Capítulo Treze
Acordei assustada em meu quarto. Demorei um tempo para lembrar que não estava mais no Palácio Negro, e sim em minha casa no povoado. Após conversarmos, Diaval entrou para o seu quarto e permaneceu nele mesmo quando o chamei para jantarmos. Deixei em sua porta uma bandeja com lanches fáceis de comer antes de me recolher para os meus aposentos, onde cai em um sono tranquilo até acordar com o barulho alarmante dos uivos.
Era os mesmos sons grosseiros, famintos e perturbadores que ouvia no palácio. Como isso era possível?
Levantei-me da cama e cobri meus ombros com uma manta de lã grossa. Nunca, em todos os anos que morei nessa casa os sons das bestas chegaram até aqui. Agora, eu as ouvia como se estivessem próximas. Como se estivessem fora da muralha!
Sai do meu quarto sentindo o meu coração descompassado no peito, batendo freneticamente em meio a escuridão da casa. Olhei para o quarto onde Ambrose deveria estar descansando, a porta estava aberta, mas a bandeja permanecia onde eu havia deixado, intocada. Caminhei lentamente até conseguir inclinar minha cabeça para dentro do quarto, encontrando-o vazio. Respirei fundo duas vezes quando um longo e lânguido uivo soou distante. Voltei meus passos para o corredor e segui o caminho até a sala e cozinha vazia que permaneceram da mesma forma que eu deixei antes de deitar, com apenas a exceção da porta de entrada que estava aberta.
A luz da lua iluminava parcialmente quando eu passei pela porta e caminhei pelo jardim. Ali, na semi escuridão, eu segui pela pequena trilha que levava para a parte traseira da casa, onde um barulho de água se fazia presente. Travei no lugar onde estava quando a visão do arquiduque se lavando no poço se elevou para mim. Assisti em transe enquanto ele jogada um balde amarrado em uma corda para dentro do poço. Seu cabelo estava molhado, com gotas de água escorrendo por seu rosto, pescoço, ombro e peito desnudo. Um vento forte soprou jogando meus cabelos soltos para frente do meu rosto, causando-me arrepios de frio. Quando o sopro gelado chegou até o arquiduque bagunçando mais seus cabelos desalinhados, ele inalou profundamente e olhou em minha direção.
Não tive coragem de dizer nada enquanto o assistia secar-se com a camisa que usava mais cedo. Passou o tecido escuro pelo rosto e vagarosamente o desceu pelo seu tronco, secando os músculos torneados que saltavam sob sua pele. Durante todo o processo, ele manteve os olhos presos em mim e após concluir que estava devidamente seco, caminhou em minha direção.
Engoli em seco.
— O que faz aqui fora, Mabel? — Diaval perguntou, passando a mão pelos fios de cabelo molhado.
— E-eu ouvi um barulho e vim investigar — disse, não sentindo segurança em minha voz.
— Sempre curiosa. — Ele sorriu.
— E o senhor? Se queria se banhar eu poderia ter lhe preparado água quente. — Minhas palavras me fizeram automaticamente encarar o peito desnudo do homem à minha frente, trazendo de volta a imagem das gotículas de água que brincavam pelos caminhos elevados do seu tronco.
Dei um passo desajeitado para trás de modo a proporcionar clareza aos meus pensamentos. O movimento passou despercebido pelo arquiduque que parecia perdido em devaneios, concentrado em algo além de mim parada a sua frente.
— Não queria incomodá-la já que parecia estar dormindo, mas vejo que acabei a despertando de toda forma. Lamento. — Suas palavras eram gentis, mesmo quando sua expressão parecia distante.
— Não, não foi nada. — Não era por sua causa que eu havia acordado.
E como se meu pensamento chamasse por eles, os sons medonhos das bestas voltaram a preencher meus ouvidos. Na noite silenciosa, carregada de ventos fortes e gelados, os uivos eram arrastados para nós, atravessando a floresta e se embrenhando em nossos ossos.
