27 - Corações apaixonados

Ooook... -Levanto as sobrancelhas alongando a palavra para tentar ganhar tempo.

Brenda me observa com expectativa, talvez pensando que de fato eu vá julgá-la, no entanto, isso sequer passa pela minha cabeça.

— Diz algo por favor. -Ela sussurra apreensiva e sorrio para abrandar todo esse seu nervosismo.

— Desculpa, é que fui pega de surpresa. -Explico calmamente. — Não sabia que vocês dois estavam tão... sérios. -Murmuro baixinho sentindo uma leve pontada de inveja.

As vezes gostaria de ser como Brenda e Beck.

Os dois obviamente sentem atração um pelo outro e não tem medo de exteriorizar esses sentimentos, o que os leva inclusive a situações como essa em específico.

— Acredite em mim quando te digo que eu também fui pega de surpresa. -A confissão vem acompanhada de um sorriso ladino e me aproximo dela para escutar com mais clareza.

— Muito bem, conte tudo, mas por favor me poupe dos detalhes mais... íntimos. -Peço curiosa.

— Pode ficar tranquila. Eu e Beck não fizemos nada além de literalmente dormir. -Diz com certo desânimo.

— Oh... então vocês não... já sabe...

— Transamos? -Sorri e balanço a cabeça séria. — Não, Violet. Nós não transamos e você pode falar essa palavra, sabia? Não vai queimar a língua nem nada disso. -Brinca e ganha um tapa no ombro por ser tão debochada.

— Eu sei é só que... quer saber, me conta logo tudo antes que o professor chegue. -Resmungo carrancuda.

Brenda puxa uma longa respiração para quem sabe se concentrar no que vai dizer. Ou talvez ela só esteja nervosa mesmo.

Seus olhos focam em um ponto desconhecido e os cantos dos lábios se torcem em um sorriso nostálgico, provavelmente lembrando dos acontecimentos do dia anterior.

— Bom, ontem quando você e Benji foram ao seu passeio romântico, Beck e eu ficamos à deriva sem saber o que fazer. -Começa dramática como sempre. — Então ele meio que me convidou para comer algo no seu apê e eu aceitei, porque não seria nem maluca de recusar. -Afirma sem parar de sorrir um segundo sequer. De vez em quando ela faz algumas pausas para ver se estou acompanhando e balanço a cabeça em um sinal para que continue falando. — Você precisa ver como é a casa do garoto, tudo tão organizado que até fiquei com vergonha do meu quarto.

— Conheço alguém que é exatamente assim. -Observo lembrando de como meu tio Angel odeia bagunça e é extremamente dedicado com a limpeza. Ainda bem que Kenny não liga para isso, senão seria um problemão.

— Nós pedimos pizza e resolvemos ver um filme para acompanhar a comida. -Continua como se nem tivesse me escutado. — Depois que o filme acabou, ele abriu uma garrafa de vinho e ficamos bebendo até tarde, conversando sobre assuntos variados e rindo de alguma ou outra besteira.

— Pelo visto a sua noite foi muito boa... -Sussurro para mim mesma e ela levanta uma sobrancelha desconfiada. Claro, agora a garota me escuta perfeitamente.

— Não sei o que quer dizer com isso, mas vou continuar contando antes que perca a coragem. -Declara e chacoalho a cabeça divertida. — Bom, como disse, ficamos até tarde jogando conversa fora e quando dei por mim, já passava da meia noite! Então me levantei em um pulo e fui pegar meu celular para pedir um Uber, só que nesse instante, Beck simplesmente não me deixou fazer isso. -Agora um enorme sorriso brota no seu rosto e ela respira fundo outra vez antes de continuar. — Ele segurou minha mão e me pediu para ficar.

No começo eu não entendi muito, mas aí o garoto insistiu dizendo que queria dormir comigo. -Seus olhos chegam a brilhar conforme vai contando sua aventura e incentivo-a apertando de leve sua mão gelada. — Tipo, eu me surpreendi porque pensei que ele queria transar, mas aí Beck explicou que só queria dormir mesmo, para saber como era acordar ao meu lado, ahhhh! -Um gritinho escapa da loira e sorrio quase gritando junto com ela. — Não tinha maneira de recusar esse pedido. -Alega apaixonada com as mãos no rosto que adquire um tom avermelhado em questão de segundos.

— E como fez para que seu pai te deixasse dormir na casa de um garoto que ele nem conhece? -Indago atenta ao seu relato.

— Bom... eu disse que estava dormindo na sua casa. -Revela baixinho e demoro um tempinho para assimilar.

