Não Toque

Nome: Não Toque
Gênero: Terror psicológico... Eu acho? Investigativo talvez?
Sinopse: Ethan vem sendo perseguido desde a adolescência por Mora. Ele não tem certeza do que ela, talvez seja um espírito sádico, talvez um demônio acidentalmente invocado, a única coisa que ele sabe é que Mora não vai deixar nenhuma outra mulher tocar nele. Pena Beca não se deixar intimidar por isso e estar disposta a investigar o estranho Ethan custe o que custar.
Média de capítulos: 31
Capítulos escritos: 6
Por que eu parei de escrever?: Não estava sendo divertido, esse é o tipo de história que eu gosto de ler, mas não muito de escrever. Por que eu perderia meu tempo com toda essa tristeza e depressão quando eu posso me voltar para minha fantasia juvenil com piadas inapropriadas e insinuações sexuais que é super divertida de escrever?
Pretendo voltar a escrever?: Sim, talvez, eu não sei. Os capítulos são bem curtos, então escrevê-los não é realmente o problema. Esse não é o meu gênero favorito e como eu quase sempre escrevo para mim e apenas para mim não vejo porque insistir nessa história. Ainda assim, não veria problemas em escrever caso houvesse alguém interessado em ler.

Aproveitem ⏳


  Ele sentiu a presença dela pairando no quarto assim que chegou em casa.
— Você tem estado muito perto dela — disse em tom suave, quase sussurrando e sua voz caiu macia em seus ouvidos. — De Carol — complementou, o ciúmes distorcendo o nome da garota de uma forma feia.
  Ethan não sabe ao certo quando começou, como ou por quê. Ele sabe que um dia ELA começou a aparecer.
  "Ela" é Mora, como Amora ou Amor, como Morra. Ethan não tem certeza de qual o certo e não sente vontade de saber.
  Ela só aparece a noite e em TODAS as noites. Não importa em qual canto do país ou o quanto ele se esconda, anoitece e Mora aparece.
— Boa noite — ele bocejou, jogando sua mochila no canto do quarto e se jogando em sua cama, suspirando quando sentiu que finalmente podia descansar. — Eu não sei do que você está falando, Mora.
  Ah, mas ele sabia. Mora riu com isso, uma risadinha pequena e apreciativa, como se ele fosse uma criança ingênua ou tivesse acabado de contar uma piada particulamente cômica.
  Ela se sentou na beirada de sua cama e Ethan sentiu o peso dela ali. Ele sentiu o colchão afundar, o lençol farfalhar, porra, ele até sentiu o cheiro dela. Algo enjoativamente doce que às vezes o fazia respirar mais fundo apenas para sentir e Ethan se sentia patético por isso.
  Ethan nunca conseguiu entender o que Mora era, ele costumava supor que fosse um fantasma, porque ela estava em todos os lugares, sabia de todas as coisas e podia fazer qualquer coisa.
  A coluna de Ethan gelou com a proximidade dela e ele cerrou seus olhos castanhos, recusando-se a sequer espiar. Ele não queria olhar para Mora, não queria falar com ela, porque ele sabia o que ela iria dizer e só a ideia disso.... Ele sentia seu estômago embrulhar, seus punhos se cerraram em seus cobertores ainda bagunçados da última noite e rezou em seus pensamentos por alguém. Por qualquer coisa. "Tire-me daqui".
— Vocês são amigos? — Mora perguntou e se aproximou mais. — Você gosta mais dela do que de mim? — era provocante e quase desafiadora.
  Ethan não falou, porque se ele dissesse a coisa errada, se Mora suspeitasse apenas um pouquinho de que ele estava mentindo, então Carol... Carol acabaria como Ella. Morta.
  Os dedos de Mora roçaram a face de Ethan e ele se encolheu com o toque, as pontas dos dedos da mulher geladas em sua pele, como pingentes ds gelo afiados, rasgando cortes finos em sua pele parda. Ethan quase choramingou, apertando os lábios entre os dentes, temendo soltar qualquer som, até mesmo se mover.