Perto e longe, alto e baixo, furioso e triste.
Olhei para o senhor destas terras. Ele olhava para o horizonte com o rosto sério, os olhos pareciam brilhar com mais intensidade cada vez que suas sobrancelhas se franzem mais. Uma gota de água solitária escorreu do seu cabelo e trilhava um caminho perigoso pelo seu rosto, ela passeou ao redor da sobrancelha esquerda e caminhou sobre a maçã do rosto, e em um festejo final tal qual uma dançarina ela escorregou diretamente para a boca do homem mais poderoso do império, lançando-se entre seus lábios e desaparecendo para sempre da minha visão. Mas apenas eu lamentaria, pois, o arquiduque indiferente ao meu olhar seguia com sua atenção direcionada para um ponto específico, como se mesmo na escuridão noturna ele pudesse enxergar a silhueta do seu palácio, de onde ecoavam os sons das bestas.
— Como é possível ouvi-los? — perguntei, ainda concentrada em seu rosto.
Ele voltou seus olhos para mim e me encarou por longos minutos antes de responder:
— Você os ouve porque está próxima a mim. — Não pude conter o arrepio que tomou da base da coluna até as pernas.
— Se eu estiver longe de você, não poderei ouvi-los mais? — questionei.
Seus olhos brilharam e todo meu corpo ficou em alerta quando ele se aproximou até que estivéssemos a poucos centímetros de distância.
— Nunca estará longe o suficiente. — Sua voz tinha um tom de sentença nostálgica. Ele falava comigo, mas parecia pensar em algo que aconteceu há muito tempo.
Olhando-o assim, banhado pela luz da lua era fácil esquecer que ele era um homem com mais de duzentos anos de vida. Sozinhos em minha casa, era muito cômodo achar que éramos os únicos seres que habitavam essas terras. Era simples esquecer dos horrores que o cercavam e da maldição que carregava.
— É verdade? — Me peguei pronunciando meus pensamentos em voz alta. — O que falam de você?
Ele levantou a mão e cuidadosamente segurou uma mexa do meu cabelo que balançava ao ritmo do vento e a ergueu em direção a luz da lua observando-a enquanto a passava entre os dedos.
— E o que dizem sobre mim? — perguntou, ainda sem me olhar.
Por um instante, desejei que seus dedos descessem pela mexa e alcançassem meu coro cabeludo. Queria sentir seus dedos passeando pela minha nuca até que estivessem em meu rosto guiando-me para perto do seu, tão perto que dividiríamos o mesmo ar.
— Minha amável dama, no que está pensando? — Ele deixou meu cabelo escorregar dos seus dedos e somente então percebi que havia encurtado os centímetros que nos separavam.
Perto o suficiente para sentir o calor que emana do seu corpo. Próxima ao ponto de perceber a sua pele arrepiada pelo contato com o frio da noite e junto o bastante para que ele pudesse sentir minha respiração pesada. Me afastei abruptamente e o movimento repentino fez com que meu pé escorregasse em uma pedra de superfície lisa, porém antes que eu perdesse o equilíbrio completamente, Diaval segurou meu braço impedindo que eu caísse.
— Está bem? — perguntou olhando para o meu pé.
— Sim, foi apenas um escorregão. Obrigada.
— Disponha. — Ele sorriu brevemente, antes de voltar a ficar sério. — Você não respondeu a duas perguntas minhas. — Me lembrou.
Eu sorri envergonhada.
— Não estava pensando em nada importante. — Alisei meu vestido tentando tirar a atenção dele do meu rosto.
— Não é o que parecia, mas respeito sua discrição — ele respondeu. — Mas creio que ainda falta uma. O que dizem sobre mim?
Percebi meu erro ao ter trazido esse assunto a tona, mesmo que eu tentasse desconversar ele parecia determinado em ter uma resposta.
