28 - O encontro
"Filho, precisamos conversar urgentemente! Te encontro no Le Café em vinte minutos." -Pai.
No momento em que vi a mensagem do meu pai piscando no aplicativo verde no meu celular, eu sabia que era algo relacionado ao idiota do Travis.
Várias coisas passaram pela minha cabeça sobre o que ele poderia ter aprontado agora, no entanto, eu não estava minimamente preparado para assimilar a notícia que o homem absurdamente parecido comigo conta com um semblante sério e preocupado.
— Travis foi solto com liberdade condicional. -Repete pela terceira, ou quarta vez quem sabe. — Te chamei porque não queria te dizer isso por ligação, além do mais, precisava te advertir. -Explica sorvendo um gole do café fumegante.
— Como ele conseguiu sair? Pensei que estivesse com prisão preventiva por ter tentado fugir... -Olho ao redor sem observar nada em específico.
Meu pai não responde de imediato. E nem ligo para isso, já que ambos estamos absortos cada um no seu mundo. Penso em tantas coisas ao mesmo tempo que chego até a ficar zonzo.
Travis é um cara mesquinho, mimado e muito perigoso. Ainda mais depois de passar tanto tempo trancado naquela prisão de merda.
Sei que uma parte da culpa dele estar lá é minha, contudo, não posso me condenar para sempre. Já cumpri minha pena e agora preciso olhar apenas para o futuro.
— Aquele advogado dele é muito amigo do juiz... além do mais, Travis sabe muito bem que se ele tentar fugir de novo, não terá mais oportunidades. -Suas mãos penteiam o cabelo liso que começa a ficar grisalho e nego com a cabeça soltando uma lufada de ar, completamente indignado com tudo isso.
— Sabia que tinha algo estranho. -Aperto tanto os dentes, que minha mandíbula começa a doer com o gesto.
Forço um pedaço do bolo de nozes goela abaixo e imediatamente a imagem de Violet aparece na minha mente, vívida como se ela estivesse de fato ali comigo.
— Pai, ele sabe quem foi sua vítima? -Engasgo nervoso. — Quero dizer, ele sabe que bateu no carro de uma família, mas ele chegou a conhecer Violet, Ayden e Lily? -Meu estômago se contorce tentando não pensar no pior e rezo para não acabar botando todo o seu conteúdo para fora.
E se o babaca for atrás deles? E se ele resolver confrontar Violet?
O medo se apodera do meu corpo e não consigo controlar o tremor que me faz derramar algumas gotas da bebida na xícara que nem lembrava estar segurando.
Coloco a peça de porcelana de volta em cima da mesa e aperto as pálpebras até sentir meus olhos doerem.
O pior de tudo é que sou um maldito egoísta. O meu maior medo, além é claro, de que Violet possa estar em perigo, é ela descobrir toda a verdade e me mandar à merda.
— Fique calmo filho. Eu entrei com uma medida de proteção para a sua amiga. E Travis jamais ficou sabendo quem eram porque quando começou o processo, ela estava em terapia e não foi chamada a comparecer e dar testemunho. Seus pais contrataram um dos melhores advogados e conseguiram mantê-la distante de todo esse transtorno. -Assegura com a voz calma, mas ainda assim me sinto sufocado com a ideia de perdê-la outra vez.
É engraçado como justo agora que estamos começando a nos entender, essa bomba gigantesca cai em cima da minha cabeça.
Me sinto um idiota completo por esconder essa informação dela, é só que simplesmente sou um covarde.
Durante uma boa parte da minha vida eu sonhei em tê-la nos meus braços sem o peso da nossa amizade me afundando lentamente. Assim como desejei milhares de vezes beijar seus lábios e poder dizer o quanto ela é linda unicamente por ser ela mesma.
Violet não precisa sequer se esforçar. Sua beleza é singular e o sabor dos seus lábios é... maravilhoso.
Estou ferrado.
