Morangos Verdes

Nome: Morangos Verdes
Gênero: Comédia romântica
Sinopse: Cecília e Antoni acreditavam que nada poderia separá-los. Eles só não esperavam que convidar seus amigos e familiares para passarem a semana antes do casamento juntos lhes dariam motivos mais que suficientes para considerarem cancelar o casamento.
  Ariane e Murilo são um casal tentando ganhar a vida na cidade grande. Quando Ariane recebe o convite para ser madrinha do casamento de Cecília, ela vê uma ótima oportunidade para relaxar de sua rotina exaustiva. O problema? Murilo é o ex-namorada da noiva e não está nem um pouco contente com a situação.
Média de capítulos: Na época quando eu escrevia o planejamento da história eu não colocava a quantidade de capítulos. Tempos mais simples.
Capítulos escritos: 2 e meio, o 3 foi abandonado na metade.
Por que eu parei de escrever?: Esse foi mais um da série "Romances Que Nunca Irei Terminar". Ele foi pensado em 2019, mas só comecei a escrever em janeiro de 2020, quando 2020 ainda era um ano legal. Vocês sabem, a pandemia aconteceu. Eu realmente gostava dessa história, era leve e divertida de escrever, além de ter uma pegada leve de filme comédia que passava durante as tardes de sábado na televisão dos anos 2000. O que aconteceu foi que eu não tinha (tenho?) maturidade para estruturar um romance de pessoas adultas, com preocupações de adultos e problemas de adultos. Talvez algum dia...
Pretendo voltar a escrever?: Yeah, estava pensando nisso agora mesmo, mas com algumas reformulações na trama e nos personagens.

Aproveitem ⏳



❛ Sábado – 26/09/2020 ❜


— Eu li em algum lugar...

— Não começa, estamos tendo uma conversa séria aqui, não temos espaço para suas leituras bizarras.

  Ela o ignoraou.

— Se duas pessoas dividirem um morango, significa que estão destinadas a se apaixonarem e a ficarem juntas para sempre.

— Você falou isso antes de me pedir em namoro. Estávamos tão felizes nesse dia — recordou a lembrança com o coração apertado.

— Eu não disse que precisava ser um morango maduro, vermelho e doce pra dar certo.

— Aonde quer chegar?

  Seus olhos brilharam, o lindo castanho não combinava com as lágrimas, ele queria falar, mas um trovão alto e forte retumbou no céu, o despertador disparou, precisavam chegar à padaria logo, sem tempo para consolo.

— Porque os que comemos estavam todos verdes.

❛ Quarta-feira – 16/09/2020 ❜


  Como começam os velhos contos de fadas, era uma vez, em algum lugar na cidade de São Paulo, um casal de apaixonados. Ariane e Murilo andavam meio transtornados, cansados de discutirem o mesmo assunto durante o dia todo.

— Nós não vamos — declarou pela milésima vez.

  Murilo se escorou na janela, buscando algo mais interessante para olhar, ele mastigava algumas azeitonas que tinha nas mãos e tentava não olhar para o relógio que havia quebrado na mesma manhã.

— Está tudo bem, querido.

— Não, não está tudo bem e você sabe — comeu uma azeitona. — Porque você está fazendo aquela cara que você faz quando você está decepcionada ou quando você está me achando imaturo.

— Quando você está estressado, você começa a repetir palavras.

— Não estou estressado — protestou estreitando o olhar na direção da mulher sentada no sofá.

— E eu não estou fazendo aquela cara — mas estava.

  Ariane sempre lançava seu “olhar reprovador” quando Murilo começava a agir de forma egoísta ou infantil. Ela cerra os olhos, enruga seu queixo e balança a cabeça devagar, julgando o mais velho silenciosamente.

  Os dois se encararam por alguns segundos, antes de Murilo voltar a andar pela sala do apartamento e Ariane bufar impaciente.

— Por que você não quer ir comigo mesmo? É apenas uma semana e aposto que vai ser um casamento maravilhoso.

— Será por que a noiva é minha ex? — tentou não gritar, essa situação parecia um absurdo. — Deveria estar insegura, agradecendo aos céus por eu não querer ir.

— Mas a Cecília é minha melhor amiga.

— E por algum motivo eu só descobri isso hoje.

— Queríamos evitar que você surtasse quando descobrisse, nós duas sabemos dos seus problemas de raiva.

— Eu não tenho problema com raiva, eu sou um adulto perfeitamente equilibrado e eu odeio quando falam que eu sou alguém descontrolado.