— Bom, dizem muitas coisas...— Titubeei sem saber como prosseguir. Meus instintos me alertavam que irritá-lo seria desastroso.
Lembrei novamente que estávamos sozinhos e isolados.
— Pode falar, Mabel. — Encorajou-me.
— Eu cresci ouvindo histórias e cantigas sobre você... e sobre sua maldição, mesmo que ninguém realmente saiba do que se trata...— Ele não esboçou nenhuma reação com as minhas palavras, apenas continuou a me encarar. — Estamos acostumados a falar sobre você, sobre as coisas que supostamente faz...
— O que eu faço, Mabel? — Diaval perguntou em voz baixa. — Eu torturo? Rasgo, mato e como? Faço muitas coisas Mabel, eu não posso mentir. Então se quer saber algo tem que perguntar de forma clara e direta.
Eu estava dividida entre o medo e o ímpeto de perguntar. Mas a não ser que suas palavras de agora fossem armadilhas, ele parecia estar disposto a esclarecer minhas dúvidas e uma oportunidade dessas pode ser única.
— É verdade que você foi amaldiçoado sob a acusação do assassinato da imperatriz e do príncipe herdeiro?
— Sim. — Eu pisquei para sua resposta sem hesitação.
— Certo...— disse sem saber como continuar.
Ele sorriu abertamente, mas por trás do sorriso uma centelha de desapontamento espreitava seu rosto.
— Esperava que eu fosse negar? — falou com a voz rouca.
— Não sei o que eu esperava — confessei.
— Então continue.
— Qual é a sua maldição? — Ele inclinou a cabeça para o lado com um sorriso brincando em seus lábios como se esperasse essa pergunta.
Sua reação apenas me deixou mais tensa, meu coração batendo pesadamente no peito.
— Não posso dizer, lamento — respondeu e eu não pude deixar de ficar desapontada.
— E sobre o que disse antes, sabe, rasgar, matar e comer...— perguntei baixinho, temendo sua resposta.
— Rasgar, matar e comer o quê?
— Pessoas...
Ele inspirou o ar profundamente antes de me responder.
— Não como pessoas, Mabel. — Seus olhos brilharam intensamente sob o reflexo da lua. E não me passou despercebido que ele negou apenas uma das opções, e o pensamento me fez estremecer — Está frio e muito tarde, creio ser melhor nos recolhermos.
Concordei em silêncio e o segui de volta para a casa. Somente quando estávamos parados em frente das portas de nossos respectivos quartos que Diaval voltou a falar com a voz carregada de diversão e malícia, como se não estivéssemos falando de maldições e mortes há poucos momentos
— Se voltar a ficar na frente de um homem sem camisa não se aproxime tanto — um sorriso cheio de promessas tomou o seu rosto —, pode ser perigoso.
...
Respirei fundo algumas vezes tentando conter o nervosismo. Estava sentada ao lado do arquiduque em um escritório improvisado no meio da biblioteca, à nossa frente havia uma mesa cheia de papéis e uma cadeira vazia, aguardando as pessoas que a ocupariam.
— Não precisa ficar tão tensa, Mabel — Diaval falou enquanto analisava o conteúdo das papeladas com o cenho franzido. — Apesar de que não a culpo se a tensão for causado pela fúria. Tem motivo para isso. — Entregou as folhas para que eu pudesse ver o conteúdo delas.
— Isso é... — falei transtornada.
— É. — Ambrose sinalizou para que um dos seus servos fosse até a porta. Tardiamente, me perguntei aonde eles haviam passado a noite. — Se estiver pronta, começaremos.
— Sim! — respondi para ele tentando passar firmeza em minha voz, e me surpreendi ao perceber que havia conseguido.
— Muito bem. — Ele pareceu satisfeito. — Antônio, mande-a entrar.
