30/04

Um mês se passou

Ao chegaram na escola, Danielle foi rapidamente ao banheiro, enquanto Taylor levava as mochilas para a sala.

Passava uma água gelada no rosto para ajudar a acordar, pois tinha dormido mal, com pesadelos confusos que não faziam sentido nenhum à luz do dia, mas que a assustaram muito logo ao acordar.

Já se sentia um pouco melhor quando viu Ashley entrando no banheiro. Não se importou, acreditando que a garota ficaria na dela e não incomodaria. Doce ilusão. Ashley a pegou pelo ombro, fazendo Danielle se virar bruscamente.

— Se eu fosse você, ficaria longe dele — ameaçou apontando o dedo.

— Quem você pensa que é para apontar o dedo para mim? — rebateu Danielle, puxando a mão de Ashley para baixo. Havia cansado de sempre se esquivar.

— Fique longe dele — Ashley puxou sua mão de volta e apertou o pulso como a outra garota a tivesse a machucado.

— De quem?

— De quem? — a outra revirou os olhos — Do Edward! — gritou.

Danny riu, percebendo que só levar foras para Ashley era pouco.

— Ah, você deve estar de olho nele desde o ano passado. Nossa, boa sorte! — sorriu, tentando se esquivar e sair dali. Não tinha mais paciência para aquilo tudo.

— Ele será meu — o tom de voz de Ashley mudou, tornando-se ameaçador de uma maneira que Danny não acreditava que uma garota de quinze anos poderia ter. congelou de surpresa.

— Ou — continuou Ashley, olhando fixamente para Danielle — Ele não será de mais ninguém.

Um forte arrepio, diferente daqueles com que já estava acostumada, atingiu Danielle, fazendo com que caísse no sofá. Ficou tonta por o que pareceu uma eternidade enquanto Ashley ia embora como se nada tivesse acontecido. Jurou a ter visto rir de sua reação.

Fechando os olhos para tentar amenizar o que sentia, pode ver com clareza algo que parecia real demais, quase um pesadelo enquanto acordada.

Via Edward beijando Ashley. A garota o agarrava e ele, por sua vez, a encostava na parede. Com o término do beijo, os dois se viraram para encará-la. Sentia seu corpo queimar de raiva daquela cena, quase um déjà vu, mas com outro garoto. Edward sorria de modo provocante e seu olhar de superioridade. Já Ashley estava orgulhosa por conseguir o que tanto queria: mais um garoto aos seus pés.

Danielle jurava que aquilo foi uma visão. Esperava estar errada, mas era real demais, vívido a ponto de ainda sentir a presença do casal no banheiro.

Mesmo pensando que Ashley era apenas uma garota mimada, temia que ela perdesse a cabeça e fizesse algo perigoso. A garota não parecia ter muita força física, mas tinha dinheiro para fazer qualquer coisa que quisesse com Edward, sabe-se lá o quê. Suspirou em pensar que Ashley poderia ser mais um problema em sua vida. Daniel não era o suficiente?

Nunca imaginou ficar com medo de Ashley, mas o arrepio com aquela visão estranha somada ao olhar e tom de voz da garota fizera isso com ela.

Depois de passar a tontura, seguiu para o espelho se ver. Estava claro que havia acontecido alguma coisa pela sua expressão assustada.

Para com isso, Danielle! Você não pode ficar com medo dela, disse para o espelho. Algo em que queria acreditar.

Lavou mais uma vez o rosto; a água conseguia acalmá-la e tirar a expressão de susto.

Foi para sala, Taylor esperando-a na porta, já impaciente com a demora:

— Por que demorou tanto? — indagou a amiga enquanto entravam na sala — Sério, o que aconteceu? — insistiu ela já que Danny não a respondera enquanto se sentavam em seus lugares.

— Nada, foi só... — terminou se escorando na parede — Ashley disse para ficar longe do Edward.

— E daí? Você tá com medo dela por acaso?