— Os escritores devem se revirar no caixão toda vez que ouvem um “eu”  saindo da sua boca.

— Podemos só esquecer esse assunto? — cuspiu o último caroço em algum canto da sala, sabendo que teria de pegá-lo depois.

— O que tanto olha na parede? — virou-se na direção do relógio. — Ei, foi a minha mãe quem me deu!

  Murilo poupou um pedido de desculpas, ele se sentou no sofá e evitou falar alguma coisa que pudesse piorar a situação.

  Seu relacionamento com Cecília acabou há 8 anos e ele só queria esquecer esse nome e seguir em frente, mas aparentemente, sua namorada tinha outros planos, pois chegou exibindo um convite de casamento de sua melhor amiga, que, por acaso, era sua malvada e asquerosa ex-namorada, pelo menos Murilo a definia assim.

— Querido?

— Sabe que parecemos um casal de velhos quando me chama de querido.

— Eu sei — Ariane riu alegre, colocando as pernas para cima do sofá e apoiando a cabeça no ombro do homem. — Nós vamos, não é?

— Moooça — arrastou o apelido, ele já sabia que não tinha escolhas.

  Ariane não desistiria de tentar convencê-lo a ir e, se ele não fosse, ela iria sozinha. Murilo já imaginava as atrocidades que Cecilia falaria do seu passado, e então Ariane entraria na igreja com outro cara, provavelmente mais bonito e mais rico que ele, então ela iria embora para sempre, com seus CDs do grupo Badflower e seu relógio quebrado.

— Nós passamos o último ano trabalhando, vai fazer bem tirarmos umas férias.

— Com a minha ex? — mais um vez controlou o tom de voz.

— Ainda gosta dela ou o quê? — Ariane arqueou uma das sobrancelhas.

— Não! Mas é claro que não, a Cecilia ficou no passado, eu não gosto mais dela. Não, com certeza não.

— Você está fazendo de novo.

— Desculpa — pigarreou. — Não quero que você pense que ainda gosto dela, o que quer dizer que eu não... Eu vou parar de falar.

— Pensa bem querido, vai ser só uma semana, em um sítio maravilhoso com a Cecília e toda a família dela. O que tem demais nisso?

— Você com certeza não conhece a família Lins — acomodou-se melhor no sofá, passando as mãos pelos cabelos castanhos da namorada. — E a Cecília, ela é... Descontrolada, histérica e totalmente doida.

— Ela é um amor e adoraria que fôssemos padrinhos do casamento dela — beijou sua bochecha.

  Ele suspirou, desconfortável com a situação.

— Tudo bem. Nós vamos.

  Ariane gritou animada quando Murilo se rendeu, agarrou seu pescoço e espalhou beijinhos por seu rosto.

— Vai ser tão legal! Eu sempre quis ir ao Rio.

  Ele soltou uma exclamação desanimada. Murilo não podia controlar o peso que começava a surgir em seu peito, se achava o homem mais azarado do mundo sabendo quê, de todas as pessoas na Terra, tinha que ser Cecília.

  O convite com flores rosas, um casal de coelhos desenhados e os nomes brilhantes dos noivos em cima da bancada o lembrava o quão difícil seria passar uma semana inteira ao lado de Cecília e de todos os outros malucos da sua família, e, oh céus, ele sabia que Ariane se daria bem com todos e isso só o apavorava ainda mais.

❛ ✿ ❜


  No final da rua Conceição fica localizado o sítio Recanto Dourado, é para lá que Cecília e sua mãe, Alexandrina, estão indo. Mas, no momento, elas estão se afastando cada vez mais do destino.

— Eu falei para deixar o Antoni nos trazer — Cecília resmungou com a mãe, o motorista estava perdido e elas não sabiam se chegariam a tempo para o almoço.

— E ficar com a mãe dele por mais duas horas? Não, obrigada.

  No banco da frente o motorista amaldiçoou o GPS mais uma vez.

— Onde fica essa maldita da Conceição?

— Tenta pegar outro caminho — Cecília olhou a estrada por um momento. — E a Samira não é tão difícil de lidar, ela só é...

— Chata pra...

— Excêntrica, mãe.

  Alexandrina se acomodou melhor no banco, as vezes conversar com sua filha era frustrante. Todo mundo sabia que Samira era uma velha arrogante e malvada, mas Cecília nunca dizia uma palavra contra a sogra.

— Cadê a Sandra? Aposto que ela concordaria comigo.

