Não olhe para trás
Bom dia! "Não olhe para trás" é um conto. Espero que gostem <3
Tá pensando no quê? – minha amiga perguntou. Respirei fundo, e apenas disse: "Nada". Foi o que respondi, mas não era a verdade.
A gente sempre está pensando em alguma coisa, só que na maioria das vezes, essas coisas são o nosso mundo de cabeça para baixo e não importa mencioná-las no momento. Imagina que louco se saíssemos por aí respondendo a verdade quando alguém pergunta: "Tudo bem com você?", convenhamos, nunca estamos cem por cento bem, sempre tem algo nos incomodando, mas o que respondemos é: "Tudo."
Já se perguntou por quê nunca respondemos com a verdade?
Porquê se formos responder a verdade, vamos confessar tantas coisas que não estão bem em nossa vida, que poderia chegar até incomodar a outra pessoa, que só perguntou por educação, e também tem a parte de se abrir para o outro, é, eu nunca fui muito boa nisso. Ás vezes até queremos nos abrir e confessar como realmente nos sentimos, mas não é com todo mundo que podemos confiar, ás vezes nem é por dúvida e sim porquê não existe aquela intimidade.
Eu confio muito nessa minha amiga que perguntou no que eu estava pensando, mas, não era o momento para eu colocar os meus dramas em prática.
Mas se eu tivesse respondido com a verdade, a resposta seria: "Então, estou pensando no real motivo do Charles ter terminado o namoro comigo ontem, e não naquela mentira idiota que ele contou, o quanto está dando tudo errado para mim, o quanto sou péssima em matemática, no motivo da minha letra ser feia, naquele professor de biologia que não sai do meu pé, naquela nota horrível em geografia que eu tirei, em qual esmalte vou usar, em qual série eu vou assistir depois que eu terminar Reign, na minha apresentação de trabalho na semana que vem, no que vai acontecer no final do livro "O diário internacional de Babi", no quanto aquele filme" A teoria de tudo" me fez chorar horrores, na faculdade que vou cursar no futuro, no curso que eu escolher, na vida que eu for ter...", são tantas coisas no que eu estou pensando! Viu? Vê se tem cabimento eu falar de todas essas coisas sem nexo para minha amiga nesse momento? A mente de uma garota é uma caixinha de mistérios.
Lisa suspirou. – Como nada Jazmín? Charles terminou o namoro com você ontem! Pode dizer que está triste. – disse ela. Lisa é minha amiga há muito tempo, depois que meu namoro terminou, foi para ela a primeira pessoa que eu liguei para desabafar.
- É óbvio que eu estou triste Lisa! Estou arrasada, chorei muito ontem, até assisti ao filme "A teoria de tudo", o que piorou ainda mais a minha situação, pois aquele filme é muito triste. Mas se ele terminou comigo, é porquê não gosta de mim como deveria, então, eu não quero mais falar ou pensar nele. – disse.
- Mas se quiser falar, acredite, melhora bastante.
- Mas eu não quero, eu vou ficar bem. Não vou morrer por isso, do mesmo jeito que relacionamentos começam, eles também terminam. – falei.
Pronto! Fim do assunto "Charles"! Eu já havia chorado de mais por ele ontem, não iria mais perder meu tempo sofrendo por um garoto que não me merece, por um garoto que termina o relacionamento de um ano comigo dizendo que gostava de mim, mas que não me amava e que tentou gostar o suficiente de mim, mas que não conseguiu.
Como uma pessoa fica com outra durante um ano sem amá-la?! Tive vontade de jogar na cara dele todas as vezes que ele disse que me amava enquanto estava comigo, claro, deve ter sido tudo uma mentira, da boca pra fora! Não acredito que perdi um ano com ele.
Eu que não iria passar o final de semana trancada no quarto chorando por ele, eu sabia que tinha que ir a um parque que abriria logo à noite. Chamei minha amiga Lisa para ir comigo, ela concordou.
Fiquei encantada com o parque assim que chegamos, com os brinquedos, as barracas de doces e as de jogos, as luzes, até a música. Era bom estar em um lugar que me inspirava tanto, a noite estava linda, e eu estava feliz por estar ali e ter saído de casa um pouco.
Tudo estava ótimo, até eu avistar o grupo de amigos do Charles, imaginei que ele poderia estar no mesmo lugar que eu, se seus amigos estavam, com ele não seria diferente. Fiquei com o coração acelerado e muito nervosa, só de imaginar que eu poderia esbarrar com ele a qualquer momento, já me deixava nauseada. Eu saí de casa para não pensar nele, e não para encontrá-lo no mesmo lugar.
Apesar de ser um brinquedo bastante comum, eu nunca andei na roda-gigante, e pela primeira vez na minha vida adolescente, resolvi experimentar. Lisa não quis ir comigo, disse que achava chato, ela ficou em solo firme me esperando voltar.
