05 - Lar doce lar

Não acredito nisso. Tenho quase certeza de que essa história de que Jonah teve um problema é pura balela. Benjamin está tentando se aproximar de mim a todo custo, mesmo sabendo que no momento o único sentimento que tenho por ele é mágoa.

Odeio me encher com toda essa merda de rancor e cada vez que lembro como seus braços rodearam meu corpo e como senti toda a minha pele se eriçando com a nossa proximidade, fico ainda mais irritada. Os dias passam com uma velocidade insana e conforme nos aproximamos por conta dessa bendita tutoria, sinto que o muro que construí ao redor do meu coração vai se quebrando pedaço por pedaço.

Não quero voltar a confiar em Benjamin apenas para ser ignorada outra vez e passar por tudo o que eu passei. Ele pensa que com suas palavras e seus gestos vai me reconquistar e voltaremos a ter nossa amizade de volta, no entanto, eu não vou cair de novo. Benjamin Saito não faz ideia de onde se meteu e vou fazer até o impossível para que ele desista de mim, porque eu já desisti dele.

"Te esperamos aqui depois da faculdade, filha. Te amamos."

A mensagem vem acompanhada de um link gps que me envia direto para o endereço em questão.

Sigo as instruções e vou costurando pelas ruas da cidade sem pressa.
No final das contas, o lugar é ridiculamente perto da universidade, mas por alguma razão o gps me fez dar uma volta desnecessária.

Paro na frente de um enorme edifício e meus pais se colocam ao meu lado para me receber.

— O que é tudo isso?

Retiro o capacete a tempo de pegar os dois se entreolhando animados.

— Bom, lembra que te falamos sobre o dormitório? -Mamãe junta as mãos e até dá pulinhos completamente animada. Balanço a cabeça começando a compreender tudo. — Tcharam! É aqui! -Agora ela está literalmente pulando como uma criança que comeu muito doce antes de dormir.

— Uau, é... lindo. -Observo cada detalhe do lugar, as árvores bem aparadas, o pequeno café na esquina e o mais importante: o silêncio.

Por incrível que pareça, o bairro é bastante quieto para ser uma zona estudantil.

Talvez isso se deva ao fato de que todos ainda estão na faculdade ou de ressaca, mas mesmo assim, já gostei daqui.

— Vamos, já peguei a chave com o administrador. Demoramos mais do que o necessário para assinar o contrato, por isso não te dissemos nada antes. -Papai estende a mão para mim e uma vez que desço da moto, seguro seus dedos e mamãe se coloca do outro lado abraçando-o e suspirando ansiosa.

Eu sei que ela viveu algo bem parecido e quem sabe estar aqui não acabe trazendo lembranças da sua vida universitária.

Fazemos um tour pelas dependências do edifício, conhecendo cada canto desde o depósito até a escada de emergência.

No momento em que finalmente coloco a chave na fechadura da porta com o número trezentos e cinco parafusado em uma placa de metal elegante, sinto um pequeno calafrio na boca do estômago.

Esse vai ser meu novo lar. Pelo menos durante a semana.

Abro lentamente a porta e respiro fundo absorvendo a beleza que me atinge em cheio.

Caramba! Eles disseram que era um dormitório, contudo, o lugar é basicamente um apartamento completo.

Caminhamos lado a lado até a pequena cozinha separada da sala por um balcão de mármore, logo após seguimos até um corredor que me leva ao meu mais novo quarto e dentro dele, um banheiro simples, porém com tudo o que necessito.

— Vocês não precisavam... é lindo! -Me viro rapidamente e encontro os dois abraçados e emocionados me observando atentamente.

— Querida, sempre vamos querer o melhor para você. Além do mais, agora você estará pertinho da universidade. -Meus olhos se enchem de lágrimas e minha mãe se aproxima segurando meu rosto com as duas mãos. — Não consigo acreditar que minha bebê está crescendo... -Sussurra emocionada.

Nos abraçamos por vários minutos até que a luz do dia é substituída pela escuridão noturna e decidimos que já é hora de ir embora.

Preciso arrumar uma mala com algumas roupas para usar durante a semana e trazer para cá todos os materiais que vou usar para estudar.

Papai me explicou que o apartamento está completamente equipado com roupa de cama, vasilhas e panelas para caso eu queira cozinhar algo, além de que aqui perto há um mercado onde eu posso fazer compras.

Esses dois definitivamente não existem.

No final do dia, resolvemos pedir uma pizza e ver um filme em uma espécie de despedida.

Só de pensar que eu não os verei mais com tanta frequência, meu peito dói de saudades e me sinto tentada a desistir dessa ideia maluca.

Um medo irracional toma conta de mim e penso que não vou conseguir me virar sozinha.

Mas aí, as palavras que papai sempre me diz, acabam me tranquilizando.

Você é uma Cross.

Eu sou uma Cross, e eu posso fazer isso.

— Aqui estão suas últimas caixas, meu amor. -Papai coloca tudo no meio da pequena sala sem nem ao menos derramar uma gota de suor.

Os dois me ajudaram a trazer tudo o que eu vou precisar, já que obviamente eu não daria conta de colocar todas as tralhas na minha moto.

Depois que sofri o acidente, não consegui mais andar de carro e embora tenha passado por várias sessões de terapia com a psicóloga ainda não superei esse trauma.

Mesmo sabendo que cada um tem seu tempo, eu me sinto uma boba por não conseguir vencer o medo.

E eu tentei várias vezes, mas no mesmo instante em que sento no banco, as memórias daquele dia irrompem na minha cabeça e tudo vem à tona, meu peito se aperta tanto que não consigo respirar.