— Filho?
Pisco lentamente voltando para o presente e meu pai sorri sagaz.
— Por que eu tenho a impressão de que essa garota é bem mais que uma amiga sua? -Indaga com a sobrancelha levantada.
— Ela é... -suspiro pesadamente. — No começo, havia apenas amizade entre nós dois. Quero dizer, nos conhecemos desde sempre. Até que o maldito acidente aconteceu. -Explico com cuidado. — Você já sabe essa história então vou pular para a parte atual. -Meu pai sorri animado. Sabia que ele gostava de fofoca, só não pensei que fosse tanto assim. Que seja. — Então depois que ela voltou para a faculdade, não queria me ver de jeito nenhum, mas eu meio que deu um jeito de virar tutor dela e nos reaproximamos pouco a pouco. -Sorrio lembrando de como Violet me tratava super mal. — E agora somos hã... namorados... eu acho. -Murmuro algo envergonhado.
Nunca tive com quem conversar sobre esses assuntos e mamãe estava fora de cogitação, embora sempre tenha sido compreensiva e muito aberta comigo.
Quando finalmente conheci meu pai, muitas coisas mudaram. Pensei que ele iria negar minha existência ou me assumir como filho apenas no papel para não pegar mal com a sociedade, já que é um advogado de renome. Porém quando ele deixou claro que queria fazer parte da minha vida e consequentemente da vida da minha mãe, eu senti um tipo de felicidade muito diferente da que conhecia.
Minha mãe sempre me criou super bem, apesar das dificuldades que envolvem ser uma mãe solteira. Mas por mais que eu não queria admitir, sempre senti que faltava algo... nesse caso, alguém.
E agora eu o tenho aqui comigo, na minha frente e me olhando como se acabasse de descobrir um segredo de estado.
— Fico muito feliz que tenha se resolvido com ela, mas como já te disse, a garota merece saber a verdade. Por mais que você não tenha tido a intenção de machucá-la, não poderá esconder que tem parte nesse acidente, Benjamin. -Assevera sucinto.
— Eu sei pai... eu sei. -Suspiro resignado.
Como eu gostaria de ter uma máquina do tempo e voltar atrás para evitar toda essa merda.
Termino de beber o café e saímos do lugar depois de pagar. Meu pai me leva para casa e dessa vez, sobe comigo sem nem mesmo disfarçar a ansiedade por encontrar minha mãe.
Pelo visto as coisas estão ficando sérias entre esses dois.
O caminho até o meu apartamento é feito em um silêncio repleto de preocupação que me corrói por dentro.
Não quero pensar no pior... é só que dentro de mim, uma sensação estranha começa a se formar lentamente, se infiltrando em cada célula do meu corpo e me deixando aflito.
É como se algo ruim estivesse por acontecer, uma bomba relógio esperando o momento certo para explodir e acabar com uma das coisas mais bonitas que pude experimentar.
Estou tão compenetrado em tentar afastar esse sabor amargo que se impregnou na minha boca, que passo pela porta da minha casa sem nem ao menos perceber.
Não lembro sequer de ter entrado no elevador.
— Benji? O que está fazendo aqui? -Mamãe segura meu rosto com as duas mãos enquanto me analisa com olhos de águia.
— Até onde sei, ainda moro nessa casa... -Respondo com a sobrancelha levantada.
— Eu sei, seu bobo. É que chegou mais cedo, pensei que tivesse acontecido algo. -Recebo um tapa no ombro e um abraço em seguida.
Depois de se certificar de que estou bem, ela vai de encontro ao meu pai que a recebe com os braços abertos.
Ele beija timidamente sua testa e sussurra algo no seu ouvido que a faz sorrir e um tom avermelhado pinta suas bochechas no mesmo instante.
Faço uma careta ao ver toda essa cena melosa.
— Ok pombinhos, eu vou tomar um banho. Fiquem à vontade. -Brinco.