— Eu... — direcionou o olhar para a mesa para continuar — Estou. Ela disse isso com uma expressão de psicopata...

— Mas você não precisa ter medo dela, você pode se proteger sozinha — Taylor disse tentando confortá-la — Mesmo se fosse um tempo atrás, você ainda poderia se virar muito bem sozinha.

— Não estou preocupada comigo. Estou preocupada com ele. Um arrepio passou por mim quando ela terminou de falar. E tive uma visão, dos dois se beijando...

— Agora você virou vidente? — a amiga a interrompeu — Isso foi só a sua imaginaçãozinha, Danielle — ela apontou o dedo indicador para a testa de Danny, tocando-a de leve para fazer drama — E não se preocupe, ele pode se cuidar muito bem sozinho. Afinal, o que ela pode fazer demais?

— Eu sei que ele consegue, mas medo é algo irracional, não é mesmo?

— Tem razão. Quando se ama alguém é normal a preocupação — brincou antes de levar um cutucão no braço — Ai, doeu! — queixou-se esfregando o braço.

— Mas era para doer mesmo...

— Falando no diabo... — Taylor virou para o lado, fazendo Danielle perceber alguém havia chegado.

Edward vinha calmamente para o seu lugar enquanto a sala já estava quase cheia.

— Bom dia, garotas — cumprimentou, deixando a mochila na cadeira. Dá um beijo leve na bochecha de Taylor, mas se demora no cumprimento de Danny, chegando a abraçá-la por um tempo não tão socialmente aceitável assim.

— Danielle, aconteceu alguma coisa com você? Você parece preocupada.

Então se deu conta de como era péssima em esconder suas emoções.

— Estou bem, não se preocupe — sorriu, tentando parecer convincente.

— Se você diz, então está bem — ele assentiu.

Quando a aula começou, Danielle, não conseguia conter uma olhada para onde Edward se sentava. Achava os olhos dele incríveis, ainda mais quando estava assim tão concentrado. Também não conteve uma espiada em Ashley, que reparou estar sendo observada, parando de conversar com uma amiga para encarar Danielle, como se mostrasse que o que dissera mais cedo não era brincadeira.

Sentindo-se estúpida, Danielle compreendeu que Ashley não era ameaça nenhuma, afinal, o que ela poderia fazer? Contratar alguém para bater nela ou para forçar Edward a ficar com ela? Era ridículo. Chegou a esboçar um sorriso.

A única coisa com que deveria se preocupar agora era com seu irmão. Ninguém sabia dizer onde ele estava. Mesmo com aqueles olhos vermelhos o denunciando, não havia nenhum sinal dele, como se andasse por aí sem deixar rastros ou tivesse simplesmente sumido.

No intervalo, ela sentou-se à mesma mesa de Taylor, como habitual, e agora já era comum ter a companhia de Edward nesses momentos.

— Então, Edward, estamos há um mês querendo perguntar isso, e mesmo a gente tendo uma ideia sobre, afinal, você tem namorada? — Taylor perguntou sem rodeiros, sequer se abalando com o chute que levou de Danielle por debaixo da mesa – Porque, sabe, todo mundo aqui acha que você deixou uma namorada lá onde você morava, por isso rejeitou a rainha Ashley.

Edward tinha meio que engasgado com o refrigerante, pela pergunta repentina e estava tentando se recompor, mas ria quando finalmente respondeu.

— Não, não é nada disso. Só não acho que eu a Ashley combinamos, sei lá — deu de ombros — Mas, se eu encontrar alguém que combine melhor, quem sabe...

Foi a vez de Taylor chutar de leve Danielle por debaixo da mesa, que somente sorriu para o garoto. Porém, a leve sensação de esperança, durou muito pouco e logo Danielle se sentiu em um filme adolescente dos anos noventa: Ashley, ao passar pela mesa deles, deixou cair boa parte do macarrão com molho vermelho de seu prato na jaqueta de Danielle, ainda tendo a cara de pau de soltar um "Oops", mas seus olhos não demonstravam nenhum pingo de arrependimento. Danielle teve vontade de jogar o macarrão de volta, mas se conteve em correr para o banheiro e tentar limpar o estrago.