— Chega a noite — respondeu sem tirar os olhos do celular.

— Tão objetiva — a mãe bufou. — Inclusive, o namorado da Ariane vai vir não é? Como é mesmo o nome dele?

— Murilo?

— Oh sim, esse mesmo — Alexandrina sorriu de forma maliciosa, os dentes branco contrastando com o batom vermelho que sempre colore seus lábios. — Um garoto tão bom, nunca entendi porque terminaram.

— Eu sei onde você quer chegar — Cecília olhou o reflexo da mãe no retrovisor. — Por favor, não fique assediando o Murilo, eu seria grata se você entendesse que ele namora a Ariane, minha melhor amiga.

— Sua melhor amiga é a Sandra.

— Eu tenho duas melhores amigas — deu de ombros, voltando a mexer no aparelho. — Faz tempo que não o vejo e você sabe que sempre tive muito carinho por ele, essa é uma chance de voltarmos a ser amigos, então não tente nada que o deixe desconfortável.

— Que absurdo! Eu nunca faria isso — Alexandrina riu com gosto, sua filha as vezes era tão ingênua.

— É sério, mãe.

— Eu só acho quê, se vocês não estão mais namorando, não tem nada de errado em tentar beijar aquela boquinha.

— Ele namora, você é casada e — checou o horário pela décima vez, Antoni odeia atrasos. — isso é nojento.

— O que Antoni acha de você convidar seu ex-namorado pro casamento?

  O motorista sufocou um riso, fazendo questão de lembrar de cada detalhe da conversa para contar a sua esposa mais tarde. Essas duas eram uma das figuras mais estranhas que já tinham passado por seu carro. Cecília e Alexandrina pareciam socialites que saiam toda semana em revistas de moda, postavam stories de recebidos do mês e estavam prestes a assinar um contrato para a gravação de um reality show.

— Ele está tranquilo, Murilo é mais feio, mais pobre e mais burro. Não é exatamente o que chamam de concorrência.

— Mas nem em um milhão de anos que Antoni é mais bonito que Murilo.

— Não importa, mamãe, só não estrague tudo — finalizou a conversa, voltando a se concentrar no celular.

  A verdade é que Cecília se sentia nervosa recebendo o ex para o casamento. O término deles com certeza não foi um dos melhores. Eles sempre foram bastante amigos, mesmo antes do namoro, e ela só quer uma chance de consertar as coisas.

  Só esperava que Ariane e Antoni não ficassem com ciúmes ou brigassem por causa do antigo relacionamento dos dois. Felizmente, as chances de sucesso são altas.   Antoni não se sente ameaçado por Murilo, e Ariane não poderia ter a mente mais aberta para esse tipo de loucura, ela só esperava que sua mãe não estragasse tudo.

  O casamento seria em uma semana e Cecília estava uma pilha de nervos. Lidar com sua família é como equilibrar pratos de vidros em fios de espaguete, e ela só está tentando deixar todos confortáveis e não gritar com ninguém.

  Antoni alertou sobre essa reunião prematura ser uma péssima ideia, mas ela está confiante em seu potencial de anfitriã. É a sua chance de se reaproximar de Murilo; afastar sua tia e seus filhos do desafio do recente divórcio; passar um tempo divertido com suas duas melhores amigas; convencer sua sogra de que é a mulher certa para Antoni; e fazer seu marido começar a gostar da sua família.

  Ela sorri quando termina de fazer as reservas do hotel em Paris. Relaxando um pouco e finalizando sua linha de raciocínio.

— Vai ser uma semana divertida — pensa, antes de tomar coragem e começar a explicar a rota certa ao motorista.

❛ ✿ ❜


  Antoni odeia ter que fazer trabalho braçal, odeia quando as pessoas se atrasam para seus compromissos e odeia ainda mais a ideia de passar um semana inteira junto da família de sua adorável noiva.

  Nesse momento, ele está lutando para levar todas as malas para os quartos no segundo andar e amaldiçoando sua sogra, o motivo do atraso.

— Se Alexandrina e Cecília tivessem vindo com a gente já estaríamos tendo nossa refeição — Samira pronunciou da escada, observando o filho lutar para conseguir subir com a mala de rodinha. — Antoni, deveria ter contratado alguém para isso ou alugado um lugar com elevador.

  Ele não respondeu. Expirou pesadamente e se apoiou no corrimão, sentia-se como um camponês após passar o dia sob o sol trabalhando na fazenda. Podem chamá-lo de homem, hétero, branco, privilegiado, Eu deixo.

— Isso foi um desleixo seu, aposto. Cecília quer sempre as coisas da forma mais luxuosa possível, não deixaria esse detalhe passar, faz ela parecer pobre.

— Não seja tão dura com ela mamãe.

— Tantas mulheres no mundo e você tinha que escolher se casar justo com — ele não pode ouvir o resto da frase, sua mãe se afastou da escada para verificar os quartos.

  Ele suspirou quando contemplou a escada se erguendo de forma ameaçadora. Mais duas malas e ele poderia ir almoçar.

— Cecília não é tão difícil de lidar, ela só é...

— Filha de uma...

— Excêntrica, mamãe — interrompeu quando conseguiu chegar no corredor.

— Excêntrico é o adjetivo que usamos para definir pessoas esquisitas e egocêntricas, meu filho.

— Mas também pode ser uma pessoa que tem gostos extravagantes, gosta de viver de uma maneira diferente.

— Eu quero ver se você vai continuar definindo assim quando ela sugar todo o seu dinheiro.

  Antoni engoliu em seco, ele também não tinha certeza se Cecília estava se casando por amor ou pelos números da sua conta bancária. Quem se importa? Tudo acabava sendo sempre um negócio no final.

— Cecília só quer uma vida confortável ao lado de alguém que ama, ela é uma mulher ambiciosa — falou mais para convencer a si mesmo do que a mãe. — E que mal tem nisso?

— Ser ambiciosa e ser uma aproveitadora de quinta são coisas diferentes.

  Samira não se importou quando o filho lhe deu as costas e foi buscar a última mala, ela havia ganhado mais uma discussão.

  Seus olhos examinaram o quarto, concluindo que era uma vergonha uma Egídio ficar hospedada em um lugar tão minúsculo. É impressionante como, mesmo extorquindo seu filho, Cecília ainda consegue fazer isso errado.

— Devia ter alugado uma mansão.

  Como toda boa mãe, estava ansiosa para ver seu filho entrando na igreja, mas era lastimável sua noiva ser alguém como Cecília. Ela não conseguia entender o que a menina poderia querer com alguém como Antoni senão dinheiro, seu filho não era bonito e com certeza não tinha o tipo de personalidade que parecia encantar Cecília, pelo menos considerando a ralé que era sua família e todos os seus amigos mal educados.

  Não é como se pudesse julgar, também havia casado por interesse afinal, mas isso era diferente, ninguém magoava seu menininho.

— Você precisa relaxar mamãe, vai se uma semana interessante — Antoni surgiu na porta. — Você não acha?

— Francamente Antoni, nós dois sabemos que você está odiando isso tanto quanto eu.

— Claro, talvez eu não goste da ideia da família da Cecília toda junta, mas vai passar rápido e logo vou está casado com a mulher da minha vida — sorriu sonhador. — Esse é um sacrifício justo, como aqueles ritos de passagem que antecedem os casamentos em certas culturas.

  Sua mãe soltou uma risada irônica, ela sabia que seu filho surtaria no primeiro dia e acabaria arranjando uma desculpa para ficar fora a maior parte do tempo.

— Continue pensando positivo criança.

— Odeio quando me chama de criança — falou, sabendo que a mulher o ignoraria.

  No andar de baixo podia-se se ouvir a agitação de Cecília e Alexandrina encantadas com a casa. Elas finalmente haviam chegado.

— Vamos descer?

— E eu tenho escolha — teve sua mão puxada pelo filho, ajudando-a com as escadas. — Por que demoraram tanto?

  Samira perguntou assim que viu a nora, mas Cecília não respondeu, ela se aproximou do marido e lhe roubou um beijo.

— Ah o amor jovem — Alexandrina falou desnecessariamente alto. — Até hoje me lembro do fogo que eu e Nilson tínhamos quando nos casamos, ficávamos a maior parte do tempo agarrados — Cecília reprovou a fala com um olhar.

  Sua mãe estava passando pela famosa crise da meia-idade, e parecia uma adolescente desapontada com a vida e com problemas de abstinência sexual.

— Bom, vamos almoçar? — Antoni tentou aliviar a tensão. — Tem uma mesa no jardim para fazermos as refeições — suas mãos estavam na cintura de Cecília e ele distribuía beijos por seu pescoço. — Você vai gostar.

— Tenho certeza que sim — sorriu, tirando os óculos escuros que usava por nenhuma razão e seguindo o marido para os fundos do sítio.

  Alexandrina aproveitou para conhecer os quartos e Samira amaldiçoou até a quinta geração da família Lins por fazer com que ela passasse por essa situação. Seus pés doíam, os mosquitos picaram seus braços e sua boca estava seca.

— Maldito seja esse casamento — disse antes de voltar ao andar de cima.

  Tudo parece ir conforme o planejado. Em dois dias todos estarão preenchendo os cômodos do agradável Recanto Dourado e, supostamente, tentando a todo custo dar um casamento feliz a Cecília e Antoni.

❛ Quinta-feira – 17/09/2020 ❜


  Ariane não sabia qual vestido escolher. Ela queria usar algo florido, mas sabia que era muito simples para um casamento.

— Amor, vermelho ou azul?

  Murilo rolou pela cama, amassando as roupas espalhadas e mostrando o quanto se importava com a cor do vestido.

— Minha nossa, que opinião útil.

  Ele teria retrucado seu comentário sarcástico se não tivesse sido atrapalhado por um bocejo. Isso tudo era tão chato.

— Você também deveria fazer sua mala.

— Do que você está falando? Minha mala está pronta pro embarque — apontou para a mochila no quanto do quarto, as roupas todas enfiadas da melhor forma possível. — Inclusive, agora que você me fez abrir a boca, escolhe o azul — mas ela separou o vermelho. — Não foi esse que eu escolhi.

— Você escolheu o azul porque é sua cor preferida, não porque fica melhor em mim.

— Moça, eu realmente não me importo com o que você vai usar.

— Murilo!

  Ariane queria pular no namorado e enforcá-lo com o maldito vestido azul. Nas últimas semanas eles vinham brigando todos os dias e nem mesmo arrumar as malas podia ser uma atividade longe de discussões.

— Desculpa — pegou uma blusa que estava perto da sua cabeça. — Leva essa, fica bonita em você.

— Querido, o que está acontecendo? — Ariane sentou-se na ponta da cama, puxando a cabeça do namorado para o colo. — Você anda tão estressado.

— Muita coisa na cabeça — murmurou, os olhos fechados enquanto os dedos de Ariane percorriam seus cabelos. — Temos mesmo que ir?

  Ariane suspirou, olhando as malas feitas e pensando nas passagens já compradas. Ela não iria ao casamento se isso significasse ter que lidar com um Murilo sem paciência.

— Por que você não quer ir? É por causa da Cecília — encobriu o tom ciumento que insistia em assombrar sua mente.

— Eu quero me vingar — se levantou de forma abrupta. — Cecília é uma vaca e ela se acha tão superior, com seu diploma universitário e roupas de marca.

  Olhos. Queixo. Cabeça. Ariane está lançando seu olhar reprovador.

— Bom, você tem um diploma agora.

— Só no final do ano moça, ela vai me encarar de cima a baixo e concluir que continuo o mesmo moleque que ela largou no ensino médio. Ela é um ser humano horrível e aposto meu pulmão que ela só quer que a gente vá no casamento pra ela ver a ótima decisão que tomou — voltou a se sentar.

— Primeiro, não deveriam guardar tanto rancor assim, isso faz mal — se aproximou, abraçando os ombros de Murilo. — Segundo, o que combinamos sobre apostar seu pulmão em coisas estúpidas?

— Mas eu tenho dois.

— Murilo — chamou, a voz abafada pela cabeça presa a omoplata do namorado.

— Aposte o rim, não o pulmão — repetiu a segunda frase da lista de regras para boa convivência.

— E terceiro, você não é tão especial quanto pensa.

— Isso era pra fazer eu me sentir melhor?

— Deixa de ser fraco homem! Você precisa ir.

— É?

— Provar sua superioridade! — levantou-se para ficar na frente de Murilo.

— É!

— Vamos destruir àquele casamento!

— É — comemorou animado, lançando os braços na cintura de Ariane e a puxando para perto. — Espera, destruir não é exagero?

— Eu estava brincando querido. Mas se você quiser...

  Ariane foi interrompida pelos lábios de Murilo, formando um beijo desajeitado e necessitado. Eles andavam brigando tanto e estavam sempre tão cansados que nem tinham tempo para ficarem juntos.

— Não se preocupe com Cecília, se ela fizer você se sentir mal voltamos pra casa e se você me trocar por ela arranco mais que o seu pulmão — fechou os olhos por um momento, as testas ainda coladas. — Agora, amarelo ou verde?

