ᝰOne-shot🍡
3:38 AM.
Suas pálpebras pesadas da sonolência focaram preguiçosamente na hora marcada no relógio grudado na parede ao lado. Com um suspiro baixo, você puxou as cobertas para mais perto e se aconchegou um pouco.
Você estava tendo um maravilhoso sono desde que se deitara para dormir — seu corpo relaxado era prova viva disso —, algumas ondulações oníricas ainda persistiam em se mover ao seu redor do recente despertar e memórias bem vagas de algum sonho a invadiam vez ou outra.
Voltando seus olhos para frente, fitou o teto de forma fixa, perdida em pensamentos. Só fazia alguns minutos desde que de repente foi puxada para fora de seu tão maravilhoso descanso e trazida de volta ao mundo real; o motivo? Ora, ninguém menos que você mesma. Você não sabia o porquê, mas acordou há pouco com uma sensação de pulga atrás da orelha, sentindo-se incomodada e, desde então, seu corpo se recusou a voltar ao estado em que estava. Era como se alguma coisa... algum sentido a mantivesse em alerta, querendo avisá-la sobre algo.
... E esse "algo" estava assassinando sua hora do descanso. 30 minutos podiam se passar de maneira bem apressada quando se é de madrugada, e você gostaria muitíssimo de retornar ao sonho em que estava — sequer sabia que sonho era esse — antes do sol nascer, mas o seu bendito cérebro era um teimoso que não colaborava com o seu plano e pelo contrário, parecia estar em uma balada, comemorando com luz de LED, música alta de tremer o chão e muita bebida, certamente muita bebida porque para ele não querer dormir quando você estava morta de cansaço e o corpo todo exigia, só podia estar muito alterado mesmo; essa era a única explicação que tinha: seu cérebro estava embriagado. Você, por outro lado, estava tão sóbria quanto um monge.
Já havia descartado qualquer ideia de ser algum sexto sentido entrando em ação devido a um perigo externo ou interno porque absolutamente nada acontecera, então só lhe restava a ideia de que a insônia atacava mais uma vez e debochava da sua cara lindamente, o que de fato não era uma surpresa para você, isso acontecia de vez em sempre.
Resultado: agora você definhava na sua cama, pensando em mil e uma coisas enquanto tentava tirar ao menos um cochilo.
Até pensou em fazer um leite quente e tomar para ver se lhe ajudava, mas a cama estava tão quentinha e confortável que você não conseguiu sair dela. O seu refúgio era com certeza melhor do que o frio do piso.
Esfregando os olhos, soltou um bocejo longo que te fez lacrimejar e decidiu não se dar por vencida, fechou as pálpebras mais uma vez e se virou de lado, imaginando-se berrando um 'eu vou dormir, sim!' Enquanto sacolejava seu cérebro, dava três tapas nele, mandava-o criar vergonha na cara, parar de folia e ir trabalhar antes de forçar-se a relaxar a mente.
Depois de sabe Deus quanto tempo, você conseguiu vencer a batalha e tirou um belo cochilo, mas, para o seu infortúnio, a campainha da sua casa tocou e ecoou por todos os cômodos, fazendo-lhe acordar em um susto.
Você ficou parada por um momento, choramingou um pouco e sentiu vontade de rosnar e xingar alguém, não sabia quem. Tampando o rosto com ambas as mãos, respirou fundo e juntou a pouca coragem que tinha para erguer-se daquele mar macio que lhe envolvia e atender a porta — o que o fez depois de muita luta interna.
E lá se vai o meu devido descanso, depois meu corpo colapsa e eu não sei por quê. Resmungou mentalmente para si mesma enquanto destrancava a porta.
Um pequeno barulho de ranger se fez audível quando você a abriu. Ao deparar-se com quem a esperava do outro lado, suas sobrancelhas saltaram para cima em surpresa.
━ Mikey? ━ Você observou o tufo loiro e bagunçado do rapaz cabisbaixo ━ O que faz aqui tão tarde da noite?
