17 - Confissões
Eu não acreditava naquela história de que quando uma pessoa sabe que chegou o seu fim, toda a sua vida passa diante dos seus olhos como um filme macabro. Até agora.
Os olhos atentos do meu pai observam cada movimento meu, incluindo minha garganta que sobe e desce com a saliva que tento tragar. Pelo menos ele não consegue perceber que meu coração samba descontroladamente dentro do meu peito, fazendo meu sangue correr dentro das veias, provocando um zumbido nos meus ouvidos.
Não sei o que dizer, por onde começar e muito menos como fazer para que ele não fique bravo comigo.
Suas mãos ainda estão sob as minhas e afasto-as com cautela para que ele não sinta como estou suando frio.
— Pai... -Sussurro completamente nervosa. Seu cenho franzido deixa bem claro de que não adianta sequer eu tentar inventar uma mentira. Provavelmente ele já sabe de tudo e só está me testando. — Ok. Sim, ele dormiu no meu apartamento, mas não é isso que está pensando. -Confesso finalmente.
Seus lábios se apertam em uma linha fina e tensa, e meu coração se detém por um milésimo de segundo.
— E o que eu estou pensando, querida? -Indaga com a voz séria.
— Não sei... olha, eu vou te contar tudo, só por favor não pense coisas erradas sobre mim. -Peço cada vez mais nervosa. Sua cabeça balança para cima e para baixo ao mesmo tempo em que ele deixa escapar um suspiro expectante.
Imediatamente começo a dizer o que aconteceu a partir do momento em que Benjamin chegou na festa, como ele me impediu de dar uns tapas naquele idiota e depois me acompanhou até o apartamento, me ajudando a chegar até minha cama por conta do meu deslize.
Obviamente omito várias informações, como por exemplo, o fato de que eu virei o pé porquê estava muito bêbada para enxergar o maldito caminho ou o beijo no dia seguinte.
— Benjamin não deveria ter dormido no meu sofá, pai. Pelo que entendi, ele foi responder alguma mensagem e acabou pegando no sono sem perceber. -Finalizo e espero pacientemente que o homem na minha frente tire suas conclusões.
Seus olhos se fecham e ele puxa uma longa respiração pelo nariz antes de responder.
— Tudo bem, eu acredito em você.
Escutar essa frase faz com que todas minhas terminações nervosas se relaxem.
— Obrigada pai, eu...
Paro de falar ao ver sua mão levantada e seu rosto ainda sério.
— Disse que acreditava em você, não que estava de acordo ou feliz com isso. -Engulo seco sentindo uma vontade enorme de chorar. Se tem algo que eu definitivamente não gosto, é deixar meus pais tristes por qualquer coisa.
— Sinto muito, papai. Não vai acontecer novamente. -Sussurro envergonhada. Tento não deixar que algumas lágrimas escapem pelas minhas bochechas evidenciando a garotinha que sou.
Ao ver o meu estado, seu olhar se suaviza e seus dedos enroscam nos meus outra vez.
— Violet, eu não vou te proibir de levar amigos no seu apartamento. Você já é praticamente uma adulta e deve se responsabilizar por suas escolhas e decisões, a única coisa que eu quero é que tenha cuidado, filha.
— Eu entendo. Acredite em mim quando digo que eu levei um baita susto ao ver o idiota deitado no meu sofá. -Murmuro irritada lembrando do acontecido.
Não deveria ter permitido que Benjamin subisse comigo, muito menos que entrasse até o meu quarto. Teria evitado toda essa situação constrangedora, e também aquele beijo.
— Pensei que eram amigos de novo. -Papai observa com uma sobrancelha levantada.
— Ainda o odeio. Só estamos... dando uma trégua, já que ele é meu tutor nessa porcaria de programa. -Explico e confesso que ver o enorme sorriso no rosto do meu pai acaba me pegando desprevenida. — Posso saber o motivo de estar rindo? -Cruzo os braços começando a substituir o sentimento de vergonha por irritação.
