SEMENTES, TEMPO E UNIVERSOO Paradoxo Aurélio
Ano de 2032.
A explosão abalou as estruturas do prédio, mas o susto não foi tão grande como provavelmente seria se ele estivesse dormindo profundamente.
Aurélio já se revirava na cama há algum tempo – acossado pela sobrecarga de atribulações, responsabilidades, provas, e exigências de um treinamento extenuante... extenuante e secreto! Se viesse a público, sua vida ou da tripulação, não valeria um centavo.
Enfim, ele não pregou o olho. Pequenos cochilos e devaneios foram o máximo que conseguiu durante aquela longa noite de véspera. Mesmo assim, quando outra explosão reverberou pelas instalações supostamente seguras, o seu coração acelerou e ele se sentou – a adrenalina bombeando o organismo a fim de prepará-lo para o desconhecido. Será que os planos seriam alterados? E se fossem, poderiam ser adiados, ou adiantados? De uma forma ou de outra, deveria estar pronto para quando o chamassem.
Acompanhou as notícias pela rede de intercomunicação militar, enquanto se alongava. Os caças sobrevoavam a costa... Bombas explodiam por toda parte... A guerra havia começado. Ninguém poderia detê-la. Aurélio abriu a mini geladeira e tirou a água que ainda devia estar gelada. Os apagões de energia eram tão frequentes, que os aparelhos elétricos não funcionavam direito, ou simplesmente queimavam. A sua mini geladeira havia queimado há seis horas, mas ainda conservava os alimentos perecíveis e sua única mordomia: água gelada.
Aurélio tomou um grande gole, enquanto via as luzes dos projéteis iluminarem o céu. Pareciam fogos de artifício, mas na verdade resultavam da batalha em curso entre os exércitos opositores. Os países mais poderosos disputavam os últimos recursos naturais do Planeta Terra, destruindo boa parte desses recursos, enquanto invadia os países subdesenvolvidos. A água, na cotação da Bolsa de Valores, ultrapassava todos os pontos possíveis...
De repente, a luz vermelha do painel ao lado da porta acendeu, acionado por um gerador de emergência. Todos os astronautas sabiam que deveriam estar atentos, porque esta lâmpada em particular só acende uma única vez e por um único motivo.
Pois bem, chegou a hora.
Engolindo em seco, Aurélio bebeu mais um gole da sua água. Largou a garrafa pela metade, com medo de se engasgar, de tão nervoso. Não pelo fato de que estava prestes a fazer aquilo para o qual treinara a vida toda; mas porque, para chegar aos foguetes que fariam a viagem até à Geiser, categoria Sustentable–trip 1, os astronautas teriam de realizar uma louca escapada.
A voz incorpórea soou, no intercomunicador:
– Tripulação 17, cinco minutos, portal H.
Aurélio arrancou o pijama e vestiu o uniforme.
–––
A décima sétima tripulação sacolejava dentro do jipe, enquanto um sargento desesperado desviava dos entulhos que apareciam pelo caminho. Ele olhava constantemente para cima e para os lados, temendo o ataque de terroristas, milicianos, seitas e dos grupos anti-Nasa. Também era uma constante a preocupação dos ataques aéreos vindos da Rússia, Coreia do Norte, e dos Estados Unidos. Havia uma guerra mundial em curso, não entre países, mas entre interesses se digladiando dentro dos próprios territórios.
Para conseguir completar a missão, a NASA e os interesses que a sustentavam tornou–se expatriada. Os exércitos dos países em conflito alimentavam seus próprios programas espaciais secretos, deixando esta instituição à deriva das corporações.
A ideia era buscar salvação, desde que se pagasse o preço certo por ela.
A NASA manteve bases secretas espalhadas pelo mundo para o lançamento dos foguetes que levariam as tripulações, os suprimentos e os equipamentos para bordo da Suntentable–trip 1. A construção dessa gigantesca nave, apelidada de cidadela espacial, foi feita em sigilo. Os foguetes reutilizáveis foram enviados diversas vezes com técnicos a bordo das naves, os quais trabalharam durante uma década para construí-la (à margem do que acontecia no mundo).
