08. relevante
❛ Forte é aquele que, ao cortarem as suas asas, criou um novo jeito de conseguir voar. ❜
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A sala tem uma leve aura tenebrosa assim que adentro pisando em ovos, sentada na mesa de madeira clara, de frente aos incontáveis cavaletes no centro da sala. Senhora Miller tem seus inseparáveis óculos enormes grudados nos olhos, enquanto folheia sua pastilha.
Tenho em minha mente que talvez ela não tenha percebido minha presença ainda, mas isso é descartado quando escuto sua voz habitual, sem mirar para mim:
- Senhorita Manoban, que honra ter sua ilustre presença. No que posso ajudá-la?
- Senhorita Miller, que bom que a encontrei.
Respirando fundo, e puxando uma cadeira na sua frente. Meus pés oscilam impacientes no chão, apertando a bolsa no colo, inquieta. Eu não posso fazer nada se ela é uma mulher que me amedronta, tem lá seus pontos positivos. Mas toda aquela soberania e rosto inflexível, de alguma forma me assustava.
- Eu nunca estive longe o bastante querida. - semicerrando os olhos através dos óculos, eu sorrio sem graça. - Desde nosso último encontro, eu suponho que você tenha uma arte para mim. Me sinto ansiosa.
- Na verdade, ainda não.
- Não?
- Gostaria de pedir mais alguns dias. - minhas palavras são calmas, e medrosas. - Eu sei que você odeia esperar, e realmente aprecio seu tempo. Mas não ando em um momento tão.. Estimulante.
- O que falta?
- Exatamente, eu não faço ideia.
A observo respirar fundo, os lábios apertados e as pequenas rugas no canto dos olhos castanhos, se franzir. Estou à espera de um longo discurso envolvendo minha ineptidão de pintar um simples quadro.
Mas este é o problema, as pessoas tendem a imaginar que a arte é apenas algo banal, envolvendo apenas diversão. Eu desconheço este tipo de pensamento, porque arte é muito mais do que isso. Ela é minha deleitação, minha insanidade, minha fúria, minha melancolia, minha confusão, tudo aquilo que eu possa sentir dentro de mim. Embora, eu não possa negar que a beleza também seja algo significativo.
- Lalisa querida, qual foi o sentimento mais forte que sentiu até hoje? Talvez, um romance.
- Eu não tenho tempo para romance. - digo a ela, com um pequeno sorriso. - Somente a arte, somente ela é meu amor.
- Talvez isso seja algo que falte.
- Desculpe, a senhora quer dizer que para mim conseguir pintar. Eu preciso estar apaixonada? - levanto uma sobrancelha duvidosa. - Mas eu amo a arte, isso é o bastante.
- Talvez, precise experienciar um novo tipo de amor? Não estou dizendo para se sentir nesta obrigação, apenas imagine. Sem ser necessariamente, esse tipo de amor. Temos o amor da família, da amizade, ou alguém que seja importante para você.
A encaro por alguns segundos espantosamente, não sei como me sentir em relação a isso. Porque não existe ninguém importante, não existe alguém relevante para mim. Tudo relacionado a minha família, se limita ao vazio de sentimentos desconhecidos. Eles de fato nunca me presentearam com aquilo que precisava.
Quando você não sente falta daquilo que nunca teve, acaba se tornando algo escasso. E eu estou bem com isso, porque eu não sinto nada por meus genitores.
- Preciso ir agora.
Levanto depressa, sorrindo para a mais velha.
- Certo, lhe darei mais duas semanas, o que acha?
- Eu ficaria muito agradecida, eu vou entregá-lo, senhora Miller.
- Eu sei que vai.
Nós nos despedimos em seguida, comigo caminhando entre os corredores absorta. Lembranças invadem minha mente, e recordações do passado nem um pouco agradáveis para mim. Eu apenas almejo esquecer tudo, foi isso que eu decidi. Depois de sair aos quinze anos de casa, acredite, foi a melhor escolha que eu fiz, em toda minha vida.
Mantendo um suspiro preso, pegando o celular da bolsa. Implorando a Jennie que me cobrisse essa noite na Happy Meal, digo que vou ficar devendo e prometo pagar quando precisar. Por sorte ela concorda, já que o noivo está passando a semana na casa dos pais.
