Capítulo 21 - Susto
08/05
Enquanto ia embora, Danielle viu um carro negro indo para mesma rua que ela. Quando ele ficou em uma distância razoável dela, baixou o vidro:
— Por favor, você sabe onde fica a residência dos Haunt? — indagou Vincent, o homem que havia avisado sobre a morte de Daniel. Tinha cabelos loiros, olhos castanhos escuros. Mesmo com seus vinte e três anos, sua voz era robusta.
— Antes — disse Danielle se aproximando. — Qual é o seu nome?
— Me desculpe por não me apresentar. Sou Vincent Moore.
— Então, você conhece os Haunt?
— Sim, e preciso falar com um deles. Onde eles moram? — Vincent começou a ficar impaciente. Queria que ela entrasse logo no carro como o planejado.
— Eu estou indo para a casa deles. Você poderia me dar uma carona?
— Claro. Entra aí — disse Vincent sorrindo. Até que foi fácil.
Entrou no lado do passageiro, colocando o cinto de segurança enquanto ele arrancava com o carro. Vincent pensava no plano novamente.
— Você é corajosa em entrar num carro de um estranho.
Ela pensou que se ele fosse realmente um desconhecido, isso não seria coragem, e sim burrice. Mas, ela sabia quem ele era; e pensava que poderia muito bem se proteger de qualquer coisa.
— Sei quem você é. É amigo do meu pai.
O sinal fechou, dando a oportunidade para ele virar para ela:
— Então você é a filha de Robert Haunt, Danielle? — ela assentiu — Hum, você já pode usar... Os seus... — ele tentava achar as palavras certas.
— Sim. Os meus... Poderes — respondeu, observando o sinal abrir.
— Agora é por onde? — Vincent perguntou observando o cruzamento.
— À direita.
Ele agradeceu, pensando que, se tivesse mais intimidade com ela, iria perguntar de quem recebera o buque de flores que carregava no colo.
— Quer deixar suas coisas na parte de trás? — perguntou, pois sabia que ia acabar com o lindo ramalhete se ficasse em seu colo.
Ela aceitou, deixando sua mochila e as flores no banco de trás.
Ele continuava dirigindo, até que a poucos metros da casa dos Haunt, ele virou bruscamente para a esquerda. Danielle não havia dito nada, deixando-a intrigada.
— Ah, Vincent, você está indo pelo lado errado. A minha casa... — estava calma tentando explicar o seu erro.
— Não estamos indo para a sua casa — seu tom de voz não era o mesmo; era frio, ríspido. Estava tudo indo como planejado.
— Você vai para onde então? — disse tentando manter a calma. Estava nervosa mesmo sabendo que poderia sair dali quando bem entendesse.
— Para onde? — ele olhou rapidamente para ela; seu olhar mudara, queria parecer outra pessoa.
Ele pegou o antebraço dela fortemente, causando dor.
— Fazer uma visita a seu irmão. Ele quer tanto te ver... — O ar de deboche predominava em sua face.
Com todas as suas forças tentou deixar seu braço intangível, inúmeras vezes e nada. Pode ver seu direito atravessar a porta do carro, mas o braço esquerdo continuava tangível e sendo pressionado por Vincent. Ela reparou em como iam rápido, ele conseguia guiar a mais de 100km/h mesmo com somente uma mão no volante.
— Não adianta ficar intangível... Sou um Espírito — disse ironicamente.
— Por que você está o ajudando? — indagou enquanto tentava usava a força bruta para se soltar, tentando chutar inutilmente tudo o que podia, mas mesmo dirigindo enquanto a segurava, ele não facilitava nem um pouco.
— Fiquei em dívida com ele — ele virou à direita, para um lugar deserto e desconhecido para ela.
— Me solta! — começou a entrar em pânico; tudo a sua volta estava girando e sentia que desmaiaria a qualquer momento. Pode ver uma pessoa a metros de distância; todo de negro, com um capuz e vestes largas e longas. — Por que você está fazendo isso? — começou a gritar, sentindo sua esperança de fugir ir embora.
— Ninguém irá te ouvir.
Ele a puxou bruscamente para fora do carro, fazendo atravessá-lo. Lágrimas caiam de seu rosto. Ela se segurava para não desmaiar, se sentia tonta e fraca. Sabia que o motivo era as tentativas frustradas de fuga.
