09 - Um lugar especial
Admito que saber sobre o aparecimento do pai do Benjamin me deixou desconcertada.
Pensei que ele jamais conheceria o filho e quando disse que ficava feliz pelo meu amigo, não menti.
Sei que isso foi uma das coisas que ele quis durante toda a sua vida e por mais que soubesse que era amado, a falta do pai o afetava bastante.
Os dias que seguiram depois da sua revelação até que foram algo tranquilos. Tivemos várias reuniões depois das aulas e ele se comporta sempre de uma maneira estritamente profissional. Ao que tudo indica, Benjamin se cansou de tentar conquistar minha amizade de volta e embora eu tenha pedido isso desde que o encontrei pela primeira vez depois do acidente, confesso que fiquei algo... desapontada.
Mas talvez seja melhor assim. Não quero voltar a confiar nele e correr o risco de ser machucada outra vez, é só que não posso negar que sinto falta do meu amigo.
Ele sempre esteve comigo, não importa o que estivesse acontecendo, Benjamin Saito sempre esteve ao meu lado.
Um sorrisinho se forma nos meus lábios ao lembrar de todas as loucuras que fizemos e como deixávamos nossos pais furiosos e preocupados, apesar de jamais termos coragem de cometer algo realmente perigoso.
Minha vida era completamente diferente antes do acidente e ainda que eu seja muito agradecida por ter saído viva de toda essa merda, gostaria de ter tudo o que eu tinha e ser feliz outra vez.
Porém, infelizmente, é como dizem por aí: querer não é poder.
Tomo um banho demorado para lavar toda essa sensação nostálgica do meu corpo e depois de tomar um café na velocidade da luz, saio em disparada para a universidade, chegando em tempo recorde.
É sexta-feira e todos ao meu redor exalam essa animação irritante.
As garotas sussurram animadas sobre o que vão vestir para alguma festa, dando mais significância para isso do que o realmente necessário.
Como se os garotos tropeçando de bêbados vão ser capazes de notar a cor do sutiã ou das suas calcinhas.
Por falar nos garotos, estes por sua vez, discutem temas completamente diferentes que vão desde que bebida comprar para as festas até que marca de camisinha é melhor.
Pelo menos estão se protegendo e isso é o que importa.
Depois de alguns minutos, acabo entrando nessa atmosfera animada e no momento em que Brenda aparece na minha frente quase explodindo de tanto entusiasmo como sempre, consigo achar graça da situação, até que ela abre a boca.
— Não mesmo, Brenda. -Reviro os olhos diante da sua ideia mirabolante.
— Qual é Foxy, você está há mais de um mês aqui e não foi a nenhuma festa! -Solto uma gargalhada para o seu biquinho ridículo, mas ela se mantém séria dessa vez.
— Sabe que uma parte do acordo com meus pais, é voltar para casa nos finais de semana, Brenda. -Uso o acordo como desculpa, mesmo sabendo que provavelmente eles nem ligariam e até me incentivariam a ir para essa bendita festa.
— É só você dizer que tem alguma tarefa ou algo assim e que vai voltar amanhã! Por favorzinho Violet, eu quero muito ir, mas não tenho ninguém para me acompanhar. -Suas mãos apertam meus ombros e me sacudem levemente.
— Vou pensar. Não garanto nada, ok? -Respondo mais por tirá-la de cima de mim, do que por vontade de ir mesmo.
E me arrependo amargamente de ter dito que iria pensar.
Brenda não me deixa em paz durante todo o dia.
Na hora do almoço ela só fala em como o cara que mora na casa onde será realizada a festa é bonito, nas bebidas que ele sempre oferece e nas pessoas que costumam comparecer a esse tipo de eventos.
Meu ouvido arde de tanto escutá-la e minha vontade é gritar para que ela se cale por um minuto e me dê um pouco de paz, entretanto, acabo fazendo completamente o contrário.
— Está bem, Brenda! Eu vou, se você parar de me azucrinar com isso! -Grunho alterada e a loira me abraça apertado soltando vários gritinhos.
