Perfeitos pecados perpétuos
Hey, amores, segue abaixo os créditos dos envolvidos na produção de PPP.
Um grandessíssimo obrigada a todos que fizerama mágica aqui, serei eternamente grata
✧ Créditos:
Fanfic por: MegNovis
Co-autor: PurpleGalaxy_Project
Betagem por: pipoca77poca
Design por: Singularity977
Vocês foram luz, meninas!
Aviso importante. A história possui uma cena de tortura que acredito que não irá causar gatilho, mas que por via das dúvidas, se for sensível, é recomendado que não leia. A cena não é sobre nenhum dos protagonistas, então não se preocupem, os meninos do BTS não sofrem nada nela. Caso deseje pular a cena, basta procurar o "🦇" ele simboliza que já acabou.
Há uma menção à suicídio, nada gráfico ou detalhado, apenas mencionado que em algum momento da vida de um dos protagonistas, houve a tentativa.
"Não faça barulho, ele pode te ouvir!"
Seu subconsciente gritava através de sua mente, suas mãos frias tentavam inútilmente impedir os sons apavorados provenientes da respiração acelerada. Os dedos frios se esmagavam na carne do rosto, como se a derme fosse capaz de silenciá-lo. Os cabelos pretos estavam grudados na testa e no pescoço por culpa do suor que escorria em demasia pela pele fria; ele sentia os músculos das pernas tremerem. O corpo todo tremia, e se não fosse pela necessidade da quietude para salvar a sua vida, agora estaria chorando como uma criança.
Os olhos cheios de lágrimas piscavam, tentando fazê-lo enxergar qualquer coisa dentro das paredes apertadas daquele pequeno armário. Os ouvidos atentos estavam empenhados em capturar qualquer som que fosse possível, mas o silêncio era o pior dos ruídos, porque trazia em sua mente a ideia de que, a qualquer momento, a pequena porta do armário seria arrancada e sua melancólica vida usurpada.
"Não venha. Não venha. Não venha."
Suas pernas estavam quase se fundindo ao resto do corpo, quase em posição fetal. Mesmo se tremendo todo, tentava estar em alerta, ainda que sentisse que, em breve, seu coração pararia de bater devido ao som ensurdecedor do órgão dentro da caixa torácica e a sensação fria do medo subindo por suas costelas, apertando o diafragma e comprimindo os pulmões.
Parecia que estava mais frio do que deveria. Mesmo sendo outono, a temperatura ainda era aceitável, mas depois que se encontrou preso dentro das paredes frias daquela mansão, era como se seu corpo tivesse sido abraçado por um bloco de gelo, impondo contra sua vontade o bater dos dentes e os dedos frios, além dos arrepios frequentes.
Arrepiava pelo frio. Arrepiava pelo medo. Arrepiava pelo pavor. Arrepiava pelo arrependimento.
"Malditos sejam esses demônios!"
Maldizia em sua mente, querendo gritar aos quatro cantos que malditos fossem eles. Malditos fossem aquelas bestas.
As bestas que o caçavam como uma presa e, diferente dos humanos que pouco esperam e logo atiram contra seu alvo, eles eram como serpentes cruéis, esperando para dar o primeiro bote, carregado do amargo sabor envenenado do medo.
Não sabia dizer como havia chegado ali, dentro do casarão. Uma hora, ele e seus amigos estavam em suas moradas quentes, com o jantar posto sobre a mesa; na outra, havia garras rasgando a carne de suas coxas e costas enquanto ele estava largado no chão frio de pedras.
No dia anterior, eles caçavam cervos na floresta ao noroeste; agora, eram caçados como filhotes de veados separados do bando, marcados pelo próprio sangue que escorria por todo o casarão, rastejando como vermes inúteis e rogando para não serem mortos pelas mãos frias daqueles que tinham os olhos carmim.
Mas se o silêncio era assustador, o menor dos barulhos era horrendo. E quando passos foram ouvidos, descendo as escadarias de madeira com o som fino dos saltos masculinos batendo contra o assoalho, foi como se o coração tivesse parado de bombear o sangue.
"Toc, toc, toc, toc..."