Foram em direção ao homem de negro, e o pânico da garota só aumentava.
Vincent tirou algo de seu terno. Era uma folha de papel, dobrada ao meio.
— Isso não demorará muito.
Danielle começou a tremer de medo, pois não conseguia se libertar. Se xingou por ter uma autoconfiança muito grande e ter entrado no carro de Vincent. Ele era excepcionalmente forte, os poderes dela não funcionavam, estava quase desmaiando graças a um súbito cansaço, e estavam cada vez mais perto dele.
Vincent entregou a folha aquela pessoa de negro, que pegou o tal papel, e começou a ler:
—Daniel Robert Haunt... Causa da morte: Parada Cardiorrespiratória...
— Puta merda! — exclamou Danielle tentando se soltar. Ficara perplexa ouvindo a voz de seu pai saindo da pessoa tenebrosa. — O que é isso?
— Um atestado de óbito — disse o homem de negro, calmamente tirando o capuz. Era Robert.
— Eu sei o que é um atestado de óbito. Via o seu sempre que queria ter certeza de que você estava morto — disse num tom debochado, tentando demonstrar toda a sua incredibilidade. — Vincent me solta! — gritou com toda sua raiva.
— Ah, desculpe Danielle — Vincent disse educadamente depois de soltá-la.
— Desculpe? — virou-se para ele, querendo bater em sua cara — Você me machucou e me ameaçou! E que mentira foi essa do Daniel, que ele queria me ver? — falou tão rapidamente que chegava a gesticular — Por que voc... — E não conseguiu terminar a frase.
Danielle foi ao chão, lentamente. Sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Estava muito tonta e não sabia como tinha conseguido falar alguma coisa. Vincent conseguiu evitar a sua queda.
— Ela vai ficar bem, não vai? — Vincent perguntou — Peguei pesado?
— Sim e, talvez.
Danielle perdeu o controle do corpo, mas ainda conseguia ouvir. Queria sair de lá, mas seu corpo não a obedecia
— Você tem certeza? — Vincent estava ficando preocupado
— Estou bem... — disse Danielle fazendo todo o esforço possível para ficar de pé sozinha.
Afastou-se deles, se escorando no capô do carro. Precisava se recompor.
— Agora, me diga que merda foi essa? — ela pressionava suas têmporas, tentado fazer a dor que sentia na cabeça passar. Ainda estava um pouco tonta, e tinha a impressão de que podia desmaiar a qualquer momento.
— Eu pedi que ele fizesse isso — disse Robert se aproximando dela e colocando sua mão em seu ombro — Fui eu...
— Foi você?! — disse tirando bruscamente sua mão de seu ombro, não queria que ele sequer a tocasse. — Você mandou ele me machucar e me trazer para cá? Me meter medo dizendo que ia me entregar ao Daniel? E você com essa roupa? E como é que ele também é um... O que, Espírito? — a cada pergunta que fazia pressionava mais forte os lados de sua cabeça e tentava deixar seu tom de voz mais agressivo.
— Danielle, eu posso...
— Explicar o que? — gritou o mais alto que pode, se levantando do carro e se afastando deles, ainda com sua mente latejando. — Que brincadeira idiota foi essa?
— Eu só queria te mostrar que você ainda corre perigo — ele foi andando em sua direção, a fazendo parar de andar. — Mesmo com ele morto, você ainda não está segura. Não totalmente.
— Tá, pode até ser... — Consentiu — Mas, por que isso? Esse circo todo?
— Queria que você sentisse o que era estar em perigo. Pensei que somente falar não seria suficiente.
— Você poderia ter somente falado. Mas não, tinha que fazer isso?! — disse erguendo os braços, inconformada.
— Isso parecia mais convincente. Você teria mais chances de acreditar.
Robert tinha seu jeito de mostrar as coisas, e Danielle odiava isso. Ela bateu palmas para ele, querendo incomodá-lo. Sorriu, mesmo não querendo fazer isso. Deu as costas para ele, querendo ir embora.
— Não terminei ainda. Volte Danielle — Robert ordenou.
— Realmente, como ir embora se não sei nem onde estou. O que você quer? — indagou rispidamente, cruzando os braços. Estava louca para ir embora, tomar um banho e se deitar e até dormir.
