07 - Não foi minha intenção
Às vezes me sinto extremamente infantil e imatura por tratar Benjamin dessa maneira, é só que me sinto tão chateada por tudo o que ele fez, que simplesmente não consigo ser amável com ele.
Sinto que tenho direito de estar brava com ele até quando eu bem entender, por mais que seja cansativo guardar todo esse rancor.
O peso da mágoa está cada vez mais cobrando o seu preço e meu coração se desintegra cada dia com a saudade e a raiva misturados.
A última aula passa ironicamente voando, como se o universo quisesse que eu fosse me encontrar com Benjamin o mais antes possível.
Meu coração bate rápido dentro do peito acompanhando meus passos até a pequena sala vazia que combinamos de nos encontrar.
Como a biblioteca fecha cedo, tivemos que procurar outra opção e não gosto nada disso.
Lá seríamos vigiados pela secretária e por algum eventual aluno que estivesse em busca de conhecimento, já aqui, seremos só eu e ele.
Aperto a bolsa contra o meu corpo e observo os números e letras nas portas da sala até identificar a nossa.
Encontro a porta aberta e avisto Benjamin sentado na mesa do professor de frente para as janelas e de costas para mim.
Abro a boca para dizer que já estou aqui, porém desisto ao escutar a conversa que ele está tendo pelo telefone que acaba captando minha atenção, me deixando levemente curiosa.
— ...Tudo bem...eu sei, é meio complicado. -Diz em um murmuro abafado. — ... Só queria avisar que vou demorar um pouquinho para chegar. -Explica e solta uma risadinha me fazendo lembrar de como eu amava escutar esse som. — Quando eu terminar tudo aqui te aviso, ok? Também te amo. -Finaliza encerrando a ligação e aproveito para jogar minhas coisas na cadeira e de quebra fazer com que ele perceba minha presença com o barulho intencional.
Seu corpo gira rapidamente e seus olhos se estreitam ao se encontrar com os meus.
— Se quiser ir com a sua namorada, podemos nos reunir outro dia. Não tenho nenhum problema com isso. -Resmungo de braços cruzados desviando o rosto para o outro lado.
Se tem uma coisa que me desestabiliza é justamente tê-lo me encarando desse jeito, como se pudesse ver através de mim e ler todos os meus pensamentos.
Um sorrisinho de soslaio se forma nos seus lábios ao mesmo tempo em que se aproxima, parando a apenas alguns centímetros do meu corpo.
Seus dedos se levantam e percorrem um caminho até uma pequena porção de cabelo que insiste em se embrenhar na frente dos meus olhos e boca, colocando-a atrás da minha orelha em seguida.
Uso todas as minhas forças para não parecer afetada com esse simples gesto e empurro-o para longe.
— Estava falando com a minha mãe, Vi. Não tenho nenhuma namorada no momento. -Diz sorridente e reviro os olhos sentindo um alvoroço estranho na boca do estômago.
— Pois não dou a mínima para isso. E não se atreva a me tocar outra vez. -Protesto sentando na cadeira, fuzilando-o com o olhar.
Dessa vez ele me lança uma risada fraca e pega seus materiais em cima da mesa, sentando-se ao meu lado apesar de que acabei de afastá-lo.
Esse garoto perdeu o senso comum pelo visto.
— Vamos começar com os métodos de investigação, tudo bem? Você vai precisar saber como funcionam as diretrizes daqui para elaborar os trabalhos e não correr o risco de perder pontos por não estar no formato correto. -Solta procurando uma caneta na bagunça que ele chama de mochila.
Engatamos em uma longa e cansativa aula sobre como elaborar um trabalho científico, normas e regras do formato entre outras coisas. Benjamin me indica vários sites e bibliotecas virtuais confiáveis para fazer qualquer pesquisa que seja necessária e anoto tudo no caderno sem me atrever a olhar para ele.
Tinha me esquecido de como o garoto era inteligente e por um breve período de tempo, acabo esquecendo que não somos mais amigos e dialogamos como duas pessoas normais.
Se tem uma coisa que chama minha atenção, é ver alguém falando sobre um assunto específico, com um conhecimento notável. Me irrita conversar com pessoas que pensam que sabem algo e fazem de tudo para aparecer.
Benjamin sempre foi do primeiro tipo. Uma inteligência enorme e um coração maior ainda.
Sempre que podia, ele ajudava algum colega da escola com as tarefas sem nem ao menos cobrar nada em troca e com uma paciência invejável.
Era uma das coisas que eu mais admirava nele.
Por isso quando ele sumiu do meu radar, me senti como a pessoa mais miserável do mundo, porque sei que ele não é assim e até cheguei a cogitar a ideia de que eu tinha feito algo que o irritou até que me obriguei a aceitar de que eu realmente não tive nada a ver com a sua escolha.
— Está me escutando, Vi? -Sua mão balança na minha frente e foco meu olhar no seu rosto ridiculamente perto do meu.
