estivesse viva e consciente de sua presença. No entanto, tudo permanecia estranhamente calmo. Nem mesmo o vento soprava para ajudar as árvores a se moverem, como se a própria floresta estivesse em um estado de suspensão.
Desanimada, Lúcia se aproximou de um dos troncos, como se buscasse consolo. Ela colocou a mão sobre a árvore com carinho, como se esperasse despertar alguma resposta.

— Acorda..– Disse a criança, mas apenas o silêncio envolvente respondeu ao seu chamado.

Um olhar de tristeza e frustração tomou conta do rosto da pequena Lúcia.
A menina continuou a caminhar pela floresta, seguindo o caminho que acreditava ter percorrido em seu sonho, em busca de Aslam.

Enquanto isso, Pedro despertou com coceira no rosto, indicando que sua noite não havia sido tranquila, provavelmente devido a picadas de insetos. Soltando um bocejo, ele percebeu Edmundo dormindo calmamente ao seu lado.

— Preguiçoso... - Pedro resmungou enquanto se levantava.

Ao se virar, arrumando o cabelo que por sinal, estava cheio de plantas, levou um susto percebendo que nem Lya, nem Lúcia estavam por perto. Sentindo-se aflito, lembrou que não via Lya desde que ela foi tomar banho no lago na noite anterior. Com sua irmã e Plummer desaparecidas, ele sentiu a urgência de não alarmar os outros, mas precisava começar a procurá-las.

Quando Pedro avistou Lúcia a poucos metros de distância, um arrepio percorreu sua espinha, e ele avançou cautelosamente, como uma sombra silenciosa. Seus passos eram tão leves que mal produziam som, e ele surgiu por trás de Lúcia, envolvendo-a em seus braços e tapando-lhe a boca, enquanto ambos se agachavam. O coração de Lúcia batia descompassado, mas sua angústia diminuiu ao perceber que era seu irmão mais velho.

— O que você está fazendo aqui? — Pedro sussurrou, seus olhos refletindo preocupação e urgência.

— Eu não consigo encontrar a Lya. — Lúcia murmurou, a menina parecia cheia de confusão e ansiedade.

Antes que Pedro pudesse responder, um ruído metálico ressoou no ar, interrompendo-os abruptamente. Pedro ergueu os olhos e avistou um Minotauro avançando com passos pesados, seu machado reluzindo à luz difusa da floresta. Era uma visão imponente e aterradora, que enchia Pedro de espanto. Ele nunca tinha visto um daquela raça com aquele tamanho, nem mesmo os que serviram a Jadis.

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