A mulher que entrou no salão era muito bem conhecida por mim e permanecia a mesma das minhas memórias. Cabelos ordenadamente presos em um coque que não escondia os fios grisalhos que já tomavam conta de toda a cabeça, a pele entregava sua idade com marcas de tempo e flacidez. A Sra. Alva entrou com uma pose altiva, olhando para todo o espaço com ar de presunção que só aumentou quando seus olhos pousaram em mim e o reconhecimento tomou suas feições.
— Criança? O que faz aqui? — ela perguntou arrumando o chale nos ombros.
Diaval estalou a língua e ela o observou com o cenho franzido, mas algo pareceu iluminar seus pensamentos e uma expressão afetada logo tomou seu rosto.
— Desculpe a rudeza meu jovem — falou com a voz simulando preocupação e com a mão no peito —, mas a jovem ao seu lado não é uma companhia adequada para estar perto de um digníssimo servo do nosso arquiduque.
— Sra. Alva? — Diaval pronunciou o nome dela com aparente calma, mesmo que em meus ouvidos sua voz soasse fria.
— Sim, sou eu mesma. — Ela fez uma pequena reverência, sem sequer chegar a abaixar a cabeça. — É um prazer conhece-lo, senhor...?
— A que deves tão insinuantes palavras que dirigiu sobre a senhorita Mabel? — perguntou-lhe, ignorando abertamente a pergunta dela.
— Ora, meu senhor não o culpo por estar tão surpreso. Veja, eu mesma fiquei assombrada quando soube que categorias de trabalhos, se é que se pode chamar assim, que a família dessa menina tem feito. — Ela me olhou indiscriminadamente.
Diaval sorriu felino, e inconsciente da ameaçava daquele gesto ela tomou folego para continuar falando.
— A mãe dessa garota usou seu corpo de maneira tão devassa que aposto que os pecados da carne mancharam sua mente e a loucura a tomou. — Ela balançou a cabeça em repreensão. — E o já deve imaginar que a filha não iria ser diferente.
Eu fervia por dentro. Meu sangue, ossos e pele estavam em chamas. A injustiça das palavras daquela mulher e a raiva pelos seus insultos estava obscurecendo minha visão. Eu queria retruca-la, e fazer com que nunca mais ela pudesse pronunciar uma sílaba sequer.
— Me diga os nomes — Diaval falou, e sua voz me conteve.
— Perdão? — Ela piscou confusa.
— Os nomes dos homens que dormiram com a mãe de Mabel.
— É... eu... eu não sei, meu senhor. Como poderia saber de tal coisa? — ela falou indignada.
— Então me diga, como sabe do suposto trabalho da Sra. Maria? — Pulei na cadeira quando ouvi o nome da minha mãe, fazia anos que eu não ouvia ninguém a chamando-o por nada além de prostituta louca. — Como pode uma prostituta não ter clientes?
— Meu senhor, ninguém que se preze assumiria ter cometido tal vulgaridade e uma criança bastarda é mais que indicativo. — Ela elevou o queixo e me olhou de esguelha.
Trinquei os dentes.
— Sra. Alva, peço para que fique ao lado daquele soldado. — Diaval ordenou com a voz controlada.
— Mas eu nem ao menos me sentei, senhor. — Queixou-se. — E nem tive oportunidade de me apresentar com propriedade.
— Não precisa, agora vá e permaneça quieta.
Ela caminhou consternada para o canto do salão e parou ao lado do soldado como havia sido ordenada, mas ainda assim mantinha os olhos cerrados em minha direção. E sem vontade de me conter, ofereci-lhe um sorriso ladino.
O reverendo Madson entrou na biblioteca tentando aparentar subserviência, por mais que todos nós conseguíssemos ver com clareza a ganância dos seus olhos. Ele era velho e pançudo, com a cabeça livre de cabelos e uma barba cinza cheia e grande. Mesmo que a igreja do povoado estivesse precisando de reformas, era notável que sua batina branca e dourada foi recentemente adquirida.