Um zumbido alto tinha enrolado seus ouvidos e nada mais parecia estar naquele plano, como se cada som estivesse, na verdade, a quilômetros de distância. O único barulho audível era o som da sola dos sapatos de salto baixo batendo no chão e se aproximando de seu corpo ensanguentado, prensado dentro do minúsculo armário.
"Não chegue mais perto, caralho! Não venha."
Podia-se ouvir unhas grandes raspando pela madeira do corrimão das escadas e o bater dos móveis da casa contra as paredes, como se aqueles que estavam chegando quisessem anunciar a todos os seus convidados das suas aproximações.
E foi quando o som dos passos fez uma pausa e o silêncio mórbido tomou densidade que ele conseguiu ouvir seus próprios batimentos. Altos, ligeiros, descontrolados. Quase como se fossem parar. Mas a calmaria ameaçadora não durou muito, e um grito ensurdecedor, junto com o som de um móvel se partindo, embalou o ambiente.
O grito de Seonyul embalou o ambiente.
O grito do seu amigo Seonyul.
O grito daquele que junto a si, foi levado à mansão.
O grito de Seonyul, aquele que já não deveria mais viver por muito tempo.
E por um segundo o mundo parou de girar; não existia nada mais que os gritos abafados de Seonyul, provavelmente silenciados pelas longas mãos dos seres sobrenaturais. Pouco a pouco, os gritos mudaram de tom, ora mais altos, ora mais baixos, misturando aos sons de choro, súplicas, orações e clamores para que morresse logo. O som do corpo do homem sendo atirado contra um dos móveis foi ouvido, e muito provavelmente o barulho surgia dos ossos sendo quebrados contra a peça de ornamento da sala.
Ele chorou, gritou e clamou, até que sua voz não passasse de um rascunho fino, enquanto o amigo preso no armário sentia o estômago embrulhar e os dentes rasgarem a pele da boca. Quando os lamentos de Seonyul sumiram, um par de gargalhadas brincou com o lugar, as gargalhadas das bestas que os arrastaram até ali, que maltraram sua carne, que soltaram ele como em uma maldita brincadeira de caçador e caça, que prenderam ele e seus dois amigos; que haviam matado seu amigo.
Mas não houve tempo para o luto. Antes que pudesse sentir o peso da perda do querido amigo, uma das bestas monstruosamente ria, enquanto outro grito apavorado chegou aos seus ouvidos.
"Te achei!"
O som parecia com o de uma porta abrindo, e ele acreditou que as bestas tinham encontrado Satoshi, que agora parecia debater as pernas, como se não estivesse no chão. Ele queria gritar, empurrar a porta do pequeno armário e lutar contra as bestas, bradar que elas eram almas amaldiçoadas e fadadas aos piores planos do inferno; chutá-los e livrar Satoshi da morte iminente. Mas era fraco, covarde, um cachorro medroso escondido enquanto ouvia o melhor amigo se afogando em algum líquido enquanto gritava por misericórdia.
Era um verme medroso, que sentia a bexiga arder, as pernas sangrarem, os músculos tremerem, os olhos molharem e o suor frio pingar pela testa. Era um verme, que rogava para qualquer divindade, clamando para que, assim como magicamente foi trazido, também fosse salvo e sua vida poupada.
"Não venham!"
Satoshi gritava e clamava para que o amigo o ajudasse.
"Não me achem!"
Pedia, ouvindo o som das gargalhadas das bestas enquanto avisavam que ele seria o próximo.
"Não me matem!"
Rogava, mesmo que soubesse que era em vão.
"Eu preciso viver!"
Soluçava enquanto ouvia a carne do amigo ser dilacerada.
Pouco depois, foi audível o corpo pesado de Satoshi cair no chão frio.
"Acabou..."
E por breves segundos, novamente o silêncio abraçou o ar, mas, dessa vez, ele não percebeu. Não era possível ouvir nada além do grandioso som do pânico correndo por cada uma das moléculas que compunham aquele corpo machucado pelos anos.
Não ouviu os passos.
Não ouviu as garras.
Não ouviu os chamados das bestas.
E quando a porta do armário abriu, ouviu o único som possível.
Ouviu o chamado da morte.
"Sua vez, porquinho!"
A mão fria de uma das bestas surgiu em seu campo de visão, e ele começou a se debater ferozmente, empurrando os dois demônios o quanto podia dentro daquele pequeno armário, usando chutes e pontapés, parecendo mais um servo enjaulado.