Dou graças aos céus por saber pilotar moto, caso contrário não sei o que faria.

Aprendi desde cedo com meu pai e depois ganhei minha belezinha de presente do meu tio no meu aniversário de dezesseis anos.

Desde esse dia fomos inseparáveis.
Já perdi a conta de quantas vezes eu e Benjamin passeamos sem rumo, rodando pela cidade até o sol se pôr.

No começo ele achava estranho que eu o levasse, mas com o tempo o garoto acabou se acostumando.

Mas que droga! Já é hora de parar de pensar nesse idiota.

— Estamos indo embora, por favor se cuide e não faça nada pelo que possa se arrepender, okay? Tudo a seu tempo. -Mamãe sussurra no meu ouvido e acabo soltando uma risadinha sem graça.

Sei bem ao que ela se refere.

Lily Conner viveu o mesmo que estou prestes a experimentar e imagino que meu pai lhe fazia algumas visitinhas fora de hora. Não sou boba.

— Pode ficar tranquila, amo vocês, nos vemos no final de semana.

Dou um beijo estalado no rosto de cada um e preciso empurrá-los para que eles finalmente me deixem sozinha.

Aproveito que estou com pique e arrumo todas as minhas coisas no guarda-roupas, os livros nas estantes e guardo as compras que meus pais fizeram no caminho.

Por último, coloco o pequeno ursinho roxo em cima da cama e sorrio nostálgica.

— Pelo menos um dos Benjamins não me abandonaria nunca, não é mesmo? -Aliso a pelúcia desgastada e lembro de quando Kenny me deu de presente na primeira vez que ela nos visitou.

Como sinto saudades dos meus tios e dos gêmeos.

Apesar deles viverem a apenas três horas de distância, quase não nos vemos.

Meu tio viaja quase todo mês para alguma luta, para treinar ou fazer alguma propaganda e minha tia fica com os meus primos além de tomar conta da sua enorme academia de defesa pessoal.

Os dois definitivamente precisam de umas férias.

Envio uma foto para Kenny, mostrando meu novo lar e ela me liga quase que imediatamente.

Como está minha sobrinha preferida? -Sua voz suave invade o apartamento pelos auto falantes do aparelho de som que a minutos antes tocavam uma música animada.

— Eu sou a única sobrinha de vocês. -Brinco e ela solta uma gargalhada.

Mas ainda assim é minha preferida. E aí, como está sendo a vida de adulta?

— No momento estou tão cansada que sequer parei para pensar nisso.

Qual é Violet, você tem que aproveitar essa fase, conhecer pessoas novas...

Respiro profundamente e solto pelo nariz em busca de tempo para organizar meus pensamentos.

Minha tia me observa atenta do outro lado da tela e sinto meu corpo inteiro tremer.

Okay, desembucha, o que está acontecendo? -Comanda com a sobrancelha levantada e não me resta outra alternativa que contar tudo o que sinto nesse momento.

Se tem uma pessoa que eu confio plenamente, é Makenna Strong.

Existem certas coisas que não me sinto confortável em contar para minha mãe, mas para minha tia, as palavras jorram pela minha boca como uma torneira aberta.

— Eu não sei o que fazer, tia Kenny. Vou ter que me encontrar com frequência com ele e tenho medo de acabar sofrendo outra vez. -Ressopro apreensiva.

Talvez você deva dar uma chance a ele de se explicar, meu amor.

— O quê? Não mesmo. Ele teve tempo, tia. Teve muito tempo... -Suspiro.

Querida, se tem uma coisa que eu posso te falar com propriedade, é que às vezes as coisas não são o que parecem ser. Benjamin sempre foi seu amigo e sinceramente não acho que ele tenha se afastado apenas porque quis.

Lembro de todo o perrengue que ela passou antes de conseguir ficar junto com meu tio. Sei que minha tia fez isso porque não tinha outra alternativa, mas Benjamin? O que poderia ter acontecido para que ele simplesmente me excluísse da sua vida sem mais nem menos?

Já pensei em um milhão de motivos, e nenhum deles é o bastante convincente ou suficientemente significante como para justificar suas ações. E isso é o que mais me deixa triste.

Como Kenny mesma disse, nós somos, ou éramos amigos desde sempre e me machuca ainda mais saber que ele não confiou em mim o bastante como para me dizer o que estava acontecendo.

— Eu vou pensar, tia. Prometo.

Sei que vai meu amor, sei que vai. Agora, me conte tudo sobre a universidade. Já fez algum amigo?

Seus olhos brilham de emoção enquanto conto que conheci uma garota muito legal, além de que estou amando as aulas.

Conversamos por quase duas horas até que começo a ficar sonolenta e me despeço com a promessa de que vou mantê-la informada sobre o caso Saito, como ela mesma resolveu chamar.

Tomo um banho demorado para limpar toda a sujeira física e mental do meu corpo.

Depois de me secar, procuro um pijama confortável e deito na cama macia, abraçando Ben, o urso e tentando pegar no sono.

Estou estranhamente animada e não faço ideia do motivo.

Talvez seja essa mudança repentina na minha rotina.

Ou talvez seja o fato de que certa pessoa voltou a estar em contato comigo. 

NOTA DO AUTOR

Okay não precisam se assustar kkkk eu tardo, mas não falho! 
Vocês já sabem que agora as postagens serão feitas de tarde e não manhã, 
não é mesmo? (Não lembro se avisei kkkkk enfim)
E aí o que acharam do cap de hoje? Deu pra matar a saudade nem que seja um pouquinho 
da nossa Kenny né?

Não se esqueçam de votar e comentar, 

Amo vcs🥰

Bjinhosssssssssss BF💜💜💜💜

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