— Reverendo Madson ao dispor. — Ele nem sequer olhou em minha direção duas vezes. — É uma honra que tenham pensando nesse humilde servo para cuidar dessa obra tão grandiosa.
— Você tem sido responsável por cuidar da igreja durante 40 anos, hum? — Diaval falou sem precisar olhar para os papéis que continham as informações do homem.
— Isso mesmo, cuido como se fosse minha! — Ele riu da própria fala e puxou a cadeira para se sentar.
— Não lhe permiti sentar — Diaval falou encarando o reverendo.
— Oh! Perdoe-me minha grosseria, é que com a idade as pernas doem mais depressa. Você ainda é jovem, vai entender quando passar dos sessenta.— Ele riu e continuou sentado.
— Levante-se — Diaval falou irredutível. O reverendo assustou-se com a voz implacável de Ambrose e ergueu-se envergonhado. — Você não faz nada a não ser que eu mande, entendeu?
Reverendo Madson não estava acostumado a receber ordens. Afinal, ninguém iria contra as palavras dos deuses e ele como mensageiro da sabedoria divina não era alguém a ser contestado.
— Perdoe-me meu jovem, mas eu somente sigo os mandos dos Deuses.
Diaval sorriu sem mostrar os dentes.
— Os Deuses mandaram você desviar a verba destinada à igreja para o seu próprio bolso?
O reverendo empalideceu.
— Quem você pensa ser para destratar um servo dos Deuses dessa maneira? — Ele levantou a voz e seu rosto começou a ficar vermelho. — Não me admira que esteja com essa desvirtuada, mas não acredite nas palavras mentirosas dessa menina criada por uma mulher obscena. Não é surpresa que ela tenha seguido os passos da mãe na arte de seduzir home...
Diaval interrompeu a fala do homem com um forte tapa que desferiu na superfície da mesa que teve uma das pernas quebradas com o impacto. O reverendo deu um salto com o susto e esbugalhou os olhos de terror ao mirar o rosto retorcido de raiva de Ambrose.
O dourado dos olhos do arquiduque brilhava com promessas de sangue.
— Vou-lhe dizer quem eu sou — Ambrose disse rodeando a mesa e parando em frente ao reverendo. Tinha que dar crédito ao homem por permanecer em pé mesmo que todo seu corpo tremesse. — Eu sou alguém que você não vai querer irritar. — Intimidou.
— Fa-Farei o arquiduque saber da sua conduta! — O reverendo Madson arrumou coragem para confrontar.
— Não se preocupe, eu já sei. — Diaval sorriu sádico e agarrou o pescoço do líder religioso e o ergueu do chão com apenas um braço, as pernas do homem ficaram balançando no ar em desespero. Do outro lado do salão ouvi a Sra. Alva arfar quando ela entendeu a verdadeira identidade de Diaval. — Por onde devo começar? Pelo desvio de verbas e doações? Pela exploração de mãos de obras sem remuneração? Venda de órfãos para o mercado de escravos? Difamação? Ou por associar-se com a Sra. Alva no roubo da ajuda financeira que Mabel e sua família deveriam estar recebendo há anos?
— Vossa excelência! Isso são todas calunias que essa cadela inventou! Se me deixar explicar... — A Sra. Alva interveio, mas o soldado parado ao lado dela moveu sua espada em direção ao seu pescoço. Ela paralisou no lugar com os olhos marejados de medo.
— Se disser mais uma palavra sobre a Mabel vai perder a sua língua. — Ambrose avisou.
Tudo estava acontecendo muito rápido e com bastante intensidade. Meu coração estava acelerado ao ponto de eu conseguir ouvir as batidas. Mas um pensamento não abandonava minha mente e foi por ele que eu me levantei e segui para o lado do senhor dessas terras.
— De que ajuda está falando, Diaval? — perguntei para Diaval, ignorando as súplicas do homem que ele segurava.
