Reflexos de Existência
Nome: Reflexos de Existência
Gênero: Romance
Sinopse: Essa é uma história que alternaria entre o passado e o presente/futuro. Conheceriamos Andy e Vanessa, casados há 10 anos. Vanessa morre logo no primeiro capítulo e acompanhariamos a forma como Andy lidaria com o luto e a como Vanessa lidaria com a morte. Paralelamente visitariamos as memórias do casal e veríamos como seu relacionamento procedeu.
Média de capítulos: Seriam 20 capítulos. 10 se passando no passado e 10 no presente/futuro.
Capítulos escritos: 4.
Por que eu parei de escrever?: Andy não é incrível o suficiente para Vanessa. Vanessa Couli é uma das minhas personagens preferidas, ela é autêntica, excêntrica e divertida, e eu acho que ela merece alguém tão incrível quanto ela. Andy não é tão incrível assim. No fim, senti que Vanessa e Andy são um clichê do tipo "Manic Pixie Dream Girl" e eu quero fugir disso.
Pretendo voltar a escrever?: Assim que eu consertar o Andy.
Aproveitem ⏳
Vanessa nunca acreditou que palavras tinham poder. Se acreditasse, ela não teria dito a Andy, quando se casaram, que:
- Nem a morte nos separa.
•°<3
Vanessa Couli estava morrendo.
O câncer é uma vadia e Andy sabia que ela não sobreviveria por muito mais tempo. Então, quando ele chegou ao hospital e viu sua esposa parecendo mais fraca do que nos últimos dias, ainda que bela sob a luz do sol de fim de tarde, de alguma forma ele soube que era hora do seu último adeus.
Hospitais costumam ser frios e vazios de qualquer coisa mais positiva do que esperança, mas Andy fez questão de que pelo menos o quarto de Vanessa tivesse um pouco da alegria habitual do seu lar. Ele trouxe seus próprios cobertores, conchas felpudas, com padrões floridos e cores vivas; ele mandou que a floricultura fizesse entregas semanais de buquês de rosas amarelas e margaridas; ele se esforçou para sempre haver música saindo da caixinha de som que ficava ao lado da cama; ele tentou sorrir.
Andy puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da esposa, que sorria para ele como fazia todos os dias quando o via, embora fosse um sorriso trêmulo e de olhos tristes. Vanessa estava se esforçando para parecer bem, mas os dias estavam passando e isso vinha ficando cada vez mais difícil.
- Como foi o seu dia? - perguntou a ela, segurando uma de suas mãos com carinho, o rosto se torcendo na direção do tubo que lhe saia do pulso.
- Uma merda - ela brincou, sua voz rouca. - Eu odeio a comida daqui.
- Eu sei - Andy suspirou cansado.
Eles caíram em um silêncio meditativo e Vanessa fechou seus olhos, suas pálpebras estavam pesadas e ela sentia seu corpo pedir por um descanso que nunca parecia o suficiente. Andy se concentrou em fazer círculos com o polegar sobre a pele pálida de Vanessa, seu coração se apertando ao notar as unhas sem esmalte.
Vanessa era uma mulher vaidosa, sempre presando por manter os cabelos arrumados e as unhas pintadas. Andy se lembra de reclamar sobre o cheiro de esmalte toda quinta-feira a noite, quando Nessa se reunia com Beatriz e Rubi, suas melhores amigas, para cuidarem da pele, pintarem as unhas e encherem a cara.
Mesmo agora, sem sua esbelta cabeleireira cor de chocolate, Vanessa mantinha um lenço vermelho na cabeça, que adornava seu rosto e destacava suas feições. Ela estava usando um batom rosa claro nos lábios e havia resquícios de blush em suas bochechas, tirando do seu rosto aquele aspecto doentio de fraqueza que deixava Andy apavorado.
- Bia e Rubi estiveram aqui? - notou pela maquiagem.
Vanessa murmurou em concordância.
- Elas iam es... - sua frase foi interrompida por um excesso de tosses, seu corpo tremendo com a movimento, o som roendo nos ouvidos de Andy como garrafas dentro de uma betoneira.
Ele agitou-se, suas mãos correndo para segurar os ombros da mulher e massagear suas costas, gestos circulares e calmantes sob a fina bata de hospital que Vanessa vinha usando.
- Tudo bem, tudo bem - Vanessa disse mais para acalmar a si mesma do que para Andy, sua voz falhando enquanto tomava fôlego.
Andy pegou uma garrafa com água que estava na ponta da cama, abrindo-a rapidamente e a levando até os lábios de Nessa.
- Vai tirar meu batom - ela reclamou, tomando um gole pequeno, o movimento de engolir parecendo necessitar de uma grande esforço.