  Porque Mora era uma psicopata e Mora o mataria se ele pisasse fora da linha. Se Ethan falasse alto demais, se sequer falasse demais. Assim como ela matou Ella.
  Ethan nem tinha mais certeza do porque ainda lutava por sua vida, ele perdeu tudo há muito tempo, Mora o fez perder tudo.
  Ela surgiu do nada quando ele tinha 17 anos. Talvez tenha sido por causa de uma dessas brincadeiras de invocar espíritos, talvez Ethan seja apenas amaldiçoado. Mora apareceu e marcou Ethan como dela.
  E uma a uma, cada garota que surgiu em sua vida foi desaparecendo. Mora perdeu a linha com Ella, porque Ethan a amava e Mora nunca tolerou a ideia dele amar qualquer coisa além dela. E porra, porra, porra... Ele só tinha 17.
— Eu larguei tudo por você — ele sussurrou, fazendo um esforço imenso, imensurável para que sua voz soasse firme, para que não falhasse e Mora não suspeitasse do quanto ele a odiava. — Minha mãe — ele sorriu, embora seu coração estivesse doendo, completamente partido ao lembrar que não falava com a mãe há dois anos. — Minha irmã — continuou ainda, segurando um soluço, segurando as lágrimas. — Tudo por você.
  Ele ouviu Mora cantarolar em satisfação, seus dedos gelados ainda em sua pele, uma das poucas coisas que ainda o lembrava de que Mora era muitas coisas, mas humana não era uma delas.
  Mora, que em algum momento, bem nas primeiras semanas, quando Ethan ainda estava animado com a ideia de ter uma garota em seu quarto, nessa época, Mora era a mulher mais linda do planeta inteiro.
  Ele nunca soube dizer a idade dela, ela não envelheceu com o passar dos anos, mas também ele nunca soube definir isso muito bem, ela tinha um jeito de menina, mas a malícia... Céus, as coisas que saiam da boca dela fariam uma prostituta corar.
  Ethan abriu os olhos com relutância, sabendo que se não o fizesse logo, Mora suspeitaria que ele não queria olhar para ela. Um arrepio percorreu seu corpo ao pensar nas coisas que Mora faria com ele se pensasse que ele não queria olhar para ela.
  Mora soltou outra risadinha com o arrepio do homem, julgando que Ethan estava gostando de seus toques.
  Ethan forçou um sorriso no rosto, olhando para Mora erguendo-se ao lado dele, com longos cabelos pretos sempre soltos e dois pares de olhos doentiamente escuros, pretos como besouros rastejando para fora dos olhos de um cadáver.
  Mora tinha a pele sempre corada, cheia de vida e sardas e pintas. Com o rosto fino, lábios coração avermelhadas e bochechas altas, cílios longos e nariz pequeno. Ela tinha essa cintura fina que em algum momento Ethan já sonhou em abraçar, peitos que pulavam por trás do decote de seu vestido preto, preto, preto, Mora sempre vestia preto, vestidos antigos que a faziam parecer uma viúva em um funeral ou uma noiva profundamente infeliz.
  Mas Ethan nunca esteve tão focado nisso, ele sempre gostou mais dos pequenos detalhes sobre Mora. Mãos finas que sufocam. Pés pequenos que esmagam. Dentes lineares que destroçam.
— Fica longe dela — Mora ditou, a voz firme, suas mãos caminhando para puxar o cabelo de Ethan para trás com força e ele não parou o gemido dolorido que emergiu de seus lábios.
  Mora o forçou a encará-la e os olhos de Ethan lacrimejaram com a força de seu aperto e a visão da assassina nojenta que ela era, mas ele não derramou nenhuma lágrima, ele se recusou a fazer isso.
  E, tão rápido quanto apareceu, Mora sumiu após dar esse aviso. Essa ordem.
  Ethan piscou para o quarto vazio. Sozinho. Um suspiro de alívio saiu de seus lábios. Ele precisava de ajuda.