Enquanto uma das mãos agarrou o pescoço do humano, o outro ser encaixava sua palma nas panturrilhas e joelhos, esmagando as pernas do homem em uma pressão nunca antes vista, obrigando-o a ficar parado enquanto o tirava fora do armário da pia.
Ele foi jogado no chão frio, as bestas em cada lado do seu corpo, apertando-o contra o chão mais do que era possível. Eles se vangloriam dos olhos apavorados e riam do terror esculpido na face do homem de pele enrugada. Estavam adorando aquele pânico escancarado no rosto de Hansung.
Um dos seres encaixou a mão por baixo da blusa, apertando a carne do abdômen o suficiente para que a blusa, antes branca, fosse banhada com a cor vermelha, quase arrancando a carne fora no processo. Sua bexiga, que antes ardia, agora liberava o comum líquido amarelado e de cheiro duvidoso, banhando as calças e as coxas ensanguentadas dos primeiros cortes. Ardia o corpo, a mente, a alma. Tudo sangrava, machucava, doía, ardia, arrependia.
"Mal começamos e nosso porquinho resolveu fazer uma bagunça imunda."
A besta de rosto bonito e olhos redondos disse baixinho, abaixando-se para perto do maxilar de Hansung e enfiando suas presas longas e afiadas no músculo facial. Não perfurou profundamente, mas a dor era tão intensa quanto se tivesse. Ele fechou a boca e puxou a carne, vendo a pele rasgar e sangue jorrar do local mordido, depois se ergueu, cuspindo a pele e apreciando sua arte carmim. Ele se orgulhava, o humano imundo merecia.
"Sua bagunça fede tanto quanto você, porquinho imundo."
O outro vampiro declarou, agarrando uma das pernas e torcendo-a do lugar onde deveria estar. Era possível ouvir o som dos ossos se partindo e Hansung começar a tremelicar, seu corpo expulsar a porcaria qualquer que ele havia comido antes de estarem ali. O vômito se misturava ao sangue em uma bagunça de muitas cores e cheiros repugnantes. Era um cenário de horror para qualquer um que visse.
Principalmente quando se via poças de sangue espalhadas pela sala e nas paredes os jatos escarlate em volta de dois corpos pendurados pelas mãos. Um grande prego era o responsável por manter os corpos ali, presos pelas palmas das mãos, acima das cabeças recaídas para baixo.
Havia mais um prego preso à parede, ao lado dos demais corpos, esperando o último corpo se juntar para a sua tríade.
Para a tríade que já tinha os corpos de Satoshi e Seonyul pendurados.
No chão um grande desenho havia sido feito, um círculo, onde algo estava no meio.
Alguém estava no meio.
Alguém morto.
Era um cenário de horror para qualquer um que visse.
Era um cenário de horror para qualquer humano que visse.
Mas para o casal de vampiros, aquele horror era apenas justiça.
🦇
A pior parte da imortalidade, com certeza, era a imortalidade, mas ninguém avisa isso quando transforma um ser em vampiro. Bem, Kim Seokjin não foi avisado. Ele apenas entendeu o peso que a imortalidade trazia quando foi ao enterro do seu último amigo de infância. Quando deixou flores brancas para alguém pela última vez e começou a seguir sua vida tentando evitar laços novos.
Àquela altura, já tinha visto o partir de seus irmãos caçulas, pais, tios, primos e todos aqueles que em algum momento teve algum sentimento. Ele assistiu cada um dos funerais como pôde, longe, sem levantar suspeitas.
Estar longe era melhor do que não estar de forma alguma.
Seokjin era um filho de comerciantes que havia sido pego em uma das guerras por território enquanto viajava, e quando descobriram que ele não passava de um filho de pobretões sem utilidade alguma para o confronto que enfrentavam, foi feito de escravo pelo grupo de rebeldes. Foram longas semanas de torturas e xingamentos gratuitos, sentindo na pele os pecados que nem sequer eram seus, rezando por qualquer oportunidade de fugir e voltar para casa.
E essa oportunidade surgiu quando menos esperava, quando achava que iria morrer.
