№9 (fazer por merecer)

Harry sabia a sensação de ser ignorado, tinha a sentido muitas vezes por parte de seu pai. Às vezes era como se nem mesmo existisse para ele de tão fácil que parecia ser para Desmond passar por si como se não estivesse ali sempre que estava furioso, então a sensação de fazer o mesmo com ele quando saiu para ir a escola foi no mínimo satisfatório.

Não o olhou, cumprimentou ou reconheceu a existência do Styles mais velho em momento algum, até mesmo tomou seu café da manhã em tranquilidade e quando ele tentou conversar simplesmente continuou o ignorando antes de se levantar e sair de casa.

Não se sentia mal por tratar seu pai assim, era como vinha sendo tratado durante toda sua vida e até mesmo um "castigo" leve considerando as coisas que Desmond já fez para o punir.

Andou menos da metade do caminha a pé antes de Louis o encontrar por "coincidência" e oferecer uma carona. Sorriu deixando o mais velho entrelaçar seus dedos enquanto esperavam o horário das aulas começarem ainda dentro do carro, no estacionamento.

Louis olhava para frente um tanto contemplativo, sua mão livre arranhava o tecido de sua calça jeans em um movimento repetitivo e que parecia ser mais um reflexo ansioso do que algo feito conscientemente. Se olhasse bem podia ver as engrenagens em sua cabeça funcionando com pensamentos insistentes e sabia no que ele estava pensando.

— Não pensa sobre isso. - disse quebrando o silêncio.

— Como sabe no que estou pensando? - ele riu baixo o olhando com uma sobrancelha erguida em brincadeira.

— Eu te conheço. - estava começando a virar como sempre fazia quando Louis o olhava muito intensamente. - Sei que ainda se sente culpado.

O Tomlinson desviou o olhar, suspirando e movendo o dedão da mão que segurava a sua em uma carícia.

— Você me desculpou rápido demais, eu fui um idiota.

Foi a vez de Harry suspirar, apertando um pouco a mão alheia para que os olhos azuis focassem nos seus novamente.

— Eu não vou negar isso. - disse e o outro riu revirando os olhos. - Mas eu sei como tudo aquilo parecia, como todas as circunstâncias apontavam para o que parecia ser o óbvio

— Sua palavra devia ter tido mais importância para mim. - ele continuou com o tom culpado e o cacheado suspirou.

— Se acha que eu te desculpei fácil demais então por que não tenta fazer por merecer? - sugeriu e se inclinou incentivando o outro a fazer o mesmo, juntando seus lábios em um beijo longo. Tocou a bochecha do Tomlinson, deslizando seus dedos até sua nuca e o trazendo o mais perto que conseguia no espaço limitado que tinham.

— Eu senti sua falta. - murmurou quando Louis decidiu beijar seu pescoço algumas vezes.

— Também senti a sua... Muito. - ele sorriu se afastando para arrumar os cachos longos atrás da orelha alheia. - Ele te machucou? Você está bem? - se referiu a Desmond.

Harry sorriu e negou com a cabeça, juntando seus lábios novamente em um beijo mais quente. Tinha passado tanto tempo sem isso, agora era como se pudesse se afogar na sensação dos lábios do outro e no cheiro gostoso que emanava de seu moletom cada vez que apertava o tecido para o trazer mais perto.

Estavam tão envolvidos que só notaram Niall e Liam nas janelas quando eles começaram a bater nos vidros e os provocar, enquanto, Zayn revirava os olhos para a infantilidade dos outros dois.

— Por que eles sempre fazem isso? - Louis grunhiu soltando Harry para que ele pudesse se recompor e levantando o dedo do meio das duas mãos para os seus não tão amigos do lado de fora do veículo.

Harry riu ajeitando seu cabelo e roupas, deixando um beijo no maxilar marcado do mais velho e saindo do carro.

