26 - Enfrentando demônios
Minha garota.
Duas palavras ditas de maneira tão natural, mas que foram capazes de me desestruturar por completo.
Ele nunca tinha se referido a mim desse jeito e meu coração palpita acelerado no peito à medida que a frase se repete uma e outra vez dentro da minha cabeça.
Será que ele consegue sentir como estou a ponto de ter um ataque de nervos, porém agora por um motivo totalmente diferente?
As coisas entre nós dois estão avançando em uma velocidade insana e me sinto dividida entre gostar disso e ficar aterrorizada ao mesmo tempo.
Fecho os olhos e respiro profundamente.
Um trauma de cada vez.
O barulho do motor começa a me tranquilizar depois de alguns minutos e Benjamin aperta minha mão, esfregando suavemente a pele suada de nervoso.
Apesar de não estar vendo-o, sei que seu olhar está preso em mim, observando apreensivo cada movimento meu.
Não dizemos nada durante quase vinte minutos.
Respiro pelo nariz e solto pela boca, várias e várias vezes.
Ele espera pacientemente que eu consiga ter a coragem suficiente para encarar esse medo que me assola desde o acidente.
É óbvio que não podemos ficar aqui para sempre. Uma hora ou outra, teremos que ir embora, então me munindo de valentia, viro meu rosto chamando sua atenção e ele levanta as sobrancelhas em expectativa.
— Estou pronta. -Digo baixinho com a voz trêmula.
— Tem certeza? -Confere.
— Sim... só por favor... tenha cuidado. -Peço envergonhada por toda essa cena que estou protagonizando.
— Eu vou ter. Prometo. -Garante beijando minha mão antes de soltá-la apenas para colocar o carro em marcha.
Aperto as pálpebras assim que começamos a nos mover e pequenas lágrimas escorrem pela minha bochecha em uma mistura de temor e felicidade por finalmente estar enfrentando os fantasmas que tinha escondido no mais profundo do meu ser.
— Vi, está tudo bem? -A voz preocupada ressoa dentro do carro e balanço a cabeça para cima e para baixo em um sinal positivo. - Ok... -suspira receoso - se quiser parar é só me dizer. Você está indo muito bem. -Sussurra segurando minha mão novamente.
Como seu carro é automático, Benjamin não precisa ficar trocando de marcha toda hora, o que de certa forma é uma vantagem nesse momento.
Seus dedos acariciam os meus durante todo o caminho e cada vez que paramos em algum semáforo, ele faz questão de averiguar como estou, se quero descer ou se preciso de um abraço.
Sinto vontade de chorar a cada instante por toda essa emoção abrupta e ainda mais pelo cuidado excessivo que ele está tendo comigo.
Em certa altura, me sinto bem mais calma e o medo que antes era enorme começa a se dissipar pouco a pouco, evaporando como minhas lágrimas, se perdendo no vento fresco que entra pela janela aberta e deixando meu corpo lentamente.
Começo a pensar que talvez eu estava tentando fazer as coisas da maneira incorreta. Quem sabe deveria ter enfrentado os meus demônios acompanhada e não sozinha.
Precisava ter alguém para me apoiar e dizer que tudo ficará bem, só nunca pensei que esse alguém seria Benjamin.
Ele me disse que queria uma chance para me fazer feliz e nesse exato momento, inconscientemente decidi que ele merece o benefício da dúvida.
O garoto que dirige atento ao meu lado, conseguiu fazer em um dia, o que tentei e tentei por pelo menos seis meses.
Seus olhos não deixam a estrada em nenhum segundo e tenho quase certeza de que ele deve ter ganhado uma multa por dirigir lento demais, o que chega a ser até irônico.
Sorrio pensando em como essa situação é engraçada à sua maneira e o motorista ao lado espelha minha expressão sem nem perceber.
— Estamos quase chegando. -Afirma aliviado e balanço a cabeça me sentindo da mesma forma.
Uma vez que entramos no meu condomínio, me permito soltar a respiração presa por alguns minutos e faço uma prece silenciosa agradecendo pela coragem e por ter vencido, nem que seja um pouco, o pânico que quis me dominar nem bem entrei no carro.
Estacionamos bem na frente do edifício onde moro e Benjamin desce rapidamente, caminha até a minha porta e abrindo-a em seguida.
Ele retira meu cinto de segurança e segura minha mão, puxando meu corpo suavemente para fora do veículo.