Depois de uma das suas longas sessões de tortura, quando já não sentia suas pernas, completamente perfuradas por pequenas facas e coxas melecadas de sangue seco, um grupo de soldados, comandados por um dos barões das terras baixas, invadiu o acampamento dos rebeldes, destruindo os oponentes e, junto, os carrascos de Kim Seokjin, que entre estado de vida ou morte após a perca de sangue recorrente, recebeu a misericórdia do barão.
O homem já era de meia idade, e Seokjin acreditou que ele não deveria ter mais que 45 anos. Ledo engano. O senhor, com o Kim nos braços, perguntou se poderia salvá-lo, que em agonia pela morte certa, aceitou, sem pensar no que viria depois.
Presas longas e finas atravessaram a carne do pescoço e um líquido viscoso começou a entrar pelas veias, correndo pelos pequenos tubos de sangue até chegar no coração, o qual parou poucos segundos depois de ser contaminado pela substância desconhecida. Um a um, cada órgão foi parando, até que o jovem bonito perdesse a consciência e desmaiasse no chão sujo.
Tinha morrido.
Uma morte por uma vida. E dessa vez, era a vida eterna.
Dias depois, quando acordou do sono profundo, descobriu que não só havia sido salvo dos rebeldes e da morte, mas que fora presenteado com a dádiva da vida eterna pelo Barão, em troca, viveria para sempre como uma criatura das sombras. Um vampiro.
A princípio, a reação não foi boa. Mas o que poderia fazer? Matar-se? Assassinar o Barão? Amaldiçoá-lo? Não pôde fazer nada que não fosse se conformar, mesmo que isso tivesse lhe custado bons dias e vários xingamentos quando sozinho.
O corpo não doía, nem o coração batia.
Mas a imortalidade não trás a apatia.
E quando finalmente voltou para casa e percebeu que não teria como explicar aos familiares o fato de que agora não envelhecia, não se machucava, não comia e não morreria, decidiu assistir de longe o passar dos anos. Sendo o mais triste dos espectadores da vida curta que seus amados teriam.
Primeiro morreu o irmão caçula, por uma doença, depois o pai, em seguida o filho mais velho, depois a mãe e por fim o seu gêmeo não idêntico. Depois viu as esposas de seus irmãos, a mocinha com quem queria se casar, seus melhores amigos e por fim os seus sobrinhos.
Todos partiram, um a um, menos Seokjin, que continuava jovem, vivo e triste.
E quando não restou ninguém, coube a ele buscar o único conhecido ainda vivo, o causador do seu martírio eterno: o Barão.
Quando retornou ao castelo que já conhecia bem, descobriu que o Barão não residia mais ali, que estava viajando os continentes em busca de ocupar o seu longínquo tempo de vida. No castelo residia apenas o filho do Barão. Um jovem rapaz, que como Seokjin, foi salvo pelo Barão em uma de suas andanças em batalha. Kim Namjoon.
Aos poucos, a vida ao lado de Namjoon deixou de ser uma martírio solitário. Antes dividiam jantares, depois olhares, aos poucos as tardes, até que partilhassem a cama, o corpo e os amares.
Era irrelevante o momento abaixou as amarras que diziam "não se apaixone" e passou a querer estar com o Kim com todas as suas forças, porque amar aquele vampiro era o que ele precisava para a eternidade. Ele nunca iria perder Namjoon, seria sempre os dois, juntos. Eles se entendiam, amavam, cuidavam e protegiam um ao outro, por longas décadas.
Até que, despretensiosamente, conheceram Taehyung, um garoto jovem, de fios escuros e que, com o corpo transbordante do desapego à vida, tinha se atirado de uma ponte com rumo à morte certa.
Um rumo que nunca chegou, porque antes que seu corpo se afogasse nas águas congelantes que o esperava, braços fortes pegaram Taehyung, impedindo-o de ceifar a própria existência.
O corpo magro e ossudo mostrava sinais de agressão, os ombros estavam machucados e a carne dos braços lacerada, os olhos estavam fundos e as olheiras pareciam turmalinas escuras, os lábios finos estavam rachados quase em carne viva, enquanto as palmas das mãos carregavam calos cheios de sangue.
Sentiram por ele. Namjoon, o salvador, apertou o corpo leve junto ao céu, enquanto Jin, o mais preocupado, encarregou-se de tratar os machucados externos do quase suicida.