— Brenda! -Ralho quase rosnando.

— Desculpa, é que eu queria muito dormir lá e se meu pai soubesse a verdade, jamais me deixaria! -Explica envergonhada.

Seguro suas mãos outra vez e puxo-a para mais perto até que ficamos a apenas alguns centímetros de distância.

— Amiga, eu não ligo de ter me usado, só por favor me avise da próxima vez. Imagina se algo acontecia com você? Não que Beck seja uma má pessoa, mas precisamos ter cuidado ainda mais com o mundo do avesso como está hoje. -Repreendo e ela fica em silêncio como uma criança quando é colocada de castigo.

— Eu sei... prometo que da próxima vez eu vou te avisar. -Assevera solene e balanço a cabeça em concordância.

— Agora, me conte o resto. Como foi dormir com aquele deus grego?

— Ah Vi... ele é tão carinhoso e gentil. -Suspira e juro que daqui a pouco dois corações vão aparecer em seus olhos como nos desenhos antigos. — Ele me emprestou uma blusa sua para que dormisse. Ainda consigo sentir seu cheiro delicioso em mim. Sua cama é maravilhosa e dormimos abraçados a noite toda. No outro dia quando eu acordei, não o vi na cama, então fui ao banheiro e fiz o que tinha que fazer antes de me trocar. Quando cheguei na cozinha, ele tinha preparado o café da manhã para nós dois! Eu juro que eu vou casar com esse homem... -Sussurra a última frase e caio na risada.

— Sabia que Beck era uma boa pessoa, mas cuidado com não estar se iludindo a toa. -Advirto e me arrependo no mesmo instante ao ver seu semblante mudar de apaixonado a preocupado.

— Por que diz isso? Acha que ele está brincando comigo? -Pergunta com o cenho franzido e minha vontade é de me dar uns tapas por ser tão idiota.

— Não, Brenda. Esqueça o que te falei ok? Não dormi direito... -Desconverso, no entanto, ela obviamente não compra minha tentativa ridícula de distração. Mesmo assim continua contando tudo, a animação voltando quase que imediatamente.

Ela comenta que depois que comeram, pediu um táxi e foi para cara tomar banho antes de vir para a faculdade.

Seu corpo não para de balançar e seus olhos transmitem um ar veemente que jamais tinha visto, até agora.

— Estou tão feliz, Foxy, mas ao mesmo tempo quero ir com calma. Você tem razão, não devo me precipitar. -Diz de repente me fazendo querer me enterrar aqui mesmo.

— Brenda, não escute o que eu te disse, foi algo besta. Beck claramente gosta de você e tenho certeza que não teria coragem de te machucar, caso contrário, eu mesma darei uma surra nele. -Garanto e seus braços envolvem meu corpo em um aperto fugaz.

— Obrigada amiga, você é demais. Agora, como foi ontem com seu namorado? -Questiona ainda mais animada.

Só de lembrar do que aconteceu no dia anterior, minha pele inteira se arrepia. Benjamin está se impregnando cada vez mais em mim e um sentimento dúbio me ataca cada vez que penso em como é bom tê-lo por perto, mas ao mesmo tempo quero ter cuidado assim como Brenda disse.

Inicialmente não quero lhe dizer sobre meu problema com carros, mas depois de muita insistência, acabo cedendo ao seu pedido e lhe conto tudo, evitando é claro minha pequena aventura no banheiro.

Só de pensar no que fiz, sinto minhas bochechas arderem e à essa altura, não faço ideia se é de vergonha ou excitação.

Brenda escuta tudo sem dizer nada, contudo seus olhos transmitem uma empolgação que só uma amiga de verdade poderia ter.

Continuamos conversando sobre como nossa vida deu um giro inesperado, até que o professor chega minutos depois e entramos na sala em silêncio, cada uma no seu mundo.

Jamais pensei que eu estaria literalmente beijando meu melhor amigo, embora em algum momento da minha vida eu tenha sentido uma leve atração por ele, que jurava não ser correspondida.

Pelo visto estava redondamente enganada.

Faço um esforço gigante para prestar atenção na aula, contudo, minha mente traidora me leva até aquele parque onde ficamos a tarde inteira abraçados desfrutando da companhia um do outro.

Desse jeito vou ter que estudar em dobro para as provas finais.

A hora passa tão lentamente que o relógio parece não se mover e meus olhos pesam com a voz baixa e compassada do professor que explica mais uma matéria entediante.

De repente a realidade se mistura com a fantasia e posso jurar que estou vendo Benjamin parado na porta, olhando diretamente para mim.