Os globos oculares pretos dele pareciam opacos e perdidos, Mikey levantou a cabeça e suas íris imediatamente procuraram por você de maneira desesperada. Seus olhos encontraram os dele e você logo percebeu que algo estava errado. Eles transmitiam dor, um pedido de ajuda silencioso, diziam o "só você pode me ajudar" que os lábios entreabertos e trêmulos não ousaram dizer.
Soltando a fechadura da porta, você se aproximou dele, suas mãos voando para seu rosto; sua pele estava pálida e gelada, lembrava a de um cadáver, seus trajes estavam adornados de uma fina camada de neve e seu nariz estava avermelhado, irritado do frio, do imenso frio que fazia ali fora devido a uma tempestade que outrora avassalou a cidade, mas também do imenso frio que avassalava seu coração há mais tempo do que se podia imaginar.
O clima estava gelidamente atormentado, mas não estava tão atormentado quanto Mikey.
━ O que aconteceu? ━ perguntou preocupada, buscando resposta em suas orbes de ônix.
Silêncio foi a resposta dele.
Não querendo pressioná-lo a falar naquele frio glacial, você o soltou.
━ Vamos entrar ━ convidou-o, dando espaço para que ele passasse.
Quando ambos já estavam lá dentro, você se certificou de fechar e trancar a porta antes de voltar-se para ele.
━ Você está bem?
Mikey negou com a cabeça.
Aproximando-se dele, você o analisou com visível cuidado e começou a limpar um pouco da neve que o revestia, dando batidinhas leves em suas roupas.
━ O que aconteceu, Mikey? ━ tentou novamente, fitando ao seu rosto angustiado e sentindo-se igualmente angustiada.
Ele fez uma careta, como se estivesse sentindo dor, e desviou o olhar.
━ Eu tive... um pesadelo.
Você segurou a mão do rapaz, tentando dar-lhe algum conforto.
━ Quer conversar sobre isso?
Lágrimas brilharam em suas orbes ao se espalharem por elas, deslizando pelo seu rosto em uma chuva silenciosa de choro contínuo. Ele negou com a cabeça novamente, dessa vez de maneira mais veemente.
━ Tudo bem, então não vamos falar sobre esse pesadelo ━ murmurou, usando a mão livre para enxugar algumas das lágrimas dele e acariciar seu rosto com o polegar. ━ Afinal, nada do que aconteceu foi real, não é?
Mikey fungou, debulhando-se em pranto. Ele observou suas feições por um momento, antes de enterrar a cabeça no seu ombro esquerdo e puxá-la para um abraço urgente.
Você afagou as costas do loiro, abraçando-o de volta. O rapaz te segurava forte, como se fosse morrer se não o fizesse, você sentia o leve tremor que sacudia o corpo dele contra o seu e não pôde deixar de desejar sugar toda aquela aflição para si mesma, para livrá-lo dela.
━ Quer dormir aqui? ━ perguntou em um tom fraternal.
Ele aquiesceu contra seu ombro.
━ Certo.
Soltando uma quantia de ar pela boca, você o embalou detidamente enquanto tentava acalmá-lo. Vocês permaneceram assim por um longo tempo, abraçados, até ele finalmente se acalmar e seu choro se cessar; quando isso aconteceu, Mikey continuou a segurá-la, parecendo hesitante em soltá-la a princípio, mas depois cedeu e deixou-lhe ir.
Você o fitou; agora seus olhos também eram vítimas de um inchaço soturno e a imagem lhe apertou o coração.
Levantando a mão, acarinhou-o na região abaixo da pálpebra inferior. Uma forma silenciosa de confortá-lo, já que as palavras lhe faltavam.
━ Espere aí um momento, eu vou trazer um pouco de leite quente para você ━ falou, não aguentando mais ficar sem fazer nada.
Antes que pudesse se retirar para a cozinha, no entanto, Mikey agarrou seu pulso e a impediu de ir.