Andy só soltou a respiração quando Vanessa pigarreou e voltou a escorar as costas nos travesseiros, seu corpo relaxando.
- O que eu ia falar mesmo? - indagou, os olhos seguindo os movimento de Andy quando ele se inclinou para afofar seus travesseiros.
- Não importa - ele disse. - Descanse, meu amor, você só precisa descansar.
Andy balançou a cabeça, gesto que a deixou meia tonta, mas ela não comentou isso com o marido.
- Estou descansando há dias, eu tenho coisa melhor para fazer, sabia?
- O quê? Irritar nossos vizinhos?
- Eu tenho câncer, eles não podem reclamar do barulho de alguém com câncer.
- Eles podem se você decide arrumar o armário de panelas às três da manhã - Andy a lembrou e riu da cara que Nessa fez.
- Não me lembro disso, só me lembro do síndico berrando na nossa porta e dizendo... - ela parou no meio da frase para tomar fôlego, sua mão apertando a de Andy quando ele ameaçou se afastar para pegar mais água. - Dizendo que o prédio inteiro estava reclamando.
Andy apertou sua mão devolta, a levantando para deixar um beijo em seus dedos.
- A casa está vazia sem você - comentou e sorriu tristemente.
Vazio era um eufemismo. Todas as vezes que Andy entrava em sua casa, não parecia mais "sua" casa, não sem Vanessa lá. Tudo ali, cada cômodo, cada móvel e objeto, tudo tinha um pouco da história dos dois, memórias que ficavam se repentindo em sua cabeça.
Quando se sentava no sofá, Andy não pensava em como suas costas doíam depois de passar o dia sentado na frente do computador trabalhando, ele pensava em Vanessa e tudo que eles viveram. Ele se lembrava de chegar em casa e vê-la esticada em cima dele, vestindo um pijama brega e com os olhos concentrados na televisão a sua frente, as cores dançando sobre sua pele e a boca se curvando em um sorriso ladino, para logo se abrir nos mais lindos e felizes dos sorrisos quando o visse esperando na porta. Epe pensava nas noites em que chegavam em casa depois de um encontro particulamente agradável, suas bocas ocupadas um com o outro, mãos agarrando e puxando, os pés caminhando pela sala até que os dois estivessem enrocados naquele sofá, testando quanto tempo poderiam continuar fazendo isso antes que as tábuas de madeira velha sedessem e eles tivesse que substituí-lo.
E quando Andy vai até a cozinha ele não pensa no que fazer para comer ou em lavar a louça que se acumala em pilhas deprimentes, ele pensa nos dias de folga em que ele e Vanessa tentavam cozinhar algo exótico, os ingredientes e utensílios se acumulando em cada superfície da cozinha, enquanto eles giravam em uma péssima sincronia, sujando o chão e nunca conseguindo fazer a receita completa. Andy se lembra de todas as vezes em que eles viajaram e Vanessa fez questão de comprar o pior imã de geladeira na loja de lembranças. Se lembra de todos os lugares em que eles se agarraram, de todas as coisas que eles compraram e de todas as conversas mais sérias que tiveram naquela cozinha.
Absolutamente tudo o faz pensar em Vanessa. Ele sente falta de chegar no quarto e reclamar da quantidade absurda de perfume que ela usava e que deixava todo o lugar cheirando a maçã do amor ou campim cidreira dependendo do dia. E como seu coração dói quando chove e Vanessa não está lá para fazer uma dança ridícula e alegar que controla a chuva com ela. Vanessa não está com ele para zombar dos filmes que passam no domingo a noite, para ler as manchetes mais ridículas do jornal enquanto ele faz o café, para tocar seu rosto e beijá-lo como se ele fosse precioso para ela.
Não, Vanessa está em um quarto de hospital, seu estado piorando a cada dia, a quantidade de morfina sendo aumentada, sua vida se esvaindo na frente dos seus olhos.
- Eu estou vazio sem você - Andy continua.
Vanessa sorri com isso.
- Eu sempre soube que você curtia uma merdas estranhas na cama, Andy - devolveu com sarcasmo, mas seu sorriso carinhoso a entregou. - Eu também estou vazia sem você.
- Vamos lá, isso não soou estranho até você tornar estranho - ele bufou, olhando para cima como se o gesto pudesse devolver suas lágrimas para dentro dos seus olhos.
- Torno tudo estranho, você sabia disso quando decidiu se casar comigo - continuou brincando e sua risada logo se transformou em outra tosse. - Dessa noite eu não passo, viu?
- Por favor, pare - Andy pediu enquanto voltava a afofar seu travesseiro. - Não brinca com isso Nessa, com isso não.