Eu nunca fui a nenhum brinquedo sozinha, mas meus pés já estavam ali, era só eu prosseguir. Sentei, e fiquei esperando alguma pessoa desconhecida sentar-se ao meu lado, pois eu tinha medo de ir sozinha, sempre foi assim, alguém tinha que se sentar ao meu lado, eu ficaria menos tensa.
Confesso que demorou, pensei que ninguém se sentaria ao meu lado, mas um rapaz se sentou. Ele olhou para mim, sorriu e disse oi. Respondi ao oi dele e permaneci calada, o brinquedo começou a rodar, e segurei firme. Meu pânico de altura foi destruído quando o rapaz puxou assunto comigo.
– Tem medo de altura e veio sozinha, isso é um tanto curioso. – disse ele, sorrindo para mim.
- Minha amiga não quis vir... Acho que eu queria poder enfrentar os meus medos. – disse.
- É bom quando a gente enfrenta os nossos medos, você é uma menina corajosa.
Sorri para ele, me perguntei mentalmente o que aquele rapaz tão lindo estava querendo ao conversar comigo, ou era por educação, porquê estávamos dividindo os assentos no brinquedo, ou ele queria bem mais que uma conversa. Apenas fui conversando, afinal, eu precisava de algo para evitar com que eu pensasse na altura em que eu estava.
- Obrigada. Mas e você? Porque veio sozinho? – era a minha vez de fazer perguntas ao estranho.
Ele sorriu novamente, acho que eu havia o pegado nessa. – Eu também estou aqui enfrentando os meus medos. – ele respondeu.
- A é? Tem medo de altura também? – perguntei incrédula, ele não parecia ter medo de altura. Estava tranquilo de mais para ter medo.
- Não de altura. Vai acreditar se eu disser que estou aqui apenas para conversar com a garota mais linda de todo o parque?
- Ah não... Fala sério, só veio para sentar ao meu lado e poder conversar? – perguntei, quase não segurando a minha vontade de rir.
- Sim. Como disse, você é a garota mais linda desse parque, e estar aqui ao seu lado, é sim enfrentar meus medos, não de você, claro. Apenas, o medo de conversar e você não der muita bola, mas acho que estou me saindo bem até agora. Não estou? – ele perguntou, com o rosto muito próximo ao meu, olhando bem nos meus olhos.
Não consegui evitar um sorriso, pode até ser um pouco clichê o que ele havia dito, mas não deixava de ser fofo, é legal saber que um cara entrou na roda gigante apenas porquê se interessou por você.
- Acho que está. – respondi, e um sorriso brotou no canto de seu lábio.
A roda gigante parou no alto. Ficamos em silêncio, ele não deixava de me olhar, e por um instante, eu me permiti observá-lo também, analisei cada detalhe do seu rosto, seus olhos escuros tão misteriosos para mim, sua boca carnuda pedindo por um beijo, seu cabelo castanho claro em um estilo despojado, seu sorriso torto que estava me encantando. O desconhecido era muito interessante.
Não precisávamos dizer mais nada naquele momento, assim como eu senti que precisava senti-lo, ele já havia sentido o mesmo há um tempo. Nos beijamos docemente e lentamente. Apenas com o término do nosso beijo, que me dei conta de que não havia perguntado o nome dele, fiquei constrangida por ter beijado um rapaz que eu nem sabia o nome, mas aconteceu e eu não podia mudar nada. – Qual é o seu nome? – perguntei, e ele riu. Uma risada gostosa.
- Théo. – ele respondeu.
- E o meu é...
- Jazmín. – ele respondeu por mim e eu arregalei os meus olhos sem acreditar naquilo.
- Como sabia?
- Eu estava te observando lá em baixo, bem perto de você, escutei sua amiga te chamar pelo seu nome. Por favor, não me ache um louco. – disse ele, abrindo um sorriso encantadoramente torto.
- E eu nem te vi... – concluí.
- Acontece. Pelo menos estamos aqui. – disse ele, assenti e ficamos de mãos dadas enquanto o brinquedo rodava.
Após o tempo ter terminado e sairmos da roda gigante, não encontrei Lisa onde estava, eu conhecia aquela garota muito bem, com certeza estava paquerando em algum lugar do parque. Fiquei caminhando ao lado do Théo, conversando, até que chegasse algum momento que eu encontrasse a Lisa.
Nós dois estávamos nos dando muito bem, eu estava descobrindo coisas sobre ele que eu nem imaginava, quer dizer, como pode um desconhecido me parecer tão conhecido assim? Eu estava adorando conversar com ele, tínhamos uma afinidade muito grande, ele tinha o poder de me deixar à vontade, alegre, confiante, era como se eu o conhecesse há anos, isso dificilmente acontecia comigo.
O engraçado era que estávamos caminhando de mãos dadas, como se já fossemos um casal, e por mais que eu estivesse à vontade com ele, eu não sabia se o que estava acontecendo entre nós dois só duraria aquela noite ou se iria se prolongar.