🌙•°☆

  Ethan nunca foi um cara desobediente. Ele fazia seu dever e comia todos os vegetais do prato, suas notas eram boas e ele nunca saiu sem permissão dos pais. É por isso que ele se afastou de Carol quando Mora mandou.
  Ele já aceitou que nunca iria poder ter uma relação normal, porque Mora sempre estaria lá, pairando como um fantasma de amores perdidos, um do qual ele nem se lembrava.
  Era uma dessas sensações sufocantes, onde você parece estar dentro d'água e não importa o quanto se mexa não consegue, não pode, respirar. Ethan estava sempre se sentindo assim, preso a Mora e suas regras, obedecendo a tudo como um cachorrinho. Ele gostava de se comparar há um herói trágico da ficção, acorrentado ao demônio da obsessão.
  Sempre foi assim e ele deixou há muito de se imaginar conhecendo uma garota legal, entrando em um relacionamento, namorando, casando e tendo filhos. Ele gostava de idealizar esses pequenos momentos quando era mais jovem, mas logo aprendeu que Mora sempre estaria lá e ela jamais deixaria qualquer outra garota ir muito além em um relacionamento com ele.
  Sempre foi uma questão que fazia a cabeça a de Ethan doer, porque ele sabia que isso não era amor, não poderia ser. Mora era doente, completamente obcecada com a ideia de tê-lo fixa em sua cabeça e Ethan nem tinha certeza do que fez para chamar a atenção da mulher dessa forma.
  Ele era, francamente, um cara normal. De olhos e cabelos castanhos, cujo os olhos possuiam olheiras um pouco mais fundas que os demais, porque ele não conseguia dormir com medo de Mora e cujo os cabelos estavam um pouco mais compridos, porque ele estava iniciando a vida na cidade grande, o dinheiro estava curto e o barbeiro caro.
— Você não pode me evitar para sempre — Carol saltou na frente dele a força depois de ser ignorada o dia todo, fazendo-o parar no lugar onde estava varrendo.
— Oi, Carol — sua voz saiu rouca, sua voz sempre saia rouca, porque ele não costumava falar muito nesses dias.
  Ele não olhou para Carol, ele nunca olhava, porque se Mora soubesse disso... Se ela visse em seus olhos castanhos o menor grau de luxúria ou mesmo interesse...
— Por que está me evitando? — a mulher insistiu, um de seus pés cobertos pelos sapatos do uniforme batendo no chão.
  Eles eram pagos para limparem as ruas. Parecia fácil e bom o suficiente para não ter que ter contato com ninguém. Bob, seu último colega de trabalho, entendeu que Ethan não queria conversar e o deixou trabalhar em paz durante todo o último ano.
  Mas agora Bob não estava mais lá, Carol estava, e Carol era insistente, vivaz e falante. Exatamente o tipo de mulher por quem Ethan poderia desenvolver interesse.
  Ele admite que mesmo sabendo o que Mora faria com ela se soubesse, ele ainda se arriscou trocando uma ou duas palavras com a mulher, palavras que se transformaram em conversas e fizeram Ethan se sentir um merda depois, porque ele não deveria estar falando com Carol. Mas ele estava tão sozinho...
  Ethan de lembra de gostar de falar com as pessoas, de não conseguir ficar quieto quando chegava nos lugares e de sempre ter algo para falar, para perguntar, para criticar.
  Esse Ethan era apenas um fantasma atualmente, uma piada se comparado ao que Ethan se tornou. Fechado, mal-humorado e assustado. Ele mal sabia como Carol teve coragem de falar com ele.
  O que ele sabia, no entanto, é que Mora estava olhando cada passo seu. Ele não sabia como, mas a presença dela sempre estava no ar de alguma forma, mesmo em seus sonhos ou em seus momentos mais íntimos, a presença de Mora pairava ao redor dele e, se ele prestasse bem atenção ao olhar nos reflexos, se cerasse os olhos e se concentrasse, ele quase poderia ver os olhos de Mora. Constantes e cortantes. Apenas o pensamento disso já lhe dava arrepios.
  Não costumava ser assim, mas agora, desde o primeiro e último assassinato, era uma tortura sequer pensar em Mora. Ethan a odiava. A odiava muito. Quando ela falava com ele, quando o forçava a beijá-la, quando o tocava... Todas essas coisas, cada sensação formingando pelo seu corpo implorando para não estar lá.
  Mas estavam, porque Mora jamais tocou um dedo nele para machucá-lo. Às vezes ela puxava seu cabelo, às vezes ela apertava seus punhos ou o mordia forte demais, mas nunca para doer ou deixar marcas muito profundas. Sempre cuidadosa, quase gentil, Mora parecia sentir prazer em fazê-lo se sentir bem, em vê-lo se contorcer sob seu toque e gemer seu nome, contra todos os sentidos, lógica ou ética, porque Ethan não tinha escolhas e Mora não estava tentando fazê-lo se sentir mal.
  Mora tinha boas mãos que sempre caminhavam na direção certa e uma boca que sempre fazia a coisa certa. E, apesar do toque gelado e EXTREMAMENTE NÃO CONSENSUAL, se Ethan fechasse bem os olhos, ele quase poderia imaginar que as coisas não eram bem assim. Que Mora era uma mulher legal e eles eram algo -legal-, nos dois sentidos da palavra.
— Alô, terra para Rick — Carol acenou na frente de seu rosto quando ele continuou sem responder, parado em devaneios como um verdadeiro esquisitão. — Está tudo bem?
  Não.
— Claro — Ethan sorriu e continuou a varrer, ignorando completamente as perguntas anteriores de Carol.
  Ele sabia que estava magoando-a agindo dessa maneira, porque nos últimos três meses, Ethan não foi nada além de gentil e amigável com ela. Mas isso foi antes de Mora descobrir.
  Ele realmente achou que ela poderia relevar se fosse com uma colega de trabalho com quem ele estivesse falando. Mas Carol não era só uma colega de trabalho, ela era uma rival, porque pela força do tempo e por ainda não se ter um botão que controla o coração, tanto Ethan quanto Mora sabiam que as chances dele se apaixonar por Carol eram altas.

