Nada de Amigo Secreto (Parte 2)


O primeiro natal com a família do namorado era impossível esquecer. Especialmente quando a data coincidia com a primeira apresentação formal à tal família. Enquanto aguardávamos aqueles minutinhos de pânico entre o toque da campainha e a abertura da porta, eu apertava a mão de Gui com força.

— Ah! Eles chegaram! – Uma voz aguda comemorou e correu para engalfinhar Guilherme num abraço de urso.

— Nossa, parece que não me vê há décadas! – Ele riu, dando-me um olhar cúmplice – Mãe, agora é oficial, essa é a Marcela.

Abri meu melhor sorriso, já que boas primeiras impressões só se têm uma vez.

— Ah – Ela me abraçou com a mesma força, sorrindo de orelha a orelha – Que bom finalmente conhecer você...

Fazia um tempo que eu não recebia um desses abraços de mãe. Circunstâncias especiais envolvendo um cruzeiro all inclusive para a Austrália (grande concurso, pequeno salário, não perguntem) levaram meus pais a me abandonar pelo primeiro Natal em 25 anos. Secretamente, eu estava tentando aproveitar essa versão particular de 'Enquanto Você Dormia'.

Guilherme e eu sentamos no sofá, presentes apoiados no colo, um silêncio levemente constrangedor. Eu podia sentir o peso de olhares inescrupulosos sobre mim: Pais, avó, irmão com a esposa e filha. Cinco leões (e um filhotinho) espreitando atentamente a gazela. Todos esparramados pela sala de estar, emperiquitada com crochês, tercinhos e uma árvore de natal gigantesca.

— Quem começa o amigo secreto?

— Eu! – Sérgio, o irmão, levantou-se num pulo; segurando um grande presente azul – Esse ano, peguei uma pessoa muito sofisticada! Nunca faz drama, nem esquece de tomar os remédios...

Foi a garotinha quem deu o grito:

— A vovó Almira!

A sala explodiu em comemorações. A velinha rasgou o papel vigorosamente e segurou, entre dedos trêmulos, uma inconfundível garrafa de bebida. Tirou a rolha com um estampido experiente e tomou logo três talagadas.

— Vai devagar, vó – Gui falou, mas nem ele conseguiria prever as consequências.

Os presentes trocados serviram para quebrar o gelo. Sônia, a mãe, estava no meio de um torturante tour pelas fotos de bebê (Gui queria morrer), quando Julinha fez uma careta.

— Mamãe, o que é isso?

Todos ouvimos. Um barulho horrendo, de serra elétrica misturado com funk e gritaria, explodia das casas geminadas do outro lado da rua. Dona Sônia ficou irada. Bateu todas as janelas e ligou a TV no volume mais alto.

Caiu num especial de Natal que Vó Almira conhecia bem.

A senhorinha levantou da cadeira, num momento de epifania; segurando a garrafa pela metade, cantando: "Então é Nataaaal..." a plenos pulmões. Balançava de um lado para o outro, e logo todos estávamos envoltos num canto desafinado.

Acho que eu mesma estava meio embriagada, porque comecei a rir quando Guilherme fez questão de ficar de joelhos, segurando minhas mãos nas dele e perguntar:

— Marcela, quer casar comigo?

Eu parei de rir. A vó parou de cantar. Os outros pararam de dançar. Encaramos o ar inerte; até soar o barulho inconfundível da viatura policial.  


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Palavras: 488

Tema: Natal em Família + Romance.

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OLÁ!

Como sempre, vou deixar a trilha sonora por aqui: 

https://youtu.be/eRvy-nAnE_E

E AÍ??? O QUE ACHARAM?? Apesar de ter baixado polícia, esse é um conto de romance, hehe. Me contem nos comentários, vamos conversar.

x Isa x 

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