O meio-4
03 de maio de 1920
Hotel Tsuki Ogasawara
O que significa ser receptiva? Será que deveria agir de maneira diferente ou sorrir mais? Sua cabeça bagunçada focava com arbitrariedade em assuntos desnecessários e tudo isso para se acalmar e desvincular do verdadeiro problema, ou seja, o fato de que não estava nem um pouco bem depois do que presenciou no restaurante somando com a violência desnecessária da arena.
Mal chegaram na porta do hotel quando a dor de cabeça te fez vacilar e Aizetsu se aproximou tocando seus ombros.
-- Ela parece mal. -- Os olhos azuis te analisaram.
-- Eu só preciso chegar no quarto e obrigada. -- Você respondeu agradecendo pela ajuda, mas, foi só dá um passo que a vertigem vinha mais forte. Como se seu corpo sentisse que poderia descansar, que agora estava bem e isso é facilmente explicado pela ciência uma vez que a adrenalina que te forçava a manter-se firme cessou ao chegar em um "ponto seguro".
-- O que está acontecendo aqui? -- A voz veio de Nakime, a mulher tinha a mesma patente que o clã Hantegu.
-- Não sei Nakime-sama, ela parece estar passando mal. -- Aizetsu comentou enquanto Karaku revirou os olhos pegando você no colo.
-- Vou levá-la para o quarto. -- Avisou sendo seguido por Nakime, uma vez que a mulher não confiava de deixa-la sozinha com nenhum lua, mesmo que soubesse das ordens de Muzan sobre não tocar em ti. Afinal desacordada não poderia dizer nada não é mesmo? E se tem uma coisa que a morena adora é assassinar aqueles que não conseguem respeitar uma mulher, inclusive o primeiro marido dela foi morto exatamente por isso e com Kokushibo jamais precisará se preocupar com algo tão devastador, uma vez que o lua mais forte so almeja o mais puro poder.
Já na cama você repousava enquanto Nakime ficava ao seu lado, primeiro medindo a sua temperatura, depois ordenou que duas das empregadas do local viesse e tirassem suas roupas e te dessem o chamado banho de gato para refrescar seu corpo. As horas foram passando e você não acordava, sequer se mexia sobre a cama estava em um sono profundo, porém viva e inteira, pelo menos o suficiente para não morrer.
Sua mente quebrada, pela vivência e experiências que poderiam ser postas em uma ficha de desgraça, mas ainda assim viva.
A noite caia lindamente quando você acordou, vestindo uma bela camisola longa de seda, se sentou na cama massageando as têmporas quando viu um bilhete dobrado sobre a cômoda lateral esquerda da cama ao qual estava.
"Quando acordar toque o sino, você ainda não se
alimentou e o mestre retornará em breve."
Havia uma assinatura pequena no fim do papel, uma letra e um número a qual entendeu se tratar da hierarquia ao qual ouviu mais cedo.
Você se levantou lentamente e seguiu para o banheiro, massageando as têmpora antes de se olhar no espelho e sorrir, um sorriso completamente falso.
"Por que eu tenho que passar por tudo isso?" -- Sua visão logo embaçou e entendeu que estava chorando, limpou as lágrimas com calma antes de respirar fundo.
"Eu estou bem. Se estivesse a mando de Hina há essa altura teria levado uma surra. Vamos Sn você consegue." -- Apertou as bordas da pia recordando de com foi treinada, não importando o quanto não quisesse, Hina te doutrinou. Queria uma Oiran perfeita, mesmo que o objetivo da cafetina não fosse você, ela fazia com que todas treinassem até a exaustão nos dias em que a casa ficava fechada. É por esse mesmo motivo que sabia as regras de etiqueta tão bem, somado a sua aparência que atraia atenção e a sua personalidade, tornava-se irresistível e para a mulher que dominava a casa, uma verdadeira fábrica de fazer dinheiro.