— Senti saudade dessa rinha de vocês, sabia? Era tão engraçado ver como os dois brigavam de manhã e de noite já tinha esquecido do motivo da briga. Eu e sua mãe costumávamos apostar com Lucy sobre quanto tempo durariam bravos um com ou outro. -Confessa e nego com a cabeça me sentindo nostálgica e zangada ao mesmo tempo.
— Espero que pelo menos tenha ganhado alguma grana em cima da gente. -Resmungo me levantando. Papai faz o mesmo, atraindo a atenção de várias pessoas ao se erguer. Ele veio com sua típica jaqueta de couro, porém como está um pouco quente, foi obrigado a se desfazer da peça, deixando à mostra os braços tatuados.
Caminho até ficar ao seu lado e nos abraçamos por um bom tempo.
Aproveito para receber todo o seu carinho, sem me importar com que me vejam. Depois que comecei a morar sozinha, sinto muita falta deles dois, dos seus abraços e das noites de filmes com muita pipoca.
Daria tudo para voltar a ser a pequena Violet que corria para os braços do papai quando se sentia triste por algo ou quando simplesmente precisava de uma amostra de afeto sem nada em troca.
Ser adulto é um saco mesmo.
Seus dedos afagam meus cabelos soltos e respiro fundo para não chorar outra vez.
Lembranças dos tempos em que bastava apenas uma palavra para que ele viesse correndo me amparar e cuidar de mim, invadem minha mente.
Será que vale mesmo a pena morar naquele apartamento?
Chego a abrir a boca para dizer que não quero mais o aluguel, que prefiro voltar para casa e passar mais tempo com eles, no entanto, quando penso que talvez toda essa ideia seja também um descanso para os dois, acabo desistindo.
— Gostaria de ficar mais tempo, mas preciso voltar para o trabalho, filha. -Papai diz em um suspiro.
— E eu tenho uma aula daqui dez minutos. -Ressopro confirmando a hora no celular.
— Muito bem. Não se esqueça de nos ligar quando estiver em casa. Espero que não tenha nenhum garoto dessa vez. -Brinca e sorrio nervosa novamente.
— Prometo! Obrigada pela visita pai. -Beijo sua bochecha e o acompanho até a sua moto.
Ele desaparece em questão de segundos e caminho lentamente até a o bloco onde passaremos nossa próxima aula.
Um turbilhão de pensamentos invadem minha cabeça, me distraindo de tudo e todos ao meu redor. Sabia que ele tinha percebido que algo estava errado quando me engasguei com a porcaria do chá, cuja única função era me tranquilizar, mas que acabou me entregando.
Levo os dedos até minha boca e toco a pele macia, quase como se pudesse sentir o sabor dos lábios daquele idiota.
O pior de tudo, é que todas as pessoas que eu conheço, parecem estar conspirando a seu favor. Brenda, Beck, Lucy, até mesmo minha mãe. O que deu neles?
Já não basta eu ter que lutar contra mim mesma para deixar toda essa droga de briga para trás, agora tenho que aguentar a todos tentando me convencer de que o garoto merece uma segunda chance.
Tantas vezes desejei apenas que ele viesse até mim e me contasse tudo, que dissesse o que diabos aconteceu e quando ele não veio, acho que meu coração foi ficando cada vez mais e mais desapontado.
Essa falta de coragem dele me estressa e eu só não o pego pelo pescoço e o obrigo a botar para fora tudo, porque não seria correto. Apesar de odiar essa situação, eu ainda respeito sua decisão de não me dizer nada, no entanto, como deixei bem claro: só espero que quando ele resolver abrir a boca, não seja tarde demais.
Conforme a aula vai passando e o momento de me reunir com Benjamin se aproxima, meus batimentos cardíacos vão se acelerando, quase me levanto a um infarte.