— Infelizmente, sim. -Murmuro com a boca seca repentinamente.
Me afasto do seu corpo musculoso e me apego ao encosto da cadeira.
Seus olhos observam atentos cada movimento meu e suas mãos se apertam em punho.
Você mesmo provocou tudo isso, agora arque com as consequências.
Um suspiro sonoro escapa pelos seus lábios e ele se levanta de repente.
— Vamos descansar alguns minutos. -Declara pegando a carteira dentro da bolsa. — Vou até o restaurante, quer algo? -Oferece e nego rapidamente. Penso em brindar alguma resposta seca para o garoto, mas estou tão cansada que não tenho sequer ânimo para isso. — Tudo bem, já volto.
Uma vez que estou sozinha dentro da sala, me permito exteriorizar o que estou sentindo com toda essa droga de tutoria e Benjamin.
Tampo minha boca com as mãos e solto um gritinho abafado.
— Por que eu? Mas que porcaria! -Digo em um gemido esperando que ninguém me escute.
Ainda bem que a essa hora pelo menos metade dos alunos já foram embora, restando apenas aqueles que fazem parte do programa de tutorias assim como eu, ou que tem alguma atividade extracurricular.
— Que se foda! -Exclamo exasperada.
Pesco o celular dentro da bolsa e envio uma mensagem para meus pais perguntando como eles estão.
Como não obtenho resposta, envio uma mensagem para Brenda que me corresponde quase que imediatamente.
"Você deveria aproveitar o tempo com o gostoso do Benjamin, Foxy. Esse garoto é uma tentação viva."
Faço uma careta para a tela como se minha amiga pudesse me ver através do aplicativo de mensagens.
"Eu me sinto tentada mesmo, Brenda, mas a dar uns tapas naquele rosto." -Teclo a mensagem e ela envia um emoji desconfiado.
Continuamos jogando conversa fora até que o nosso assunto cruza a porta novamente.
Guardo o aparelho no bolso da calça e pego o caderno para anotar o que quer que ele me diga.
Uma garrafa de suco de laranja aparece bem na minha frente e levanto a vista encontrando Benjamin me fitando expectante.
— Eu disse que não queria nada. -Coloco o suco em cima da mesa e continuo fazendo absolutamente nada.
— É só um suco, Vi. Só beba, você deve estar com sede... e sei que é o seu sabor preferido. -Sussurra a última frase como se estivesse com medo da minha reação.
Ficamos nesse impasse por vários minutos até que decido acabar logo com isso. Assim como eu, o garoto sabe ser insistente.
Estico a mão até a garrafinha, giro a tampa rapidamente e bebo pelo menos a metade do conteúdo de uma vez.
Admito que o suco está delicioso e refrescante, principalmente hoje que foi um dia especialmente abafado, mas ele jamais vai saber que eu realmente estava morrendo de sede e que adorei a bebida.
— Satisfeito? -Atiço devolvendo a garrafa na mesa.
— Na verdade, sim. -A resposta vem acompanhada de um sorrisinho de canto.
Quase cedo e replico o seu gesto, entretanto, lembro de todo o sofrimento que ele me causou e engulo seco várias vezes antes de falar.
— Ok, só vamos acabar com isso logo que quero ir para casa. Estou super cansada. -Replico e voltamos para a estaca zero.
Benjamin não merece meu perdão e vou seguir com essa convicção até que ele finalmente me deixe em paz.
Pego a caneta me preparando para voltar a escrever e segundos depois, sua mão cobre a minha, me fazendo soltar o objeto que cai no chão produzindo um som seco.
— O que pensa que está fazendo? -Grunho me abaixando para pegar a caneta de volta.
— Você tinha razão. -Diz de repente e paro no meio do caminho, confusa e surpresa ao mesmo tempo. — Eu não te contei o motivo de ter desaparecido e isso não é justo com você. -Continua sem me dar tempo de responder.
— Mas o que pensa que está...
— Só me permita contar, por favor. -Pede suavemente e balanço a cabeça sem ter outra saída senão escutá-lo. — Você mais do que ninguém, sabe como não ter a presença de uma figura paterna me afetava, Violet. -Engasga e respiro profundamente. — Eu via como todos os nossos amigos tinham um pai presente, que lhes buscava na escola, ia assistir os jogos de futebol, entre outras coisas. -Esfrega o rosto com as mãos várias vezes, talvez criando coragem para prosseguir. — Não vou te aborrecer com toda essa merda, você já conhece esse lado da minha vida, o que quero que saiba é que alguns dias depois do... -seu rosto me observa atento para ver se não vou me afetar e ao perceber que estou com a mesma expressão, entende isso como um sinal para não parar de falar — alguns dias depois do seu acidente, eu... o conheci. -Confessa e arregalo tanto meus olhos que minha testa chega a doer com o movimento.
— Você conheceu o seu pai? -Sussurro abismada.