E o que acontecia no mundo se agravava... Ninguém estava a salvo das guerras, da fome, do clima, ou seja, ninguém estava a salvo do próprio homem.
O jipe foi atingido. Deu um salto e quase capotou. Mas o obstinado sargento manteve o controle do volante e continuou rezando para que não tivesse furado nenhum pneu. Ainda estavam muito longe do ponto de extração. Os tripulantes, nervosos, agarraram–se às alças para não serem jogados para fora do veículo.
–Lá estão os traidores do planeta! – Gritou uma mulher do alto da colina, sacudindo um cartaz dizendo: "Pensem na Terra e deixem o espaço em paz".
Aurélio pensou na natureza daquelas palavras, e riu sem humor. Como se eles quisessem partir. Como se eles não estivessem correndo riscos. Como se suas famílias não tivessem de mudar de identidade para não serem perseguidas. Ser um astronauta, na Terra de hoje, era pintar um alvo na testa. Mas era justamente pela sobrevivência da Terra que eles precisavam partir e encontrar fontes de energia. Na Terra, não havia mais de onde se tirar. Os oceanos estavam mortos. Eram puras fossas de esgoto. A água dos rios e lagos havia se evaporado quase completamente. A extração da água sob as placas tectônicas era impossível, sem energia. O petróleo se esgotou e ninguém se preocupou em investir numa energia renovável – o que havia, não dava conta de uma demanda mundial. A energia necessária para sustentar a imensa massa populacional do planeta só se conseguia por meio da extração... Por conta da falta de recursos naturais, não havia matéria prima. E se não havia matéria prima, a tecnologia e a ciência não podiam avançar para resolver os problemas. Só podiam utilizar o que ainda sobrou para tentar um salto tecnológico em busca de novos recursos fora do planeta.
Eles precisavam desesperadamente quebrar o ciclo que se fechava sobre a espécie humana.
Aurélio olhou novamente para a colina e tomou um grande susto. Não era somente a mulher que estava lá, toda maltrapilha. Agora, havia uma multidão de pessoas maltrapilhas e famintas. Uma delas segurava um míssil de longo alcance, desses portáteis. Como conseguiram uma arma daquela? Ah, ele se esqueceu de que os guerrilheiros estavam sendo financiados pelos "interesses sombras", desejosos de invadir os territórios que ainda possuíam recursos naturais para se apossarem deles. Especialmente, das últimas fontes de água. E as que restaram, onde eles estavam no presente momento, eram esparsas infiltrações nas fissuras das rochas subterrâneas, do que restou do Aquífero da bacia Amazonas/Solimões. Por essa razão, todos os interesses voltavam seu poderio bélico para uma invasão ao Brasil.
Divagações a parte, se o temor imediato de Aurélio se concretizasse, o míssil dos guerrilheiros era do tipo teleguiado. De modo que o artefato os alcançaria, não importando o quanto o sargento desesperado saracoteasse pela estrada. Aurélio tocou no ombro dele e apontou para a colina. O sargento acompanhou com a cabeça, na direção apontada, e seus olhos se esbugalharam. Se ele já estava suando em profusão, agora parecia à beira de um colapso. Aurélio só esperava que não enfartasse em cima do volante.
O militar tomou uma atitude inesperada e ousada. Deu uma guinada que quase derrubou todo mundo na estrada e seguiu por entre os montes de entulhos. Aurélio entendeu. Camuflagem, claro. Uma tentativa – do tipo, uma em um milhão – de enganar o míssil para não serem atingidos. E pelos gritos de seus colegas, ele entendeu que os guerrilheiros já tinham disparado. Em segundos, estariam vivos ou mortos.
Ao seu lado, Dirceia fechou os olhos e rezou.
Três... Dois... Um...
Ela abriu os olhos e olhou ao redor. Boom! O monte de entulhos ao lado explodiu, lançando farpas e lascas de metal retorcido para todo lado. Uma delas atingiu a coxa direita de Euzébio, que gritou. Aurélio se ajoelhou diante dele, rasgou um pedaço de tecido de sua manga e tirou as mãos do rapaz do ferimento. Fez uma careta e encarou Euzébio.
–Não sabemos se não atingiu uma artéria – ele gritou, acima da confusão reinante e de toda a barulheira. – Vou tirar e fazer um torniquete.
