38 - A audiência parte I

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escutem a música
Not gonna Cry da Emma Steinbakkenvou deixar o vídeo ali em cima na mídia!

Passei os últimos dois dias conversando com um cara de meia idade que parecia tão impaciente e entediado quanto eu.

O advogado do meu pai não é uma má pessoa, mas até mesmo ele deve ter se cansado de repetir as mesmas coisas por quase quarenta e oito horas.
Repassamos as respostas para uma dúzia de perguntas hipotéticas, indo desde se meus pais ingeriram alguma bebida no dia do acidente até minha relação com o garoto que bateu no nosso carro.

Como se eu o conhecesse ou quisesse conhecer esse tipo de pessoa.

Tenho quase certeza que o seu advogado irá usar o antecedente criminal do meu pai para me prejudicar e preciso estar preparada para isso.

As pessoas tendem a jogar sujo para conseguir o que querem, nesse caso, a liberdade de um idiota que não pensou duas vezes antes de misturar bebida com direção.

Não falei muito com Benjamin, na verdade ainda estou chateada com ele e um pouco desconfiada. Por mais que ele tenha jurado que o que me contou é a verdade, eu não consigo acreditar cem por cento nele.

Toda aquela insegurança de antes veio à tona e suas palavras não surtem nenhum efeito sobre mim.

Só espero que esteja enganada, porque eu realmente gosto dele e não sei se conseguiria perdoá-lo uma segunda vez.

Também não tive muito tempo para me reunir com Brenda, mas percebi que ela ficou estranha com Benjamin nos poucos momentos em que nos vimos na universidade, quase como se soubesse de algo que eu não sei, embora tenha me garantido que é só coisa da minha cabeça.
Minha mente está a mil e não sei mais o que pensar. É aquela sensação quando combinam uma festa surpresa para você e não conseguem disfarçar que de fato estão escondendo algo.

Não estou gostando nada disso.

De todas formas, não tenho tempo para pensar em todo esse drama porque amanhã já é a audiência de julgamento do tal Travis, como o advogado o chamou, e as batidas do meu coração se aceleram só de lembrar que estou a poucas horas de finalmente me libertar de todo esse peso que venho carregando nos ombros há algum tempo.

O telefone repousa sobre minhas pernas e observo-o com o cenho franzido, desejando que ele comece a vibrar e o nome de Benjamin apareça na tela.

Sinto saudades dele, não vou negar, mas não ligarei para o garoto, muito menos enviarei nenhuma mensagem.
Posso até estar imatura, porém realmente não me importo. Ele esteve estranho durante um bom tempo e sinto que se eu der o primeiro passo, ele vai acabar interpretando errado e pensando que está tudo bem entre nós.
E definitivamente não estamos nada bem.

O que mais me deixa irritada é o fato de que Benjamin age como se eu não o conhecesse da vida toda e soubesse que tem algo errado com ele.

Às vezes sinto vontade de ir até a sua casa e obrigá-lo a se abrir comigo, soltar tudo o que está preso na minha garganta e exigir que ele faça o mesmo.

Mas não posso fazer isso.

Não sou sua dona e forçá-lo a dizer toda a verdade só vai piorar tudo.

Porque sim, não sou idiota.

Ele mesmo confessou que tem medo de como reagirei quando descobrir tudo sobre e isso me machuca.
Dói saber que ele me subestima a tal ponto de pensar algo assim.

— Está tudo bem, filha? -Papai se senta ao meu lado no sofá e faço um sinal de positivo com a mão.

Decidi não dormir no meu apartamento durante esses dias. Preciso de todo o apoio possível e para ser sincera, não queria ficar sozinha e acabar pensando bobagens.

— Quer comer algo? Uma pizza talvez? -Ele oferece com um sorriso carinhoso.

— Claro! Estou morrendo de fome... hã onde mamãe foi? -Lembro de que ela saiu há pelo menos umas três horas e até agora não voltou.

— Não faço a menor ideia, querida, mas vamos pedir a comida até que ela chegue. -Ganho um beijo na testa e ligo para a nossa pizzaria preferida.

Escolho os sabores e lhes passo o endereço já sentindo meu estômago roncando por antecipado.
Passei o dia inteiro pensativa a tal ponto de que esqueci completamente de comer e se não fosse meu pai extremamente observador e atencioso, permaneceria assim até amanhã e provavelmente desmaiaria no tribunal.

Pensando bem, não seria uma má ideia.

Nos levantamos do sofá e arrumamos a mesa para jantar ao som de uma playlist aleatória que toca no aparelho de som.

Cantarolo a música sem nem mesmo perceber e sou acompanhada pela voz rouca do meu pai.