Ele jamais deu as caras e Lucy criou o filho praticamente sozinha, se não levarmos em consideração a ajuda que ela sempre teve dos meus pais.
— Sim, Vi. Ele apareceu do nada e isso me enlouqueceu. Depois de dezoito anos, eu finalmente soube quem era ele. E o pior de tudo, é que ele não fazia ideia da minha existência. Por isso ele jamais me procurou. Eu não sabia o que fazer com essa informação. Embora minha mãe jamais tenha me contado nada realmente ruim dele, eu sempre imaginei que ele não queria me ver, que não me amava.
Tudo veio para cima de mim de uma maneira tão súbita que eu simplesmente surtei.
Quis te contar tantas vezes, mas eu não podia.
Não pense que eu não te visitei, porque eu fui no hospital, várias vezes, mas não me deixaram entrar já que eu não era familiar.
Eu tentei, Vi. Juro que tentei, mas cada dia eu me via afundando ainda mais nessa areia movediça e conforme o tempo foi passando, eu não tive coragem de te procurar. Estava tão envergonhado... -Seus olhos adquirem um brilho tenebroso e por um milésimo de segundo, chego a ficar com pena dele.
— Eu... fico sinceramente feliz por você, Benjamin. -Um sorriso começa a se formar no seu rosto, que se desfaz lentamente conforme eu continuo. — Mas tudo isso não justifica a forma como você resolveu lidar com a situação. Eu era sua amiga, caramba! Sua melhor amiga... -sussurro. — Eu teria te apoiado para o que fosse preciso, teria te ajudado a superar toda essa merda, mas você não quis confiar em mim e agora é tarde demais.
— Eu sei, Vi. Eu ferrei com tudo. -Diz cabisbaixo.
Nós sempre brigamos por coisas ridículas, mas a raiva não durava nem uma hora e sem nem perceber, já estávamos brincando outra vez.
Só que agora é diferente. O que ele fez foi algo que realmente me feriu e por mais que eu tente não sentir raiva, ela irrompe pelas minhas veias, contaminando tudo por onde passa até chegar no meu coração.
— Se já acabamos, eu gostaria de ir embora. -Murmuro juntando minhas coisas.
— Tudo bem... nos vemos na próxima reunião. Não se esqueça de enviar o relatório de hoje para a coordenadora. -Ressopra abatido.
Não digo mais nada.
Saio da sala praticamente correndo para longe de Benjamin, bem a tempo de que as lágrimas escorram pelo meu rosto se perdendo no vento conforme corro até um dos bancos de cimento.
Me jogo no assento e esfrego o rosto para limpar qualquer indício de que acabei de chorar pelo idiota.
Devo ficar ao menos dez minutos sentada, contemplando o nada e pensando em um turbilhão de coisas ao mesmo tempo.
Estou tão absorta no que acabo de saber, que demoro a perceber uma figura sentada ao meu lado.
— Está tudo bem? -Viro o rosto para o lado ao reconhecer a voz de Jonah.
— Sim, eu só estava descansando um pouco. -Minto descaradamente.
— Ok... é que te vi correndo para cá. Parecia que estava passando mal.
— Estou bem, Jonah. Obrigada. -Insisto e ele sorri compreensivo.
— As vezes temos que nos permitir chorar para que as lágrimas possam limpar o nosso coração e a nossa alma. -O garoto solta de repente me fazendo rir da frase espontânea.
— Caramba, não sabia que você era tão poético. -Sorrio ainda mais ao ver sua expressão orgulhosa.
— Tenho meus momentos, gata. Tenho meus momentos. -Brinca e meneio a cabeça, me distraindo levemente.
— Mas é sério, não sinta vergonha de chorar. Na verdade, é um ato de coragem. Liberar toda essa merda que temos dentro. -Continua.
Acabamos conversando por mais alguns minutos, sendo interrompidos por um bocejo partindo de mim.
— Eu realmente gostaria de continuar o papo, mas estou muito cansada. -Me levanto e Jonah faz o mesmo. — Obrigada pela companhia... -Digo algo tímida.
Não estou acostumada com toda essa atenção.
— Não há de quê, Violet. E não se preocupe, que o que quer que esteja acontecendo, tenho certeza de que vai se solucionar antes mesmo de que se dê conta. -Garante me abraçando.
O gesto me pega totalmente de surpresa e acabo devolvendo o abraço de um jeito meio desengonçado.
Nos afastamos lentamente e ele sorri amável antes de se afastar e caminhar para longe.
Me viro para pegar a bolsa esquecida na mesa adjunta ao banco e no momento em que levanto a vista, dou de cara com Benjamin me olhando fixamente.
NOTA DO AUTOR
Vou deixar esse cap aqui e sair de fininho kkkkkk
Não se esqueçam de votar e comentar!
Nos vemos sexta ;)
Amo vcs, 🥰
Bjinhosssss BF 💜💜💜
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