–Tira isso de mim! – Euzébio gritava sem parar, olhando para a vareta fina de metal enfiada em sua perna.
Aurélio não podia fazê-lo num jipe sacolejante.
–Aguenta firme! É uma ordem! – O tom de comando serviu para fazer Euzébio se controlar, apesar da dor excruciante.
Aurélio olhou para fora e viu surgir a boca do túnel, onde logo estariam seguros. – Estamos chegando!
O sargento acelerou ainda mais o motor e eles viram a boca do túnel se aproximando e aumentando de tamanho em meio ao paredão rochoso da montanha. Os guerrilheiros, em seus veículos, também aceleravam atrás deles. O sargento sacou o rádio e gritou:
–Tripulação 17 chegando! Abram o cofre, agora! Estamos sendo perseguidos!
Não era a toa que o local era chamado de "o cofre". O estrondo das portas gigantescas, girando as suas engrenagens, soou por todo o vale. Até os guerrilheiros se espantaram. De repente, viram uma oportunidade de invadir uma das inexpugnáveis bases da NASA e destruí-la pelo lado de dentro. Quem sabe roubar um pouco da sua tecnologia... O que eles não sabiam era que aquela não era a base de lançamentos, mas um caminho muito seletivo para se chegar até ela; com mecanismos e armadilhas de inundação a prova de invasores. Qualquer um, desesperado para escapar da Terra, e que tentasse entrar numa das naves de transporte que iam para a Sunstentable–Trip 1 seria preso ou mais provavelmente morto, antes que sequer chegasse perto delas.
Aurélio não entendia porque os seres humanos não se uniam em torno da causa da sobrevivência coletiva... Para ele, tratava–se de uma missão de dez anos no espaço para ajudar a Terra a sair do estado climático crítico. Mas os guerrilheiros acusavam a NASA e seus financiadores de fugir do planeta usando os últimos recursos que dispunham para iniciar uma colônia em algum outro lugar. O fato era que os astronautas não estavam por dentro da real missão da cidadela espacial. Embora desconfiassem... Para os guerrilheiros, a desconfiança era o refúgio dos covardes – que estavam a salvo do caos que deixavam para trás.
– Eles vão entrar lá! – gritou um dos guerrilheiros. – Temos que impedi–los antes que o cofre se feche!
Um dos homens, aboletado sobre um tanque de guerra muito velho e faltando partes, gritou e girou a torre, apontando o canhão para o interior do cofre cujas luzes começavam a se acender.
– Acha que consegue, sargento? – Aurélio o inquiriu com ansiedade.
– Mas, ah, se eu não me chamo Adécio "Boa Sorte" Liberato! – gritou o motorista do jipe, desafiadoramente.
Engolindo o sorriso, Aurélio fez sinal com o polegar.
Dirceia apenas observava a tranquilidade aparente no semblante de seu comandante de nave, em meio àquele caos... Os tripulantes estavam nervosos com a possibilidade de caírem nas mãos dos guerrilheiros. Sabiam o que lhes aconteceria... Seriam estripados e feitos de refeição para os desesperados por comida que estivessem mais próximos.
Sim, a onda do canibalismo estava crescendo em todo o mundo.
A entrada do cofre foi ficando cada vez maior, na medida em que o jipe avançava pela estrada dotada de sensores em ambos os acostamentos laterais. Os sensores capturaram o movimento do jipe, identificando-lhe a presença. A tripulação 17 rapidamente apareceu no sistema de posicionamento geográfico da equipe central da NASA, como um dos pontos vermelhos entre todas as tripulações que, assim como esta, faziam as suas desesperadas corridas para chegar às bases de lançamento.
Aurélio tentou enxergar o que havia dentro do cofre. Eles não sabiam de antemão, para que não revelassem a suas famílias, e para que a informação não caísse nas redes sociais. Cinco anos antes da viagem, eles foram confinados num centro de treinamento. A missão estava sendo preparada há pelo menos sete anos. Agora, Aurélio não conseguia acreditar que finalmente iriam começar a jornada.