🌙•°☆

  Mora não achava que estava fazendo algo de ruim, ela estava apenas vigiando o que era dela. E quando você ama algo você cuida, é apenas isso, Mora cuidava muito bem de suas coisas.
  Ethan discordaria disso se pudesse ouvi-la, ele viria com a mesma conversa de sempre, blá, blá, blá, você é louca, blá, blá, blá, pare de machucar pessoas, blá, blá. Mora achava fofo como ele sinceramente ainda esperava que tivesse alguma chance de discutir contra alguém como ela.
  Ainda estaria tudo bem, porque essa força de Ethan, esse amor à vida e sua empatia inabalável eram as coisas que ele mais gostava nele. Ela sabia que não era qualquer humano que poderia lidar com a pressão diária que ela impõe e sair inteiro disso, mas seu Ethan conseguia lidar muito bem com tudo, Mora até suspeitava de que ele gostasse disso.
  Eles estavam tendo pequenas divergências em seu relacionamento desde que ela se lembrava. Coisinha boba. Matar é errado, ele vivia tagarelando. Mas para Mora não há nada de errado em eliminar os pequenos obstáculos em seu caminho.
  Obstáculos em forma de garotas, belas mulheres, que ameaçavam tirar o que era dela e Mora jamais aceitaria isso. Ethan já estava possuído e todas essas vadias deviam aprender a não tocar naquilo que já tem dona.
  Ela podia ser um pouquinho possessiva, são coisas da vida, mas, sério, Ethan estava lidando muito bem com isso. Ele nem chorava mais quando ela aparecia! Claro, ele também não sorria, mas, ei, pare de ser tão negativa, o amor tem dessas coisas, certo?
  O que tem se Ethan estava com ela contra vontade dele? Por favor, humanos são cheios de vontades, mas logo cedo já se acostumam com o fato de que não podem ter tudo aquilo que querem.
  Então ela estava perseguindo Ethan por aí, porque cada coisa sobre ele parecia fascinante aos seus olhos. A forma como Ethan mordia o interior da bochecha quando se via em um dilema difícil. Como comia sua comida por ordem de cor, sempre com o que era verde primeiro e laranja por último. A forma como seu corpo inteira se movia quando ele sorria, suas mãos sempre correndo para agarrar o motivo do que lhe trazia tanta felicidade, seus ombros tremendo em emoção mal contida, a fala rápida, os olhos arregalados.
  Claro que já fazia algum tempo desde a última vez que Mora viu Ethan sorrindo, sorrindo de verdade, sabe, sem ser aquela coisa seca que ele fazia com os dentes e mostrava para as pessoas como se estivesse achando graça de algo ou realmente se divertindo. Ethan também não sorria muito com ela, mas Mora e ele ainda estavam trabalhando nisso, pelo menos eles resolveram juntos o problema das lágrimas.
  E, veja, Ethan era uma coisinha delicada. Ele atraia atenção por onde passava, como não atrairia? Quem não olharia para ele? Claro, os motivos mudaram ao longo dos anos. Inicialmente as pessoas olhavam para Ethan cheias de admiração e inveja, ele costumava ser o tipo de garoto confiante e cheio de vida. Nesses últimos tempos, porém, Ethan estava todo encolhido e triste, coitado, uma versão patética do homem que ele já foi e a maioria dos olhares direcionados a ele eram apenas pena.
  Mas Mora ainda o amava, mesmo em um estado débil e patético de fragilidade humana como o que Ethan se encontrava, Mora sempre estaria lá para ele, ela jamais o abandonaria e, claro, ela esperava que Ethan demonstrasse um pouquinho mais de gratidão por ela estar na vida dele até hoje mesmo com o tão pouco afeto e atenção que ele lhe dava, mas, ei, ela não estava cobrando nada, só falando, só falando...
  É por isso que Mora ficou abismada quando descobriu Carol rastejando para perto do seu querido amado.
  Ela estava seriamente ofendida por Ethan ter pensado que ela não perceberia, felizmente ela tinha olhos grandes e atentos que espiavam tudo. Ethan era majoritariamente fiel, ela tinha que dar esse crédito a ele, mas às vezes alguém passava por cima de suas barreiras.
  E quando isso acontecia ela tinha que fazer alguma coisa. Por favor, ela nem estava pensando em matar ainda. Só em machucar um pouquinho.
  É só que Ethan continuava se recusando a gastar dinheiro com alianças e tanto quanto Mora poderia roubá-las, ela meio que estava esperando por um grande e autêntico pedido de casamento, com Ethan de joelhos por ela e flores e confetes e champanhe e tudo que uma garota tem direito.
  Mas enquanto Ethan não tomava uma atitude e ficava enrolando, ela às vezes se deparava com esse tipo de situação. Garotas malvadas, egoístas e depravadas que continuavam insistindo em se aproximarem de Ethan e tirarem ele dela.
  E, como foi falado, a relação estava em um momento delicado. Os dois erraram e disseram coisas das quais se arrependeram, ok? Ethan pode ter enlouquecido um pouco depois que Mora ameaçou a mãe dele, mas ela estava com ciúmes! Que garota nunca disse um monte de bobagens quando estava com raiva? Blá, blá, blá, eu vou matar sua família e fazer você assistir, blá, blá, blá, eu vou beber o sangue da sua mãe, blá, blá, blá, hahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahah. Quem nunca, né? Acontece.
  Mas Ethan ficou todo "não me toque" sobre isso e agora eles estavam passando por um processo de superação longo e delicado, mas ninguém disse que Mora não era paciente.
  É por isso que partiu seu coração ver Ethan, seu Ethan, sorrir pela primeira vez em dois anos com Carol.
  Carol! Ela nem era gostosa!
  O que Carol tinha que ela não?
  Mora se sentiu traída, pior ainda porque Ethan sabia que ela estava por perto e ainda assim fez questão de esfregar na cara dela o quanto estava feliz com outra. Isso foi cruel até para Ethan.
  E, certo, ela prometeu a ele que tentaria, veja, TENTARIA, dar um tempo dos assassinatos. Mas eles nunca falaram nada sobre machucar um pouco as vadias aleatórias que apareciam querendo estragar o doce e puro amor que construíram. Ethan entenderia, Mora sabia que sim. Ethan sempre entendia.