Quando o único humano deles acordou, viu-se cercado de cuidados que nunca havia recebido em toda sua vida, mesmo com a casa cheia de irmãos e esposas do pai. Aqueles dois eram diferentes de toda crueldade que presenciou em todos os seus dias.
Tinha até ficado bravo por sua tentativa de desviver ter sido em vão, ele queria que sua vida acabasse para não viver o tormento que estava e sair do martírio sem fim, mas dias depois, notou que, indiretamente, seu almejo havia sido concretizado; não existia mais martírio algum, apenas pares de olhos preocupados em ver seu corpo franzino bem.
Os vampiros não comiam, mas sentavam na borda da cama de Taehyung, sobre as cobertas, e assistiam cada uma das bocadas que ele levava à boca com a maior atenção.
Eles não gostavam de passear, mas sentavam no jardim do castelo — o qual Taehyung só descobriu ser um castelo dias depois que chegou — e molhavam as rosas para o humano apreciar as cores e preparavam suco para que ele bebesse.
Trocavam as ataduras, ajudavam-no a se vestir, preparavam pomadas e chás, faziam-no companhia e aguardavam até que ele dormisse para que saíssem do quarto para deixá-lo dormir, para assim que amanhecesse, acordassem-no para comer frutas pela manhã.
Era uma rotina que em todas as décadas juntos, o casal de namorados nunca havia exercido, mas queriam fazê-lo pelo convidado humano, mesmo que soubessem que nunca receberiam nada em troca e que Taehyung provavelmente fugiria deles assim que soubesse que eram vampiros.
Contudo, estava tudo bem, eles se divertiam cuidando dele e vendo, pouco a pouco, o brilho tomar os olhos escuros do humano.
Eles decidiram que cuidariam de Taehyung até que ele decidisse ir embora, dariam a ele toda a atenção e afeição que tinham até que ele quisesse ir partir, então, nunca mais se veriam.
Todavia, para surpresa de ambos, Taehyung nunca quis ir, nem mesmo quando descobriu que seus salvadores não eram heróis de capa, mas sim vampiros de presas pontudas. Ele queria ficar ali. Ficar com eles.
Namjoon e Seokjin faziam tudo pelo novo namorado, e Taehyung daria tudo a aqueles que considerava como maridos, e de forma orgânica, a rotina abraçou os três de modo que nunca se viam separados, foram unidos para estarem juntos.
E mesmo depois de quase três anos juntos — o que não era quase nada para o casal de vampiros, mas muito para o humano —, Taehyung continuava mortal. Ele se divertia vendo os esposos prepararem tudo para que ele se agradasse e a imortalidade não era um almejo para tão breve. Sentia em seu peito que queria viver a eternidade com eles, mas por hora, estava bom como era, então iria aproveitar da humanidade enquanto ainda podia. E para alívio, os outros dois Kim também aprovavam a ideia.
Mas a alegria, ainda que perfeita, não era perpétua. Nem para aqueles que deveriam ser eternos.
Numa noite, na véspera do Halloween, quando os três se divertiam largados pela grande cama que dividiam, o castelo foi invadido pelos moradores da vila mais próxima, eles portavam tochas, garras, lanças, garfões, espadas e sacos cheios de itens desconhecidos, em busca do vampiro que — de acordo as lendas — morava no castelo.
Eles buscavam o pai de Namjoon, aquele que transformou tanto ele quanto Seokjin em vampiros, mas que há décadas não estava mais ali. Os moradores só não sabiam disso.
Movidos pela preocupação, empurram Taehyung em uma das passagens secretas do castelo, proibindo-o de sair de lá com uma maldição, estipulando o preceito de que o amado só poderia ser liberto da prisão de pedras quando os moradores da vila tivessem partido.
Quando chegaram ao salão onde a baderna dos humanos acontecia, depararam-se com um círculo feito pelas pessoas e suas tochas. À frente estavam três homens que tinham quase a mesma altura, mas seus corpos eram variados, um mais pançudo, outro quase careca, enquanto o mais baixinho parecia não ter o pescoço, com a cabeça grudada aos ombros e as pernas finas e secas como um avestruz.
