16 - Descobertas IV

⚠️AVISO! ESTE CAPÍTULO CONTÉM GATILHOS SOBRE: ASSEDIO SEXUAL
LEIA COM DISCRIÇÃO⚠️

Oh por Deus, Brenda! E-eu sinto muito. -Só de imaginar o terror que ela deve ter passado, meu corpo inteiro treme e seguro suas mãos em um apoio silencioso. — Não precisa contar nada, se não quiser. -Murmuro com os olhos lacrimejantes.

— Okay, antes de mais nada, não é só você que odeia os olhares de pena. Por esse motivo eu não digo o que aconteceu para ninguém. -Afirma, soltando suas mãos das minhas e balanço a cabeça compreendendo perfeitamente o que ela quer dizer. — E pode ficar tranquila, Violet, que eu já superei e enterrei essa merda onde ela pertence: no passado.

Como eu gostaria de ter a confiança e determinação da garota que me encara com o cenho franzido nesse exato momento.

Ela parece ser capaz de ler o que se passa dentro da minha mente, já que se aproxima do meu corpo e volta a entrelaçar seus dedos nos meus antes de prosseguir.

— Olha, eu vou encurtar a história porque sinceramente não vale a pena você se preocupar com isso. -Suspiro me preparando mentalmente para conhecer um lado de Brenda que ela obviamente tenta esconder com todas as suas forças. — Quando eu terminei a escola, estava tão animada para a faculdade, que a partir do momento em que comecei a estudar, quis ser a melhor aluna. Não disse para ninguém que meu pai era o reitor, já sabe, para que não me dessem méritos apenas por ser sua filha, então eu fazia tudo o que os professores pediam; Admito que puxei bastante saco deles a tal ponto em que algumas vezes até trouxe café para os otários. Eu era tão inocente que realmente não entendia que eles apenas estavam se aproveitando dessa minha ingenuidade. -Aperto sua mão, a raiva se alastrando cada vez mais pela minha corrente sanguínea. — Um belo dia, um dos professores me pediu que o ajudasse a levar alguns documentos até a sua sala e eu, como sempre, me prontifiquei a atender o seu pedido. Ao chegar lá, ele insistiu para que eu me sentasse, pois provavelmente estaria cansada, então ele iria me trazer um copo de água. -Ela nega com a cabeça e um sorriso amargo se forma nos lábios carnudos pintados com um batom vinho, quase roxo. — Mas em vez de fazer o prometido, o maldito trancou a porta e se sentou ao meu lado. Eu não percebi nada, Violet, juro que a ficha só caiu quando seus dedos nojentos subiram pela minha coxa até a barra do vestido que eu estava usando naquele dia caloroso. -Minha cabeça gira e tenho que me controlar para não obrigá-la a me dizer quem é o filho da puta para arrancar suas bolas e fazê-lo se engasgar com elas.

Seu olhar agora está tão perdido que sequer tenho coragem de impedi-la de continuar. É como se ela precisasse disso, de se abrir para alguém e finalmente deixar ir todo esse peso que ela com certeza carregou nos ombros, por mais que diga que já superou.

— Ele me perguntou se eu gostaria de subir no status da universidade, me garantiu que poderia me ajudar com o que eu quisesse, sempre e quando eu... devolvesse o favor. -Suspira. — Eu me levantei da cadeira tão rápido que ela até caiu no chão. Foi quando ele tentou me beijar. Nesse instante eu juntei cada maldita grama de força que eu tinha e lhe disse com a voz calma, que se ele não me deixasse sair, eu iria gritar até que alguém aparecesse e como o imbecil era alguém importante aqui dentro, ele não quis se arriscar por uma vadia como eu, segundo suas próprias palavras. Pena que a vadia era filha do reitor. -Sorri, dessa vez orgulhosa. — Depois que ele me liberou, eu fui direto correndo para o escritório do meu pai e lhe contei o ocorrido. Imediatamente ele começou um processo administrativo contra o professor. E sabe o que foi pior? -Nego com a cabeça. Como isso poderia ficar pior, por Deus? — Ao saber do processo, várias garotas testemunharam contra ele, denunciando-o conjuntamente. Eu não fui a primeira, Vi. E com certeza não seria a última se não tivesse denunciado. Ele foi preso semanas depois e os apitos foram implementados como medida de defesa pessoal para as garotas. Pelo menos algo bom saiu de toda essa merda.

