🔺Capítulo 7🔺

Ayla estava tão esgotada que acabou outra vez perdendo a consciência, usara muito de si e também muito de sua força, — que nem sabia que existia — conseguira ajudar Zaac e vencer o que queria tomar o controle de seu corpo, por muito pouco não acabou ferindo Zaac. Assim que conseguiu matar Raydi, seu corpo chegou ao limite e outra vez ela perdeu a consciência.

Seu corpo foi ao chão logo após o de Raydi, porém Zaac a segurou antes que ela batesse com a cabeça. Pegou sua foice junto com a mochila e a tirou do chão, a ajeitou em seus braços e foi arrastando seus pés escadaria acima, de onde a carcereira tinha saído. Se virou contra a parede e deixou seu corpo escorregar por ela até parar sentado com Ayla sobre seu colo. Tirou a mochila dela e a colocou a uma curta distância no chão, pegou a dele também — tirou um vidro de pomada e uma faixa nova — e a colocou em cima dela junto com sua blusa grossa, a deitou com a cabeça sobre as mochilas e depois se voltou para sua perna onde um Ceenfero havia mordido.

Ergueu a barra da calça, as marcas dos dentes eram assustadoras, não estavam só perfuradas, mas também pareciam estar rasgadas, provavelmente por ter tentado puxa-la a deixando suportar seu peso. Limpou o sangue ao máximo que conseguiu e passou a pomada torcendo para que resolvesse pelo menos metade daquele problema, terminou de enrolar a faixa e deixou a perna dela no chão. Se levantou e foi andar pelo local a procura de algo, não sabia exatamente o que estava procurando, mas precisava de algo que pelo menos pudesse enfiar na boca. Encontrou duas garrafas com água e algumas frutas que estavam na mesa ao canto da sala, com certeza de Raydi, pegou tudo e voltou até Ayla.

Deixou as coisas no chão e se sentou outra vez, abriu uma das garrafas e depois de beber um pouco e confirmar que realmente que era água, ergueu o corpo de Ayla e a fez beber um pouco da água também, ela tossiu um pouco antes de voltar ao normal, sentiu sua pele fria demais ao segura-la, talvez ainda fosse o efeito da toxina... Fechou a garrafa a colocando no chão e devorou uma das maçãs que estavam ali, precisava muito de algo que não fosse uma barra de cereal.

Tocou outra vez o rosto de Ayla, ela estava mais do que fria, sua pele estava gelada e todo seu corpo tremia. Puxou o zíper de sua blusa a abrindo por completo e então fez o mesmo com a dela, ergueu seu corpo a deixando escorada em seu peito, puxou o capuz sobre sua cabeça e passou seus braços por ela a mantendo mais perto. Não tinha muita noção do porquê estava fazendo isso, mas sabia que precisava mantê-la aquecida, e quanto mais calor humano, melhor.

Seu corpo parou de tremer, ela se mexeu ficando em uma posição mais confortável, mas não acordou e continuou ali. Deixou que ela dormisse, ela precisava de um descanso e ele também. Não pôde evitar que a exaustão o dominasse, também tinha dado muito de si em poucas horas, precisava de um descanso, insistia em manter seus olhos abertos, alguma daquelas coisas poderiam aparecer e no estado em que estavam, isso não seria nada bom, mas não conseguiu simplesmente manter seus olhos abertos e o cansaço o dominou de vez.

                                  🥀

As árvores balançavam de forma quase violenta, como se fossem se quebrar a qualquer instante, as gotas da chuva continuavam escorrendo pela janela lentamente de forma quase sedutora e envolvente, o vento continuava se lançando contra as árvores em uma tentativa não tão barulhenta de manda-las ao chão e a neblina aumentava mais a cada segundo, como se quisesse engolir a floresta e a casa em que estavam, junto.

O garotinho continuou com as mãozinhas na janela enquanto olhava a chuva cair lentamente. De seu quarto podia ver muita coisa e ele adorava poder olhar a chuva escorrendo pelo vidro da janela.

Ouviu um alto barulho de algo se quebrando no andar de baixo da casa. Foi até lá com passos lentos, chegou ao último degrau da escada e os gritos de seus pais inundaram o local, continuou andando lentamente até a cozinha, sabia que o pai estava errado, ele sempre estava, os únicos assuntos importantes para ele eram o dinheiro e as criaturas que surgiam de uma mente e brilhante e muito mais...