Pensaram em, à princípio, resolver questionando o que queriam ali, mas foram surpreendidos quando os três homens desconhecidos removeram objetos esquisitos de um saco de couro, as chamas das tochas correram pelo salão e rapidamente os três homens deram mais passos à frente, como em um confronto; eles pareciam assustados, mas tentavam se mostrar fortes para sua legião de fiéis.
Foi então que o par de vampiros percebeu que nada bom estava por vir. Antes que pudessem contra-atacar ou criar um plano para fazer daquela invasão um banho de sangue, os humanos começaram a proferir palavras esquisitas e os itens estranhos nas mãos dos homens tomaram uma cor avermelhada enquanto flutuavam em círculos no ar.
Em um passe de mágica, os vampiros começaram a sentir seus corpos mais lentos, e conforme mais palavras eram ditas, mais distante a consciência de cada um ia. Seokjin, procurando os olhos do amado, achou-o o encarando também, porém, não parecia seu querido ali, seus olhos estavam frios, como se a morte fosse um passo próximo.
Mas vampiros não morriam, que demônios era aquilo?!
Não houve muito tempo para pensar, as coisas foram perdendo a cor, em sua mente residia apenas os sorrisos dos dois seres que mais amou, contudo, parecia que tudo chegava ao fim. Seokjin tentou levantar o braço e tocar o marido, mas antes que conseguisse, sentiu como se a carne não obedecesse suas ordens. Em poucos minutos, realmente não teve mais controle algum.
Enquanto, de longe, Taehyung via seus dois amores mortos no chão, sem poder ao menos tocá-los.
Quando finalmente todos os moradores saíram do casarão, Taehyung finalmente pôde sair de dentro do esconderijo de pedras, mas não houve tempo para o luto, não aceitaria a morte dos esposos, daria um jeito. Mesmo que estivesse se desaguando em lágrimas, não pararia; ele traria-os de volta, nem que para isso vendesse a alma ao diabo.
Arrastou os esposos como pôde, juntando os corpos sem vida lado a lado, selando a boca de cada um dos maridos e depois jogou fora as tochas largadas pelo salão, recolheu os itens mágicos que haviam deixado para trás quando os três homens saírem, usando a desculpa que apenas as pegariam na manhã do outro dia, quando finalmente a alma dos vampiros não estivessem mais próximas de seus corpos.
Os humanos acreditaram fielmente que estava tudo resolvido, então sequer se importaram de limpar a bagunça causada, só não contavam com um um esposo perdidamente apaixonado pelos maridos, disposto a tudo por eles.
Depois da recolha dos itens, com o intuito de atrapalhar qualquer segundo ritual que quisessem fazer com seus esposos, partiu rumo aos escritórios antigos, procurando por cada um dos livros mágicos que pertenciam ao vampiro pai. E, felizmente, em sua busca, teve suas dúvidas confirmadas. Não é possível matar um vampiro, mas pode separar a alma de seu corpo.
"Foi isso que fizeram com eles."
E como um pequeno feiticeirinho, foi em busca de desfazer o ritual mágico. Taehyung sentia o peito doer sempre que lembrava dos corpos na sala e dos olhares de seus amados antes de partirem e o deixarem trancado por uma maldição, sabia que era para o seu bem, mas não queria estar tão incapacitado enquanto os via sumindo da terra.
Contudo, depois de reconsiderar, agradeceu por ter sido escondido, porque agora poderia buscar a solução, e ela veio mais breve do que esperava.
Depois de uma longa noite de buscas sem fim, sentindo seu nariz cheio pelas poeiras, o corpo doendo de ficar sentado e com a coluna torta sobre as mesas, depois subindo e descendo escadas em busca de livros, Taehyung finalmente descobriu o que deveria ser feito.
Era um ritual longo, demorado de ter um fim, mas não difícil de ser concretizado, não era necessário muitos itens, os principais eram os que fizeram a desvinculação do corpo e alma pela primeira vez, e isso, por coincidência do destino, ele tinha; o resto do material solicitado pelo ritual, ele achou entre os itens acumulados nos cômodos do casarão e escritório do pseudo-sogro.