— Brenda... eu realmente sinto muito por tudo o que você passou. Não sei como teria reagido se tivesse acontecido comigo. Admiro sua força para seguir adiante. -Abraço seu corpo esguio e ela sorri alisando meu rosto carinhosamente.

— Sabe porquê resolvi te dizer? -Nego outra vez. — Foxy, eu não superei de um dia para o outro. Precisei de muita terapia para deixar de me culpar e entender que eu não tive nada a ver com o que ele fez. Tantas vezes pensei que se eu talvez não tivesse ido com aquele vestido, isso não teria acontecido. Depois de algumas sessões, eu finalmente aceitei que o problema não era eu, e sim ele. E você também tem que entender isso. O acidente não foi sua culpa...

— E-eu não acho que é...

— Não adianta negar, Violet. Eu sei que você se culpa sim. Mas não foi você que resolveu beber e depois dirigir nesse estado. Não foi você a irresponsável, e sim o infeliz que bateu em vocês. -Uma pequena lágrima escorre pela minha bochecha, se perdendo na gola da minha blusa.

— Odeio ter que admitir, mas você tem razão. -Suspiro resignada. Minha psicóloga sempre me disse a mesma coisa, é só que era tão mais fácil me culpar. Eu já estava acostumada.

— Agora, com relação ao Benjamin, eu não sei o motivo dele ter sumido, no entanto, acho que você deve perdoá-lo e seguir em frente. Não por ele, mas por você. Toda essa mágoa não te faz bem. Converse com ele, dê a chance dele se explicar e se no final das contas, ele não te convencer de que merece sua amizade outra vez, só... deixe isso para trás. Pelo menos você vai saber que tentou. Aquele garoto só falta beijar o chão que você pisa, só você não percebe isso. -Conclui. Um calafrio me atinge e as imagens do nosso beijo na minha cozinha me acertam em cheio sem que eu consiga impedi-las a tempo.

— Obrigada por se abrir comigo, eu aprecio muito a sua confiança e pode ter certeza que não contarei para ninguém. -Prometo.

— Eu sei que não vai, amiga. Caso contrário, não teria te contado. -Afirma sorrindo suavemente.

— O-o que aconteceu com as outras meninas? -Engulo seco sentindo o sabor amargo na boca.

— A denúncia e testemunhos foram anônimos para preservar a integridade delas. Ninguém sabe os nomes das vítimas. É melhor assim. Você é a primeira pessoa para quem eu conto a verdade e para ser sincera, me sinto muito mais leve. -Confessa encostando a cabeça no meu ombro. Afago seus cabelos loiros e ela suspira algumas vezes, recuperando o ar e provavelmente a calma.

De repente sinto que preciso protegê-la do mundo, embora ela obviamente possa fazer isso sozinha à essa altura.

— Brenda, se você precisar de mim, me ligue por favor. Não importa a hora, eu vou atender. -Ofereço verdadeiramente e ela suspira baixinho.

— Antes de que você chegasse, eu não tinha amigas, sabia? Nenhuma garota me suportava para dizer a verdade. -Ri para si mesma. — Eu amei te conhecer, Violet Cross. -Seus olhos se perdem na multidão de alunos que caminha sem parar, cada um no seu próprio mundo, com seus próprios problemas.

Meus olhos se enchem de lágrimas outra vez e esfrego-os para disfarçar o quão emocionada fiquei com suas palavras.

— Eu também amei te conhecer, Brendastica. -Engasgo ainda comovida.

— Ufa, agora chega de tristeza. Precisamos de um plano para descobrir tudo sobre aquela delícia chamada Benjamin. -Como era de se esperar, a garota dá um pulo e começa a andar de um lado para o outro, realmente concentrada.

— Pode parar por aí. Não vamos fazer nada. Como Beck disse, se ele quiser me contar, ele vai fazê-lo. Além do mais, cansei de correr atrás de respostas.