Paramos de andar, estávamos em frente à barraca de ursos de pelúcia, ele queria conseguir um daqueles para mim, eu disse que não precisava, mas ele insistiu. Eu só não imaginava encontrar o Charles ali ao meu lado, estava acompanhado de uma garota morena. Ele me olhou surpreso em me ver ali, e só depois percebeu que eu estava acompanhada do Théo.
- Oi. – disse Charles a mim.
- Oi. – respondi secamente.
Théo ganhou o jogo e conseguiu me dar um ursinho de pelúcia bem fofo! Fiquei feliz e beijei o rosto dele agradecendo, o mesmo me puxou pela cintura e beijou minha boca, e eu correspondi com gosto ao seu beijo.
Havia até me esquecido que eu estava o beijando na frente do Charles. Quando nos afastamos do beijo, percebi que Charles ainda olhava para mim, e quando estávamos indo embora de perto da barraca, o meu ex-namorado resolveu me gritar.
Paramos de andar, Théo me olhou sem entender. – Desculpa. Ele é o meu ex-namorado, acho que quer falar algo comigo, eu prometo que não vou demorar. – disse.
- Tudo bem, vou ficar te esperando aqui. – disse Théo, sorri e dei um selinho nele, então, fui até o Charles para ver o que ele queria comigo.
Ele estava sozinho agora, a garota havia sumido. – O que você quer? – perguntei.
- A gente terminou ontem e você já está com outro hoje.
Sorri ironicamente. – Fala sério Charles, você terminou comigo ontem, achou mesmo que eu iria passar o ano todo sofrendo e de luto por você? E você também está com outra, eu vi.
-Mas aquela garota não significa nada para mim. – ele disse.
- Eu também não. Esqueceu? Se eu significasse você não terminaria comigo, como você mesmo disse, você não me ama. – fiz questão de lembrá-lo.
- Eu estava errado. Eu gosto muito de você sim, estava confuso. E eu... Acho que te amo sim.
Ok. Isso foi inacreditável. Ele acha que me ama?
- Você tem que ter certeza Charles. Se não tem é porquê não é verdade. E vamos ser sinceros, você só me quer de volta porque me viu com outro. Você me quer agora, porquê sabe que não vai me ter de volta. Você gosta de correr atrás de quem não te quer, e eu não te quero mais.
- Isso não é verdade. Temos uma história.
- Uma história que você fez questão de terminar, uma história que nunca foi real o suficiente para você. Olha Charles, eu tenho que voltar, segue o seu caminho que eu sigo o meu. Tudo está terminado entre nós dois. – eu disse, e me afastei dele.
No momento do meu beijo com o Théo na roda gigante eu soube que o Charles era passado. Claro que eu não estou morrendo de amores por ele, mas eu estou muito feliz e interessada nele, o que sinto que pode vir a se tornar paixão e com um tempo até amor.
Eu realmente não sabia que o destino iria me reservar em relação ao Théo, mas eu queria descobrir, e pela primeira vez na minha vida, eu não tinha pressa, eu sabia que podia ir devagar nessa nova relação, eu tive pressa com o Charles no passado e nossa história teve um fim nada agradável, eu só quero sentir algo real, e ser correspondida da mesma maneira. Não quero fingimentos como houve na minha relação passada.
Voltei para Théo, ele sorriu assim que cheguei. – Pensei que tinha escolhido o seu ex. – ele disse.
- O meu ex está no passado, e vai ficar por lá.
- Longa história?
- Longa história Théo... Sabe, senti uma vontade imensa de te contar o porque meu relacionamento terminou. – disse. Ele pegou na minha mão e continuamos a andar.
- Então pode contar, estou aqui para te ouvir, quero ser muito mais que seu companheiro, quero ser seu amigo também. – ele disse.
- Companheiro? – perguntei sorrindo.
- Sim, quero continuar saindo contigo, não vou deixar uma garota como você escapar tão fácil assim. – ele disse, e parou, colocou as mãos na minha cintura e acariciou o meu rosto, me observando da maneira mais fofa que eu vi até aquele momento.
- Eu também quero continuar saindo com você, antes de eu te contar, eu quero um beijo.
Ele sorriu, chegando o rosto mais perto do meu. – Não precisava nem pedir Jazmín. – ele disse, e nos beijamos. O segundo de muitos beijos que estariam por vir.
E naquela noite aconteceu algo que não me acontecia há muito tempo, eu senti vontade de me abrir para alguém, e o fato de ser ele, contribuiu muito. Foi como aliviar o meu coração, eu contei a ele o porque meu relacionamento terminou, contei a ele como me senti em relação a isso, contei outras coisas sobre mim, e eu sabia que eu tinha me mostrado como realmente sou. Naquele primeiro encontro, eu abri o meu coração para o Théo, e eu não me arrependo disso.
Ás vezes, você só precisa aceitar o presente e tentar seguir em frente, esse é o primeiro grande passo para a confiança. E sem a confiança, não somos nada.
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