— Vocês estão perdendo muita coisa enquanto ficam aí se pegando no carro! - Niall mal esperou que estivesse totalmente de pé do lado de fora antes de dizer.

— Nós só estávamos...

— Eu não quero nem saber o que você estavam ou iam fazer se não tivéssemos chegado. - Liam cortou, tentando se salvar das imagens mentais.

Harry corou sendo minimamente confortado quando Louis deu a volta no carro para envolver um braço em sua cintura e beijar seu pescoço.

— O ponto é... - Zayn se pronunciou. - Acabamos de ver mais da metade dos idiotas que andavam atrás de Michael o deixar para trás no portão.

— Parece que são menos burros do que pensamos. - o Tomlinson comentou sarcástico.

— Todos já sabem? - Harry perguntou se referindo ao vídeo ao mesmo tempo em que um grupo de garotas passou por eles obviamente o encarando, mas sem o julgamento de antes e sim o que parecia ser... pena?

— Aparentemente sim, já que não vi ninguém beijando o chão que Michael  pisa como sempre. - o irlandês deu de ombros, olhando em volta.

O cacheado mordeu o lábio inferior, estava feliz que a máscara de Mike finalmente tivesse caído mas também se sentia um pouco exposto e vulnerável. Agora todos sabiam o que ele tinha feito consigo, mas não era bobo a ponto de pensar que o considerariam completamente inocente. Sempre teriam aqueles que colocariam a culpa toda em seus ombros, mas ao lembrar que agora teria Louis ao seu lado assim como os outros garotos fazia o peso parecer mais leve.

— O sinal tocou. - a voz gentil de Louis o trouxe de volta e sorriu para ele quando sentiu seus dedos se entrelaçarem, um leve aperto vindo do mais velho como se ele tentasse lhe passar força.

E de repente tudo parecia mil vezes mais fácil de se aguentar.

༺༻

Fazia meses que ir para a escola não era nada mais que uma tortura para o Styles, aulas que não terminavam nunca, a indiferença de Louis consigo e os olhares e cochichos por suas costas infindáveis. Porém hoje tinha conseguido se concentrar nas aulas como não fazia a tempos, os olhares ainda estavam lá mas não tinham a intensidade de antes e é claro, tinha o lembrete de que seu namorado estava consigo até mesmo durante as aulas em forma de mensagens.

Depois do intervalo não tinha visto mais Michael e agradecia por isso, a única vez que fizeram algum tipo de contato foi visual e ele parecia pronto para jogar facas em si.

No fim da última aula Louis, Liam, Niall e Zayn apareceram na porta e guardou seus materiais rapidamente antes de ir até eles mais animado do que já esteve em séculos. Era confortante ter a presença deles já que eram os únicos que não o tratavam diferente, sem os olhares dividos entre julgamento e pena.

— Nós vamos no Wendy's e depois vamos para casa do Payno jogar videogame, quer vir? - Louis perguntou depois de o cumprimentar com um selinho, não perdendo tempo antes de juntar suas mãos também.

O cacheado considerou enquanto eles começavam a andar pelos corredores que esvaziaram rapidamente em direção a saída. Seu pai provavelmente estava no trabalho e não chegaria até mais tarde, em um dia normal ele provavelmente se zangaria se não estivesse em casa depois da escola mas não estavam em seu normal então...

— Por que não? - sorriu grande.

༺༻

— Eu estou te dizendo, o professor de química não é um psicopata. - Louis disse antes de pegar mais de suas batatas fritas e encher sua boca.

— Cara, teve aquela vez ano passado que ele literalmente botou fogo na mesa dele! - Niall respondeu indignado.

— Foi acidente. - o Tomlinson deu de ombros o melhor que podia sem desacomodar a cabeça de Harry, que se divertia com o debate dos dois.

— Ele estava rindo o tempo todo enquanto todo mundo na sala se desesperou, inclusive eu!

— Ele estava com um extintor do lado dele.