Okay, não tanto assim, mas estou nervosa.
Algo mudou dentro de mim desde que nos beijamos e não consigo identificar o que é.
Passo boa parte do dia criando mil e uma desculpas para não comparecer a essa reunião estúpida e Brenda só falta me dar uns tapas.
A loira, que me encheu de perguntas sobre o meu pai durante a tarde inteira, não para de falar como eu sou sortuda e teve até a cara de pau de perguntar se eu não tinha algum tio
E quando contei que sim tenho um, mas ele é muito bem casado e que a tia Kenny é dona de uma enorme academia de defesa pessoal, ela desistiu da ideia rapidinho, alegando que prefere o Beck mesmo.
Minha gargalhada foi tão alta, que quase fomos expulsas da sala.
— É sério, Foxy, a família de vocês tem uma genética filha da puta. -Exclama vendo pela décima vez a foto do meu tio segurando o cinturão de MMA em uma das suas lutas. — Não acredito que você é sobrinha de um cara famoso. -Brinca e sorrio tímida.
— Não conte para ninguém por favor. Além do mais, ele nem é tão famoso assim. -Desconverso.
Brenda balança a cabeça efusivamente e me dá todo um sermão sobre como meu tio é número um nos top trendings do twitter, ou sobre suas vitórias consecutivas e tudo mais.
A garota enche tanto a minha paciência, que por um instante, chego a desejar que Benjamin me ligue para que nos encontremos logo.
E como se ele estivesse adivinhando meus pensamentos, meu celular vibra indicando a chegada de uma nova mensagem e ao abrir e ler o conteúdo, acabo soltando um suspiro desanimado.
— Caramba, pelo visto eu estou te importunando, não é mesmo? -Sorrio ao ver sua expressão culpada.
— Fique tranquila que não é nada com você. -Afirmo sem desviar os olhos da frase curta no aplicativo de mensagens.
— Então o que é? -Indaga curiosa tentando ver a tela do meu celular. — Rá, eu sabia que você estava doidinha para se encontrar com ele de novo. -Exclama lendo minha conversa com Benjamin.
— O quê? Claro que não! -Guardo o aparelho dentro da bolsa pendurada no meu ombro.
— Tem certeza? Porque esse suspiro aí diz totalmente o contrário.
— Eu só não gosto de mudanças de planos, Brenda, só isso. -Tento despistá-la mas a garota não vai dar o braço a torcer.
— Fala sério Violet, você passa o dia inteiro dizendo que não quer encontrar com o garoto, mas quando ele envia uma mensagem desmarcando a reunião, dá pra ver até da esquina o quanto ficou triste com a notícia. Querida, sinto muito te informar, mas você não engana ninguém com esse "ódio" todo.
— Brenda, por favor... isso não faz o menor sentido. -Murmuro.
Escapo até o banheiro com a desculpa de que preciso fazer xixi e fecho a porta de uma das cabines, respirando fundo algumas vezes.
Retiro o celular da bola e releio a mensagem que acabo de receber.
"Vi me desculpe, mas não poderei me reunir com você hoje. Algo urgente surgiu, estou indo embora agora. Se quiser podemos combinar de nos encontrarmos mais tarde em algum café. Qualquer coisa me avise, até mais..."
Suspiro outra vez e quase solto um grito.
O que está acontecendo comigo?
NOTA DO AUTOR
Não mores, eu não esqueci do cap de hoje 😂😂
Bem na vdd eu esqueci sim... Nem ia postar pq não tava pronto, mas aí eu consegui acabar e deixei preparado pra postar, só que eu fui fazer um bolo de laranja e aí sim eu esqueci mesmo de postar kkkkkkkkk
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar e vou avisando que a partir de agora as coisas vão ficar um pouco mais... movimentadas, vcs vão amar🤭
Nos vemos na quarta feira!
Amo vcs 💘
Bjinhossss BF 💜💜💜
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