━ Não quero leite.
━ Então, vou preparar um chá.
━ Também não quero chá, (Nome). Eu quero você.
Você o perlustrou por cima do ombro. Ele parecia tão sôfrego.
━ Um chá vai te ajudar a se sentir melhor, Mikey.
━ Não, não vai. Nem chá, nem leite, nada vai funcionar comigo, só você consegue fazer eu me sentir melhor, só você consegue me acalmar.
Aquela declaração deixou-lhe aturdida. Uma sensação quente avassalou o seu interior, inundando-o por completo.
━ Não vá... ━ lamuriou em um sussurro, crispando os lábios.
Abriu a boca para responder, não conseguiu pensar em nada a dizer, fechou-a novamente. Então, suspirou.
━ Bom, eu não "ia" exatamente para canto nenhum, a cozinha é logo no cômodo ao lado. ━ Apontou, dando de ombros. ━ Mas, já que você pediu, não vou.
Ele abriu um pequeno sorriso em resposta.
━ Vem, vamos 'pro sofá ━ chamou, guiando-o para a sala e instruindo-o a sentar-se. Assim que o fez, você se acomodou ao seu lado, entrelaçando os dedos com os dele.
Mikey apertou levemente sua mão, observando à TV desligada logo a frente de forma vazia e perdida. Você se aproximou um pouco mais dele e seu rosto virou na sua direção.
Com um suspiro audível e cansado, Mikey deixou a cabeça cair em seu ombro e o corpo dele deslizar contra o seu, se aninhando sem um pedido prévio. Você sentiu a respiração do rapaz afagar a curvatura de seu pescoço, fazendo-lhe cócegas.
Envolvendo os ombros dele com os braços, abraçou-o novamente, seus dedos encontrando caminho até o mar dourado de maciez que eram aqueles fios de cabelo atualmente desgrenhados. Você os afundou lá, sentindo prazer nisso, e começou a penteá-los.
━ Melhor? ━ perguntou baixinho, enquanto sentia-o segurar sua cintura com força e puxá-la para perto.
Ele cantarolou em resposta. Melhor.
O nariz gelado como um floco de neve do rapaz encontrou o caminho que levava de seu pescoço para a sua bochecha e ancorou-se lá, esfregando parte do rosto contra o seu em uma carícia suave.
━ (Nome)?
━ Sim?
━ Você promete para mim que não vai sumir?
Pausa.
━ Quê?
━ Promete que não vai me abandonar e nem desaparecer da minha vida para sempre? ━ O loiro ergueu a face e te olhou, esperando uma resposta, ansiando por alguma confirmação, alguma segurança.
━ Prometo.
As orbes dele lacrimejaram novamente e algumas lágrimas voltaram a descer.
━ Tenho tanto medo de te perder. Tanto ━ admitiu com a voz embargada.
━ Você não vai me perder ━ assegurou, inclinando-se na direção dele e beijando suas lágrimas salgadas. ━ Eu estou aqui.
Mikey chorou um pouco mais. Seu coração não aguentou ver aquela cena — quebrava-lhe a alma — e você puxou o rosto dele para si, conduzindo-o a descansar a cabeça em seu peito, embalando-o como uma mãe embala uma criança assustada.
Você continuou a fazer-lhe cafuné, até que o corpo dele parou de tremer contra o seu e o choramingo chegou ao fim. Ele não se moveu, e após algum tempo sua respiração tornou-se regular e pesada.
Você o assistiu adormecer em silêncio, sentindo seus membros ficarem mais e mais dormentes conforme o tempo se passava. Quando foi capaz de concluir que ele estava dormindo profundamente, mexeu-se e mudou para uma posição mais confortável, deitando-se no sofá e aconchegando-se contra ele. Você não queria acordá-lo, não quando ele finalmente parecia estar em paz.
