10. passado
Capítulo contêm gatilhos: ataque de pânico, traumas. Se você é sensível ao conteúdo por favor pule ⚠️
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Todas as minhas tentativas de encontrar Mina foram por água abaixo depois de incontáveis horas de espera, agora eu teria que lidar com um arrependimento infiltrando em cada pequena célula do meu corpo naquela aterradora noite.
O leve desconforto ainda permanecia, observava as pessoas dançando misturada a risadas altas cheias de soluços bêbados. Jungkook estava entretido com um cara chamado Jimin, eles sorriam e falavam sobre suas respectivas vidas, além de mim e Jungkook, Jimin também era asiático. Ambos da mesma cidade em Busan, eles disseram que passaram a infância juntos por isso se conheciam há bastante tempo. Os cabelos loiros do Park, era o que mais chamava a atenção para seu rosto tão bem aperfeiçoado.
- Você deveria ter ido para a Hailee. - Jungkook diz ao amigo que rir levemente.
- Obrigado pela oferta, mas Harvard tem planos diferentes.
- Ou um par de pernas femininas.
Pelo tom de voz brincalhona do Jeon, mostra claramente que talvez Park Jimin tenha tido mais que um incentivo para desviar seu caminho em direção a Harvard ao invés de seguir o amigo.
Eu mantive meus dedos presos um ao outro sobre minhas pernas, enquanto os observava dialogando.
Jungkook estava bem, obviamente, é a sua festa. Ele está muito mais familiarizado sobre isso do que eu, foi então que resolvi deixá-los sozinhos. No momento eu estava trancada no banheiro, sai tão de fininho que ninguém percebeu minha ausência, quebrei completamente nosso acordo por conta de problemas sociais.
Sabe aquele momento em que você se sente sufocado com tantas pessoas ao redor? Me sentia assim neste momento, embora ficar trancada aqui não ajudasse muito. Minhas mãos apoiaram na pequena pia de mármore, olhando através do reflexo do espelhos por alguns segundos, a ponta dos meus dedos estão ficando brancas pelo aperto forte.
Respira, inspira, respira, inspira.
De repente posso escutar vozes altas, fecho os olhos com força sentindo meu peito doendo cada vez mais, tontura. É como se o passado estivesse transitando diante dos meus olhos, eles estão brigando novamente. Minha respiração se torna mais ofegante, eles estão, falando, gritando, quebrando. Vejo a mim mesma trancada dentro do quarto, escondida de papai.
Céus, o que está acontecendo comigo?
Ergo o rosto para o espelho novamente, minha pele ficando mais pálida do que normalmente é. Conto até três, talvez isso seja por conta do pouco álcool que ingeri. Mas não é maldição, o que está acontecendo?
Minhas mãos vão para minha cabeça, a aperto com tanta força que sinto que posso morrer. Isso de repente me apavora, eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não quero morrer. Repito isso me agarrando ao pensamento sombrio, como se fosse meu mantra. Quero respirar mas está ficando cada vez mais difícil, diminuto. Cambaleando para trás sinto a parede gelada nas minhas costas. Deslizo sobre ela, enfiando o rosto entre minhas pernas.
- Lalisa? - uma batida na porta é ouvida, a voz rouca e conhecida me chama no outro lado. - Vamos lá chocolate amargo, está quebrando nosso acordo.
Mantenho os olhos fechados encolhida no meu próprio casulo, não quero escutar mais as vozes na minha cabeça brigando, então me concentro na voz de Jungkook. Ele continua me chamando, penso em nossas conversas. Em mesmo ele sendo um idiota, ainda causa estranhos sentimentos dentro de mim.
Meu rosto esquenta tanto que não poderia negar que esteja avermelhado, lágrimas salgadas escorrem pela minha bochecha e me encontro empurrando para fora:
- J-Jungkook, eu quero ir para casa, me leve para c-casa..
Respiro fundo, mais uma vez, novamente, de novo, repetindo, repetindo.
- Porra, Lalisa, você está bem? - a brincadeira deixou sua voz, ele aparenta atormentado agora. - Fique longe da porta, eu vou chutar.
O barulho da madeira sendo empurrada com força para trás, faz meu corpo sobressaltar involuntariamente. Embora não olhe na sua direção, posso senti-lo se aproximando com rapidez. Afundando os braços ao redor do meu corpo, seguro com força o pedaço de tecido da sua camisa como se fosse minha única salvação. Jungkook continua em silêncio, ele sussurra algo mas estou longe de compreender.
- Não sei o que está acontecendo.. - assopro com força, apertando os olhos com tanta força enquanto as vozes continuam gritando.
- Está tudo bem, você sente o meu cheiro?
Balanço a cabeça devagar, inalando a fragrância masculina. Ela é doce, mas não de um jeito enjoativo. É confortável e aprazível para minhas narinas.
- Gosta dele?
- Sim.
- Se concentre nele, respire e inspire. - concordo com força, apoiando minha testa em seu ombro largo enquanto ele está me apertando com mais força. - Está tudo bem, eu estou aqui. Agora eu quero que você imagine um lugar, qualquer lugar que faça com que você se sinta feliz e leve.
Eu faço, imagino um enorme jardim. Onde minhas mãos seguram um pincel e o cheiro de tinta fresca sobrevoa enquanto passeia entre o papel branco a minha frente, pintando, desenhando arte. Às vozes estão desaparecendo, o temor e o aperto ficando cada vez menos intenso. Respirando novamente, recuperando o controle.