— Claro, vamos ignorar o fato de que ele deixou o fogo aumentar consideravelmente antes de apagar. - o loiro desistiu contrariado.

— Como o alarme de incêndio não tocou? - o cacheado perguntou sugando um pouco mais de seu refrigerante pelo canudo.

— Era um fogo sem fumaça ou algo do tipo. - Louis explicou.

— Ah, qual é! - Liam reclamou quando perdeu mais uma vez para Zayn em seja lá o que fosse que eles estivessem jogando. - Só pra você saber eu deixei você ganhar.

— Você é um péssimo perdedor. - o moreno revirou os olhos.

— Vocês são sempre assim? - Harry perguntou baixinho para que apenas Louis ouvisse.

— As vezes somos piores. - foi a resposta que ganhou, o fazendo rir. - Vem aqui. - acrescentou se levantando.

Olhou para os outros meninos, Liam agora insistia para que Niall o deixasse jogar mais uma vez em revanche antes de passar o controle para ele mas o irlandês não parecia muito a fim dessa ideia já que era a terceira revanche seguida do Payne.

Seguiu Louis silenciosamente para fora do quarto, deixando que ele o levasse até o banheiro do outro lado do corredor e os fechassem ali dentro.

Riu enquanto tentavam se acomodar no espaço pequeno, acabando encostado na parede oposta a pia com o mais velho a sua frente. Segurou o rosto alheio, o trazendo para perto do seu para que pudessem juntar os lábios. Amava beijar Louis, sentir as mãos dele em sua cintura e poder respirar o cheiro bom que ele tem.

— Eles vão nos zoar quando voltarmos pro quarto. - o lembrou quando separam os lábios por um momento para que o Tomlinson pudesse beijar seu pescoço.

— Você ainda leva em consideração o que eles dizem? - ele riu, juntando suas bocas mais uma vez.

Harry suspirou, amolecendo um pouco nos braços do outro sentindo que poderia virar poeira estelar a qualquer momento quando Louis o beijava assim.

A casa dos outros não era o melhor lugar para fazerem aquilo mas só o fato de poderem ficar juntos depois de tanto tempo é o que importa.

O cacheado não teria percebido seu celular tocando se as mãos do mais velho não tivessem descido lentamente por suas costas até que estivessem sobre sua bunda, ele o apertou um pouco antes de tirar seu celular do bolso traseiro e descolar seus lábios mais uma vez.

— Está tocando. - disse para o outro que parecia meio alheio a tudo ainda.

Olharam para o aparelho ao mesmo tempo, o nome de Desmond acendia na tela e Harry suspirou atendendo antes que a ligação caísse.

— Onde você está? - foi a primeira coisa que seu pai disse e revirou os olhos.

— Como se você se importasse.

— Eu não estou com tempo e paciência para as suas brincadeiras Harry. - ele disse e o cacheado quase o respondeu, porém o Styles mais velho voltou a falar logo. - Tem pessoas aqui que querem falar com você, venha para casa.

E desligou, não permitindo que fizesse perguntas sobre aquilo.

Por pouco não jogou o celular longe de ódio, bufando e se afastando de Louis de vez para encostar seu quadril no mármore da bancada da pia.

— Por que eu simplesmente não fui morar com a minha mãe, deus? - resmungou olhando para o teto de gesso como se a resposta fosse vir de lá.

— Pense pelo lado positivo. - Louis começou o puxando para perto novamente pela barra de sua calça. - Pelo menos nós nós conhecemos, de morasse com sua mãe não teríamos tido essa chance.

Harry sorriu o beijando mais uma vez antes de responder.

— Pelo santo se beija as pedras. - riu da cara que Louis fez para a metáfora, selando seus lábios preguiçosamente mais algumas vezes antes de se afastarem. - Me dá uma carona?

— Da última vez que estive na frente de sua casa me lembro de ter sido ameaçado. - murmurou mais pela provocação, se Harry quisesse que dirigisse até a cidade vizinha ele iria sem pensar duas vezes.