Depois, é a hora de enfrentar Mina com uma notícia, que com toda certeza. Vai deixá-la saltitando em paredes.
Me
Encontre-me na festa de Jeon Jungkook
Você está oficialmente participando desta ;)
Posso sentir meu celular vibrando diversas vezes, quando sorrio caminhando para a próxima aula.
[...]
Observei através do espelho pela centésima vez, não está tão ruim. Eu digo novamente, analisando a saia xadrez levemente rodada, a blusa um pouco curta de mangas compridas, e meus longos cabelos negros, caindo em casacata sobre os ombros e costas.
Apliquei um gloss cereja nos lábios, e meu inseparável delineador. Estava completada, mas algo permanecia em me deixar um pouco receosa.
Respirei fundo ao ouvir uma batida na porta, peguei um sobretudo e bolsa de ombro pequena, correndo em direção a frente, enquanto arrumava o cabelo mais uma vez.
A estatura alta de Jungkook me fez franzir a testa confusa, eu esperava que ele estivesse como normalmente alguém vai às festas de jovens, calça preta justa, camisa descolada, ou algo semelhante. Mas o que vejo é um Jungkook totalmente elementar, revestido em uma calça moletom, botas, camiseta larga e um chapéu que cobre todo seus olhos e cabelo.
- Vamos, entre. Está muito frio aqui fora.
Meu corpo é virado para trás depressa, sentindo suas mãos grandes me empurrando para dentro novamente, a poltrona que tem algumas mudas de roupas é rapidamente preenchida por todo corpo robusto de Jungkook.
- Então não é melhor irmos logo? - apoio as mãos sobre a cintura, acenando para a porta.
- Primeiro você vai trocar de roupa, eu não quero ter que lidar com uma garota morrendo de hipotermia na minha moto.
Reviro os olhos apertando as mãos umas nas outras, impedindo-me de ter um grande surto de violência para cima desse cara.
- Você me fará procurar tudo de novo, Jeon Jungkook? - eu reclamo irritada.
Sua mão massageou levemente a têmpora, com um vasto sorriso fechado.
- Então é melhor você se apressar, Lalisa Manoban.
Em passos marchados, cheios de ódio. Minha próxima opção é uma calça jeans folgada, uma blusa de alcinha e sapatos pretos. Ao chegar novamente em minha pequena sala, o encontro no mesmo lugar. Os olhos passeando vagarosamente, entre todos os móveis de minha casa, e os dedos intrometidos pegando algum objeto aqui e ali.
- Jeon Jungkook. - chamo alto, levantando o queixo nem um pouco satisfeita com essa troca. - Melhor assim?
Seus olhos desviam para mim, mantendo as costas confortável em minha aconchegante poltrona amarela. Era uma visão cômica, mas eu ainda estava irritada por fazer toda aquela arrumação novamente. Então, nada poderia me impedir de ser uma pessoa séria neste momento.
- Não faça essa carinha, eu fiz isso para que não morresse.
Ele levanta sem pressa enfiando uma mão no bolso da calça, e a outra puxando meu braço para fora de casa.
- Ninguém morre em uma simples noite gélida, de acordo com a ciência nós humanos somos..
- Lalisa, Lalisa. Tem como parar de ser delicada apenas hoje? - ele resmunga como um insensível, pegando as chaves de sua moto. - Agora você mudou de um adorável algodão doce, para chocolate amargo. Está feliz agora chocolate amargo?
Suas mãos bagunçaram meu cabelo novamente, puxando algumas mexas. Enquanto tento tirá-las de cima de mim, com tapas sendo dados ao vento.
- Você é uma pessoa muito cruel, Jeon Jungkook. - respiro fundo, olhando para sua moto enorme. - Não vou subir neste negócio.
Posso ouvir seu grunhido impaciente, umedecendo os lábios, enquanto esfrega o próprio rosto.
- Está brincando comigo? - ele me olha com calma, rindo em escárnio. - Se não subir, eu mesmo vou colocá-la como o maldito arrogante que eu sou.
Dou a ele um sorriso de lábios fechados, enquanto cruzo os braços. Satisfeita por deixá-lo tão zangado, quanto me senti anteriormente.
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