Imediatamente seus braços prendem meu corpo contra o seu e nossa respiração se une em uma só, confirmando a importância desse momento singular.
— Estou muito orgulhoso de você, Violet. -A frase ecoa dentro de mim como um tambor acompanhando as batidas do meu coração.
Abraço-o ainda mais forte e encosto meu rosto no seu ombro para tentar esconder as lágrimas que se derramam mais uma vez. Minhas bochechas ficam vermelhas de vergonha e ele me afasta com delicadeza ao perceber que não quero que me veja assim tão vulnerável.
Benjamin me conhece muito bem para saber que sou malditamente orgulhosa.
— Ei, não precisa ficar assim. -Seus dedos enxugam minha pele e deixo escapar um sorriso tímido.
— Me desculpa, é que foi muito difícil para mim, só que ao mesmo tempo foi... libertador. -Confesso em um sussurro.
— Eu sei minha linda. Eu sei...
Seus lábios roçam os meus com cuidado antes de voltarmos a nos abraçar.
O tempo parece parar enquanto estamos nessa posição e para ser sincera, por mim eu poderia ficar assim para sempre.
A falta que eu senti dele é indescritível.
— Quer que eu suba com você? -Oferece quando já estamos mais calmos e jogo a cabeça para trás com a sobrancelha levantada.
— Da última vez que fez isso, as coisas não acabaram muito bem. -Observo e seus olhos se estreitam enquanto ele escaneia todo o meu corpo sem pudor.
— É mesmo? Porque ao meu parecer, subir até seu apartamento acabou bem até demais. -Brinca umedecendo a boca descaradamente.
— Fala sério! Desde quando ficou tão safado? Não lembro de você assim, Benji. -Ele sorri ao escutar o apelido que usava quando queria zombar dele.
— Você me causa isso, Vi. -Confessa atrevido e engulo seco.
Espalmo o seu peitoral e franzo o cenho tentando achar uma resposta para o que ele acabou de dizer e chegando à conclusão de que realmente não há uma.
— O dia de hoje foi... interessante. Obrigada por tudo, Ben. -Agradeço mais uma vez saindo pela tangente.
— Se pudesse, faria um piquenique todos os dias só para ter você só para mim. -Brinca esfregando meus braços.
Tento não me iludir com todas essas palavras bonitas, contudo é praticamente impossível.
Uma parte de mim grita para que eu me deixe levar pelo momento e outra insiste que eu tenha cuidado, lembrando que Benjamin já me machucou uma vez.
— Não sei como reagir quando diz essas coisas. -Revelo distraída.
— Que tal responder com um beijo? -Sugere e solto uma gargalhada divertida.
— Garoto, você definitivamente não presta! Não tem nem um dia que nós estamos... hã... -Me calo de repente, repreendendo a mim mesma pelo deslize.
— O que ia dizer? -Questiona sorrindo abertamente.
— Nada, eu me confundi. -Minto desviando o olhar do seu e suas mãos prendem meu rosto, mantendo-o no lugar.
— Hum, por que eu acho que está mentindo? -Insiste.
— Não estou não! -Aperto as pálpebras, respirando fundo. — É só que não sei o que somos, quero dizer, como chamamos isso. -Aponto a mão para nós dois e ele balança a cabeça para cima e para baixo lentamente com o semblante sério me deixando levemente preocupada.
— Sabe, -começa com a voz aveludada - existe uma palavra criada especialmente para esse tipo de situações. Como era? -Dá batidinhas com os dedos no queixo. — Ah sim, namoro.
De todas as coisas que imaginei que ele diria, essa definitivamente não era uma delas.
E confesso que não sei o que sentir diante disso.
Claro que eu gostei, mas ao mesmo tempo... tenho medo e isso está começando a ficar cansativo até para mim.
— Benjamin, não acha que estamos indo rápido demais? -A hesitação em mim não é suficiente para fazer desaparecer sua pose confiante.
— Linda, você pode chamar isso que temos do que quiser. Nada vai mudar o fato de que estamos juntos e que fico maluco de vontade de te beijar cada vez que te vejo. -Justifica.
E mais uma vez, fico sem palavras.
Como ele consegue ser assim tão... resoluto.
Realmente não entendo. Desde que nos beijamos pela primeira vez, as dúvidas me invadiram de um jeito que sequer consigo explicar e quando Benjamin diz essas coisas tão naturalmente como se ele sempre tivesse considerado a ideia de estarmos juntos e agora que isso finalmente está acontecendo, é como se fosse tudo normal para ele.