- Desculpa - sussurrou, sue solhos vagando pelo quarto e fixando no monitor que mostrava seus batimentos. - Eu faço isso quando estou com medo.
- Eu sei - sussurrou de volta, inclinando-se para colocar apoiar a cabeça em seu ombro, mesmo que segurasse o peso para que Vanessa não fosse incomodada.
Ela usou a mão livre de tubos e picadas de injeções para acariciar os cabelos de Andy, fios ralos e castanhos, alguns brancos se você prestasse bem atenção.
- E com a sua calvície? Eu posso brincar com isso, porque tenho certeza que tenho mais fios de cabelo do que você - Vanessa tagarelou e recebeu uma risada chorosa do marido em resposta, seu pescoço se esticando para depositar um beijo na cabeça dele. - Eu não quero morrer, Andy - sua voz falhou dessa vez não pela tosse ou pela fraqueza, um nó se formando em sia garganta e lágrimas que só precisavam se um impulso para encorrem por seu rosto como uma cascata.
Andy ergue a cabeça para olhá-la, sem nem mesmo pensar a puxou para um abraço, o movimento brusco balançando os aparelhos ao redor, enquanto o corpo de Vanessa balançava com a força de seus soluços e da tosse persistente.
- Está tudo bem, eu estou aqui - ele a acalmou, ou tentou, seus próprios olhos estava embaçados e sua voz não estava mais alta do que um suspiro. - Eu te amo tanto, Nessa.
- Mais do que todas as portas? - ela perguntou encolhida sob seu pescoço, Vanessa estava tão magra, tão pequena, tão frágil...
- Mais do que todos os móveis, querida - ele respondeu de volta.
Sua mente vagando para a noite a que a fala de Vanessa se referia. Eles ainda estavam na faculdade, um pouco chapados, enrolados na laje da casa de alguém, olhando para um céu sem estrelas, mas jurando que estavam vendo todas as constelações do zodíaco.
Vanessa estava usando um biquíni azul que combinava perfeitamente com sua pele bronzeada pelo sol do verão, ela ainda usava o cabelo tingido de loiro e tinha o mais adorável dos chupões no pescoço. Andy estava do lado dela, usando uma camiseta com alguma frase sexista que era considerada legal vinte anos atrás e shorts de praia que deixavam a mostra uma tatuagem no topo da cocha que fez quando estava bêbado e que dizia: aberto 24 horas.
- Não importa se cabia mais alguém na porta ou não, o que importa na cena é o gesto de amor em se sacrificar para que Rose pudesse viver - Andy explicou pelo que pareceu ser a milésima vez.
- Gesto de amor? É assim que estamos chamando falhas no roteiro? - Vanessa rebateu, seus braços cruzados enquanto ainda procurava no céu pela "constelação das Vanessas" que Andy disse que existia perto das "Quatro Marias".
- Você é sempre tão chata assim? Como estamos namorando há um ano? - ele gemeu em indignação, virando a cabeça para encarar a garota.
- Eu só não gosto de romances - deu de ombros. - E é um ano e meio de namoro.
- Três semanas e um dia - continuou ele com um sorriso involuntário. - Ei, Couli - chamou.
- Hum?
A piada que Andy estava prestes a fazer morreu em seus lábios assim que Vanessa se virou para encará-lo. Ela era tão linda. Eles estavam juntos por tempo suficiente para que Andy já estivesse acostumado com sua presença, mas ele nunca deixava de se surpreender com a sorte que tinha por ter encontrado alguém como Vanessa.
Ela era incrível! Parecida com eles apenas o suficiente para que ele não a odiasse, Vanessa se tornou rapidamente sua melhor amiga e invadiu sua vida com piadas pervertidas e encontrando os lugares com as festas mais loucas. Ele soube no momento em que a viu resgatar um gato de uma árvore como uma maldita super-heroínas dos desenhos animados antigos que ele a queria como namorada, mas apenas nesses momento é que ele tem a certeza de que não se importará se ela ficar com ele pelo resto da sua vida.
- Podem ter mil portas ao nosso redor, eu ainda morrerei por você - disse de repente, sem ter certeza de onde tirou isso.
- Isso não faz sentido - Vanessa riu.
- Claro que faz, porque eu te amo mais do que todas as portas do Titanic - e essa foi a primeira vez que ele disse eu te amo para um garota.
E Vanessa sorriu e sufocou um gritinho empolgado, porque, quem ela queria enganar? Ela amava romances!
Agora, casados há dez anos, fazendo planos para terem filhos no futuro, mesmo que os dois saibam que Vanessa não vai sobreviver para isso; o sentimento ainda não mudou.