— Dizer coisas sobre o Daniel que eu acho que você deve saber.
— Ah, claro, você nunca fala toda a verdade para mim — disse irônica — O que foi desta vez e, por que dessa omissão?
— Não queria te preocupar à toa...
— Danielle, seu irmão foi preso por ter assassinado alguém... — respondeu Vincent.
— Nada de novo até agora. Robert, esqueceu de dizer a ele que vi isso?
— Como assim? — indagou Vincent incrédulo.
— Mais um que não sabe de tudo — disse Danielle rindo.
— Lembra do caso...
— Depois vocês vejam isso. Descobriram quem ele matou? — interrompeu Danielle.
— Não sabemos. Tentamos arrancar essa informação, ele realmente não sabia — completou Vincent.
— Mas o resultado da autopsia não ia demorar a sair? — perguntou Danielle mudando de assunto.
— É, deveria. Mas, era tão importante para nós saber do que ele morreu, já que sua família é tão importante... — Vincent estava muito entusiasmado falando isso.
— Vincent! — reprovou Robert.
Danielle não entendeu, não sabia que sua família era importante assim para ter admirador e tudo.
— Ainda tenho várias perguntas — virou-se para Robert, se escorando novamente no capô — Por que você está com essa roupa? — disse meio indiferente.
— Achei que te assustaria mais — ele respondeu sorrindo, aumentando ainda mais a raiva de Danielle por ele.
— E você? Como você também tem poderes?
— Descendência, igual a você — ele sorria, levantando as mãos mostrando-se inocente — Mas, só fui abençoado com a intangibilidade e invisibilidade... Por isso Espírito.
— E... — Danielle ia continuar a sessão de perguntas.
— Robert, ah, desculpe te interromper, — ele se virou para ela, se desculpando — mas, ela me deu um trabalho...
Robert deu uma risada alta, completando:
— Ela é uma Haunt, esqueceu?
— Dei mesmo? — Danielle adorou a ideia de ter dado trabalho a alguém.
— Nossa, e como deu! — ele se aproximou dela, ainda entusiasmado — Robert, ela tem futuro. Quanto tempo você controla?
Danielle ficou desconfiada daquilo, dando uns passos para o lado, se distanciando dele. Robert não havia dito a ela que tinha futuro.
— Alguns meses.
— Alguns meses só? Já faz sete anos que tenho controle dos meus poderes! — a animação de Vincent era contagiante, deixando Danielle mais confiante de si.
— O fator medo conta. E você também desmaiou agora a pouco — disse Robert, como um balde de água fria.
Danielle concordou. Sabia que o fator medo ajuda a criar coragem, e como sua vida estava sendo ameaçada, tentou de tudo para continuar viva.
— Como que, — voltou para seu lugar, escorada no carro. Sua cabeça começou a doer muito mais forte do que das outras vezes — Como foi... — sentiu seu corpo cair novamente. Não teve forças para ficar de pé, só sentiu Vicent a pegar no ar novamente. Agradeceu por ele ser rápido.
— Robert, diga que ela... — Vincent disse ressentido.
— Ela irá ficar bem, é claro. É normal. Você pegou pesado com ela, não é? — Robert pegou delicadamente a filha no colo.
— Se eu não pegasse pesado, ela iria fugir. Sério, poucas pessoas me deram tanto trabalho. Estou me segurando para não desmaiar aqui. Minha cabeça está girando...
— Deixa que eu dirijo então.
Danielle estava perdendo a consciência, ainda ouvindo parte da conversa enquanto tentava se levantar ou abrir os olhos.
— Está bem — consentiu Vincent.
Coloraram ela no banco de trás, escorada em sua mochila, de um jeito confortável. Ela sentia sua consciência escapar, mas pode ouvir mais algumas palavras:
— Me desculpe por ela...
— Tudo bem, ela vai ficar bem. Você nem imagina como essa garota tem poder. Poderá ser tão forte quanto eu.
— Sim, sim eu imagino. Ela tem potencial, isso até eu posso confirmar. E, foi uma pena o que aconteceu com o Daniel. Esse poderia ser outro.
— Você tem certeza absoluta de que era ele, não tem? — Robert olhava para Vincent, desconfiado.
— Sim, absoluta. Eu o conhecia, esqueceu? Eu cuidava da sua ala poxa, não posso confundi-lo.