🌙•°☆

— Caneta preta — Ethan murmurou para Mora, estendendo sua mão para o lado enquanto seus olhos se mantinham fixos no livro a sua frente.
— Caneta preta — Mora disse de volta, colocando a caneta em questão na palma da mão do homem.
  Os dois estavam sentados no chão do quarto de Ethan. Era mais uma tarde quente e eles sentiam que poderiam derreter. As janelas de todo apartamento estavam abertas, um pequeno ventilador barulhento rodando, rodando, rodando no quarto.
  Ethan se encontrava cercado por livros, cadernos e qualquer outro tipo de material escolar. Ele fazia a faculdade de administração online, achou que assim seria mais fácil de evitar que Mora quisesse matar todas as mulheres da sua classe, mesmo online ela ainda dava uns chiliques.
  Mas Ethan tinha que dar os créditos a ela, Mora sempre ficava quieta nos momentos em que ele precisava estudar e sempre o ajudava como podia. Ele apreciava isso.
— Marcador — ele disse e fez o mesmo movimento com a mão, ouvindo uma agitação ao seu redor antes de Mora colocar o que ele pediu em sua palma.
— Marcador — ela disse para confirmar e Ethan abriu a tampa com a boca e passou a caneta pelas letras no papel.
  Mora se aproximou dele em algum momento com um copo de limonada, Ethan não soube como ela fez isso já que eles não tinham limão em casa, mas ela não questionou. Ele aprendeu há muito a não questionar.
  Bebendo da limonada distraidamente, seus pés batiam nos de Mora em um ritmo inconsistente e inconsciente, enquanto as palavras da matéria corriam por seu cérebro.
  Administração não foi sua primeira opção, é claro que não. Ethan queria mesmo estudar Psicologia. Não porque ele gostava de ajudar os outros ou o que quer que leve alguém a escolher passar 5 aprendendo a como papear sem levar alguém ao suicídio imediato.
  Ethan queria cursar Psicologia para tentar entender Mora, sua obsessão doentia por ele e como se livrar dela. Mas a mulher percebeu suas intenções, é claro que ela percebeu, e não o deixou pergar esse curso, talvez porque dentro da Psicologia realmente uma forma de se livrar de Mora.
— Borracha — disse para ela.
— Borracha — Mora repetiu quando colocou o pequeno quadradinho branco em sua mão.
  Um bocejo solitário escapou dos lábios de Ethan e ele tirou os olhos do material que estava lendo por um segundo para encarar o relógio digital que ficava em cima de sua cômoda.
— Está tarde — concluiu sem parecer surpreso.
  Era a tarde de um domingo quente, ele e Mora já estavam deitados ali há tempo suficiente para que seu corpo doesse com o esforço de ficar no chão por muito tempo, dormência e câimbra em partes estranhas.
  Logo ele teria de fechar seus livros e procurar algo para comer no jantar, ele achava que ainda tinha algumas sobras da pizza de sábado e fez planos para esquentá-la para ele.
  Mora realmente não comia, mas ela estava frequentemente em cima de Ethan para que ele colocasse mais vegetais em seu prato e fizesse as refeições na hora certa. Ele sabia que ela faria uma cara emburrada quando visse que ele decidiu comer a pizza em vez do almoço que eles fizeram mais cedo, constituído de frango grelhado, salada de soja vegana, arroz integral e feijão refogado com bastante alho, super saudável e essas coisas.
— Régua — Ethan pediu, mas dessa vez ele não sentiu nada sendo colocado sobre a palma de sua mão. — Mora? — chamou preocupado, tirando os olhos de papel para olhar a mulher que estava deitada ao seu lado.
  Como se estivesse parada no tempo, Mora tinha os olhos perdidos em Ethan, apenas o observando com essa expressão encantada, um sorriso plácido em seu rosto, os olhos pretos tremulando enquanto observava o que devia ser Ethan de perfil com a cara nos livros. Ethan se viu corando com isso.
— Desculpe, eu me perdi na sua beleza — Mora sussurrou depois de um tempo, bem baixinho, como se estivesse com medo de falar mais alto e quebrar a delicadeza do momento. — Aqui está, querido — disse quando colocou a régua com delicadeza na palma de sua mão.
  Ethan corou com isso também, porque ele se lembrava bem do que Mora fez com essa mesma régua da última vez que usou seu material escolar. Ele ainda devia ter as marcas.
  Ethan sentiu quando Mora se aproximou mais dele, passando uma mão por sua cintura e simplesmente estando lá como uma presença constante.
  Primeiro ele ficou tenso com o contato, mas depois de anos de convivência ele forçou seu corpo a relaxar com o toque, deixando que Mora o abraçasse enquanto ele lia as últimas linhas do capítulo que seu professor solicitou.
  Quando terminou, Ethan guardou suas anotações dentro de seu caderno e deixou todo seu peso cair no chão, suspirando com o fim de mais uma tarefa, ele precisaria apenas fazer um fichamento agora.
— Beijo? — a voz de Mora soou ao lado dele no mesmo tom de quando ele estava pedindo coisas para ela.
  Ethan abriu os olhos, vendo a mulher deitado na sua frente, encarando-o de forma quase esperançosa. E Ethan quase riu, porque Mora não pedia beijos, elas simplesmente os tomava.
  Ele não resisitiu e riu da cara de pau dela, pensando no seu dia por completo. Em Mora o acordando cedo com o cheiro de pão quente e café. Suas tentativas desastrosas de fazerem o almoço sem sujarem metade da cozinha. O banho... E as horas estudando, apenas ele e Mora deitados no chão quente de seu quarto, sendo simples, fácil e doméstico assim.
  E isso doeu em seu coração, porque se Mora não fosse tão louca e ele não fosse tão são, talvez eles pudessem ter uma relação.
— Beijo — ele confirmou quando se aproximou da mulher, deixando em seus lábios um selinho e deixando-se ser puxado para algo mais profundo, as mãos de Mora cavando fundo em sua clavícula enquanto ele mantinha seus braços largados ao lado do corpo como um cadáver moribundo, deixando que Mora pegasse dele o que ela quisesse.