Não muito antes do Sol raiar, o Kim já estava com quase tudo pronto, seus pulsos foram cortados e seu sangue espalhado em pontos estratégicos do salão, formando runas ensinadas no livro, as quais explicavam o que precisava fazer. Além das paredes, as mãos, o peito e a barriga dos maridos foram marcados com o líquido carmim. Ele se sentia fraco, mas era por uma boa causa, e quando finalmente conseguiu pronunciar tudo que devia depois de ter ensaiado por bons minutos em voz baixa antes de começar, os corpos, antes opacos, começaram a flutuar pelo salão.
Ele sentiu que tinha completado seu dever e finalmente teria seus amores de volta. Salvaria seus salvadores.
Uma tontura absurda assolou seu corpo e uma vontade de dormir nunca antes sentida surgiu. Sabia que era sua energia vital sendo sugada para que o corpo dos maridos voltasse, e mesmo que se estivesse orgulhoso e esperançoso por poder ajudar daquela forma, o sono era quase como um passo cruel, a ideia de não estar acordado para recebê-los e garantir que tudo estava como era machucava.
Pelo que tinha lido no grande livro, era muito provável que ele desmaiasse em breve, mas lutou até o último segundo, cambaleando até o pequeno sofá e deixando que seu corpo caísse sobre ele. Os vampiros continuaram ali, não muito longe de onde ele poderia ver, mas seus olhos já não focavam corretamente. Eles giravam, os braços caídos e seus troncos flutuando. Pariam dormindo. Tão lindos. Uma sombra vermelha lançou-se em volta dos dois, como uma bolha de proteção, guardando as runas que antes estavam nas paredes.
As runas brilhavam e, como se pudessem se magnetizar, tiraram do chão os itens que Taehyung tinha alinhado, fazendo-os girar velozes em sentido contrário ao que os corpos dos vampiros rodavam. O clima tinha pesado drasticamente, estava frio e o cheiro de sangue subiu com velocidade, mas Taehyung estava contente, era sinal que tudo estava certo.
Seus pulsos arderam e os cortes que fez pareciam queimar, sua barriga girava e seu sangue revirava como se quisesse sair do corpo, mas não ousou reclamar, não quando a dor da quase morte era necessária para sentir o prazer da eterna vida.
Passaram-se boas horas, a dor era miserável e Taehyung já se sentia nos últimos minutos de sua sanidade, já tinha se debatido, cuspido, chorado, sangrado. Seu corpo estava ferido pelas consequências do ritual, mas não recuou ou se arrependeu nenhuma vez, sentia-se muito orgulhoso do próprio trabalho, porque estava quase no fim, e sabia que ele venceria. Então, quando pela porta surgiram os três homens da noite anterior, não sentiu medo.
Seonyul, Satoshi, Hansung empalideceram quando viram o que se passava naquela grande sala. Os vampiros estavam sendo ressuscitados. Em um lapso de fúria, Hansung agarrou o pescoço de Taehyung para matá-lo.
Sem forças para impedir e já fraco das horas ali, o Kim aceitou seu futuro sem se debater, mas rindo enquanto lentamente sua consciência.
"Esse filho da puta, esses demônios não estão mortos por culpa dele!"
"Mas nós fizemos tudo certo, não era pra isso acontecer."
"Vamos desfazer o que ele fez!"
Taehyung abriu um sorriso grogue. Mesmo que soubesse que morreria, não tinha mais o que o trio de imbecis pudesse fazer. O ritual estava quase no fim, seus amores estariam vivos outra vez. Seus amores voltariam e os matariam, e isso era o suficiente para a vida miserável do humano, saber que eles estariam de volta e destruiriam aqueles que fizeram mal a eles três.
Ele não precisava estar vivo para saber que os namorados fariam aquilo, já os conhecia bem para ter certeza que não descansariam até que o sangue do trio pintasse cada parede do casarão, e aquela certeza já era o suficiente para sua existência pudesse deixar aquele plano.
Taehyung morreu sem ar, sorrindo e olhando seus esposos, tendo a certeza que eles voltariam.
E eles voltaram, na madrugada daquele mesmo dia. Dia das bruxas. Voltaram e não encontraram o amado vivo, seu corpo estava no sofá do canto, parecia tão abatido e agora tinha o comum frio característico dos cadáveres. Os Kim não lidam bem com aquilo. As marcas no pescoço deixavam claro que o mais novo deles não tinha morrido ao acaso, e as suspeitas só foram concretizadas quando acharam o livro em que narrava um ritual mágico capaz de unir almas e corpos separados.