Mikey dormia serenamente; e você não pôde deixar de apreciá-lo, admirando suas feições relaxadas e tranquilas enquanto retirava sem pressa alguns dos fios de madeixa que ondulavam sobre seu rosto. Foi com essa visão que você caiu no sono sem nem perceber.
Um baque estrondoso de repente ecoou em algum momento da manhã pela casa, fazendo-lhe acordar em um pulo assustado.
Você não tinha certeza de quando havia adormecido, mas quando solevantou-se sobre o apoio de seus cotovelos e olhou para a janela que tinha na sala, viu raios de sol animados espreitarem pela fresta e iluminarem o cômodo — o que significava que já era dia —; e um pouco mais na frente dela, a silhueta do Draken.
Atordoada devido à sonolência, você balançou um pouco a cabeça e piscou com força, supondo que estava vendo miragem ou que ainda estava sonhando. Ao abrir os olhos, entretanto, continuou a encontrar Draken.
É, não era miragem.
━ Eu sabia que você ia estar aqui.
━ Hã?
Franzindo o cenho, você o fitou confusa. Como assim?
Uma movimentação perto de ti lhe chamou a atenção, você ouviu um pequeno resmungo sonolento e frustrado.
Draken apontou para o corpo molenga largado em cima do seu.
━ Você! ━ exclamou ━ Como pode ainda estar dormindo?! Sabe que horas são?!
━ Não e nem quero saber ━ resmoneou um Mikey com voz rouca, apertando sua cintura e virando a cabeça para o outro lado.
━ Mas vai saber mesmo assim, são...
━ Espera aí ━ você o interrompeu, ficando completamente sóbria do sono ao lhe ocorrer um pensamento simples: ━ Como diabos você entrou na minha casa? A porta estava trancada!
Silêncio. Eis mais um dedo acusador apontado na direção do jovem Manjiro.
━ Isso é coisa dele.
Você piscou.
━ Como?
━ Ele disse que era uma boa ideia ter uma cópia da chave da sua casa. ━ Para provar a sua declaração, Draken puxou a dita chave e balançou-a na sua frente.
Virando-se para Mikey, você ergueu uma sobrancelha.
━ Explica.
O loiro apoiou o queixo na sua barriga e lançou um sorriso felino na sua direção.
━ Você fica linda quando acorda, sabia?
━ Chega com suas manhas para lá! Explique agora.
Um beicinho surgiu nos lábios dele.
━ Não me olhe assim... Eu fiz isso para casos de emergência.
━ Em casos de emergência, invada minha casa?
━ Mais ou menos isso.
A cara de tacho surgiu na mais perfeita forma em seu rosto.
Fala sério.
━ Mais importante que isso, temos uma reunião para ir e já estamos atrasados ━ Draken mudou de assunto, cruzando os braços e fitando o menor, que voltou a virar a cabeça para ele.
━ Não vou.
━ O quê?
━ Não vou.
━ Mikey, foi você que marcou a reunião.
━ Então desmarca.
━ Não dá 'pra simplesmente desmarcar, já estão todos lá te esperando.
━ Que pena. Manda todos embora.
━ Absolutamente não.
Draken estava com uma expressão indignada, mas Mikey não parecia dar a mínima e encolheu os ombros — um movimento que você foi totalmente capaz de sentir.
━ Pois pode ir tirando sua bunda desse sofá, porque você vai sim!
Mikey soltou um "não" prolongado e se agarrou em você como se a vida dele dependesse disso, quando Draken se aproximou do assento e começou a puxá-lo pela perna.
━ Deixa disso, cara! ━ admoestou o mais alto, não desistindo da batalha.
Em resposta, Mikey apenas enterrou a cabeça na sua barriga e continuou a segurar você, se negando a largá-la.
━ Eu já disse que não vou!
Você, por outro lado, não tinha muito o que fazer a respeito e grunhiu.
Socorro.
E para a querida Jararaca_jaca que está completando seus joviais 78 anos, parabéns.
ᶤ ᶫᵒᵛᵉᵧₒᵤ ❤️
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