— Tudo confere? Cor de seus olhos, cabelos... Até a cicatriz em seu rosto?
— No lado direito, claro. É ele sim, tenho certeza. E todos que o conheceram o reconheceram, durante a autopsia.
— Pode começar a me dar todos os detalhes sobre essa autopsia... — Danielle começou a dormir, não ouvindo o resto da conversa.
Conversaram sobre o método de autopsia, e como infelizmente Daniel seguira para o caminho errado.
Danielle acordou já em seu quarto, escuro como gostava quando estava com dor de cabeça. Ainda sentia dor, mas não latejava como antes. Com dificuldade, se levantou e foi ao encontro de sua mochila na escrivaninha. O buque, que havia até esquecido naquela altura, estava do lado da mochila, com um bilhete, além do de Edward preso nele:
Desculpe pelo ocorrido. Como não sabia se seu pai tinha conhecimento de um possível admirador secreto seu, escondi ele de Robert.
Vincent.
Danielle sorriu, pensando que Vincent pudesse ser uma boa pessoa, mesmo fazendo o que fez com ela. Pegou seu celular no bolso da mochila, vendo as horas descendo as escadas. Nove horas e inúmeras mensagens de Taylor e Edward. Imaginava quais desculpas ia dar a ambos. Agradeceu por estar com a internet desligada quando estava no carro com Vincent, poderia assim dizer que não conseguia acessar a internet, sendo esse o motivo do sumiço.
Chegou na cozinha dando a desculpa criada para os dois; Edward não havia visualizado ainda e Taylor já vinha com o discurso de que não acreditou em nada e que conversariam mais cedo no próximo dia.
Robert estava lá com seu inseparável copo de café:
— Está melhor? — ele perguntou.
Sentou-se à sua frente após pegar uma caneca de café e cookies. Estava com vontade de comer algo doce.
— Estou. Por que aconteceu isso? — perguntou se debruçando na mesa.
— Você se esforçou muito tentando fugir de Vincent. Ele é bem forte.
— Eu sou forte também, não sou? — indagou sorrindo, enquanto tomava um gole de café.
— Sim, mas de onde você tirou essa pergunta? — ele indagou rindo.
— Ouvi você dizendo... — disse molhando o cookie no café e comendo antes dele se desmanchar.
— Achei que você já estivesse dormindo — ele disse a interrompendo — Mas, sim, você já é bastante forte pelo simples fato de você já controlar bem todos seus poderes, e nunca mais teve nenhum acidentalmente.
— Posso te fazer uma pergunta? — indagou, tendo como resposta um aceno positivo de Robert — Nossa família é tão importante assim?
— Pergunte a Vincent. Ele vai gostar de te explicar melhor.
— Você conheceu Vincent somente na prisão?
— Sim, por ele estar na segunda ala e foi promovido para o meu lugar.
— Você saiu de lá para me ajudar?
— Não foi por sua causa. Depois que Daniel foi preso, eu não podia mais trabalhar lá, pois parentes de primeiro grau de prisioneiros não podem trabalhar lá. E eu cuidava logo da categoria dele.
— Categoria? Como assim?
— A prisão é separada pelos poderes das pessoas, e o tipo da prisão. E eu cuidava obviamente da categoria dos fantasmas que possuem os mesmos poderes que nós — Danielle agradecia o bom humor de Robert em responder a tudo.
— Havia muitos fantasmas?
— Assim, como nós, eram minoria. Porém, havia muitos que possuíam somente um ou dois poderes, assim, como Vincent, que só pode ficar intangível e invisível, o que também acontece com Vladimir e Taylor.
— Vincent é novo. Ele é bem corajoso em trabalhar lá... Quando posso falar com ele para saber mais sobre nossa família e Daniel?
— Fim de semana o chamo para ele te explicar tudo — disse, levantando-se.
— Obrigada.
— Você quer ver o atestado? — ele voltou, pouco tempo depois, com um papel nas mãos.
Com o atestado em mãos, Danielle sentiu certo alívio seguido de aflição. Ainda era inacreditável para ela.
Danielle foi para seu quarto pensando no ocorrido no dia que passou. Estava feliz por finalmente estar junto de Edward, mas odiou a brincadeira de Robert e Vincent.
Oi meus fantasmas! Como vão?
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Até mais!
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