— Tudo bem, não importa muito à essa altura de todas formas, não é mesmo? -Sussurro resignada.
Deslizo as mãos pelo seu abdômen e sinto-o se retesar sob o meu toque. Deixo escapar uma risadinha antes de me afastar.
Penteio meus cabelos com os dedos em um movimento involuntário.
— Tem certeza que não quer que eu suba? -Insiste com nada mais do que fogo no olhar.
Por mais que me sinta tentada a deixá-lo ir comigo até o apartamento, não sei se é o certo a fazer.
Não me sinto preparada para esse tipo de intimidade, por mais que já tenha dormido ao seu lado incontáveis vezes quando éramos apenas amigos.
— Nos vemos amanhã, Ben. -Beijo seu rosto com rapidez e ele suspira desanimado, no entanto, aceita sem discutir.
— Vou te ligar quando estiver vindo com a sua moto, tudo bem? -Promete e faço um sinal de positivo antes de fugir para a segurança que há detrás das grades da entrada.
O garoto cai na risada com minha escapada.
Sei que se eu continuar perto dele, vou acabar não resistindo aos seus encantos.
Benjamin espera que eu cruze a porta de vidro e entre no elevador para finalmente entrar no carro e ir para casa.
Uma vez que estou dentro do meu apartamento, envio uma mensagem para ele desejando boa noite e agradecendo -mais uma vez- pelo piquenique de hoje.
Deixo o celular na mesinha de cabeceira e vou direto para o banheiro tomar um banho quente antes de me preparar para dormir.
Deslizo a esponja impregnada de sabão pelo meu corpo e não consigo evitar imaginar que no lugar dela, são os dedos de certa pessoa que passeiam pela minha pele arrepiada.
Contraditoriamente, minha pele ferve de excitação e substituo o contato da esponja pela meu.
Começo tocando meus seios, cujos mamilos se intumescem imediatamente e descendo pela minha barriga até chegar em uma parte bastante sensível nesse instante.
Aperto as pálpebras na medida que introduzo um dedo dentro de mim, depois outro e depois outro.
Me apoio na parede fria de azulejo e sinto minha respiração começar a falhar conforme o movimento de vai e vem se intensifica.
Imagens minhas e de Benjamin se embaralham na minha mente e os gemidos baixos servem como uma melodia, uma trilha sonora sensual que acompanha a aventura de hoje.
Esfrego meu clítoris com delicadeza, como se a qualquer momento ele fosse se desfazer sob o meu tato e continuo fazendo o gesto até que uma explosão de sensações me inunda por completo e solto a respiração sentindo além do prazer, um pouco de vergonha pelo que acabei de realizar.
Termino de tomar banho e visto um pijama confortável, resgatando o aparelho e abrindo um sorriso ao ver a resposta do garoto.
"Acabei de chegar em casa e já estou com saudades... durma bem, Vi.
Nos vemos amanhã." -Idiota.
Aperto o aparelho contra meu peito e suspiro como uma boba apaixonada.
Desde quando me tornei assim?
De todas formas não importa. Nunca soube como era gostar de alguém com tanta intensidade e que essa pessoa seja Benjamin, só deixa tudo mais interessante.
Coloco o alarme para tocar mais cedo e deito na cama, caindo no sono depois de divagar por pelo menos uns vinte minutos.
Uma música irritante toca de longe e demoro um bom tempo para perceber que ela provém do meu celular.
Abro um olho resmungando e aperto qualquer botão para tentar cessar com essa tortura.
Depois de alguns segundos, lembro que Benjamin trará minha moto e levanto em um pulo da cama correndo direto para o banheiro.
Tomo um banho rápido e visto uma calça jeans apertada e uma blusa branca sem mangas, e pego minha bolsa jogando os materiais que vou usar hoje além das chaves da porta, celular e uma barrinha de cereais, além de é claro, meu capacete preto.
Tomo um café apenas para não descer de barriga vazia, prometendo a mim mesma que comerei algo na faculdade, caso contrário os remédios para as dores na perna vão acabar me causando dor no estômago.
Pego o elevador até o térreo e um frio percorre a minha espinha ao ver Benjamin sentado na minha moto com seu capacete no cotovelo e o celular nas mãos. Ele está lindo como sempre, só que agora a jaqueta preta de couro o deixa ainda mais sexy.