Me acostumei tanto a ter um melhor amigo homem, que há momentos em que não sei lidar com Brenda.
Por que as garotas têm que ser mais escandalosas?
— Depois da aula vamos até minha casa para nos arrumar juntas, o que acha? Posso pedir uma carona para papai e... -Ela começa e sinto meu corpo inteiro arrepiar.
Brenda não sabe que não consigo entrar em um carro sem ter um ataque.
— É melhor nos arrumarmos no meu dormitório, não acha? É mais perto. -Sugiro e ela arregala os olhos.
— Verdade, como não pensei nisso! A casa do Mike é pertinho do seu edifício. -A garota estapeia a própria testa e caio na risada com o movimento.
— Está combinado então. Vou enviar uma mensagem para os meus pais. -Retiro o celular do bolso e faço o que prometi, recebendo uma resposta positiva como era de se esperar.
A única coisa que eles me pediram, é para ter cuidado e não aceitar bebidas de estranhos.
Bem que eles poderiam ser um pouquinho mais rígidos e sei lá, me impedirem de ir, me castigar, qualquer coisa serviria agora.
Como prometido, Brenda não toca mais no assunto e nossa aula ocorre normalmente.
Por fora estou tranquila, o problema é que por dentro estou a ponto de ter um infarte.
É a primeira vez em muito tempo que vou em uma festa e sequer lembro de como é a experiência.
Fiquei tantos meses trancafiada dentro de casa, que acabei me desacostumando a ter uma vida social.
Pelo resto das aulas, minha amiga loira estava se segurando para não extravasar a animação contida dentro do pequeno corpo torneado, me fazendo pensar que talvez ela, assim como eu, não vai a uma festa há mais tempo do que quer admitir.
— Achei que aquela mulher não ia parar de falar nunca, meu Deus! -Ela reclama pela milésima vez depois de que fomos liberados.
Suspiro me sentindo exatamente da mesma forma que ela. Verônica é uma mulher extremamente inteligente e adora reafirmar seus conhecimentos.
— E você viu a cara que ela fez quando eu perguntei qual era a diferença entre conduta culposa, dolosa e se o dolo eventual era o mesmo que a culpa consciente. Eu juro que pensei que ela ia pular no meu pescoço. -Bufa nervosa. — Como se fosse um crime fazer perguntas! -Exclama por último e acabo rindo do trocadilho que ela fez sem nem perceber.
— Calma, Brendastica, a aula já acabou. Guarda essa agitação toda para a festa. -Murmuro procurando meu celular dentro da bolsa ao mesmo tempo em que trato de não tropeçar nos meus próprios pés.
Tocar no tema festa acaba deixando a garota mais tranquila, para o meu alívio.
Chegamos na enorme área verde na parte de trás da faculdade e nos sentamos na grama usufruindo dos últimos raios de sol.
Basicamente todos os alunos usam essa parte para descansar, passar o tempo, estudar e até mesmo fazer tarefas que envolvem a paisagem.
A George II fica localizada bem no pé de uma enorme montanha, o que lhe dá um aspecto maravilhoso além de que respiramos ar puro o dia inteiro por conta da distância com a civilização.
Meu celular vibra depois de quase meia hora e resmungo um palavrão ao ver o destinatário e o conteúdo da mensagem.
"Estou livre se quiser que nos reunamos agora, assim você pode ir embora mais cedo." -Idiota
— Ih, me esqueci que você ainda tinha que fazer a tutoria hoje. -Viro para o lado e pego Brenda quase em cima de mim lendo descaradamente a mensagem no meu celular.
— Ler conversas alheias é feio, sabia? -Repreendo e ela simplesmente dá de ombros sem nenhum arrependimento.
— De todas formas, eu tenho que ir até a minha casa para buscar alguma roupa e maquiagem. O que acha de nos encontrarmos na entrada quando você acabar com Benjamin? -Sugere e não me resta outra alternativa que concordar.
Envio uma resposta breve para meu tutor explicando onde estou e ele me pede para esperar no lugar.
Brenda se levanta e estende a mão para me ajudar a fazer o mesmo.