Mas se permitiu imaginar ela voando de volta para Ashley, no cabelo dela, arrancando metade do cabelo, enquanto esfregava o molho da jaqueta, usando o terrível sabonete líquido do banheiro feminino. Um alívio para seu coração foi constatar que o molho atingira apenas o casaco. Seu rosto e cabelo, ao contrário dos de Ashley de sua imaginação, estavam intactos. apesar disso, quase chorou pelo frio que ia sentir durante o restante do dia.

— Odeio como ela faz com que eu queira bater em outra garota — resmungou para Taylor que a esperava na porta do banheiro. Tinha feito uma bola com o casaco impossível de usar para jogá-lo na mochila quando fosse para a sala de aula.

— Ela causa isso em todas as garotas, não se culpe.

Edward as encontrou em frente à sala da próxima aula, percebendo que Danielle não vestia a jaqueta. Taylor entrou para a sala, deixando-os sozinhos.

— Não teve muito o que fazer?

— Não, menos mal que foi apenas na roupa mesmo — respondeu ela, mas estava envergonhada. Tinha certeza que estava cheirando à molho de tomate.

— Depois ainda me perguntam por que raios eu não quis nada com ela...

— Tá tudo bem, as garotas daqui já estão acostumadas com os ataques de Ashley.

— Agora você vai ficar com frio por causa dessas brincadeiras idiotas?

— Eu não estou com frio — disse sorrindo, sabendo que não soava nada convincente.

— Espera — ele tirou o casaco dele, ficando somente com a camisa de manga longa — Pode ficar com ele.

— Não, você vai passar frio — retrucou ela, colocando as mãos na frente do corpo, tentando fazê-lo mudar de ideia.

— Por favor, Danielle — ele insistiu.

Aceitou, sabia que ele venceria aquilo mais cedo ou mais tarde e não adiantava nada ficar discutindo sendo que estava congelando ali. Virou-se e ele ajudou a colocar o casaco, como um cavalheiro de cinema.

— É o seu número, não é? — Edward perguntou sorrindo.

— Acho que poderia ser um pouco... Mais curto... — fechou o casaco cinza escuro sorrindo, mostrando as mangas muito compridas para seus braços. Dava para ver de longe que não era dela.

Então, Edward a pegou desprevenida mais uma vez aquele dia, colocando as mãos de maneira delicada em seu rosto para retirar o capuz que cobria toda a cabeça, fazendo o cabelo dela ficar à mostra. Ainda muito delicadamente, ele arrumou as mechas de cabelo, deixando do jeito que ela usava todo dia. Parou de respirar, surpreendida por ele ter reparado em algo assim.

— Assim é melhor. O capuz esconde um pouco do seu rosto... Pronto — e deu um beijo suave na testa de Danielle que ainda não tinha voltado a respirar.

Durante o restante daquele dia de aula, ficou se perguntando se deveria revelar o que sentia por Edward ou se era melhor deixar as coisas como estavam para não estragar a amizade que surgiu. Só queria saber se ele se sentia assim também ou se não via as coisas como ela antes de sair por aí se declarando.

Quando as últimas aulas do dia infinito terminaram, Danielle e Taylor estavam saindo da escola quando viram um montinho de garotas espiando alguma coisa no canto mais afastado do pátio. As amigas se esticaram nos pés para verem também. E Danny descobriu que preferia não ter visto.

Aquele dia não ia terminar nunca? Sério?

Edward estava de frente a Ashley, muito próximos, conversando em voz baixa e de maneira íntima, trazendo para Danielle a imagem que tivera mais cedo, dos dois ficando bem na cara dela. