14. RUNAWAY
⚠️ALERTA DE GATILHO: SUICÍDIO ⚠️
LEIA COM CUIDADO
Mas agora me leve para casa
Me leve para casa onde eu pertenço
Eu não aguento mais
Os lo-fis não ajudavam. Os chás não ajudavam. Meditar, velas, nada ajudava. Eu ainda o ouvia me chamar.
— Oi. — Kid espiou dentro do quarto, praticamente chutando a porta e entrando. — Como você está?
Eu me limitei a dar ombros e suspirar antes que ele colocasse a bandeja com comida no meu colo.
— Eu não tô com fome, Kid. — Eu fiz menção de empurrar a comida para longe, mas ele segurou minha mão. — Por favor...
— Só um pouquinho e eu faço o que você quiser. Banho, massagem, ouvir suas canções de ninar. — O jeito como ele chamava minhas músicas me fez sorrir e concordar com um pequeno aceno. — Ótimo. Quer o quê hoje? Um banho relaxante? Cinco potes de sorvete e muita calda quente? Comida de gente rica que provavelmente é muito ruim?
— Vou ficar com o banho, obrigada. — Eu sorri. Ele estava realmente se esforçando para fazer com que eu me sentisse melhor, por mais difícil que isso fosse.
Eu tinha lembranças vagas do dia que se seguiu a visita do Kenway. Eu sabia que o Law tinha ficado no Victoria e instruído os rapazes a lidarem comigo, além de me medicar. Infelizmente, para ele, Kid não era o único que não gostava de remédios.
Eu não imaginei que fosse doer e me machucar tanto trazer à tona o que aconteceu no incêndio. Ou que ver que ele tinha alcançado o sucesso e vivia como se nada tivesse acontecido me deixaria tão frustrada.
— Seu banho, senhorita. — Kid saiu da suíte, fazendo uma voz solene que me fez rir antes de se aproximar e me estudar por um momento a mais. — Você parece... melhor...
— Sim. Você pode ir cuidar das suas coisas de hacker. Eu vou ficar bem na segurança do meu quarto emprestado. — Eu belisquei mais um pouco da comida, levantando os olhos para ele. — Que foi?
— Não é emprestado. É seu quarto. Você pode até quebrar as paredes se quiser. — Ele sorriu, se aproximando e beijando minha testa de forma carinhosa. — E minhas coisas de hacker podem esperar. Eu só vou ver se está tudo certo e volto. Enquanto isso você toma um banho e veste algo confortável. Vamos ver uns filmes ruins que o Mallacht separou pra gente.
Kid fez um carinho no meu cabelo, pegando a bandeja quando eu a empurrei para longe do meu colo e me levantei.
— Tá. Já que quer tanto me vigiar, tenta não demorar. — Ele sorriu para mim, concordando com um aceno e descendo rapidamente enquanto eu arrancava a minha roupa e entrava na banheira.
A água quente me envolveu, fazendo com que eu suspirasse e apoiasse minha cabeça a borda, encarando o teto. Tudo estava silencioso e isso começava a me incomodar e irritar. Eu respirei fundo, fechando os olhos e tentando relaxar.
Eu sentia meu corpo pesado por causa dos calmantes para dormir. Não foi muito agradável acordar todo o prédio aos gritos e ver os rapazes me encarando preocupados. Mas nada nessa situação era agradável, desde não sentir fome até as crises de choro no chão do banheiro que me faziam vomitar.
Tão silencioso. Eu tinha me acostumado ao barulho, fossem os meus vizinhos brigando ou ouvindo música tão alto que as paredes do meu apartamento quase vibravam. Fossem os rapazes e suas músicas altas, as conversas aos gritos e o som dos jogos que ecoavam pelo Victoria. A última vez que tudo esteve tão silencioso foi naqueles dias...
Dói tanto quanto naquele dia. O cheiro de queimado, a fumaça preta que saía pela janela e o silêncio súbito quando eu cheguei. Nada mais fazia barulho, a casa não tinha salvação e ia queimar até que a rede elétrica fosse desligada. As pessoas não falavam, apenas olhavam a cena, sem se importar muito. Até...
— Já chega! — Eu cobri meus ouvidos, como se de alguma forma isso fosse me impedir de ouvir Lucian me chamar das chamas. — Faça parar, por favor.
Eu pedi para ninguém em especial, esperando que Freya ou Loki me respondessem, mas sabia que eles não podiam fazer nada, não depois de tanto tempo implorando.
Eu balancei minha cabeça, me sentando e tentando fazer as lembranças irem embora, tentando fazer os meus gritos sumirem e os chamados dele pararem. As lágrimas queimavam a minha pele e quando abri meus olhos, encarei o que pensei ser a única coisa que calou todo aquele barulho na minha cabeça.
— Só por um momento... — eu afundei meu corpo completamente na água, esperando por longos segundos que tudo se acalmasse. Quando as coisas se tornaram pacíficas na minha mente, eu soltei lentamente o ar, sentindo a presença de Loki e Freya, como se me chamassem para fora da água. Mas estava confortável e calmo, meu corpo andava tão pesado nos últimos dias, que a sensação de flutuar na água me fez desejar ficar ali.
Diferente da outra vez, eu queria apenas a calma, a sensação de leveza, nada mais. Meus pensamentos se aquietaram e isso era tão bom... Tão bom, mesmo que a cada segundo que passe eu sinta o ar se tornar mais escasso.
— Como ela está? — Killer me encarou quando eu desci. A comida havia sido remexida, mas Merindah tinha comido praticamente nada. — O que a gente pode fazer?
— Eu queria saber. — Eu suspirei, deixando a comida sobre a bancada. Eu odiava essa sensação de não poder fazer nada.
— Eu sei que isso te deixa maluco, mas tenta ficar calmo. Vai ser bom pra ela. — Aestus passou por mim, pegando uma xícara de café e a colocando na minha mão.
— Eu sei e eu tô tentando. Mas é difícil pra caralho. — Eu suspirei, encarando a xícara. — Eu só queria saber como ajudar ela... Eu juro que tô aceitando qualquer coisa nesse momento.
Eu me joguei sobre a cadeira, escondendo o rosto entre as mãos. Esses dias estavam sendo uma merda. Não por que eu precisava cuidar da Merindah, mas sim porque eu não fazia ideia do que fazer.
— Ela vai melhorar. O Law disse que ela vai ficar melhor, só temos que dar tempo a ela. — Killer se sentou de frente para mim, encarando surpreso a minha expressão irritada.
— É, mas para isso, ela teria que está tomando os remédios que ele deu, coisa que ela não tá fazendo. — Eu suspirei, ignorando a cara surpresa dos dois. — Ela não tá errada. Ela quer lidar com isso do jeito dela...
— Kid... — eu levantei meus olhos ao ouvir o tom repreensivo do Killer. Mas antes que eu pudesse o mandar à merda, um arrepio gelado subiu pela minha espinha, me fazendo levantar num pulo e correr para as escadas. — O que foi?
— Tem algo errado. — Eu subi os degraus de dois em dois, encarando o corredor vazio e silencioso. Por recomendação do Law, o Victoria estava muito mais quieto que o normal. — Merindah!
Eu corri para o quarto a chamando e a falta de uma resposta me deixava ainda mais desesperado. O quarto vazio não ajudou muito.
— Caralho! — ela estava com o corpo totalmente submerso na banheira e isso fez meu coração parar de bater por um segundo. — Não faz isso comigo, porra! Por favor!
Eu a puxei para fora da banheira, a segurando contra mim e voltando a respirar quando ela tossiu um par de vezes.
— Que porra você tá fazendo? — eu tinha noção de que estava gritando, mas estava tão assustado que não podia controlar.
— Eu só queria parar de ouvir... — ela tinha uma expressão desesperada enquanto tentava secar as lágrimas e eu nos sentava no chão frio. Merindah cobriu os ouvidos, enterrando o rosto no meu peito. — Está tudo tão quieto e nada funciona... Nem as músicas, os chás, os cristais, a meditação... Nada... Eu só quero voltar a como era antes... sem ouvir o Lucian gritar por mim ou os meus gritos enquanto tentava entrar em casa, Kid.
Eu a encarei, sem saber o que dizer ou fazer, apenas apertando seu corpo contra mim, com tanto medo do que teria acontecido. Só porque eu a deixei sozinha.
— Eu sei, desculpa. — Eu apoiei meu rosto a sua cabeça, beijando seu cabelo molhado. — Eu não sei o que fazer e isso está me deixando doido... Eu não sei o que eu ia fazer se perdesse você... e eu sei que isso dói pra caralho. Eu entendo, Merindah...
Ela levantou os olhos para mim antes que eu nos puxasse para perto de uma parede, apoiando minhas costas.
— Vem aqui. — Eu puxei Merindah pela mão, a fazendo subir no meu colo e deitar a cabeça sobre o meu ombro. — A situação tá uma merda, eu sei. Mas você está segura agora e nós vamos cuidar de você. E todos, até o seu gatinho, sabem que você fez o possível e o impossível para salvar ele, tá.
Ela concordou com um aceno fraco, passando os braços ao redor do meu pescoço enquanto eu nos deixava ficar assim por alguns minutos.
— Você está com frio... e eu também. — Eu a ajeitei em meus braços, me levantando e nos levando para a cama.
Merindah manteve os olhos fixos a cobertas, praticamente se escondendo sob elas enquanto eu arrancava a roupa molhada e a chutava para um canto antes de me enfiar na cama com ela, a apertando contra mim.
— Eu preciso do remédio. — Ela girou o corpo, me encarando com uma expressão triste enquanto apontava para o vidrinho na cabeceira.
— Posso tentar uma coisa? — ela me encarou curiosa enquanto uma ideia passava pela minha cabeça. Merindah concordou com um aceno enquanto eu pegava o meu celular, colocando uma playlist. — É uma das minhas playlists de metal. É o instrumental e alguns vocais, sem letra. Me ajuda a trabalhar, às vezes, e eu também uso pra malhar.
A música ecoava pelo sistema de som do quarto, tão alto que abafaria até o barulho dos rapazes jogando. Merindah me encarou por um momento, se aninhando contra mim e fechando os olhos, exibindo um pequeno sorriso quando eu a envolvi com meus braços.
***
O silêncio me acordou e me deixou irritado. A música alta ajudou a Merindah a dormir. Quem é imbecil que tá desligando isso?
— Como ela está? — eu abri meus olhos e encarei Law como se pudesse quebrar seu nariz assim. — O som alto faz mal.
— Não pra ela. Tira a mão da porra do meu telefone. — Eu me estiquei o suficiente para alcançar o celular, ligando a música de novo, mesmo que um pouco mais baixa. — O que você quer?
— Ver seu lindo rosto. O que acha? — Law se aproximou de Merindah, examinando seu rosto antes de se afastar e encarar os vidrinhos de remédio praticamente intactos. — Ela não está tomando a medicação, né.
— Pois é. — Eu dei ombros, me ajeitando e me afastando minimamente de Merindah, vendo ela se aninhar sob as cobertas, parecendo bem o suficiente para que eu levasse essa conversa para o corredor. — Pra fora.
Eu me levantei, pegando um moletom perdido em uma das gavetas e me vestindo antes de sair.
— Ela não quer tomar o remédio. — Eu saí, deixando a porta meio aberta, assim podia ver a Merindah.
— Ela nunca quer. — Law suspirou, encarando o montinho de cobertas que era Merindah. — Não vou insistir. Ela tem alguém para cuidar dela, dessa vez.
Um silêncio estranho tomou conta enquanto eu ouvia os rapazes conversando no andar debaixo.
— Eu gritei com ela. — Eu suspirei, encarando meus pés descalços no piso frio.
— Eles me contaram. — Eu levantei meu rosto para Law, que ainda encarava Merindah. — Se eu quisesse te assustar diria que isso tem volta, mas ela sabe que foi por causa do calor do momento... Que você não estava gritando com ela, mas sim por causa do medo e do desespero.
Eu encarei o montinho de cobertas, vendo a mão delicada agarrar o meu travesseiro e o puxar para o meio das cobertas, se embolando nele como ela fazia comigo e isso me fez sorrir.
— Vocês vão ficar bem. — Law sorriu, se afastando. — Você parece saber como a Merindah funciona, Kid. Se continuar assim, em alguns dias ela vai estar melhor.
Ele acenou para mim, seguindo pelo corredor e então desaparecendo nas escadas antes que eu voltasse para o quarto. Eu olhei ao redor, suspirando e começando a arrumar um pouco da bagunça antes de acender algumas daquelas velas que ela tanto gostava e jogar os remédios em uma gaveta qualquer.
— Oi... — o tom baixo e sonolento me fez tirar os olhos da pilha de roupas, que eu chutei para o banheiro.
— Oi. Está se sentindo um pouquinho melhor? — eu me abaixei de frente para a Merindah, sorrindo quando ela concordou com um aceno e passou a mão no meu cabelo.
— Sabia que quando você me puxou para fora da água, você parecia um vulto do Loki? — ela exibiu um pequeno sorriso quando eu neguei com um aceno. — Acho que ele está tentando me dizer algo...
— Espero que seja algo bom... — eu sorri, dando a volta na cama e me deitando ao seu lado. — Ei, o que acha de pedir o jantar? Qualquer coisa que você quiser.
Ela sorriu, deixando que eu me apoiasse a cabeceira e se apoiando em mim enquanto usava meu celular para pedir o jantar a Killer.
— Obrigada. — Ela sorriu, passando os braços ao meu redor, me fazendo sorrir e a apertar um pouquinho mais contra mim.
Levou alguns dias até eu começar a melhorar. Kid parecia saber exatamente o que me ajudava: caos.
As músicas altas, as conversas, as disputas e brigas durante os jogos, tudo isso, me cercando como uma grande benção de Loki. Por outro lado, eu também tinha a minha benção de Freya, um hacker ruivo barulhento e que se mostrou extremamente cuidadoso e carinhoso ao seu modo.
— Bom dia. — Kid entrou no quarto carregando uma bandeja com o café manhã. — Eu ia trazer uma flor, mas o Killer disse que você me mataria se eu mexesse nas suas plantas.
Eu ri e isso fez Kid sorrir, se aproximando e colocando a bandeja no meu colo antes de se largar sobre a cama.
— Ei, posso dormir aqui um pouco? — Kid me encarou por alguns instantes enquanto eu concordava com um aceno antes de deitar a cabeça sobre as minhas pernas, me fazendo rir. — Precisa de algo? Por que eu espero não sair do meu travesseiro tão cedo.
— Talvez o notebook. — Eu sorri quando ele se levantou, colocando o computador do meu lado da cabeceira e voltando a se deitar.
Desde o começo dessa confusão, eu praticamente não saía do quarto. Os rapazes vinham me ver e passar algum tempo comigo, já que as recomendações do Law eram de que ficassem de olho em mim por algum tempo. E, infelizmente, eu não podia dizer que ele estava errado.
Aqueles pensamentos já não estavam mais na minha cabeça, o Lucian voltou a ser uma boa lembrança ao invés de um fantasma me aterrorizando e, aos poucos, todas as memórias ruins voltavam para o canto escuro da minha mente de onde nunca deveriam ter saído.
Eu suspirei, terminando o café e fazendo um carinho em Kid, que dormia profundamente.
— Esse pode ser um bom momento para estudar os grimórios da vovó. — Eu peguei o celular e puxei para mim um pequeno caderno, o apoiando na cabeça de Kid e rindo disso.
Algum tempo se passou antes que Killer aparecesse com uma xícara de chá, aproveitando para dar uma espiada em mim e no amigo levemente incontrolável que ele tinha.
— Como estão? — ele girou a cadeira, se sentando e me encarando.
— Bem. Estou terminando esse capítulo de estudo e vou colocar algumas leituras em dia antes do seu amigo acordar. — Eu sorri para ele, mostrando a capa de um recém lançado livro de contos de terror. — E ele, bem, sono tranquilo e dormiu rápido, então acho que está bem e realmente descansando.
— Sabia que ele melhorou bastante desde que você chegou? — Killer riu quando Kid resmungou alguma coisa, soltando um palavrão antes de se ajeitar na cama, me abraçando pela cintura. — Não é só a sua presença. As músicas, os chás, a aroma terapia... A rotina.
— Não é bem uma rotina... — eu dei ombros enquanto ele me encarava cético. — Okay, talvez seja. Mas tecnicamente, eu só o enfio na minha rotina. Seguir uma rotina como a minha para ele é muito difícil, ainda mais com esse sono maluco.
— Sim. A gente sempre disse que o Kid não dorme. Ele recarrega as baterias. — Killer sorriu e eu ri. Não havia forma melhor de definir o sono do Kid. — Pelo menos agora ele consegue dividir o sono dele em um dia de vinte e quatro horas, não em períodos de quarenta e oito por doze.
— Isso seria um problema. Eu seria obrigada a dopar seu amigo se isso acontecesse comigo aqui. — Killer riu, se levantando e nos estudando por um momento a mais.
— Vou deixar você colocar sua leitura em dia e ele, o sono. Até depois. — Ele acenou para mim, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si.
Uma playlist indie com uma temática mais dark tocava ao fundo enquanto eu me deliciava com o meu novo livro de contos, Corvo de Sangue, e Kid descansava com a cara enfiada nos meus peitos e seus braços ao meu redor.
— Você precisa de músicas melhores. — A voz rouca e carregada de sono me fez sorrir antes de passar meus dedos em uma carícia pelas mechas vermelhas. — Nossa, eu podia ficar assim a vida inteira.
Eu ri quando Kid deixou um beijo entre meus seios antes de se levantar e me encarar por um momento, bocejando.