Caminhamos até parar debaixo de uma sombra e esperamos que Benjamin apareça, o que surpreendentemente não demora muito.
— Como estão, meninas? -Ele pergunta cumprimentando primeiro Brenda com um beijo na bochecha e a mim apenas com um aceno de cabeça.
Seus dois amigos aparecem no seu encalço e a loira ao meu lado só falta desmaiar.
Acho que ela nunca recebeu tanta atenção assim na vida.
— Estamos ótimas, Benji. -Brenda responde manhosa e observo-a com a sobrancelha levantada carregada de ironia.
Minha amiga finge que nem percebeu o movimento e continua seu show.
— Oi Matt, oi Beck. -Estende a mão para cada um e apenas Beck tem a decência de devolver o movimento.
Definitivamente odeio Matt.
Os três começam a conversar sobre coisas totalmente irrelevantes até que perco a paciência e solto um suspiro pesado.
— Vamos então, Vi? -Benjamin pende a cabeça para o lado percebendo minha indireta.
— Como queira. Me manda mensagem quando estiver de volta, Brenda. -Murmuro.
Coloco a bolsa no ombro e dou um abraço em Brenda, ainda distraída com os dois garotos.
— Não demore muito, Vi! Não podemos nos atrasar para a festa. -Ela grita quando estamos pelo menos a uns dez passos de distância.
Opto por não dizer nada e começo a andar em direção à biblioteca, como sempre.
— Hoje vamos para outro lugar, se não se importar. -Olho apreensiva para os dedos que circulam meu punho de maneira despretensiosa.
— Por que isso?
— Não sei... não quero ficar dentro de um local fechado, ainda mais hoje que está meio abafado. Além do mais, quero te mostrar um lugar que acho que você vai gostar. -Diz ansioso.
Dessa vez não discuto. Realmente não estou a fim de brigar e ver o alívio no rosto do garoto me deixa pensativa.
Tratei ele tão mal todo esse tempo, que acabei criando uma espécie de bruxa que causa temor cada vez que ele conversa comigo.
Caminhamos em silêncio pelo campus, cada um no seu próprio mundo e paramos apenas quando chegamos no que parece ser o lugar que ele queria me mostrar.
Confesso que estou impressionada.
Estamos em uma parte que ao parecer, quase ninguém sabe da existência e agradeço internamente por isso.
A pequena porção de floresta atrás dos enormes edifícios parece surreal.
Árvores tão altas que acabam criando uma espécie de telhado nos protegendo do sol e consigo até escutar o canto de alguns pássaros e talvez até outro animal por perto.
— Como chegou até aqui? -Indago verdadeiramente curiosa.
— Foi completamente sem querer. Um dia estava tentando fugir de uma garota maluca que me perseguia por todo lado e só fui andando, quando percebi, dei de cara com essa maravilha. -Explica sorridente.
Tanto Benjamin quanto eu sempre fomos amantes da natureza e começo a desconfiar se ele não está fazendo isso de propósito.
— Muito bem. Vamos começar então? -Jogo minha bolsa de qualquer jeito no chão e procuro um lugar mais ou menos limpo para me sentar.
Benjamin faz o mesmo e imediatamente inicia sua próxima aula.
— Eu sei que você provavelmente não vai precisar saber disso, mas eu sou obrigado a te ensinar, então hoje vamos aprender a como fazer os cálculos das notas para saber se você está na média ou se precisa de notas para passar, tudo bem? -Avisa retirando uma calculadora e um caderno de dentro da mochila. — Primeiro de tudo, você tem que saber que as notas se dividem em quatro grupos: provas, trabalhos, assistência e participação em aula. Todas as notas são ponderadas sobre cem pontos, sendo a média cinquenta e um pontos. -Começa e anoto tudo rapidamente. Ele espera alguns minutos até que eu termine antes de continuar. — Agora, cada grupo também é calculado sobre cem, por exemplo, vamos supor que você tire um total de quarenta pontos nas provas de uma matéria, sessenta na apresentação de trabalhos, cem em assistência e cinquenta em participação, o que te deixa com um total de duzentos e cinquenta pontos. Esses pontos serão divididos em quatro. -Seus dedos apertam os botões da calculadora enquanto ele fala e observo atentamente todos os seus movimentos concentrados. — Okay, temos uma média de sessenta e dois e meio, o que significa que você estaria aprovada caso tirasse essas notas. -Conclui.