Euzébio, Mafalda, João, Aderbal, Dirceia, Exequiel... Aurélio olhou de relance para cada um dos rostos apreensivos dos seus subordinados. Eles vinham treinando juntos há pelo menos três anos. Desde as triagens para compor o quadro de cada tripulação.
Outro míssil foi lançado pelos guerrilheiros, depois que o valente sargento desviou de uma bateria de tiros de metralhadora. Ao escutar o assovio do artefato, seu sangue gelou e ele afundou o pé no acelerador até que não houvesse mais para aonde afundar o pé... Exceto o asfalto da estrada.
– Cuidado para não afogar – Aurélio o avisou, quando o jipe deu uma engasgada.
–É isso ou cair nas mãos deles – o sargento resmungou, agarrado ao volante.
Já tinha visto o que aquela gente era capaz de fazer, quando colocava as mãos naqueles que consideravam inimigos. Com ele, não, violão! Com ele, não! Explodiria a si mesmo com suas granadas, antes de lhe fazerem aquilo!
O míssil se aproximava cada vez mais. O veículo atravessou o umbral do cofre e um leitor laser automaticamente leu o código de barras do veículo, autorizando a sua passagem. Se não tivesse autorizado, eles seriam incinerados de imediato. Nesse instante, as grandes portas do cofre começaram a se fechar. Aurélio achou o movimento muito lento se comparado à velocidade do míssil. Quando estavam na metade, o míssil atingiu a lateral de uma das portas. Pareceu que um fogo de artifício estourou, provocando mínimos danos. Cada qual das lâminas da porta tinha vinte metros de espessura. Mas, infelizmente, a explosão amassou–as o suficiente para que elas não conseguissem se encaixar por completo uma na outra. O alarme soou, dentro do cofre. O ambiente estava comprometido. Logo as forças inimigas invadiriam o local pela fresta cuja abertura era suficiente para os guerrilheiros passarem a pé.
O jipe avançou até o meio do cofre, onde ficava uma plataforma quadrada – de onde partiria o trem. O sargento estacionou o jipe diante dela, pegou o rádio e avisou sobre o comprometimento da estação, enquanto os astronautas saltavam do veículo. A sala de controle respondeu:
–Vocês têm sessenta segundos para saírem pelo setor de evacuação, antes deste complexo ser lacrado e inundado.
Pálido como um fantasma, Adécio olhou para os astronautas da NASA.
–Corram para o trem, seus miseráveis! Salvem suas vidas! – Gritou, fazendo ele mesmo o percurso tão rápido quanto suas pernas conseguiam levá-lo. Não olhou para trás. Mas os astronautas não ficaram parados. Ninguém perguntou a razão, simplesmente correram como quem foge dos cães do inferno. Na entrada do cofre, já havia um grupo considerável de guerrilheiros.
As luzes ao redor deles piscaram. As câmeras de segurança os acompanharam. Os invasores sabiam que não podia ser só isso, que algo iria acontecer. Viram os astronautas ao fundo, correndo como doidos varridos em direção ao vagão de trem – o único estacionado junto à plataforma – e também começaram a correr na mesma direção.
A tripulação saltou para dentro do vagão, enquanto Adécio acendia o painel de controle. Ele acionou os códigos de reconhecimento que atestavam ao controle da missão que ele era ele mesmo. O manche que servia para comandar o vagão foi liberado para seu uso, assim que o reconhecimento foi concluído.
Ezequiel viu a turba de guerrilheiros avançando, virou para o sargento e gritou:
–Acelera!
E foi o que Adécio fez... Mesmo por que, não havia apenas os invasores para se preocupar. Em bem menos de sessenta segundos, aquela área seria lacrada e inundada com tudo que houvesse dentro.
Os astronautas agarraram–se onde puderam: nas alças do teto, nas barras, nos bancos. Alguns caíram. As portas se fecharam com o trem em movimento. Os guerrilheiros gritaram e brandiram suas armas – ficando para trás, embora continuassem correndo para alcançá–los. Um deles trouxe o lançador de mísseis e Aurélio esfregou a mão no rosto.
–Meu Deus, será que não desistem?
–O que foi? – perguntou o sargento, de costas para todos, preocupado em controlar a velocidade do vagão pelo manche.
–Eles vão lançar outro míssil.
–Mas que coisa! Será que não desistem?
