1 - Tudo por um pix de 200 reais

"Não é possível que isso esteja acontecendo!" Penso, contando de um até recuperar a compostura e resolver de que forma irei matar o responsável pelo banho antecipado que acabei de tomar.

Estou de férias da faculdade, então comecei a trabalhar meio período na lanchonete super querida do seu Aristóteles, que por sinal vende os melhores lanches do mundo. Minha mãe deu graças a Deus, porque só assim pra eu sair de casa. Tenho uma vida social quase inexistente, pois adoro qualquer programa caseiro, minhas amigas costumam achar que eu espanto qualquer pessoa que respire na minha direção com segundas intenções. Não é bem assim, mas também não posso discordar delas. Já tive alguns rolinhos, mas nada que fizesse meu coração ficar que nem pinto no lixo. "Você nem se esforça pelo amor, Kelly. Tá esperando que caia um homem de paraquedas na porta da tua casa?", e eu respondo em pensamento que "eu sim!".

Brincadeiras a partes, acredito muito no amor, eu amo a ideia de amar, amo tantas coisas, mas o amor que não deve me amar muito. E tudo bem, sabe? Já tive um vislumbre desse sentimento e não deu em nada.

Minha preocupação é outra no momento: A gincana da limonada, um evento criado por uma associação de pais a fim de arrecadar fundos para um projeto social de doação de alimentos para famílias carentes. Acontece duas vezes ao ano e está em sua 5° edição, no mês de julho. A cidade de Paristrano é conhecida por suas enormes plantações de limões e exportações da fruta, responsável por boa parte do sustento das famílias locais. Portanto, a gincana é um meio de atrair patrocinadores e um espaço para o comércio local divulgar seus produtos.

A gincana tem algumas programações culturais e uma delas é o desafio da limonada que elege o casal que fizer a melhor caipirinha. A decisão é comandada por um grupo de jurados e os casais participantes dão a vida pelo prêmio, um pix de duzentos reais. Mas também, até eu! Com esse dinheiro vou pagar os produtinhos que comprei fiado com a minha amiga que vende Natura, duas semanas atrás. Sendo assim, todos nessa competição são meus inimigos e eu vou destruir um por um com a minha super limonada. 

Bom, o problema é que mamãe está convencida de que esta é a minha chance de ganhar a tal gincana, já mandou até fazer a arte da camiseta que vai mandar confeccionar pra família inteira usar em meu apoio. Eles parecem tão empolgados com a ideia que eu decidi só entrar na onda.

Talvez eu esteja apenas sendo reclamona, mas é certo que eu não estaria passando por um perrengue faltando apenas uma semana para o fatídico dia da gincana se nao fosse por um pequeno detalhe: Eu não tenho um namorado.

Daí eu tive a maior ideia de jerico dos últimos tempos no almoço do domingo passado. "Mãe, estou namorando", soltei como quem não quer nada, torcendo pra ninguém prestar atenção.

Por um instante o mundo ficou em silêncio, no segundo seguinte explodiu. Juro, parecia final de copa do mundo, família gritando, os cachorros latindo, a dentadura da vovó escapulindo da boca, meu sobrinho de dois anos chorando porque queria fazer cocô. Então todos ficaram animados pra conhecer o meu namorado inexistente, dei uma desculpa qualquer sobre sua identidade. Ali eu percebi onde havia amarrado o meu burro, nao podia voltar atrás e estragar o momento de felicidade da minha doce e incrível família que agora acreditava que eu encontrara alguém para amar. Coitados. Aliás, coitada de mim.

Em outro momento eu estaria vibrando de felicidade, mas agora me sinto dentro daqueles programas de auditório ruins em que a pessoa precisa passar por algum tipo de humilhação pra no final ganhar um carro no formato de bob esponja. No meu caso, a humilhação vai ser encontrar e convencer alguém para fingir ser meu namorado de mentira.

A vida é uma coisa engraçada mesmo, porque enquanto eu maquinava o meu plano mirabolante, Henrique Moura, a pedrinha no meu sapato desde o segundo do ensino médio, o meu inimigo/colega de trabalho na lanchonete do seu Aristóteles, despejou um balde cheio de água em mim.

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