Imediatamente meu próprio celular apita anunciando a chegada de uma mensagem e leio o conteúdo rindo.
"Já estou aqui embaixo. Não precisa se apressar, espero sem problemas." -Idiota.
Caminho lentamente para que ele não me veja e quando chego no portão, chamo-o com um assobio e ele gira a cabeça me encontrando.
Um sorriso espontâneo revela seus dentes perfeitamente alinhados e encurto a nossa distância ansiosa por tê-lo perto de mim.
Ele faz menção de descer da moto para me abraçar e ceder o lugar do piloto para mim, no entanto, nego com a cabeça impedindo-o e recebo um olhar confuso.
— O que acha de pilotar hoje? -Ofereço animada.
— Hum, parece que alguém não aguenta ficar com as mãos longe desse corpinho, não é mesmo? -Brinca deslizando as mãos por si mesmo e caio na risada.
— Como adivinhou? -Seguro seu queixo e beijo de leve sua boca.
Começo a me afastar para subir atrás dele, mas sou impedida pelos seus braços que me puxam de volta em um abraço desajeitado.
— Onde pensa que vai? -Murmura acariciando minha bochecha.
— Ué, subir na moto... temos que ir para a faculdade, lembra?
— Ainda não... -Beija minha têmpora. — Está cedo... -Outro beijo na ponta do nariz. — Além do mais, você mora ridiculamente perto do campus, chegaremos em um segundo. -Agora seus lábios grudam nos meus com fervura, me deixando zonza. Nos beijamos avidamente e meu corpo inteiro se incendeia ao lembrar do que fiz na noite anterior no meu banheiro.
Novas imagens me invadem e não sei mais o que é real e o que é produto da minha imaginação.
Eventualmente precisamos respirar e nos separamos apenas alguns centímetros em busca de ar.
— Vamos antes que nos prendam por atentado ao pudor... -Cochicho sentindo meu rosto ficando quente.
Benjamin aquiesce com a cabeça e coloco o capacete subindo atrás dele.
Aperto sua cintura por debaixo da jaqueta e me apoio nas suas costas aproveitando a viagem antes mesmo de sairmos.
O caminho é realmente curto e chegamos na entrada da universidade ridiculamente rápido.
Gostaria que tivesse pelo menos algum trânsito para demoramos um pouquinho mais.
Estacionamos e cada um desce da moto em movimentos sincronizados, como se fizéssemos isso todos os dias.
Retiro o capacete e Benjamin me ajuda carinhosamente a colocar alguns fios de cabelo no lugar, atraindo olhares de vários curiosos.
— Obrigada.
— De nada. Fazia tempo que não pilotava, foi...divertido. -Uma vez que ele termina de se ajeitar, sua mão resgata a minha e caminhamos lado a lado até o pátio que dá acesso às salas de aula.
Me sinto observada por onde passamos, ao contrário do garoto ao meu lado que age como se andar comigo à tiracolo fosse a coisa mais normal do mundo.
Ele me acompanha até a porta da sala e uma vez que chegamos, segura meu rosto e me beija devagar, desfrutando de cada pedacinho de mim através dos meus lábios.
— Nos vemos na hora do almoço? -Indaga e só consigo responder com um barulho esquisito que produzo com a garganta, quase como um rosnado. — Até lá então. -Sorri e se afasta me deixando ali parada como uma estátua.
— Okay, vocês precisam transar logo, caso contrário vão acabar explodindo com toda essa tensão sexual. -Brenda se materializa na minha frente e pisco lentamente focando a vista na minha amiga.
— Onde estava que não te vi ao chegar? -Dissimulo e ela me abraça animada como sempre.
— Ok, eu vou te contar, mas por favor não me julgue. -Começa nervosa.
— Jamais faria isso, acho que já deixei bem claro.
Ela sorri mais tranquila e olha para os lados se certificando de que não haja ninguém por perto antes de finalmente falar.
— Eu dormi na casa do Beck.
NOTA DO AUTOR
Sextou? Sextou.
O que estão achando do avance da história? Estou meio receosa porque nunca demorei tanto assim pra fazer um hot acontecer mds kkkkk mas sinto que é forçar demais e se eu
acabar colocando antes do tempo, vou me frustar ainda mais afff
Enfim,
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, não se esqueçam de votar e
comentar!
Amo vcs, 😍
Bjinhossssss BF💜💜💜
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top