  Não importa a situação ela vai está lá para fazê-lo rir de seus problemas e confortá-lo nos dias mais sombrios; ela tem a pele mais quente, os beijos mais doces e as melhores palavras para seu piores momentos; e é por esse motivo que Murilo ama Ariane.

❛ ✿ ❜


  Morango, chocolate, maracujá e doce de leite são algumas das opções de bolo dispostas na mesa. Cecília cutuca um pouco o glacê de um dos bolos antes de empurrar o prato para a amiga.

— Eu gostei desse — ela puxa o prato para perto dos seus preferidos.

— Doce de leite e abacaxi é tão simples — resmunga pegando mais um pedaço. — Eu quero algo exótico, algo que faça as pessoa lembrarem do meu casamento sempre que verem um bolo do mesmo sabor.

  Sandra se segurou para não rir, Cecília quer que seu casamento seja inesquecível até mesmo em detalhes tão bobos quanto o bolo. Ela não pode reclamar, se fosse o seu casamento estaria tão nervosa quanto. Tudo que pode fazer para ajudar agora é tranquilizar a noiva e fazer o possível para que nada dê errado.

— Já provou o de frutas vermelhas?

— Antoni não gosta desse.

— Leite ninho?

— Sarah teve esse no casamento.

— Beterraba? — Cecília fraziu o rosto. — É exótico.

  As duas voltaram a examinar o livro de recheios e coberturas, procurando por algo que chamasse sua atenção. Elas já estavam ali a horas e a dona da confeitaria começava a pensar que vieram ali apenas para provarem amostras grátis.

— Ariane sugeriu uma espécie de bolo red velvet com as cores do casamento, seria como, green velvet?

  Sandra torceu o rosto a menção do nome de Ariane, a mulher responsável por roubar seu lugar de melhor e única amiga da vida de Cecília.

— Não acho que os convidados vão gostar de comer um bolo verde — fez uma careta.

— Óbvio que você iria discordar da Ariane.

— Não é por ser uma ideia da Ariane, só é uma ideia idiota.

— Se tivesse dito que foi uma ideia da minha mãe, você provavelmente acharia incrível.

— Isso não é verdade — Sandra está mentindo.

— É melhor começar a aceitar a Ariane, ela vai ser madrinha junto com você.

  Cecília finalmente tomou coragem para contar. Ela estava evitando essa conversa, temendo que Sandra ficasse muito irritada.

— Eu já imaginava. Não entendo por que você gosta tanto dela — tomou um gole d’água. — Antes era vocês e eu contra o mundo, mas agora não, agora é Ariane pra cá, Ariane pra lá.

— Bolo red green então — tentou mudar de assunto. — Vamos falar com a confeiteira antes que ela expulse a gente.

— Ela é como a mostarda no nosso relacionamento, ketchup e maionese combinam bem juntos, mas todo mundo sabe que a mostarda estraga tudo — Sandra adorava usar metáforas com comida.

  Cecília recolheu o caderno com as opções, indo em direção ao balcão da confeitaria.

— Por que ela tem que ser a mostarda? Por que não podemos ser como café, leite e açúcar?

— Na ouviu falar que três é demais? Combinações de dois sabores são sempre melhores.

  Cecília revirou os olhos, rindo da amiga. No fundo estava grata pelo apóio, se considerava sortuda por ter uma amiga como Sandra. Esperava que um dia ela pudesse ser amiga de Ariane também, isso pouparia tantas cenas constrangedoras.

— Vejo que se decidiram, senhoritas.

— Foi uma decisão difícil, todos os bolos daqui são tão incríveis.

— Eu percebi, pelo tempo que demoraram — a senhora riu da expressão ofendida de Cecília. — E então, o que vai ser?

— Queremos um bolo quadrado com três andares, tem que ser branco e ter flores...

  Sandra deixou a amiga falando com a confeiteira enquanto checava a confirmação de convidados no e-mail que fez para o casamento. Para seu desgosto o nome de Ariane estava lá, ela não pode deixar de se sentir desapontada, estava esperançosa que Murilo, teimoso como era, convencesse ela a não vir.

  Sentiu vontade de manda um e-mail de volta, cancelando o convite para manter Ariane bem longe do Recanto Dourado, mas Cecília ficaria decepcionada e daria um chilique, pena sua missão como madrinha ser evitar chiliques.

  Deveria fazer com que fosse uma semana excelente. Cecília é sua melhor amiga e Sandra está decidida a lhe dar o melhor, mais incrível e mais estrondoso casamento, mesmo que isso signifique ter que passar uma semana trabalhando com Ariane.

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