Uma almofada vem ao meu encontro tão rápido que quase não tenho tempo de desviar.
Qual é a desse povo com almofadas? Primeiro Violet, agora mamãe...
Chacoalho a cabeça e vou para o meu quarto sorrindo.
Ver meus pais assim juntos é refrescante.
Ainda mais sabendo que ele realmente gosta dela. Eu definitivamente tive sorte.
Tomo um banho rápido e me seco com uma toalha, enrolando-a na cintura antes de pegar o telefone na mesinha de estudos acoplada à parede.
Abro o contato de Violet e começo a digitar uma mensagem, parando em seguida.
Apago todo o conteúdo e aperto o botão de ligar, sem nem ao menos tentar controlar a vontade imensa que tenho de escutar sua voz.
Ela demora para atender e reviso o horário para ver se não está em aula.
Era para estarem almoçando nesse exato momento.
A ligação cai na caixa de mensagens e solto um palavrão.
Tento mais algumas vezes sem sucesso e estou quase deixando para ligar mais tarde, quando ela finalmente atende ofegante como se estivesse correndo uma maratona.
— Está tudo bem aí? -Digo preocupado.
— Olá Ben... está sim, é que... esqueci... meu... celular... na... sala. -Diz com a voz entrecortada.
— Cuidado para não desmaiar com essa correria toda. -Zombo e ela resmunga algo baixinho para si mesma.
— Pode deixar, babaca. -Responde e sorrio pensando em como senti falta dela me tratando assim.
Parece que finalmente a velha Violet está voltando.
— Como está sendo sua aula?
— Para ser sincera, bastante chata. Comi algo rápido para tomar meus remédios e tive que voltar para a sala porque um dos professores resolveu que vai dar um trabalho em grupo e temos que começar a fazer logo. Pelo menos Pedro sabe bastante coisa, então eu e Brenda não vamos ter muitos problemas. -Reclama irritada.
— Pedro, é? -Franzo o cenho e ambos ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Sim Benjamin, Pedro, meu colega de sala. -Pronuncia como se estivesse dizendo algo óbvio.
— Hum...
Não sei o que dizer sem parecer um idiota.
Estamos apenas começando nosso namoro e não quero bancar o namorado possessivo.
Me sento na cama e penso cuidadosamente no que vou falar a seguir.
— Por acaso está com ciúmes, Benjamin Saito? -Violet provoca antes mesmo que eu possa abrir a boca.
— Eu? Claro que não. -Finjo demência e escuto suas risadas do outro lado da linha.
— Tem certeza? Porque foi exatamente isso que pareceu. -Droga.
— Muito bem, pode ser que esteja só um pouquinho... -Confesso sentindo meu rosto queimando.
Ainda bem que não há ninguém aqui para ver minha masculinidade escorrendo pelo ralo.
— Deveria mesmo, sou muito linda. Todos os garotos praticamente se ajoelham aos meus pés. -A seriedade na sua voz é assustadora.
E mais assustador ainda, é o fato de que ela está incrivelmente certa.
— Ok, eu vou fingir que não escutei isso. -Resmungo e novamente ela cai na risada.
— Jonah tinha razão, é muito fácil te provocar. -Declara divertida.
— Engraçadinha. -Ralho e escuto um suspiro pesado da garota.
— Escuta Ben, eu vou te dizer isso apenas uma vez, então preste atenção. -Diz com a voz séria. — Não foi fácil reconhecer que estava gostando de você e se aceitei ser sua namorada, é porque não quero estar com outra pessoa. Mas isso não significa que vou abrir mão da minha liberdade, portanto, você pode sentir ciúmes o quanto quiser, só trate de se controlar, ok? -Pede e balanço a cabeça para cima e para baixo como se ela pudesse me ver.
— Me desculpe, Vi. Não foi intencional. -Sussurro envergonhado.
— Eu sei... só queria esclarecer isso para não termos problemas.