De repente seus braços me levantam para o alto e dançamos desajeitados como fazíamos quando eu era criança.

Em meio a gargalhada, quase caímos algumas vezes e uma nostalgia me atinge em cheio ao lembrar de como eu era feliz e não sabia.

Imediatamente imagens de Benjamin e eu quando éramos crianças invadem minha mente e percebo como ele sempre foi uma parte importante da minha vida e sempre esteve ao meu lado até...

— Começaram a festa sem mim? Não estou acreditando nisso! -Mamãe reclama passando pela porta com uma sacola nas mãos.

Sou colocada no chão e observo os dois trocarem um beijo rápido porém apaixonado como sempre.

— Onde se meteu a tarde toda, amor? -Sua voz soa preocupada o que me faz ficar do mesmo jeito. Pelo visto não só meus amigos escondem coisas de mim.

— É mãe, onde se meteu? -Levanto uma sobrancelha e recebo um olhar suspeito como resposta.

— Coisas de adultos, filha. Agora se me derem licença, irei tomar um banho antes de comer.

— Opa, nesse caso, acho que irei com você! -Papai beija o seu pescoço e faço uma careta.

— Eca vocês dois! -Reclamo tentando tirar a imagem dos dois fazendo coisas que não devem da minha cabeça.

— Como você acha que nasceu, querida? Eu e seu pai também temos direito de nos divertir, não é mesmo amor? -Mamãe debocha e sinto meu rosto ficando vermelho imediatamente. Papai concorda com a cabeça e respiro fundo com o cenho franzido.

— Esperarei os dois para comer então. -Murmuro ficando de costas e eles praticamente escapam para o seu quarto como dois adolescentes.

Aproveito para cortar as porções de pizza e sirvo para cada um com um copo de suco de laranja ao lado.

Quase meia hora depois, os dois voltam para a sala com um semblante estranho nos rostos.

— Ok, sei que vou me arrepender de perguntar isso, mas... por que estão com essas caras como se estivessem em um funeral? -Levanto as sobrancelhas e os dois trocam um olhar cúmplice.

— Não é nada querida, agora vamos comer que estou quase desmaiando de fome. -Mamãe desconversa e solto uma respiração pesada.

Estou começando a ficar cansada de que todos finjam que nada está errado ou que pensem que eu não mereço saber o que está acontecendo, contudo, estou mais cansada ainda para sequer me importar com isso agora.

Comemos em um silêncio desconfortável e no momento em que termino de engolir o último pedaço de pizza, me despeço dos dois e vou para o meu quarto.

Devo dormir já que terei que acordar cedo para a audiência e preciso estar descansada para enfrentar esse dia que tenho a impressão de que será bem longo.

A música irritante que escolhi para o despertador toca sem parar e levanto com o entusiasmo de quem está prestes a fazer um tratamento de canal.

Depois de tomar um banho rápido, escovar os dentes e colocar uma roupa que é um intermédio entre o formal e o casual.

Caminho a passos lentos até a sala e tomo um café da manhã leve para não passar mal durante o dia.

Meus pais observam tudo em silêncio, talvez chateados por não serem permitidos de me acompanhar, mas pelo menos não dizem nada a respeito.

Antes de sair, dou um beijo nos dois e pego a chave da minha moto, capacete, jaqueta e bolsa, passando pela porta com uma sensação que o dia de hoje vai acabar muito diferente de como começou.

Ao sair do elevador, dou de cara com Benjamin me esperando do outro lado do portão.

Me aproximo sorrateiramente e faço um barulho estalado com a língua para chamar a sua atenção.

— O que está fazendo aqui? -Indago séria e ele sorri nervoso.

— Vim te levar para o tribunal. -Seus olhos estão distantes, quase resignados.

— Eu não pedi por isso, Benjamin. Além do mais, você tem aula hoje, lembra? -Indo contra todos os sinais de alerta que sobrevoam minha cabeça, abraço o seu corpo e inspiro profundamente sentindo o cheiro do seu perfume impregnando todo o meu sistema.

Seus lábios pousam por alguns segundos em cima da minha cabeça, deixando um beijo casto e suspiro desejando que toda essa situação termine para poder voltarmos ao que éramos antes.

— Eu não me importo com a aula. Quero te levar e me certificar de que chegará bem, fora que se for de moto, pode acabar sujando a sua roupa ou algo assim. -Murmura contra o meu cabelo.

Por incrível que pareça, ele tem razão.

Provavelmente chegaria despenteada e com a roupa toda amassada pela jaqueta de couro, então acabo aceitando sua carona depois de debater comigo mesma os prós e contras dessa decisão.