— Cachorro que late não morde.

— Ok, chega de metáforas e expressões. - fez uma careta já abrindo a porta para sair enquanto Harry dia até perder o fôlego atrás de si.

༺༻

Deus, o universo, Odin, Allah, Ganesha, toda e qualquer entidade que existisse o odiava, não tinha outra explicação.

Entrar em sua casa e ver seu pai, Michael e o que talvez seriam os pais do mesmo sentados nos sofás da sala só podia ser o inferno, estava morto a quanto tempo? Firmou os pés no chão para resistir a vontade de dar meia volta e correr até alcançar o carro de Louis e depois o mandar acelerar até que estivessem fora do país, porém não impediu seu olhar de se estreitar cheio de desconfiança.

— Senta. - deu pai sugeriu/mandou.

— Não? - se negou sem ter muita certeza se devia. - Eu me sinto exatamente como uma ovelha que acabou de entrar na toca dos lobos sociopatas e...

— Harry! - seu pai o interrompeu e nesse momento a mulher se levantou, arrumando suas roupas formais e parecendo tão de saco cheio de tudo aquilo quanto o cacheado.

— Eu sou Erica e esse é Carl, somos os pais de Michael. - ela se apresentou e quando viu que o Styles mais novo não falaria nada, continuou. - Vou direto ao ponto, estamos preocupados com a imagem de nosso filho em relação ao vídeo que tem circulado na escola de vocês e das acusações que você certamente pode fazer que atrapalhariam as chances dele de entrar em algumas faculdade.

— Uau, isso sim é se "preocupar" com seu filho. - fez aspas com os dedos. - Na minha vez eu levei uma surra e todo mundo achou que eu era uma vadia por causa das coisas que seu filho fez comigo, inclusive meu namorado.

— Harry! - seu pai disse em tom de aviso de novo, mas o cacheado já nem ligava mais.

— Desmond! - respondeu sem tremer perante o olhar raivoso do mais velho.

— Enfim... - Erica interrompeu novamente. - Existe algo que possamos fazer para que você não registre uma ocorrência contra Mike?

— Eu não sei, talvez pagar minha terapia? - não sabia de onde vinham essas respostas rápidas, mas sabia que não podia mais as conter dentro de si. - Ele literalmente destruiu todos os aspectos da minha vida com a brincadeirinha dele, acha que vou conseguir entrar em uma faculdade depois de ter uma sex tape minha vazada? Mesmo que tenha sido tudo fruto da ótima atuação do seu filho?! Talvez ele devesse desistir de fazer faculdade e virar ator!

— Nós podemos te por em qualquer faculdade que quiser quando chegar a hora, basta deixar isso cair no esquecimento. - Carl de levantou dessa vez, tentando uma alternativa já que Erica parecia muito surpresa agora falar novamente.

— E você acha que isso vai ser esquecido? Acha que algum dia o vídeo vai sumir completamente e ninguém mais vai se lembrar de mim como a vadia que traiu o namorado e foi pego em câmera? - respirou fundo quando percebeu que estava gritando, olhando raivosamente para Michael que estava tão sem rumo quanto os adultos na sala. - Eu não quero nada que venha de vocês, digo por experiência própria que nada de bom poderia acontecer.

Se inclinou para pegar a mochila que em algum momento tinha escorregado de seu ombro e caído no chão.

— Espero que esteja aproveitando a experiência de ser exposto na internet como eu fui, Karma eu diria. - disse diretamente para o outro adolescente. - se é esse o poder que tenho sobre você então espero nunca mais te ver na minha frente, vá destruir a vida de outra pessoa ou melhor, apenas suma! Ninguém merece passar pelo que eu passei, exceto você.

A escada rangeu abaixo de suas pisadas pesadas e raivosas mas manteve sua firmeza enquanto saía das vistas de quem estava na sala


O próximo é o último :(

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top