Dirceia agarrou–se no banco.
–Parece que se não conseguem o que querem, então, ninguém mais deverá conseguir – ela disse, com a voz saindo esganiçada pelo pavor. – Em se tratando da raça humana, as coisas são complicadas.
–Agora não precisamos desse tipo de filosofia barata – disse Euzébio, com uma careta.
Dirceia o perdoou porque o colega estava realmente muito mal, meio sentado, meio deitado sobre o banco velho e gasto. Ela o ajudou a se segurar.
–Me desculpe, Dirceia – disse ele, encarando–a.
–Tudo bem... – ela murmurou. – Aguenta firme!
Ela olhou na direção onde estavam o sargento e o comandante Aurélio, ambos ocupando a cabine de condução do trem. Adécio piscou para espantar a ardência provocada pelo suor escorrendo para dentro dos olhos. Ele tentou focar as marcações pintadas ao longo do percurso, as quais diziam que o trem se aproximava da saída. A sua frente, uma pesada lâmina começou a descer do alto da caverna, em direção aos trilhos.
–Vai! Vai! Vai! – Gritavam os astronautas, mesmo sabendo que o vagão estava na velocidade máxima.
O trem passou indiferente ao desespero humano, sob a lâmina em franca descida... O vagão afastou-se pelos trilhos, enquanto a comporta de vedação se fechava com um estrondo atrás dele. Deixaram para trás a base de extração e todos os guerrilheiros que os perseguiam. Ao redor do veículo, a caverna interminável abraçava os fugitivos em sua atmosfera lúgubre e silenciosa. Apenas as luzes do trem iluminavam o caminho. O único som audível era do motor e das rodas sobre os trilhos. Adécio travou o manche em velocidade média, acionou o piloto automático e se afastou do painel de controle. Com um suspiro ele oscilou perigosamente no banco. Aurélio se adiantou para apoiá-lo com as duas mãos.
–Está passando mal?
–Acho que estou um pouco tonto.
Aurélio olhou ao redor. Viu que Aderbal estava mais próximo do pequeno bar.
–Veja se tem água para todos. Para o nosso amigo aqui, uma bebida mais forte.
Aderbal assentiu e foi vasculhar o bar.
–Dirceia – chamou-a, deixando os olhos vagarem por um momento para o ferimento de Euzébio. – Procure uma caixa de primeiros socorros.
Nos próximos vinte minutos, Aurélio acomodou Adécio e trocou o torniquete improvisado de Euzébio, higienizando o ferimento. Eles beberam água, conferiram suas mochilas, até que o rádio deu sinal de vida.
–Vocês estão prestes a deixar a zona segura.
Mal a voz impessoal se pronunciou, o vagão saiu da caverna para a planície aberta. A região parecia deserta, com um farol abandonado numa ponta do penhasco e a base de lançamentos na outra. Estavam na costa litorânea do nordeste. Aonde exatamente, ninguém sabia.
–Temos que colocar vocês no ar, antes que os guerrilheiros conversem entre si e deduzam a direção dos trilhos.
Aurélio viu que as luzes da base estavam acesas e o céu, totalmente limpo. O por do sol já se fora há tempos, mas os resquícios cor de rosa ainda eram visíveis na linha do horizonte marítimo. Ele deduziu, acertadamente, que era a primeira vez que o pessoal da base ousava ligar todas as luzes. O normal era que ficassem apagadas; para que a construção passasse despercebida a quem olhasse das montanhas. Contudo, o tempo se esgotava e eles precisavam preparar o foguete. Assim sendo, o Mercúrio 12 também se tornou visível diante dos holofotes, como um grande obelisco. Fez com que Aurélio se lembrasse das reprises de lançamentos antigos, feitos em Cabo Canaveral, nos EUA. O foguete era um grande chamariz, no presente momento, porém, não teria mais importância depois do lançamento, porque as bases da NASA eram descartáveis e seus núcleos, portáteis. A parte física podia ser abandonada rapidamente – o que acontecia com mais frequência do que os astronautas imaginavam.
O vagão diminuiu a velocidade por conta própria diante da guarita de segurança. Adécio se ergueu e tratou de destravar o piloto automático. Abriu a janela e se identificou.
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