O garotinho viu aterrorizado, seu pai enfiar uma faca na barriga de sua mãe e logo depois tirou sua faca e a investiu contra ela outra vez, ele fez isso mais alguma vezes até que a mulher caiu morta nos braços dele. O sangue inundou sua mente o deixando confuso e desesperado, não conseguia fazer mais nada a não ser olhar enquanto o sangue escorria por todo o lugar.

O homem veio em sua direção para tentar mata-lo também, tinha uma faca enorme em sua mão, o garotinho começou a correr, correu o mais rápido que pôde para longe do homem, precisava correr e ir para bem longe antes que ele o pegasse. Porém não foi muito longe, acabou caindo no chão, e então o homem veio em sua direção...

Fechou os olhos com força e então depois de um pequeno minuto os abriu, não estava mais naquela casa, não era mais um simples garotinho, era um homem grande de dezenove anos e corpo forte.

Estava em um corredor encurvado, andava sem rumo, totalmente perdido sem fazer a mínima ideia de onde estava, não sabia porque estava ali, não sabia o que era aquele lugar... Parou em uma das janelas de vidro, se aproximou levando as mãos até o vidro, podia sentir a energia ruim vindo dela, se aproximou e olhou para baixo, uma mulher acabava de aplicar algo no braço do homem. Se virou e viu Ela vindo em sua direção, pegou sua mão e o puxou em direção contrária a da sala. Tinha certeza de quê ela precisava dizer alguma coisa, deixou que ela o guiasse até a pequena sala perto da saída do corredor.

Mas ela não chegou a falar alguma coisa, várias pessoas estavam na sala, ela tentou o puxar de volta, mas alguém a puxou e outro o segurou. Ele viu desesperado eles tirarem sua garota de si, levando a morena para longe enquanto ela se debatia tentando se soltar esticando a mão para ele, e ele também tentava se soltar e ir salva-la. Parecia um filme horroroso em que tiravam tudo dele...

Aplicaram algo na garota e então sua fúria o deu forças para se soltar e ir até ela, porém ele também foi atingido com algo no pescoço que escureceu toda a sua visão.

                                 🥀

Ayla abriu os olhos e voltou a fecha-los, estava tão quente e aconchegante ali... era bom, era familiar, reconfortante e... Protetor...? Sim, protetor. Era isso! Aquele abraço apesar de não ser apertado como deveria ser, era protetor, sentia-se acolhida pela primeira vez, sentia que tinha algum lugar no mundo, mesmo que estivesse ali por acaso, era bom e ela não queria sair, queria ficar e deixar a sensação boa de ser protegida por alguém a dominar e a aquecer por dentro, libertando a de sua própria prisão, de seu desespero e solidão.

Como ela havia precisado daquilo...

Respirou fundo, seu cheiro era bom e quente, a iluminando por dentro e completando todo o vazio que havia em seu coração, relaxou seu corpo naqueles braços fortes e quentes e então sonhos invadiram sua mente, ou talvez fossem, lembranças...?

O corredor vazio a deixava mais tranquila, aquelas pessoas sempre foram estranhas e a cada dia que se passava ela descobria mais coisas sobre eles que a deixava irritada e também chateada. Eles não eram nem de longe o que diziam ser, não estavam trabalhando para o "bem da humanidade" e sim para o lucro em seus bolsos e várias outras coisas ambiciosas, porque era isso que eles eram, pessoas ambiciosas que só pensavam em si. E dessa vez estavam tramando algo extremamente grande e ruim, ela sabia que não daria certo, ela avisara e pedira para que parassem com os testes, porém ninguém a escutou, e eles continuavam com seus objetivos ambiciosos e arrogantes, e como aquilo irritava!

Continuou andando até parar em frente a uma das salas de teste onde um forte vidro protegia quem estava de fora. O homem lá dentro se debatia feito louco, como se algo o estivesse corroendo por dentro e o comendo lentamente. Ele continuou daquele jeito até cair no chão dando tremiliques como se estivesse tendo convulsões. Todos pensaram que ele tinha morrido, porém assim que a mulher virou as costas, ele a puxou rápido demais e sem que alguém pudesse impedir, o bicho estraçalhou a barriga dela comendo as suas entranhas.