Piscou uma, duas, três vezes até afastar as memórias de dor e sofrimento, de quando não teve escolha. Quando aquela mulher te achou encolhida no assoalho após ser violentada e ao invés de te oferecer apoio mandou que cuidassem de você para que estivesse pronta quando um cliente solicitasse e foi aqui que seu inferno começou e se não fosse pela até então Oiran da casa chamada Yuzuhira que indignada com o que aconteceu com você lhe ofereceu proteção, sua vida teria sido bem pior, pena que só durou alguns meses, uma vez que o homem por que Yuzuhira era apaixonada comprou-a de Hina e logo ela estava longe de Yoshiwara.
São por memórias como essas que você mantinha-se firme encarando aquele espelho e dizendo a sim mesma que estava bem, já que sempre poderá ser pior na presença daquela infame mulher.
Os olhos estavam limpos e os cabelos trançados para trás, o corpo envolto pelo roupão quando tocou o sino que lhe foi ordenado, duas mulheres trajando uniformes padrões adentraram.
-- Eu gostaria de jantar agora. -- Ambas assentiram se afastando e em questão de meia hora estavam diante de ti com um carrinho acompanhado de bebidas alcoólicas e sucos.
-- Posso preparar um banho para a senhorita? -- você assentiu e assim seguiu até a varanda onde se sentou pra degustar a refeição e apreciar a visão da ilha. O lugar tão lindo e calmo, ao qual jamais imaginaria encobrir tanta sujeira. Por um instante encarou a garrafa de vinho a sua frente que começou a parecer apetecível demais e pela primeira vez se permitiu relaxar completamente uma vez que nem mesmo em sua "casa" confiava de estar cem por cento intacta ao ponto de agir despreocupadamente sem se preocupar com aqueles que te vigiavam.
Os cabelos estavam soltos, o olhar vago e agora a garrafa era consumida pelo gargalo, a primeira foi bebida como se fosse uma taça de suco. Seu sorriso se alargando conforme olhava para a paisagem mal iluminada, a segunda você levou consigo em direção para o banheiro, já havia se alimentado e estava levemente alcoolizada, tirou o roupão ainda no caminho e depois deixou que a camisola fosse ao chão conforme adentrava a banheira com algumas pétalas de rosas e sais de banho, apoiou a garrada na banqueta que ficava próximo a banheira e depois destrançou os cabelos, por um minuto as dúvidas te consumiram.
Ninguém sentiria minha falta mesmo. -- Afirmou afundando na banheira por completo apoiando as mãos na borda e sentindo aos poucos a falta de ar se fazendo presente em seu corpo, você se recusava a levantar. Queria ficar ali cada vez mais fundo até que a falta de ar chegasse ao seu cérebro e morresse pela falta dele, apesar disso era possível ouvir o barulho do que acontecia seus olhos aos poucos foram se abrindo dentro d'água observando a imagem turva acima e em um movimento rápido sentiu quando uma mão firme adentrou a agua agarrando o seu pescoço te fazendo arfar pelo susto enquanto o apertava e com isso você levantou os poucos seus olhos logo contemplaram o detentor do aperto. Tão ferino e faminto que chegou a te causar um arrepio enquanto afastava os dedos do seu pescoço.
Para Muzan você era uma perfeita loucura, seus cabelos grudados na face, o olhar irreverente que não desviou dos dele e os lábios tão perfeitos, o Kibutsuji se pegou abrindo o colete e o atirando longe junto ao relógio de bolso, os pés descalços e após se livrar da camisa entrou na banheira de calça mesmo ficando de frente para você. Seu olhar o analisou antes de se aproximar pondo a mão no peitoral dele:
-- Quantos matou essa noite? -- Surpreendeu o rei por sua pergunta direta e pela inciativa, a destra dele tirou seus cabelos molhados dos ombros os prendendo um rabo e vis-à-vis roçou a boca na sua.
-- Mais do que você pode contar ou sequer pensar.