- Eu te amo tanto, Couli - murmurou carinhosamente, apertando a mulher em seus braços. - Eu não sei o que vou fazer quando você não estiver mais aqui.
E Vanessa chorou, porque por mais que ela amasse romances, ela odiava o fato de que sua história de amor, seu relacionamento mais perfeito, estava terminando dessa forma.
- Me desculpa - pediu baixinho, suas mãos se agarrando fracas ao redor da camiseta de Andy, ele também havia perdido peso, havia tanto tecido para agarrar... - Me desculpa, Andy.
- Não é culpa sua, nada disso é culpa sua - continuou a murmurar, balançando seus corpos devagar, o gesto mínimo, mas calmante. - Se lembra quando nos mudamos? E você disse... Você disse, "preparado para me aguentar para o resto da sua vida?".
- Eu disse que iria torná-la um inferno - sorriu com a lembrança.
- Mas você não tornou, todos os dias com você Nessa, cada fodido dia naquele apartamento valeu a pena, ainda vale - Andy se afastou para olhar nos olhos de Vanessa. - Tudo valeu a pena.
- Até naquela vez em que eu fiz você ser demitido porque não parava de ligar no seu trabalho e seu chefe ficou furioso?
- Valeu - ele sorriu para ela, seus dedos alcançando seu rosto para limpar as lágrimas e o restante da maquiagem. - Todas as brigas, os chiliques, até daquela vez em que eu fiquei bêbado e sem querer quebrei o vaso que sua mãe nos deu e você realmente quis me bater e eu já estava ligando para polícia para te denunciar.
- E então o síndico apareceu e mandou a gente calar a boca.
- Porque o prédio inteiro estava reclamando - eles contaram juntos, rindo ao fim disso.
Andy limpou mais lágrimas, enquanto outras chegavam, aproximando-se para beijar Vanessa nos lábios, um último grande beijo.
- É melhor você deitar - ele disse assim que se separaram. - Eu vou passar a noite aqui, estou de folga amanhã.
Normalmente Vanessa diria para ele ir embora, para cuidar do apartamento e da vida dos dois, que ela estava bem.
- Fica, por favor - ela lediu dessa vez, sentindo-se ainda mais fraca quando Andy a ajudou a deitar na cama, como se ela não fosse mais conseguir levantar, porque seu corpo não obedeceria mais sua vontade. - Fica comigo, amor.
- Sempre - ele disse de volta, sentando-se na cadeira ao lado e voltando a segurar a mão de Vanessa. - Lembra-se quando te pedi em casamento? Naquele restaurante? Estávamos comendo e eu apenas disse que, "ei, deviamos casar" - Vanessa sorriu e ele continuou. - Você disse que já sabia, é claro que sabia, você sempre descobre minhas surpresas, disse que estava esperando algo romântico e eu fingi ficar irritado com isso - Andy parou um pouco, respirando fundo antes de continuar. - Então eu fui embora e você ficou furiosa, porque eu te deixar sozinha durante o pedido de casamento é...
- O equivalente mais deprimente de ser deixada no altar - ela completou, lembrando-se que disse isso assim que adentrou de volta no apartamento dos dois, apenas para se surpreendida com uma chuva de rosas amarelas e um Andy ajoelhado em volta de velas e balões. - Foi fofo, até você queimar as cortinas.
- Mas você disse sim - ele rebateu. - Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida, eu te amo tanto e eu estava com tanto medo de que você dissesse não, foi um alívio quando você gritou... Gritou sim.
- Seu idiota inseguro - Vanessa murmurou, seus olhos fechados. - Você vai ficar comigo, Andy?
- Sempre, bebê - inclinou-se para beijar sua testa. - Pode dormir, eu vou estar aqui quando você acordar - ele disse e achou que sua voz não fosse aguentar tão grande era a vontade que tinha de gritar suas dores, lágrimas nublando sua visão e soluços sufocados em seu peito.
- Eu te amo - ela voltou a dizer, deixando o sono tomá-la.
- Durma, meu amor, você já foi forte o suficiente por mim - Andy contou, sua cabeça caindo para se apoiar na borda da cama, enquanto se entregava aos soluços e o som do eletrocardiograma se estabelecia em um barulho único de adeus.
As enfermeiras não demoraram a chegar e Andy viu com o canto dos olhos um lençol branco cobrir o corpo de sua amada. E o quarto de hospital não parecia mais tão acolhedor, não importava quantas flores e quanta música alegre tivesse, porque o que o tornava um pouco mais aquecedor, um pouco mais como sua casa, era Vanessa.
Obrigada a quem leu.
Beijinhos caramelados.
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