Sinto seus dedos longos divagando sobre meu coro cabeludo, a massagem confortável faz com que a força de minhas pálpebras se desfaz. Eu não sei quanto tempo ficamos ali, mas posso julgar até mesmo horas. Não digo mais nada, silêncio, calma, concentração.
Percebendo minha melhora, Jungkook ainda se mantém relutante ao me deixar soltar dele. Minha cabeça encosta contra a parede e meu peito desacelera à medida que o olho, todo meu pescoço esquenta elevando para minhas bochechas.
Ele continua bonito, enquanto eu deva está um desastre. Ofegante, piscando várias vezes.
- Você está melhor?
- Eu acho que sim. - murmuro baixo o bastante para ele escutar. - Obrigada por isso, eu não sei o que aconteceu..
- Você teve um ataque de pânico, Lisa.
Suas palavras são rápidas, ao cair sentado ao meu lado. Minhas mãos esfregam contra meu rosto abatido, absorvendo tudo. Um ataque de pânico, eu nunca tive um ataque de pânico. Por que eu teria agora? Isso não deveria estar acontecendo, eu estou bem e não poderia ter nenhum problema psicológico.
- Estresse, crise financeira, brigas, separações, mortes, experiências traumáticas na infância, assaltos e sequestro. Toda essa merda pode causar um ataque de pânico. - ele dita tudo como se estivesse enojado.
Meu estômago embrulha, o pensamento de que teria mais problemas para lidar. Lembrar da pior sensação que poderia ter sentindo até hoje, eu odeio isso, o medo de que talvez essa não seria a primeira vez causa pânico nas minhas estranhas.
- Como você sabe disso? - pergunto devagar, recordando de como ele parecia estar familiarizado com meu estado.
- Meu irmão o tinha frequentemente.
Minha testa enruga em confusão.
- Eu não sabia que você tem um irmão.
- Tinha, ele acabou morrendo a alguns anos.
A confissão me deixa surpresa, nunca havia realmente imaginado que Jungkook teria perdido alguém. Para mim ele tinha uma vida perfeita, bem, era o que os corredores da Hailee mostravam ser. O glorioso Jeon Jungkook com festas incríveis e pessoas o idolatrando, de repente me senti uma pessoa horrenda por julgá-lo tanto às costas por ser tão popular.
- Eu sinto muito... - lamento, como se pudesse sentir sua dor.
- Está tudo bem.
Continuamos em silêncio por longos minutos, apenas escutando ambas respirações pacíficas. Mesmo que o barulho lá fora esteja cada vez mais alto, ainda penso no que Jungkook disse. Sinto como se também tivesse a necessidade de dizer algo sobre mim, ele falou algo importante que talvez não tenha dito a ninguém. Ele acabou de presenciar meu surto e não pensou duas vezes em me ajudar, eu acredito que esteja mais confortável na sua presença. Quase como se pudesse ter encontrado um amigo.
- Eu acho que tenha sido o passado. - solto levemente, ainda mantendo o tom de voz baixo olhando para o alto enquanto recupero o fôlego. - Estive estressada nos últimos dias, o quadro que preciso pintar está sugando tudo de mim, a necessidade de mudar meus defeitos, então tem a minha família.
- O que tem sua família de merda? - ele pergunta apoiando um braço sobre o joelho e puxando um cigarro do bolso da calça.
- Por que acha que eles são o problema? - levanto uma sobrancelha.
- Palpite, a maioria são sempre fodidas.
A fumaça escapou entre seus lábios causando um leve arrepio por minha pele.
- Eles brigavam muito. Mamãe era uma drogada e meu pai um espancador de mulheres. - às lembranças me causam náuseas. - Eles foram além dos problemas. Estou feliz por ter sido filha única, não gostaria de ter mais alguém envolvido nisso.
Jungkook não diz nada, ele continua em silêncio e suga mais forte o cigarro entre os dedos.
- Ele bateu em você? - sua pergunta é quase tão repulsiva quanto a de minutos atrás.
- Algumas vezes. Mas isso acabou quando sai de casa.
Ainda posso sentir o gosto metálico do sangue escorrendo pela minha boca, foi naquele momento que eu faria por mim o que ninguém mais queria. Talvez eu seja uma pessoa horrível por deixar minha mãe naquele lugar sozinha, mas ela gostava do desafio, era tão doentio quanto ele. Não importava suas surras, ela sempre estava chorando, voltando, cuidando, zelando. Por ele. Ela era uma mulher que não abaixava a cabeça, eu gostava de sua bravura. Mas às vezes implorava para não fazê-lo porque nos traria problemas.
Eu odiava meu pai, às vezes odiava minha mãe, odiava nossa vida. Mas principalmente, eu odiava o que eles construíram. Odiava a mim mesma.
Penso que se fosse um pouco mais corajosa, eu poderia ter nos salvado.
[ Notinhas.. ✿ ]
O capítulo foi bastante importante para que vocês tenham uma mente mais aberta a profundidade dos meus personagens, estudei, pesquisei, me inspirei em mim mesma, escutei pessoas me relatando sobre o ataque de pânico. Para que vocês tenham uma ideia de como isso funciona, e principalmente tenham um alerta. Normalmente uma pessoa que desenvolve o ataque de pânico vai ao cardiologista, por pensar ser algo do coração. Realmente parece pessoal, mas tenham cuidado. O ataque de pânico pode simplesmente vir a qualquer hora, você tá ali normal e ele chega do nada.
Espero que tenham gostado, nos vemos logo! ❤
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