As vezes esqueço de como Violet pode ser direta.
— Então quer dizer que gosta de mim, heim? -Tento aliviar a tensão que eu mesmo criei e suspiro aliviado quando escuto uma risadinha do outro lado.
— Não acredito que de tudo o que falei, você só se concentrou nessa parte. -Exclama com a voz suave.
— É óbvio que não... também tem a parte do "sua namorada". Também gostei bastante de ouvir isso. -Meus lábios se curvam em um sorriso ostensivo.
Violet começa a responder algo, mas alguém chama seu nome bem na hora e ela murmura algo para a pessoa.
— Tenho que ir, Ben. Conversamos depois. -Diz apressada.
— Tudo bem, linda. Boa aula.
— Obrigada, e... foi bom falar com você, estava com saudades. -Solta e imediatamente a ligação é encerrada.
Olho para a tela do celular ainda sem acreditar no que acabei de ouvir.
Violet sempre foi meio fechada com seus sentimentos, mesmo quando éramos só amigos e escutá-la dizer que estava com saudades foi... surreal.
Como gostaria de poder gravá-la dizendo isso para poder reproduzir todos os dias como um mantra.
— Filho, estamos indo ao cinema, quer ir junto? -Mamãe grita do outro lado da porta me tirando do estupor ao qual me encontrava.
— Sim! Só vou me vestir, não demoro! -Respondo indo até o guarda roupas e pegando uma calça jeans, uma blusa preta de algodão e uma blusa de frio.
O clima dessa cidade é louco, as vezes de manhã está quente como o inferno e de noite parece que estamos no polo norte.
Uma vez que estou pronto, descemos todos até o estacionamento e optamos por ir no carro do meu pai.
Os dois vão na frente e eu atrás, como qualquer outra família normal.
Chegamos ao cinema em minutos e depois de escolher o filme, fico encarregado de comprar os ingressos enquanto meus pais compram a pipoca e algumas guloseimas.
Por mais que tenha quase vinte e um anos, pareço uma criança que vem pela primeira vez ao cinema.
O que ninguém aqui sabe, é que essa é realmente uma primeira vez para mim.
Nunca tinha vindo com meu pai e pretendo aproveitar cada momento.
Tiro uma foto com os dois e envio para Violet, mesmo sabendo que ela não deve estar com o celular no momento.
Também envio para Beck e Matt.
Se eu pudesse, enviaria para cada pessoa dessa cidade para que vissem como estou ridiculamente feliz.
A hora do filme se aproxima e a entrada na sala é autorizada.
Entregamos nossos ingressos para uma garota que perfura os papéis e nos devolve sem dizer absolutamente nada.
Procuramos nossos lugares e nos sentamos para esperar que o filme começe.
Meu pai não solta a mão da minha mãe por um segundo sequer e sorrio sem que eles percebam.
As luzes se apagam minutos depois e os trailers invadem a enorme tela branca.
Isso parece bom demais para ser verdade. Como se a qualquer momento eu fosse acordar e perceber que tudo não passou de um sonho.
Meu coração começa a bater rápido e me remexo no assento, tentando controlar essa inquietação.
Estou a ponto de me levantar e sair da sala, quando sinto um aperto na minha mão.
Olho para o lado e mamãe me observa com um sorriso compreensivo no rosto.
— Está tudo bem? -Simula com os lábios e demoro um tempo para balançar a cabeça para cima e para baixo para não preocupá-la.
Está tudo bem. Eu estou bem.
NOTA DO AUTOR
Boa noite seus lindos e lindas!!! Como estão hoje?
Espero que ótimos!
O que acharam do capítulo de hoje?
Benjamin é tão fofo mdsssssssssssssssss e o pai ele então... dois nenéns
hahahahhaa
Não se esqueçam de votar e comentar, heim
Nos vemos na sexta!
Amo vcs 😍
Bjinhosssss BF 💜💜💜
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