🌙•°☆

  Ele sabia que isso acabaria acontecendo. Era de partir o coração porque ele SABIA. E ainda assim não conseguiu impedir.
  Ele e Mora agora estavam em seu quarto e Ethan sentia seus pulmões se afundarem dentro do seu próprio peito, enquanto ele puxava o ar desesperadamente, sem saber como lidar com a situção que tinha em suas mãos.
  Porque Carol estava machucada. Muito machucada. Atropelamento. Aconteceu na frente dele. Aparentemente apenas mais um acidente normal. Mas Ethan sabia melhor. Porque ele viu o reflexo de Mora por perto quando aconteceu. Ele ouviu sua risada. Sentiu seu cheiro. Sabia de sua presença.
  Foi Ethan quem socorreu Carol. E agora ele ainda tinha restos de sangue seco em suas mãos, porque ele lutou para mantê-la bem e respirando enquanto a ambulância não chegava, estancando o sangue do ferimento em sua perna em um estado de frenesi tão grande que mal notou os acontecimentos seguintes.
  Algo sobre hospital. Remédios. Muitos remédios. Políciais. Algumas perguntas sobre o que aconteceu. Repórteres. Flashes de luz e lentes de câmeras para todo lado. Filmando. Filmando. Filmando.
  Ethan apenas sabia que quando voltou a abrir os olhos de forma consciente ele estava na porta de seu apartamento. Então ele deu de ombros, abriu sua casa e entrou.
  Encontrou Mora assim que passou pela porta e eles estavam discutindo desde então. Ethan se sentia quebrado de uma forma como não sentia há muito tempo. Ele se sentia nojento e sujo. Talvez um banho ajudasse, mas ele não achava que teria forças ou mesmo vontade para mover seus braços dentro da água quente, seus movimentos languidos ainda por causa dos calmantes que deram a ele e seu cérebro de minhoca.
— Não entendo porque você está tão irritado — Mora praticamente cantarolou, deitada em cima de sua cama de forma desleixada, observando Ethan caminhando ao redor de seu próprio quarto em puro estado de pânico. — Eu nem matei ela.
  E Ethan queria rir, porque Mora apenas não matou Carol por um incrível golpe de sorte do destino ou do roteiro, Ethan realmente não saberia dizer. O corpo de Carol voou da calçada onde estavam varrendo para o carro descontrolado que passava no meio da rua. Mora fez Carol se atropelada.
  Um arrepio percorreu a espinha de Ethan com a lembrança, ele não achava que seria capaz de superar o barulho que ouviu. O corpo se chocando contra o carro. Ossos quebrando. Pneus derrapando no asfalto. Carol caindo do carro para o chão como um peso morto.
— Ela está em coma, Mora — Ethan gritou, balançando os braços de forma exasperada e virando-se para olhar a mulher ao que ela apenas respondeu com um revirar de olhos sutil.
— As pessoas vivem ficando em coma Ethan, não é minha culpa que vocês sejam praticamente uma ameba.
— Por quê? — a voz de Ethan estava crua, sua garganta doia após gritar repetidas vezes quando soube o que Mora havia feito com Carol. — Você disse que não faria isso — ele apontou um dedo na direção de Mora, a essa altura mais magoado do que com raiva, porque Mora não tinha palavra. — Você prometeu pra mim, Mora.
  Mora não ser alguém de palavra significava mais coisas ruins do que boas, porque ao longo dos anos, Mora fez muitas, muitas, promessas para ele. Boas promessas. Sobre ainda deixá-lo sair na rua. Sobre nunca tocar em ninguém da sua família. Sobre nunca machucá-lo fisicamente.
— Eu sinto muito? — Mora indagou sem realmente parecer carregar em seu corpo qualquer resquício de arrependimento. — Vamos, querido, anime-se, agora ninguém mais pode nos separar.
— Ela não estava tentando, eu já tinha me afastado dela — Ethan lembrou, tentando arrancar nem que fosse um pouco de culpa da mulher, alguma justificativa talvez, nada disso fazia sentido para ele. — Eu fiz como você mandou e me afastei, porque não foi fiel a sua palavra e a deixou em paz?
— Mas ela continuou insistindo, não foi? — Mora sorriu carinhosa para Ethan, decidindo levantar da cama nesse momento. — Esse tipinho são os piores — murmurou inconformada, aproximando-se de Ethan. — Não há com o que se preocupar, a culpa não foi sua... Dessa vez.
  A voz dela era calma e Ethan odiava admitir o efeito calmante que tinha sobre ele, porque Mora estava sendo má, mas mesmo assim ele não conseguiu resistir a se inclinar para o toque quando ela se aproximou dele e colocou uma mão em sua bochecha. Mora era a única pessoa que o tocava e ele estava com o coração partido, completamente sozinho, ela era tudo que restava para ele.
— Isso foi cruel — murmurou afetado, fechando os olhos e se encontrando em um estado de exaustão tão grande que apenas isso pareceu ser o suficiente para fazer seu corpo cambalear e ele caiu na cama, já meio adormecido, registrando apenas parcialmente a presença de Mora pairando ao seu redor. — Até pra você.
— Ela era tão importante assim? — a voz de Mora quebrou o silêncio, curiosa superficilmente, como quem não quer nada. — E quanto a mim?
  Você é um monstro. Você é vil e nojenta, cruel em cada osso do corpo e insana até a alma, era o que Ethan gostaria de poder dizer.
— Eu estou cansado de você não confiando em mim — ele começou, cansando demais para medir suas palavras, para pensar no que era certo ou errado, no que Mora faria ou diria sobre isso.
— O quê? — agora a voz dela nunca soou tão confusa e se Ethan não estivesse tão exausto, já se sentindo incapaz de abrir os olhos ou se mover, ele teria dado uma gargalhada como não fazia há um bom tempo.
— É isso que você ouviu — contou a ela, sentindo e sabendo que a machucaria, pelo menos um pouquinho, com isso. E como ele queria machucá-la. Queria muito. — Você diz que me ama, mas não confia em mim.
— Ethan — a voz de Mora foi baixinha, quebrada, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Estou cansado, Mora — cansado de você, ele queria dizer, mas em vez disso proferiu: — Cansado de viver.
  Porque ele sabia que Mora não queria que ele morresse. Porque se Ethan morre então ele pode ser livre e Mora não teria mais nenhum poder sobre ele.
  E a forma como os olhos de Mora se arregalaram terrivelmente e ela abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu, congelada no lugar com a insinuação na voz de Ethan, foi satisfatória o suficientes. Cansado de viver.