Deixo o capacete e a jaqueta com o porteiro e peço para que ele entregue para os meus pais depois que eu sair.

Uma vez que estamos dentro do seu carro, o clima muda e o silêncio recobre o ambiente como um manto denso e invisível.

Não demoramos muito para chegar até o tribunal já que o meu motorista parece conhecer o caminho de cor e sinto meu peito pesando.

Estacionamos em um dos lugares destinados para visitantes e abro a porta descendo lentamente, deixando que o ar morno golpeie meu corpo trêmulo de nervoso.

Toco a pulseira no meu braço em um movimento inconsciente que vem se tornando cada vez mais frequente, e respiro fundo antes de começar a andar.

Benjamin aparece do meu lado e me acompanha até a entrada sem dizer uma só palavra.

Seus olhos inquietos varrem o lugar como se procurasse por alguém e tento dizer para mim mesma que isso é apenas preocupação comigo.

Ao entrar, paramos na frente de um balcão e dou minhas informações para uma moça que digita tudo no computador produzindo um barulho repetitivo.

— Muito bem senhorita Cross, a audiência começará em dez minutos, mas você pode entrar na sala e esperar se quiser. Os advogados já devem estar lá dentro, só estamos esperando o juiz para dar início.

Ela me indica onde fica a sala e meu coração bate cada vez mais rápido.

— Ok, muito obrigada. -Digo baixinho alisando minha calça para retirar qualquer sujeirinha que possa ter grudado no tecido preto.

— Posso entrar com ela? -Benjamin pergunta de repente e a secretária faz um sinal positivo com a cabeça.

— Sim querido, só preciso dos seus documentos por favor. -O garoto ao meu lado franze o cenho e pragueja para si mesmo antes de responder.

— Hã eu não estou com eles aqui, deixei minha carteira dentro do carro.

— Nesse caso não posso fazer nada, sinto muito. Uma vez que a audiência começa, não se pode deixar entrar mais ninguém.

Benjamin concorda a contragosto e me acompanha até a porta ainda em silêncio.

— Você poderia ter ido até o seu carro e pego sua carteira, Ben. Acho que daria tempo. -Cochicho e ele nega com a cabeça.

— Não sei, Vi. Estacionei quase do outro lado do lugar...

Seu corpo inteiro está tensionado e sua voz falha algumas vezes.

— Ok, eu vou entrar agora. Obrigada por me trazer. -Beijo seu rosto e quando tento me afastar, seus braços me apertam contra o seu corpo por vários minutos em um abraço carregado de significados que não sou capaz de compreender de imediato e escuto-o suspirando pesadamente, quase como se isso fosse uma despedida.

— Está tudo bem com você, Benjamin? -Digo contra o seu peitoral musculoso.

— Sim, amor, te vejo na saída. -Ele beija minha testa e nos separamos bem a tempo da chegada do juiz que nos lança um olhar curioso.

Observo-o se afastar até que perco-o de vista e chacoalho a cabeça confundida.

Isso foi muito estranho.

— Muito bem, é hora do show. -Sussurro para mim mesma e procuro o advogado que está do meu lado para combinar os últimos detalhes.

O tal Travis ainda não apareceu e me sinto nervosa.

Finalmente vou conhecer o rosto do cara que quase me tirou a vida.

Faltam apenas dois minutos para o início da audiência, o juiz já está posicionado no seu lugar, o advogado de acusação ocupa uma cadeira ao meu lado e o de defesa certamente virá junto com o seu cliente.

Não há muitas pessoas hoje para ver a audiência e agradeço mentalmente por isso. Não quero servir de entretenimento para ninguém.

Um silêncio sepulcral se instala dentro da sala ventilada apenas por um velho ar condicionado e o ar começa a pesar dentro dos meus pulmões.

Me esforço para respirar e não deixar que minha pressão baixe com o calor que começa a ficar cada vez mais intenso.

De repente, o juiz levanta a vista alguns centímetros e escuto passos vindo na nossa direção.

Giro meu corpo para ver o rosto do garoto e meus olhos se arregalam imediatamente quando reconheço o mesmo semblante de bad boy que vi aquele dia no cinema.

O mesmo garoto que conversava com Ben e que ele jurou que não era ninguém importante.

Benjamin me enganou mais uma vez, e eu caí como um maldito patinho. 

NOTA DO AUTOR

Muito bem, como puderam ver, mais uma vez eu dividi os capítulos e 

a segunda parte talvez, leiam bem, TALVEZ será postada hoje kkkk 
Se eu conseguir terminar eu posto, senão só segunda!
Espero que tenham gostado, 
não se esqueçam de votar e comentar.

Amo vcs, 😍
Bjinhossssss BF 💜💜💜

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