— E se caso eu não conseguisse alcançar a média? -Mordo a unha e ele sorri animado. Definitivamente esse garoto gosta de explicar coisas.
— Se algum aluno não obtém os pontos necessários para aprovar a matéria, existem duas formas de conseguir mais notas, elas são chamadas de bancadas. Você tem direito a fazer duas provas para recuperar notas, em cada uma são feitas dez perguntas valendo dez pontos cada uma, somando um total de cem pontos. Imagina que você acabou ficando sei lá com quarenta e cinco pontos, o que significa que precisa de seis pontos para passar. Então você faz a primeira bancada e tem que acertar pelo menos seis perguntas das dez.
E se por um acaso, não consegue chegar aos seis pontos, pode fazer a prova da segunda bancada.
— Caramba, parece que realmente não querem que ninguém reprove. -Observo pensativa.
Sem que eu possa ao menos notar, Benjamin se aproxima do meu corpo e acabamos ficando encostados um no outro, como costumávamos fazer.
— A GII é uma universidade de prestígio e não gosta de ter índices negativos, mas não se engane, as bancadas são habilitadas apenas para aqueles que precisam de até vinte pontos para passar, mais do que isso é reprovação automática. -Seus dedos brincam com a caneta, rodopiando o objeto na mão, uma das suas manias e as lembranças invadem minha mente quase de imediato.
Sorrio sem querer pensando em como éramos malucos.
Como se o garoto estivesse experimentando a mesma epifania nostálgica, ele gira o rosto ficando de frente para mim.
— Lembra quando a gente matou aula para ir ver aquele filme que estava estreando no cinema? -Sussurra com um brilho nos olhos que me transporta ao passado contra a minha vontade.
— Sim, e no final das contas o filme foi horrível! Era algo de terror, acho que tinha a ver com uma bruxa... -Murmuro tentando recordar o nome do filme em questão.
— Isso! A última Bruxa. Sequer tiveram criatividade para criar um nome decente. -Caímos na risada e ao perceber esse pequeno deslize, fico séria outra vez.
— No final das contas, fomos para outro lugar no meio do filme. Você ainda me deve o dinheiro das entradas. -Brinco sem querer e ele franze o cenho.
— É verdade. Mas eu paguei o próximo, então estamos quites. -Devolve com a sobrancelha levantada.
Balanço a cabeça em uma negativa e faço uma careta.
— Odeio essa sua memória perfeita.
A reclamação vem acompanhada de um barulho com a língua e o garoto sorri ainda mais convencido.
— É claro que odeia... -Seus dedos agora sobem até o meu rosto e retiram alguns fios de cabelos que se soltaram do rabo de cavalo que fiz para estudar tranquilamente.
A essa altura, estamos tão próximos que consigo sentir sua respiração acariciando meu rosto levemente.
Seus olhos escurecem, as pupilas cobrindo quase toda a íris e ele umedece lentamente os lábios.
A cena parece saída de um filme antigo e fico ainda mais consciente da situação em que estamos, quando seus dedos descem pela minha bochecha até chegar no meu pescoço e puxam meu corpo lentamente para si.
Não sei o que fazer, como reagir e muito menos o que falar. Estou tão surpreendida que é como se as palavras estivessem se desintegrando uma por uma dentro da minha cabeça confundida.
Benjamin está cada vez mais perto e fecho os olhos me preparando para o que quer que aconteça.
NOTA DO AUTOR
Oláaaa amores da minha vida, como estão nessa
segunda maravilhosa???
Espero que tudo ótimo!
Hoje teremos capítulo duplo então aproveitem 🤩
O que estão achando da aproximação de VI e Benji?
As coisas parecem estar melhorando não é mesmo?
Não se esqueçam de votar e comentar, heim?
Amo vcs, 🥰
Binhosssss BF 💜💜💜
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