— Desde que você me falou os nomes desses dois no palácio, eu fiz uma breve pesquisa para saber porque dois simples plebeus tinham tanto poder. Não foi difícil de encontrar. — Diaval largou o homem no chão e sinalizou para que o soldado trouxesse Alva. — Acontece que esses dois tem roubado o dinheiro que eu disponibilizo para as pessoas que não conseguem se sustentar por conta própria. Eles dois tem desviado o dinheiro destinado à sua família.
— Eu não tinha ideia de que isso existia — falei transtornada.
Senão fosse por essas duas pessoas, minha família e eu não teríamos passado fome...
— Claro que não, eles cuidaram para que sua mãe e você fossem excluídas da sociedade espalhando rumores, e destruindo a reputação de vocês e sua mãe estando gravida facilitou o trabalho para eles. Então, com a doença de Maria, vocês ficaram sem ter quem os defenda, sem direito de ir à escola, ao abrigo, a igreja ou a qualquer outro lugar onde poderiam receber ajuda. Enquanto isso, eles recebiam não só o salário de educadora da sua mãe, mas também o dinheiro que seu irmão e você deveriam receber.
— Mas eles expulsaram minha mãe da escola — sussurrei desacreditada.
— O nome da sua mãe consta até hoje no histórico de pagamento.
Agora não só meu coração estava descompassado, mas também minha respiração. Às duas pessoas que mais me descriminaram, me humilharam, não eram pessoas que contribuíram com todo o sofrimento que eu passei, mas sim as causadoras.
" Em nome da moral e bons costumes não posso permitir que continue frequentando a escola..."
"A filha da prostituta louca não pode ficar perto das outras crianças, é um mau exemplo e um desrespeito com as famílias direitas..."
" Está com fome? Culpe as atitudes vergonhosas da sua mãe, é um preço pequeno a se pagar pelos atos pecaminosos dela..."
Sem ordem, as lembranças das palavras dessas duas pessoas inundaram minha mente como uma grande onda. Eu estava ofegante e com a visão embaçada pelas lagrimas que escorriam por meu rosto. Eles destruíram minha mãe, a deixaram tão quebrada que ela preferia viver nas fantasias da sua mente do que encarar a realidade. Eles me fizeram cuidar da minha família quando eu era apenas uma criança, e não se importaram de nos ver na miséria, pelo contrário, garantiram que não tivéssemos a quem recorrer. Nos condenaram pelos crimes que eles cometeram.
Não pensei no que estava fazendo quando caminhei até a Sra. Alva. Bloquei qualquer sinal de raciocínio que espreitasse na minha mente, apenas deixei a raiva e o rancor guiarem minha mão em direção ao seu rosto. A batida foi forte, poderosa o suficiente para queimar a minha palma e deixar uma marca vermelha na bochecha daquela velha odiosa. E sem me deixar pensar novamente, desferi outro golpe no lado oposto do rosto.
Ainda não era o suficiente para aplacar o ódio que eu sentia.
— Como ousa sua pirra...— A bofeteei novamente.
Outro tapa, e mais outro e outro até que eu estava grudada nela segurando seus cabelos e a machucando até estar cansada demais para continuar. Quando parei, o suor descia pelas minhas costas.
— Isso não é o suficiente — falei para ninguém.
Diaval se aproximou, segurou minha mão e virou a palma para cima, estava vermelha e inchada. Ele a ergueu até a altura dos seus lábios e a beijou carinhosamente.
— Então me diga minha dama, qual castigo devemos dar a esses dois? — Ele desceu minha mão em direção ao seu coração e a pousou ali. Estava batendo loucamente. — Diga-me e eu farei acontecer.
NOTA DA OUTONNO (JAINE)
VOCÊS NÃO TEM IDEIA DE COMO FOI SATISFATÓRIO ESCREVER ESSE CAPITULO!
Por favor, comentem o que acharam!!!!!! Preciso saber da reação de vocês!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top