— Assim não tem graça, Foxy. -Cruza os braços fazendo pirraça e sorrio tentando afastar a ideia de como alguém pode querer fazer mal a ela. Não que outras pessoas mereçam ser assediadas, é que Brenda é tão... Brenda. — Pelo menos me conte bem como foi o beijo, quero saber tudinho. Porque, me desculpe, mas Benjamin tem cara de que sabe como deixar uma garota maluca. -Seus olhos brilham animados e resolvo lhe dar essa informação para que possamos esquecer, nem que seja por uns instantes, o desabafo de mais cedo.

— Tudo bem, eu vou contar. -Me endireito no banco. — Você tem razão, aquele idiota sabe beijar. Merda, eu quase... -respiro fundo sentindo minhas bochechas queimarem -droga, no momento em que seus lábios tocaram os meus foi como se nada mais existisse. E suas mãos apertavam minhas pernas de uma forma que eu quase derreti ali mesmo. -Confesso envergonhada. Não queria sentir isso. Não queria reconhecer o quanto me senti tentada a lhe implorar que não parasse de me tocar. Quando seus dedos delinearam a cicatriz na minha perna, quase como uma reverência, meu coração bateu tão rápido que parecia que ia explodir a qualquer momento.

— Caramba, eu sabia. Não é à toa que as meninas querem ficar com ele e... -Seus olhos se arregalam ao perceber o que acabou de falar. — Oh, desculpe, eu não quis, já sabe... -Murmura sem parar.

— Benjamin e eu não temos nada, Brenda. Não precisa se preocupar.

— Amiga, anota o que estou te dizendo, vocês ainda não tem nada e só por sua culpa, porque se fosse pelo Benji, já estariam até casados, com dois filhos e um cachorro. -Afirma resoluta.

Solto uma gargalhada tão alta que sinto minha garganta doer.

Não sei o que responder para sua ideia maluca e dou graças aos céus por nossa aula já estar quase começando.

— Vamos, sabe que Jhonson odeia atrasos. -Puxo seu braço arrastando-a até a sala.

Sua expressão emburrada me diverte e não consigo evitar sorrir ainda mais.

Durante toda a aula, não paro de pensar que talvez nós precisávamos nos encontrar. Duas pessoas feridas em busca de um descanso de toda essa porcaria.

— Olha, se essa mulher disser mais uma vez que fez doutorado na Itália, eu vou começar a fazer perguntas sobre o Coliseu de Roma, as Doze Tábuas e falar em italiano para ver se é verdade mesmo. Eu heim... -Brenda novamente reclama e como sempre, dou risada das suas birras.

Por um lado ela está certa. A professora não parou de dizer sobre sua aventura na terra da pizza e a aula praticamente passou sem que aprendêssemos algo importante.

O caminho até o restaurante é feito em poucos minutos já que o bloco em que estávamos é bem perto, para o meu alívio.

Ainda não estamos no horário do almoço, mas preciso comer algo para poder tomar o meu remédio para a dor na perna, e Brenda até já se acostumou com isso. Tanto que às vezes ela é quem me lembra de fazer um lanchinho entre as aulas.

Passo o olhar pelo lugar meio vazio sem entender realmente a quem estou procurando e me decepcionando ao não achá-lo.

— Oh por Deus, Beck me mandou uma mensagem! -Minha amiga sussurra perplexa, como se não soubesse que ele faria exatamente isso.

— Eu sei é só que me pegou de surpresa do mesmo jeito. -Sorri para a tela do celular.

Ela responde qualquer coisa enquanto eu faço o meu pedido.

Opto por um sanduíche de peito de peru e um suco de laranja.

Outra vez acabo lembrando do dia em que Benjamin comprou do mesmo e mudo o sabor para maracujá. Definitivamente preciso me acalmar.

Comemos em um silêncio confortável, minha amiga concentrada em falar com Beck por mensagem e eu pensando em como farei para evitar me encontrar com Benjamin hoje.

Tinha me esquecido completamente da nossa tutoria e agora estou com medo de vê-lo a sós de novo.

"Se eu disser que me arrependo, estaria mentindo".

