18 - Visita indesejada
— Olhar para esse relógio a cada cinco minutos não fará com que as horas passem mais rápido, filho. -Giro a cabeça e lanço um olhar nervoso para o meu pai.
Ele está vestido com um elegante terno caríssimo feito à medida que deixa bem claro sua posição social: podre de rico.
Odeio estar aqui. Odeio esse lugar. Desde o cheiro até a cor do piso.
Não que alguém alguma vez tenha gostado de uma prisão.
Eu gostaria muito de ter recusado esse convite, mas não tive escolha.
Aquele idiota do Travis citou meu pai e a mim, para uma conversa amistosa que segundo ele, seria de nosso interesse, contudo, sei bem que ele é um maldito interesseiro que só quer tirar mais dinheiro do meu pai.
Quando descobrimos que eu era filho de Lucas Moore, ele foi obrigado a deixar o caso do Travis por conflito de interesses, só que Travis em vez de achar ruim, aproveitou a oportunidade para enfiar um enorme pedaço de pau na minha bunda. Figurativamente falando, é claro.
E agora estamos aqui nessa maldita sala de visitas esperando o idiota para saber o que diabos ele quer conosco.
— Eu tinha um compromisso, pai. -Resmungo estressado, revisando mais uma vez a hora no meu celular. Prefiro mil vezes estar recebendo patadas da Violet, do que aqui.
— Infelizmente, não posso fazer nada quanto a isso. Também fui pego de surpresa, assim como você. -Ele responde, ao mesmo tempo em que Travis passa pela porta e caminha arrogante pelo corredor estreito até parar diante da nossa mesa e praticamente se jogar na cadeira, como se fosse dono do lugar.
Ele não diz nada de imediato, apenas nos observa com os olhos semicerrados.
Meu coração bombeia sangue cada vez mais rápido e começo a pensar que o babaca está querendo zombar com a nossa cara.
— Se nos chamou aqui para fazer perder tempo, é melhor irmos embora. -Rosno depois de alguns minutos.
Seu olhar se estreita e um enorme e sádico sorriso brota nos lábios ressecados.
— Oh coitadinho, está com pressa por acaso? -Travis cruza os braços atrás do pescoço deixando os enormes bíceps à mostra. — Porque eu tenho muito tempo ainda dentro dessa merda, Benjamin. -Continua curvando seu corpo musculoso coberto pelo uniforme laranja por cima da mesa de metal.
— Isso não é meu problema, idiota. -Aproximo meu rosto do seu e meu pai intervém antes que façamos alguma besteira.
— Muito bem, se acalmem vocês dois. -Sua voz robótica não me passa despercebido. Por enquanto ele deixou atrás o posto de pai e assumiu o papel de advogado. — Travis, vai nos dizer o motivo da reunião? -Pede com cuidado e o garoto à nossa frente sorri com falsa inocência.
— Peço desculpas por isso, senhor Moore. É que já sabe, o ambiente aqui dentro acaba deixando as pessoas... impacientes. -Sussurra a última palavra em um tom ameaçador que apenas eu sou capaz de identificar. Idiota.
— Compreendo. Bom, você nos chamou, disse que era importante e aqui estamos. Fique à vontade para nos informar o motivo de tanta urgência. -Sorrio internamente e Travis bufa ao mesmo tempo, quase me fazendo dar uma risada sonora.
Ele está desesperado. Pode parecer estranho, mas consegui perceber o tom apreensivo nas dezenas de mensagens que ele me enviou durante todos esses meses.
Não quis dizer nada ao meu pai, porque pensei que o babaca acabaria desistindo dessa ideia de que eu sou o culpado por tudo o que lhe aconteceu, só que obviamente ele não deixou essa ideia para trás e agora quer que eu pague por isso.
— Para começar, como já tinha dito para o seu filho, -faz uma careta - ele precisa me pagar o que me deve, já que se não fosse pelo Benjamin, eu não estaria aqui para começo de conversa. -Explica com a maior cara de pau e acabo atraindo a atenção de alguns presos, e até guardas, com as gargalhadas que não consigo conter.
— Só pode ter ficado maluco mesmo, Travis. Eu não te devo nada! -Afirmo exaltado.
Meu pai me dirige um olhar completamente diferente dos outros que já recebi dele até agora. Uma mistura de surpresa e desagrado que me deixa com um sabor amargo na boca.
Esse olhar dura apenas alguns segundos, já que ele se recupera no mesmo instante, evidentemente acostumado com esse tipo de situação.
— Bom, não sei ao que se refere com o tal pagamento, Travis. Por favor, se quiser me explicar, sou todo ouvidos. -O advogado ao meu lado oferece e engulo seco me preparando para o momento em que a merda seja jogada no ventilador.
Travis se endireita na cadeira e me encara enquanto explica sua ideia maluca.
— Benjamin me induziu a consumir bebidas alcoólicas e logo depois a dirigir bêbado, o que provocou aquela merda de acidente. Se não fosse por ele, eu estaria livre. E como se não fosse suficiente, o meu advogado teve que me deixar no meio do processo, o que me prejudicou bastante, já que o que me assignaram no seu lugar, é um idiota. -Declara com convicção.