— Vem comigo, eu tenho uma coisa para você. — Ele se espreguiçou, pegando uma camisa qualquer e jogando um dos seus moletons para mim. — Vai precisar disso, é frio no terraço.
— O que vamos fazer no terraço? — eu o segui porta afora, me perguntando o que poderia ter no terraço. Da última vez que estive lá para regar minhas plantas, não havia nada além delas e algumas bitucas de cigarro.
— Você vai ver. — Kid pegou minha mão, me levando escada acima e abrindo o alçapão que levava ao exterior.
O terraço havia sido limpo e, para a minha completa surpresa, uma estufa havia sido montada lá.
— Antes que você ameace alguém, suas plantas estão dentro da estufa... e tem alguns acréscimos. — Kid sorriu, apontando para a porta entreaberta e me levando até o prédio de armação preta.
— Senhorita. — Eu ri quando Aestus abriu a porta para nós antes de olhar ao redor com mais atenção.
Minhas plantas haviam sido cuidadosamente organizadas e o local era mais do que só uma estufa. O chão foi coberto com tijolinhos vermelho-escuro, as prateleiras estavam repletas de plantas menores, o que incluía algumas flores de países tropicais difíceis de serem encontradas, legalmente. Vasos com plantas maiores estavam pelo chão, cercando a mesa de jardinagem que tinha uma lareira de ferro de estilo antigo em uma das extremidades. E, além das espreguiçadeiras e das poltronas, também havia uma rede com almofadas. Eu estava sem palavras.
— Gostou? — Mallacht me encarou, abrindo um sorriso e me fazendo rir por seu avental de 'corpos são excelentes fertilizantes' enquanto segurava uma das minhas samambaias.
— Adorei. — Eu me aproximei de alguns vasos maiores, notando os terrários recém comprados com estatuetas e sorrindo. — Que barulho é esse?
— A fonte. — Killer se aproximou, limpando as mãos em uma toalha antes de a largar sobre a mesa e apontar para os fundos da estufa. — O Kenway pagou por isso, disse para você considerar uma compensação e disse que se matarmos alguma dessas plantas raras, ele corta nossas regalias.
Eu ri, me aproximando de onde ele tinha apontado e vendo a fonte que terminava em um pequeno lago. Aquilo não era uma estufa, era um mini ecossistema.
— Isso é incrível... — eu olhei ao redor antes que Kid se largasse sobre uma das espreguiçadeiras.
— Obrigado. Ideia nossa, dinheiro do Kenway. — Ele exibiu um pequeno sorriso antes que eu me juntasse a ele e os rapazes se espalhassem nas poltronas e na espreguiçadeira. — Dá até pra cozinhar aqui... Que tal um acampamento em casa?
— Boa! — Killer apontou para a porta e Aestus e Mallacht o seguiram. — Voltamos daqui a pouco com comida, marshmallows e o projetor. Vamos ver um filme no meio das suas plantas.
Eu ri enquanto eles saíam quase em disparada pela porta.
— Você está mesmo se esforçando em tornar esse lugar perfeito para mim, né? — eu apoiei meu corpo ao de Kid, sorrindo quando ele passou seus braços ao meu redor.
— 'Tô tentando, juro. — Ele sorriu, me encarando e fazendo um carinho na minha cintura. — Eu sei o quanto você gosta dessas suas plantas... Porra, você pergunta todo dia se o Killer lembrou de regar elas.
Eu ri, girando meu corpo e me sentando no colo dele, o encarando sob os raios dourados da tarde que entravam por uma das claraboias aberta do teto.
— Eu sei como é difícil fazer a nossa mente calar a boca... Acredite, a minha parece só ficar quieta quando eu 'tô com você, morrendo de cansaço e sono ou quando tô tão focado no trabalho que eu poderia até esquecer de respirar. — Kid olhou ao redor antes de pousar seus olhos em mim, exibindo um sorriso e levando suas mãos a minha cintura em um carinho. — Imaginei que isso te ajudasse... Isso toma tempo pra caralho.
Eu ri, o encarando por um momento a mais antes de beijá-lo.
— Obrigado. — Eu sorri, olhando ao redor uma última vez antes de deitar meu corpo sobre o dele, apoiando minha cabeça em seu ombro, deixando o ambiente me envolver.
O crepitar da lareira, o som da água no lago e o farfalhar das folhas quando o pouco de vento permitido entrava e corria entre as plantas. Eu suspirei, abrindo um largo sorriso enquanto sentia Kid me abraçar e uma das suas playlists de metal começar.
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