-- E quando pretende me deixar? -- ele riu de lado observando a garrafa sobre a mesinha, na cabeça dele passou a fazer sentido te ver mais vezes bêbada.
-- Quer mesmo ir embora Sn? Quer retornar aquele inferno ou prefere ficar no meu? -- Seus dedos subiram pelos ombros massageando e ele aprovou tal reação, suas pernas transpassaram pelo corpo alheio se sentando e ele ainda mantinha o controle em seus fios.
-- Eu não quero pisar naquele lugar nunca mais. -- Ele conseguia enxergar além da verdade em seus olhos e por mais que não concedesse pedidos a ninguém, o rei abriria uma exceção para você.
-- Hum... -- ele sorriu. -- Se arrume eu tenho planos para você. -- E assim soltou seus cabelos, segurou em sua cintura e após morder seu pescoço de leve te deixou no banheiro sozinha.
[...]
O vestido chamava atenção a cada passo que dava naquele salão atraindo atenção dos demais convidados que tentavam descobrir quem é você.
Uma dama da alta sociedade? Uma Herdeira ou uma estrangeira?
Eram apenas algumas das informações que pairavam no ar enquanto Muzan a tinha em mãos, o poderoso e cruel homem conhecido por muitos no mundo do crime como um verdadeiro demônio, possui um ego enorme e tê-la ali como uma adereço que o exaltava ainda mais fazia com que o ego aumentasse sem precedentes. Já você não tinha do que reclamar, depois que saiu do banho o quarto foi invadido por mulheres que cuidaram dos preparativos a mando de Nakime e apesar da vergonha em ser vista e apreciada dessa forma sentia-se melhor do que quando foram ao restaurante. Bela Sn, você usa um vestido vinho totalmente trabalhado em pedrarias e lantejoulas finalizado em correntes que se uniam nas pontas adornando seu corpo até o início dos joelhos, por onde o tecido continuava em um curto degradê que deslizava com graça conforme se movia, seus cabelos presos na altura do maxilar repleto de ondas respeitando a moda de 1920, na cabeça apenas uma joia de cabelo com caimento de filetes e uma pedraria a têmpora esquerda e para finalizar foi presa com uma longa pena preta do mesmo lado, em suas mãos luvas de cetim preta e no anelar esquerdo o mesmo anel de antes.
No fim era difícil tirar os olhos de você.
Depois daquele desfile exagerado segundo seus pensamentos, o rei se sentou de frete a uma mesa cheia de homens claramente endinheirados e diferente do que imaginou, ele lhe deu espaço para que sentasse em seu colo.
Muzan tirou um charuto cortado do paletó que possuía o exato tom de vinho do seu traje assim como o lenço de bolso ornava com suas luvas e logo que pôs na boca foi aceso por um de seus luas que retornou a posição anterior, ou seja, exatos seis passos do rei, tragou calmamente e ao soprar a fumaça encarou os homens sedentos por mais poder e dinheiro.
-- Sejam rápidos.
-- Queremos comprar o clube. -- Muzan riu antes de estender o charuto e um dos empregados segurou o cinzeiro de ouro para que o apoiasse.
-- O vinte e cinco não está á venda. -- Afirmou calmamente.
-- Então aceite alguns dos nosso lutadores. -- Você não entendia por que homens tão ricos queriam entrar em tal negócio e talvez, só talvez. Se tivesse ficado até o final naquele clube entenderia o porquê.
Naquela mesma tarde, quando o tiroteio acabou, os muitos corpos que estavam no chão não pertenciam sequer ao pessoal que estava lá dentro, todos os mortos foram jogados dentro de um caminhão e despejado no mar como se não fossem nada. Inimigos que possuíam uma provável família que amargará o gosto de não saber nada sobre seus entes queridos.