🌙•°☆

  Ethan pediu demissão. Ele gostaria de poder contar que permaneceu no emprego como se nada tivesse acontecido e o acidente de Carol não tivesse sido sua culpa, porque teoricamente não foi. Teoricamente foi tudo culpa de Mora.
  Ethan gostaria de poder dizer tantas coisas. Que Mora desapareceu depois disso. Que ele voltou para casa, para sua mãe e sua irmã. Que Carol se recuperou ilesa. Que ele estava indo à faculdade presencialmente, indo a festas e conhecendo garotas, vivendo sua juventude como sempre viu nos filmes americanos.
  Enthan gostaria de estar em todos os lugares que não ao lado de Mora.
  Ela estava deitada ao seu lado de olhos fechados. Não dormindo. Ele tinha certeza que Mora não dormia, porque mesmo na hora mais sombria da noite ela sempre parecia saber o que ele estava fazendo. Se ele pensasse em fugir. Se ele pensasse em gritar. Mora não o deixava sozinho, exceto... Exceto quando ele ia à igreja.
  Um arrepio percorreu seu corpo com a constatação disso. Que tipo de ser pode ser tão profano a ponto de não poder entrar em uma igreja, nem mesmo espiar o que acontece lá dentro? Você sabe a resposta.
  Estava chovendo lá fora, uma chuva fraca e insossa que vinha assim desde às seis da tarde, quando as aulas de Ethan acabaram e ele ficou sem desculpas para não dar atenção à Mora.
  Acontece que o trabalho não era apenas uma desculpa para ter como pagar as contas sem ter que recorrer a pedir dinheiro aos seus pais. Trabalhar era uma desculpa para estar ocupado, para estar longe de Mora.
  Mas se isso significava que pessoas se machucariam... Talvez Ethan também não pudesse trabalhar. Não com pessoas pelo menos.
  Sua vida era apenas a faculdade agora. E isso fazia sobrar muito tempo. Muitas horas para Mora conversar com ele. Muitos minutos para ela tocá-lo. Muitos segundos para ela observá-lo.
  E também muito tempo para pensar em todos os erros que já cometeu. Nas decisões erradas que tomou e nas coisas que não fez, que teve medo, que fraquejou. No que disse e no que não disse. Nos momentos em que passou de todos os limites e nos momentos em que não conseguiu se mover. Com tempo livre Ethan conseguia pensar mais e pensar significava se arrepender, se envergonhar a ponto de não conseguir sair na rua e encarar a sociedade sem corar em todos os tons de vermelho possível.
  E ele pensava muito em Carol. E em Ella...
  Mora estava certa, ele deveria ao menos se sentir minimamente grato porque ela não matou Carol como fez com Ella.
  Carol estava bem, já acordada e com a família, apenas com uma parte da perna amputada, mas, ainda assim, viva.
  O estômago de Ethan embrulhou com isso e ele fez um debil movimento para se levantar da cama.
  Os olhos de Mora se abriram no mesmo instante, preocupados que ele pudesse estar fugindo. É quando ela viu Ethan cambaleando até o banheiro e então o barulho do vaso abrindo. Apenas a luz do cômodo fazendo uma sombra bruxuleante no quarto.
  Com um suspiro pesado ela se levantou. Humanos, ela pensou, são tão frágeis.
  E não é apenas ela quem pensa isso, porque desde o acidente, Ethan não conseguia parar de pensar em como somos frágeis, como a vida é curta e o mundo é pequeno. Bastaria tão pouco para acabar com toda vida na Terra que chega a ser insignificante o quanto nos esforçamos e nos preocupamos com tão pouco.
  Mora encontrou Ethan sentado na borda do vaso, sua cabeça pendendo para o lado, a pele quente como nunca o sentiu antes, suor escorrendo por seu rosto e grudando sua camiseta nas costas.
— Você está doente, amor — Mora suspirou para Ethan em um tom triste, decepcionada até, como se fosse culpa de Ethan estar doente. — Eu te falei para não pegar aquela chuva ontem.
  Ethan não respondeu, porque Mora sabia porque ele pegou a chuva no dia anterior.
  Ele foi ver Ella. A garota de tranças e moletom amarelo. Que desenhava animes na aula, que lia David Moraes e sabia resolver equações matemáticas sem calculadora. Ela foi sua primeira paixão. Paixão de verdade. E quase foi sua primeira namorada.
  No dia anterior, Ethan foi vê-la. Mesmo chovendo e mesmo sem ter levado um casaco decente como Mora mandou. Ethan foi vê-la porque Mora não poderia matar o que já estava morto.
  Ele levou flores. Mesmo que Mora as tenha pisoteado na sua frente e gritado com ele por levá-las para o túmulo da garota. Porque Ethan nunca havia dado flores para Mora.
  Eles não se falaram desde então e agora, na noite do dia seguinte, Ethan estava tremendo no chão do banheiro, seu estômago se contorcendo e ele estava soando frio. Ainda assim, ele não conseguiu se arrepender.
  Se arrepender do quê? Por se importar? Por mesmo depois de anos ele ainda visitar anualmente o túmulo da garoto que Mora matou?
  Ele achaca que não fazia mais que sua obrigação. Achava que em breve vai seria ele sob terra e esperava que Mora não o alcançasse após a vida.
  Vida, que coisinha frágil. Ethan tentou pensar no que deixaria para trás nesse mundo, mas não havia muito para deixar, porque pouco a pouco Mora tirou dele tudo que ele tinha.
  Ethan estava sozinho. É por isso que era tão fácil pensar em morrer.
  E as vezes, por mais egoísta que se sentisse, ele ainda desejava, na calada da noite, só para ele e quem quer que espie essas palavras saber, que no fundo ele desejava ter algo para deixar para trás. Alguém que sentisse sua perda. Sua falta.
  Ethan queria desesperadamente não ser mais sozinho. Ele sabia que não poderia, que estava brincando com fogo desejando alguém além de Mora para ficar em sua vida.
  Mas ele também pensava em como seria bom ter mais alguém. Alguém além dele e da insanidade de Mora.
  Ele adotaria um gatinho, mas ele não era tão egoísta a ponto de colocar um bichinho inocente para viver com uma psicopata, ele também não sabia o que faria se Mora tirasse até mesmo um gatinho dele. Ele não sabia o que faria se perdesse mais alguém. E Ethan estava tão ferrado da cabeça a essa altura, que ele não sabia o que seria dele se Mora sumisse para sempre.
  Ele sabia que não seria ruim. E ele poderia levar flores para todas as mulheres da sua vida sem culpa.