A frase rodopia uma e outra vez na minha cabeça, e um turbilhão de sentimentos me invade. Me sinto no meio de uma tempestade, sem saber para onde ir ou como se proteger desse furacão que insiste em me perseguir para onde quer que eu vá.

E se Brenda, Beck, e até mesmo Lucy tiverem razão? Será que estou sendo muito dura com Benjamin? Deveria chamá-lo para conversar como adultos? Colocar os pingos nos is?

Não! Não posso me deixar influenciar pelos três. Preciso me manter firme, caso contrário, vou acabar me ferrando outra vez.

Mastigo várias vezes antes de engolir e enfio o enorme remédio goela abaixo, bebendo uma boa quantidade de suco.

Uma vez que terminamos de comer, jogamos tudo no lixo e voltamos para o jardim na entrada da universidade. Sentamos na grama fresca aproveitando um pouco do ar puro antes da próxima aula.

Jogo Candy Crush no celular para me distrair e afastar certa pessoa dos meus pensamentos enquanto minha amiga continua trocando mensagens.

— Oh por Deus, que gato! Quem é esse homem? Beck não chega nem aos pés desse deus grego. -Brenda murmura sacudindo meu ombro sem parar, me obrigando a pausar o jogo para ver a quem ela se refere.

Seus dedos apontam para uma pessoa descendo de uma moto muito semelhante à minha e eu engulo seco me levantando imediatamente.

— Droga, Brenda, é meu pai! -Caminho até ele, que me abraça assim que me vê.

— O que está fazendo aqui? -Indago animada.

— Não posso mais visitar meu bebê na faculdade? -Sorri passando o braço pelos meus ombros. Minha amiga aparece em seguida e apresento-a, me segurando para não rir da sua expressão abismada.

— Prazer querida. Então você é a amiga que minha filha tanto fala. -Ele segura sua mão e Brenda só balbucia palavras sem sentido. Por alguns segundos fico com pena dela.

Ayden Cross é assim. Onde chega, chama a atenção. Imagino como ele era quando estudava.

— Meu amor, eu vim porque estava por perto e queria conversar com você. Já ia te ligar, mas você acabou facilitando para mim. Está livre agora? -Explica e balanço a cabeça sentindo meu estômago se revirar de ansiedade. O que será que ele quer falar comigo?

— Hã, eu... vou indo nessa então. Me liga quando terminar, Foxy. Adeus senhor Cross. -A loira praticamente escapa nos deixando sozinhos.

Guio meu pai até uma mesa afastada e nos sentamos no banco de cimento.

Ele observa tudo ao nosso redor, com seu típico olhar perspicaz até que seus olhos pousam em mim novamente.

— Vai me dizer sobre o quê queria conversar, pai? -Indago impaciente.

Ele solta uma respiração e sorri segurando meus dedos por cima da mesa fria.

— Querida, um dos motivos pelo que resolvi te encontrar aqui, é que quero saber primeiro se estou certo, sem que sua mãe desconfie de nada. Sabe que não consigo mentir para ela. -Esclarece e balanço a cabeça.
— Quando estávamos conversando com Lucy no outro dia, eu percebi a sua reação no momento em que ela falou sobre Benjamin não ter dormido em casa. Antes de mais nada, eu não vou brigar com você, só preciso saber se minhas suspeitas estão certas. Ele dormiu no seu apartamento, verdade? 

NOTA DO AUTOR

Não, vcs não estão malucos kkkk
Postei mais cedo pq senão iam me bater 🤣🤣🤣

Bom, o capítulo de hoje foi tenso, porém necessário.
Antes de mais nada quero deixar bem claro pra vcs:
Todo tipo de abuso/assédio deve ser denunciado.
Não existe um grau de intensidade.
Se você se sentir assediado, converse com alguém de confiança, peça ajuda, grite, faça o que estiver ao seu alcance, mas não fique calado.
Não tenha medo, todos estamos com você.
Agora bem, apesar de ser um assunto delicado e que com certeza merece mais debate, ele não é o tema principal da obra, portanto vamos fechar esse tópico aqui.

O que acharam do capítulo de hoje? Violet está no sal será?

Não se esqueçam de votar e comentar, nos vemos segunda feira.

Amo vcs 😍
Bjinhosss BF 💜💜💜

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