O ritual feito por Taehyung para que eles vivessem novamente.
E, conectados, os Kim buscaram por um antigo ritual mágico capaz de trazer os mortos de volta à vida, e que, para o prazer deles, contava com o sacrifício humano. E para que amassem seu humano preferido mais uma vez, matariam aqueles que odiavam mais que qualquer outro humano.
Seonyul, Satoshi, Hansung foram trazidos ao casarão novamente, mas agora, contra a vontade deles. Eram presas em perigo, prontas para serem devoradas e pagarem as perdas que causaram.
Foram torturados e soltos, como em uma caçada, mas era uma caçada da qual eles nunca sairiam com vida. Seus corpos fizeram tudo, suas bocas rezaram todas as orações, suas mentes imaginaram todas as saídas, mas no fim, um a um foram se tornando pequenos veados no grande sacrifício dos vampiros.
Um sacrifício para reparar uma injustiça.
Eles nunca haviam feito nada para os humanos, nem eles nem Taehyung. Eles não mereciam sofrer. Não mereciam ser condenados. Taehyung não merecia ser morto.
Mas aqueles homens sim, eles tinham feito o mal por pura vontade do corpo perverso deles, e por isso precisavam sofrer e morrer.
Não sentiam remorso, sentiam apenas a vontade escaldante por justiça, a vontade de ver a vida sumir do corpo dos três porquinhos imundos que fizeram o mal.
Quando finalmente pegaram os três e deram fim à tortura que tanto desejaram, arrumaram o corpo de Taehyung dentro do grande círculo da sala, os corpos ensanguentados de Seonyul, Satoshi e Hansung foram pendurados pelas mãos, presas com grandes pregos na parede, os quais permitiam que o sangue dos três escorresse até o circulo desenhado, fazendo com que o local brilhasse e Taehyung desse seus primeiros espasmos de vida.
Não muito tempo depois, os braços dos humanos começaram a rasgar e os troncos se dilaceraram, separando os membros inferiores do resto dos corpos. Algo tinha cortado os corpos ali dispostos, como se garantisse que os três não vivessem mais. E quando o último grito de dor cortou as gargantas já machucadas, eles morreram.
Morreram para que Taehyung abrisse os olhos e encontrasse seus amores ao seu lado.
— Vocês estão aqui, e me trouxeram também. — Foi inevitável que os três sorrissem e puxassem o corpo do amado de volta para os pares de braços. Beijos foram selados e mãos enfiadas por dentro das blusas, no intuito de sentirem o calor característico do corpo vivo. O melhor calor que existia.
— Nós nunca te deixaríamos — disse o mais velho dos vampiros, deixando um beijo casto nos cabelos bagunçados e escuros, enquanto o outro imortal, com o rosto enfiado na curva do pescoço do amado, completou:
— Nem hoje, nem por toda a eternidade — era uma promessa, garantindo que eles sempre fariam tudo por seu marido, desde matar a morrer, assim como Taehyung também provou que faria por eles.
Seokjin e Namjoon sempre souberam que eram muito amados, tanto um pelo outro quanto pelo seu marido mais novo, então, no fim, não era preciso promessas. Mas de toda forma, a situação como um todo fora boa, já que, indiretamente, serviu de aprendizado e para mudar suas vidas para sempre. Eles se mudaram naquela mesma noite de Halloween, iriam para um novo lugar, um que seria deles, enquanto Taehyung, carregava agora duas grandes marcas de mordidas no pescoço, provando que pertencia a eles.
🦇
Espero que gostem, oficialmente um romance Dark nesse perfil com um final feliz, mas acho que não virão outros por tão cedo.
Novamente, muito obrigada às meninas e ao projeto por toda a ajuda e cuidado com meus pedidos.
Ao meu amor, itskaton, como sempre, muito obrigada por toda a ajuda aqui para que eu não surtasse e desistisse, sem você isso aqui nunca teria saído da minha cabeça e ganhado forma. Você sabe que é essencial para que eu funcione, então muito obtigada por estar sempre aqui e me dar um rumo, principalmente nesses novos caminhos cheios de novidades. Amo-te!
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