🌙•°☆

  Beca sabia que ser estagiária não seria fácil, ela só não imaginou que seria tão... Vergonhoso.
  Quando foi contratada por um dos jornais mais famosos da capital ela não se imaginou escrevendo notícias sobre: CHOCANTE! ESPOSA DE GOVERNADOR É VISTA SAINDO COM ATOR PORNÔ.
  Isso era só fofoca. Beca estava esperando um pouco do bom e velho jornalismo, sabe? Algo envolvendo assassinato e mistérios. Ela estava animada para participar da cobertura de uma perseguição de carros da polícia, desvendar a verdadeira identidade de um serial killer ou ser ameaçada de morte por saber demais, o que só a motivaria a se aprofundar no caso ainda mais.
  Mas lá estava ela, escrevendo as notícias mais quentes do mundo dos famosos para o blog, O BLOG, não era nem o jornal de papel, do jornal À Caneta. É claro, como estagiária ela sabia que não poderia esperar muito, mas pelo menos ele gostaria que fosse algo mais empolgante do que escrever sobre o top 10 twittes racistas antigos das celebridades ou sobre o segredo para a pele brilhante de Telly Christie.
  De qualquer forma, cansada de escrever futilidades e com a curiosidade insaciável de uma aspirante a jornalista, Beca praticamente farejou a notícia quando foi visitar sua velha amiga Carol no hospital.
  Elas não se falavam mais como na época da escola, mas Beca apenas soube que teria de ver Carol quando boatos chegaram aos seus ouvidos de que Carol teria atropelado um carro. Isso mesmo que você leu, não sido atropelada, mas ela atropelou o veículos.
  As filmagens mostravam claramente  duas pessoas varrendo a calçada de uma rua deserta e sem uma única pessoa passando. Essas duas pessoas eram Carol e o homem que foi identificado como Ethan.
  Completamente do nada, com Ethan a metros de distância de Carol, o corpo de Carol simplesmente voou para o meio da rua, como se tivesse sido empurrado na direção do único carro que passou em cerca de meia hora.
  As filmagens impressionaram as pessoas e virou notícia, todos se perguntando se existiria um fantasma na hora. Vídeos de "especialista sobrenaturais" saíram, pessoas dando zoom na imagem e apontando um suposto reflexos de mãos empurrando Carol que poderia ser visto.
  O motorista do carro em questão disse que o corpo de Carol apareceu do nada e ele não teve como parar, o que, embora ele estivesse levemente alcoolizado, pode ser confirmado pelas câmeras.
  Alguns memes surgiram e alguns repórteres foram até o local procurar por provas. Nada foi encontrado.
  Mas Beca assistiu a todos os episódios de Scooby-doo Cadê Você? quando era pequena, ela sabia que os verdadeiros monstros são as pessoas. É por isso que quando se deparou com a cena ela apenas soube que tinha de ir até o hospital que sua amiga estava recolher o depoimento dela.
  Aqui está uma transcrição fiel das palavras de Carol:

"Eu apenas estava varrendo... Eu e Ethan... Ele é muito gatinho, mas ainda não veio me ver, eu tinha certeza de que estava rolando um clima entre a gente e achei que depois de todos essas semanas de trabalho juntos ele quem sabe pudesse ter começado a gostar de mim... O quê?... Falar do caso?... Certo, onde eu estava?... Eu estava varrendo, não era uma rua difícil nem nada, mas estava ventando bastante até, por isso passamos mais tempo que o normal, porque toda vez que eu me virava vinha o vento e bagunçava tudo... Sim, normalmente não venta tanto nessa época do ano, estava bem sol na verdade, de qualquer forma, eu não me lembro de muita coisa, em um instante eu estava na calçada e no outro... Ethan foi um fofo comigo, ele não saiu do meu lado até a ambulância chegar, aposta que ele ainda não veio porque está se sentindo culpado... Sabe, ele se afastou muito de mim nós últimos dias, costumávamos conversar durante o trabalho todo, o bom de trabalhar varrendo as ruas é que você ainda pode usar a boca, eu estava sentindo que Ethan finalmente estava se abrindo comigo e... Não, ele não era de falar muito, acho que o último cara que trabalhou com ele nunca nem ouviu a voz dele... Ele estava estranho, mas não acho que tenha me empurrado, as câmeras teria mostrado... Para falar a verdade, acho que foi obra de algum espírito... Quer dizer, eu não me joguei na frente do carro de propósito, né?"

  Esse foi o depoimento. Agora, Beca não estava acreditando nos boatos sobre espíritos e demônios, mas então ela viu...
  Nas costas de Carol havia uma clara marca de um par de mãos. Cinco dedos empalmados nas costas de sua amiga em um vermelho furioso.
  Ninguém sabia dessa parte, só os médicos e a polícia. As imagens das câmeras de segurança que estavam circulando pela internet foram imagens vazadas, o que significa que ninguém sabia quem eram as pessoas nas filmagens, a própria Beca só descobriu que se tratava de Carol porque a mãe da garota contou para ela.
  Ninguém sabia ainda sobre a marca de mãos e Beca se viu, de repente, com um enorme caso que poderia fazer sua carreira de jornalista decolar.
  Mas isso ainda não era bom o suficiente, sua chefe com certeza gostaria de publicar essa notícia, MULHER É EMPURRADA PARA A MORTE POR FANTASMA, com certeza faria sucesso, mas Beca odiaria ser conhecida por um caso de fantasminha.
  Ela queria mais. Tinha que haver uma solução lógica para o empurrão e a marca e a resposta com certeza não era algo que flutua e usa um lençol.
  Por sorte, Beca sempre foi uma grande entusiasta de crimes reais e logo notou a peça desencaixada em toda essa situação: Ethan.
- Ser a única pessoa perto da cena do crime quando aconteceu
- Mudança de comportamento brusca antes de crime
- Personalidade fechada e fria
- Não foi ver a amiga depois dela se atropelada
  Tudo isso gritava SUSPEITO e Beca estava certa de que poderia ter encontrado seu grande caso. Até agora tudo se encaixava, pois Ethan poderia ter muito bem empurrado Carol para a rua e como Carol mal se lembrava de nada do que aconteceu e o motorista estava alcoolizado...
  Beca só precisava encontrar uma explicação para a filmagem da câmera não mostrar isso e então prova que Ethan empurrou sua amiga para a morte.

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