Fora do clube só houve um lua ferido, Gyokko, que não se conteve em apenas atirar e partiu para cima com as próprias mãos e o que julgava ser bem mais eficiente do que uma arma de fogo, ou seja, uma boa e velha faca de caça. A notícia foi espalhada por ordem de Muzan então demorou muito para que aqueles que moravam na ilha e possuíam dinheiro começassem a pensar em uma severa proteção, até mesmo aqueles que estavam do outro lado e que agora torciam para que o Kibutsuji não descobrisse que se envolveram na tentativa de seu miserável assassinato.
Muzan sorriu tão minimamente que se tornou imperceptível, talvez por estar com o copo de whisky na mão ou pelo fato do medo impedir aqueles ali presente em olhá-lo por muito tempo.
-- E o que eu ganho com isso?
-- Senhor M. Terá mais gente ao seu comando, mais lucro e se puder nos proteger lhe pagaremos. -- Muzan apenas deixou o corpo sobre a mesa e deu um aperto em sua cintura indicando que deveria se levantar e assim o fez, com dois dedos o homem chamou um de seus subordinados que após receber uma curta ordem em um sussurro se sentou no lugar do mestre.
-- Vamos querida...
-- Espere senhor M não pode... -- A voz do homem morreu ao perceber o semblante totalmente cruel de Muzan que foi dado a ele.
-- Ei pançudo... Seu negócio agora é comigo sim. -- Você notou o sorriso largo do homem de fios loiros que apertava um leque de ouro em mãos e pode jurar que nada naquele semblante deveria ser verdadeiro, uma vez que já esteve em situações que devia agir tão falsamente quanto o lua sentado a mesa.
-- Douma se alguém me incomodar novamente, manda Akaza acompanhá-los -- Tal frase foi dita por sobre os ombros e enquanto se afastavam pode ouvir a voz do loiro dizendo em meio a uma risada leve que era melhor perecer por suas mãos do que apanhar até a morte.
-- O que deseja beber querida? -- Ele sussurrou conforme chegavam no bar.
-- Se eu disser que só quero água será demais para você? -- Ele riu antes de apertar sua cintura e contemplar seus lábios bordô.
-- Quero que beba bem mais do que isso. -- Se aproximou do seu pescoço beijando o local enquanto você apoiava a mão no peito dele exibindo o anel, não negaria o que ele ordenou.
-- Então o que sugere?
-- Vinho seco para começar. -- O barmen não demorou nem meio minuto para trazer o pedido do rei e depois os deixou e observando todos a sua volta se divertindo como se nada mais importasse, te fez questionar mentalmente o que tudo isso significa.
Por que um homem com tanto dinheiro e poder se dá ao desprazer de sediar eventos que claramente não o agrada com todo o seu ser? Por que tudo ao seu redor parecia encenado e acima de tudo, qual é o seu papel nessa trama criada por um homem claramente entediado e cruel? Segundo suas perspectivas é claro, no entanto, ainda não tinha coragem de questioná-lo tão abertamente e o vinho seco e amargo descendo pela sua garganta deixava-o mais tentado a descobrir o quanto e como poderia ter de você.
༺══༻
O detetive olhava para as pilhas de documento em sua mesa um pouco estressado sentia-se desgastado por dar tantas voltas e permanecer no mesmo lugar. Batidas soaram a porta conforme se aproximava e tudo o que viu foi a rua sem meio deserta por conta da hora.
-- Jovens de merda. -- Sussurrou pronto para fechar a porta, até que viu o pequeno papel branco aos seus pés sendo pressionado pela ponta dos sapatos e não tardou em abrir e lê-lo calmamente fechando a porta em seguida. Um sorriso transpareceu no rosto do home cansado enquanto se espreguiçava e ia até a mesa em busca de um pouco de café, já frio pela hora.
-- Então quer dizer que aquele filho da puta escapou? Interessante. -- O sorriso pérfido denunciava as más intenções de alguém que prezava bem mais a ideia de ter inimigos poderosos do que ajudar a pegá-los.
Caso tenha ficado difícil de imaginar, o vestido seria esse abaixo só que sem as mangas.
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