Preciso de uma força gigante para não meter um soco na sua cara cínica.
— Isso é ridículo! Eu não enfiei a garrafa pela sua garganta e muito menos te amarrei ao volante, Travis! -Grunho tentando, em vão, me controlar.
— Mas você me desafiou a um racha! Disse que seria divertido! -Suas mãos golpeiam a mesa produzindo um estrondo metálico. Todos ao nosso redor ficam em silêncio e alguns guardas ameaçam se aproximar.
— Benjamin por favor se acalme. -Sou repreendido pela milésima vez. — Sinto muito, mas ele tem razão, Travis. Além do mais, meu filho já pagou pelos seus erros. -Sua voz se suaviza, o que acaba deixando o garoto ainda mais furioso.
— Não me interessa se ele já pagou! Só porque teve a sorte de não bater em uma porcaria de um carro! Ainda bem que aquela merda de família não morreu, senão eu estaria ainda mais ferrado! -Ao escutar a última frase, me lanço sobre a mesa e aperto seu pescoço com minhas mãos tão forte que seu rosto começa a ficar vermelho. Ele tem a cara de pau de sorrir como se soubesse o que viria a seguir, e não demora muito para que os guardas nos separem.
— Nunca mais se atreva a dizer isso ou a se referir a eles, Travis. Nossa visita acabou e se pensa que vou te pagar algo, está muito enganado. Vá se foder! -Grito enquanto sou arrastado para fora da prisão pelos guardas, com meu pai no nosso encalço.
Uma vez que sou praticamente enxotado portão afora pelos guardas, caminho com os nervos à flor da pele até o carro e me jogo no assento sentindo uma dor de cabeça se formando na minha têmpora.
Meu pai fica para trás e enquanto o espero, retiro o celular do bolso, procurando Violet na minha lista de contatos.
Chego a pressionar o botão para ligar para ela, mas acabo desistindo. Preciso me acalmar.
Opto por enviar uma mensagem e me surpreendo ao receber uma resposta quase que imediatamente.
Será que podemos nos encontrar no Le Café daqui uma hora?
17:45
Vi 💜
Pode ser, faz um tempão que não vou lá, já até esqueci o sabor do bolo de nozes que eles fazem. 17:46
Ok, te ligo quando estiver indo. Nos vemos mais tarde então.
17:46
Vi 💜
Até mais tarde, Benjamin. 17:47
— Por acaso ficou maluco? -Meu corpo se sacode em um sobressalto com o grito do meu pai e giro a cabeça observando-o se sentar no banco do motorista. Suas mãos apertam o volante e consigo até ver seu maxilar se apertando.
— Me desculpe, perdi o controle. -Suspiro guardando o celular de volta no meu bolso.
— Ainda bem que você sabe. Da próxima vez, eu virei sozinho. Não penso te trazer de novo. -Ele resmunga tentando se acalmar.
Nem me atrevo a discordar. Eu realmente perdi a cabeça, só que escutar Travis falar daquele jeito sobre Violet, Ayden e Lily atiçou algo dentro de mim que quando percebi, já estava em cima dele.
— Não haverá uma próxima vez, pai.
— Benjamin, esse idiota vai fazer de tudo para te prejudicar. Não podemos correr o risco de deixá-lo tentar algo. Devemos manter os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda. -Sussurra pensativo.
A última frase me deixa apreensivo. Não me importo com Travis enchendo o meu saco, o problema é Violet.
O mais importante no momento, é que ela não se involucre nessa merda, apesar de fazer parte dela, querendo ou não.
— Você acha que eles farão os depoimentos na presença do Travis? -Indago nervoso. Uma enorme bola se forma na minha garganta ao perceber que talvez eles dois possam chegar a se conhecer e se isso acontecer, aí sim eu estou ferrado.
— Vou entrar com uma petição para tentar evitar a revitimização da Violet. -Seus dedos apertam as teclas do celular rapidamente e solto o ar devagar. — O problema é que ela pode querer fazer as coisas do jeito dela. Aí eu já não posso fazer nada. -Explica e balanço a cabeça já temendo o pior.
Violet é teimosa e provavelmente vai querer ver o rosto daquele imbecil. Toda a sua família tem o sentido de justiça e não vão deixar barato.
Fecho os olhos fazendo uma prece silenciosa para que isso não aconteça e meu pai coloca o carro em marcha antes mesmo que eu possa terminar.
Passeamos pela cidade e na minha cabeça, um monte de ideias malucas borbulham, cada uma parecendo mais estúpida que a outra.
O pior de tudo, é que embora não tenha sido eu quem bateu no seu carro, eu tive minha parcela de culpa nesse acidente e esse sentimento me consome cada dia.
Não sei o que teria feito, como teria reagido se eles... se o resultado tivesse sido fatal.
Jamais me perdoaria.
Se o arrependimento fosse tangível e corrosivo, eu já estaria irreconhecível à essa altura.