Desviou o olhar e foi em direção a sala ao fim do corredor, ele estava sentado em uma das mesas de frente para a janela. Foi até ele e parou em sua frente o abraçando, via seu rosto porém não conseguia guardar os detalhes com precisão. O abraçou e então todas as lágrimas saíram facilmente sem qualquer impedimento.

Ele a abraçou forte e então passou a mão por seu cabelo a acalmando.

Vou tirar a gente daqui, te prometo! — ele diz a apertando mais em seus braços.

Obrigada. — ela diz se afastando com um sorriso tímido no rosto.

Ele ergue a mão mostrando uma margarida.

É tão linda...

A puxou outra vez para um abraço afundando seu rosto no cabelo dela.

Vou nos tirar daqui! — ela o abraçou forte e deu um leve aceno confirmando, era tudo o quê precisava para suportar aquele lugar horrível.

Abriu os olhos outra vez ainda encontrando o mesmo corpo ali, não sentia mais tanto frio igual a algum tempo atrás, agora estava completamente aquecida, por dentro e por fora. Seu corpo não doía mais como no começo e não estava mais tão cansada, sentia parte de si renovada. O frio e os tremores tinham ido embora, seu pé não doía mais, estava bem cuidado e enfaixado graças a Zaac que cuidara dela enquanto ela estava apagada.

Percebeu um leve tremor no corpo de Zaac e sua respiração ficar agitada. Ergueu sua mão e o tocou no ombro como se pudesse acalma-lo assim, mas ele continuou tremendo e sua respiração ficou ainda mais acelerada. Se afastou um pouco dele, porém seus braços a apertaram contra ele a impedindo de sair.

— Zaac — chamou balançando de leve seu ombro. — Zaac?

De repente seus braços a soltaram e tão rápido quanto a soltou, pegou em seu pescoço se lançando contra ela fazendo os dois caírem no chão.

— Zaac, — chamou balançando seu ombro dessa vez mais forte. — Zaac, sou eu. Zaac! — deu uma última sacudida em seu ombro e deixou sua mão cair, o aperto em seu pescoço era forte e podia acabar enforcando ela.

O aperto em seu pescoço diminuiu e então Zaac estava parado a olhando com o rosto encoberto pelas sombras, soltou seu pescoço e se sentou levando a mão a sua cabeça e a apertando com se pudesse impedi-la de estourar. Ayla se sentou também e logo se virou para ele.

— Você está bem?

— Só um pouco agitado — ele resmungou esfregando um lado da cabeça. — me desculpe por isso.

— Tudo bem — disse pegando a mochila e a abrindo.

— O que está procurando? — perguntou se virando para ela.

— Deve ter alguma coisa que diminua dia dor aqui... — ela disse revirando a mochila, ele parou sua mão e então afastou algo revelando outro bolso interno, puxou o zíper e tirou um pequeno pote, o abriu e despejou uma das pílulas em sua mão e entregou o pote para que pudesse guardar de volta, o que ela logo o fez. Tirou sua máscara e jogou o remédio na boca, Ayla pode ver poucos traços de seu rosto, como o queixo e a boca, e para ela parecia normal, não algum monstro como Raydi havia insinuado. — Vamos continuar? — ela perguntou olhando em volta a procura de uma porta, encontrou uma a poucos metros ao lado direito de onde estavam.

— Vamos. — Zaac respondeu se levantando, pegou sua mochila e sua foice enquanto Ayla colocava sua mochila de volta em suas costas, ele a ajudou a se levantar e eles foram até a porta.

— Seu braço está melhor?

— A ferida está curando agora que descansei um pouco, não está ruim como antes.

— Quer dizer que te dei o remédio certo...

— Não faça isso de novo! — ele quase gritou.

— Não vou seguir sua ordem. —resmungou como se fosse algo muito simples.

— Não tem que se arriscar pelos outros.

— Você tem uma vida e alguém pra quem voltar, eu não, então isso é o certo. — disse entrando pela porta assim que ela se abriu.

— Você só não sabe ainda...

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