Pisco algumas vezes para ver se não estou sonhando, e quando meu celular vibra dentro da bolsa, retiro-o franzindo o cenho ao ler a mensagem.

"Pode sair rapidinho? Preciso te dizer algo." -Idiota.

Sorrio incrédula.

Não acredito que ele veio até aqui.

Coloco o aparelho debaixo da mesa e começo a responder rezando para que não seja pega em flagrante.

"Stevens é muito chato, não sei se vai me deixar sair." -Explico fazendo uma cara triste. Uma segunda mensagem chega no mesmo instante.

"Diga que está nos seus dias! Garanto que ele não vai nem te questionar." -Idiota.

"Benjamin!" -Olho ao redor me certificando de que ninguém tenha lido a mensagem mesmo estando com o celular escondido. Meu rosto fica quente e tenho quase certeza de que estou ruborizada. Ótimo.

"Qual é Vi, isso é normal, não precisa ter vergonha do seu corpo! Só diga isso, por favor..." -Idiota.

"Que seja, mas espero que tenha algo realmente importante para contar!"

Envio a última mensagem antes de me levantar, caminhar até o professor e inventar alguma coisa como que estou com cólica ou algo assim.

Como Benjamin previu, ele nem me questionou e praticamente me enxotou da sala com uma careta no rosto.

Até quando os homens terão nojo de algo tão natural?

Nem bem passo pela porta, dois braços me puxam para longe e me levam até um lugar mais reservado.

Só de sentir o toque do garoto, meu coração erra algumas batidas e minha boca seca em expectativa.

Ele diminui nossa distância e me prensa contra a parede, me beijando em seguida.

Meu corpo inteiro se incendeia e nos separamos quando um aluno passa do nosso lado dando risadinhas como se nunca tivesse visto duas pessoas se pegando.

— Se me tirou da aula apenas para me beijar eu vou te bater! -Acaricio o seu rosto com a bochecha, a barba aparada arranhando minha pele me causando uma dor gostosa.

— Vai me dizer que não gostou? -Provoca. Seus dedos apertam minha cintura me levando do céu ao inferno em um milésimo de segundos.

— Benjamin... -Ameaço e vibro com a risada rouca que ele solta ao ver meu estado lamentável.

— Fique tranquila que eu realmente precisava te dizer algo, só que não consigo ver essa sua boca e não beijá-la. -Admite.

Seus olhos me examinam por completo e quando ele se dá por satisfeito, finalmente resolve dizer o que quer que seja que tinha em mente.

— Só queria te avisar que vou ter que ir embora mais cedo hoje. Um compromisso surgiu e não posso faltar. -Explica desanimado.

— E não podia ter me enviado uma mensagem?

O garoto abre um sorriso tão cínico que sou obrigada a rir junto sem nem saber o motivo.

— Se eu fizesse isso, não teria a oportunidade de te beijar antes de ir. Valeu a pena o risco. -Sussurra a última frase no meu ouvido me fazendo perder o equilíbrio. Tenho quase certeza de que ele não estivesse me segurando, eu já estaria no chão nesse exato momento.

— Você me paga, Benjamin. -Respondo em um sorriso contradizendo minhas próprias palavras.

— Já te disse que pago quantas vezes quiser, é só você me pedir. -Atiça sabendo muito bem o efeito que tem sobre mim.

Decido fazê-lo provar um pouco do próprio veneno e aproximo meus lábios dos seus, deixando menos de um centímetro de espaço antes de falar.

— Pois saiba que vou começar a cobrar a partir de agora. -Murmuro passando a língua na sua boca antes de me afastar e caminhar de volta até a sala ao som das suas gargalhadas.

Não chego a dar nem dois passos e seus dedos enroscam nos meus enquanto percorremos lado a lado o corredor até parar na porta da minha sala.

— Vou te ligar mais tarde para conversarmos ok? Se cuide. -Beija minha testa antes de se afastar.

Fico parada no mesmo lugar observando-o desaparecer, enfeitiçada pela sua presença e tentando não ceder ao peso do meu próprio corpo.

Minutos depois, entro na sala quase levitando e ocupo o meu lugar novamente, pensando no inevitável fato de que quanto mais eu subo, mais dolorosa será a queda

NOTA DO AUTOR

Hello mores, sentiram saudades? Pq eu senti 💜
O que acharam do cap de hoje?
Espero que tenham gostado! 
Não se esqueçam de votar e comentar! 
Uma ótima semana a todos

Amo vcs🥰🥰🥰
Bjinhossssss BF💜💜💜

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