Sacudo a cabeça para dissipar essas memórias tenebrosas da minha mente. Preciso focar no que farei daqui para a frente.
Devo contar para Violet tudo o que aconteceu, sei disso, mas é extremamente difícil.
Não posso simplesmente chegar nela e dizer "então Vi, acontece que o seu acidente foi minha culpa, você me perdoa?", ainda mais conhecendo-a tão bem quanto a conheço.
Se eu fizesse isso, provavelmente receberia um soco bem dado na cara.
Tenho que fazer de uma forma que ela entenda que eu realmente não quis que isso acontecesse.
O problema é que não tenho a menor ideia de como lhe dizer sem que ela fique ainda mais brava comigo.
— Quer que te deixe na sua casa? -A voz grossa atrai minha atenção e nego depressa.
— Me leve ao Le Café por favor. Tenho que encontrar com Vi lá. -Murmuro.
Ele faz o que peço com um sorrisinho no rosto e sei bem que vai aproveitar o momento para ir na minha casa.
Esses dois só faltam gritar o quão apaixonados estão um pelo outro.
Chega a ser até engraçado como as coisas ocorreram. Até mais ou menos dois anos atrás, eu não pensava em conhecer meu pai, e agora ele está literalmente dormindo com a minha mãe.
Ainda bem que ele não é um idiota, caso contrario eu seria o primeiro em me opor a essa loucura.
— Chegamos. -Diz estacionando o carro em um dos poucos lugares vazios. — Quer que te busque? Seu carro ficou na universidade...
— Acho que vou chamar um táxi, não precisa se preocupar. -Recuso sua oferta já abrindo a porta e descendo. Acabo lembrando do outro dia quando peguei eles dois se beijando e volto a entrar rapidamente. — Vou te mandar uma mensagem quando estiver indo embora. Não quero correr o risco de pegar você e minha mãe fazendo... outras coisas. -Declaro e recebo um sorriso amarelo do homem de quarenta e poucos anos.
— Ok. Nos vemos depois, filho. Qualquer coisa é só me ligar. -Faz um gesto com a mão antes de dar ré e sair do estacionamento me deixando sozinho.
Entro no café e procuro uma mesa vazia para esperar Violet.
Devem passar quase vinte minutos, quando avisto-a passando pela porta, caminhando firmemente, como se fosse dona do lugar.
Sua atenção está voltada para o celular, provavelmente enviando uma mensagem ou revisando se chegou no horário certo. Ela está tão concentrada que não percebe como vários caras seguem-na com os olhos, admirando sua beleza completamente fora do comum.
Os cabelos vermelhos, como sempre soltos, e a típica jaqueta de couro que lhe dá aquela aparência de bad girl e sempre me fizeram delirar, são apenas alguns dos vários aspectos que a compõem, fazendo dela uma pessoa única.
Seu perfume chega até mim antes mesmo que ela possa perceber minha presença e respiro fundo lembrando de como amava sentir o seu cheiro discretamente.
No momento em que seus olhos finalmente encontram os meus, meu coração começa a bater rápido dentro do peito, como se estivesse vendo-a pela primeira vez.
Sempre foi assim.
— Me esperou por muito tempo? -Diz baixinho se sentando na cadeira bem na minha frente.
— Na verdade, quase nada.
— Ótimo. Podemos começar então? -Retira seu caderno da bolsa pendurada no ombro.
— Tudo bem... -Suspiro juntando os dedos em cima da mesa.
Ela passa o olhar pelo local e respira fundo, talvez se lembrando de como adorávamos vir aqui pelo menos duas vezes por semana.
O garçom aparece minutos depois e coloca dois menus na mesa.
— Vou querer um capuccino e uma porção de bolo de nozes, por favor. -Ela pede sem nem olhar o cardápio. Como se estivéssemos em uma dimensão paralela, Violet me encara com um sorrisinho no rosto e sinto meu corpo inteiro arder debaixo do seu escrutínio.
— Eu vou querer o mesmo. -Respondo sem desviar o olhar do seu. O que diabos está acontecendo?
O cara anota nosso pedido em um pequeno bloco de papel e sai de fininho sem dizer nada.
Ela molha os lábios com a língua tão devagar que engulo seco. Imediatamente imagens do nosso beijo na sua cozinha dançam na minha mente, me provocando e me fazendo desejar beijá-la outra vez.
— Aqui estão os seus pedidos. -Uma xícara fumegante aparece na minha frente e minha vontade é de dar uns tapas no idiota por interromper o que quer que estava acontecendo.
NOTA DO AUTOR
Okay, não precisam me bater kkk como deixei explicado no meu mural ontem,
chegou mercadoria na minha loja e não tive tempo para nada!
Mas como sempre disse pra vcs, os caps são 3 por semana, podendo variar os dias e eis aqui o cap de hoje.
E aí, o que acharam do babado????? Será tão grave quanto Benji pensa? E como será que a Violet vai reagir quando descobrir?
Espero que tenham gostado, não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs 😍
Bjinhosssss BF 💜💜💜
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top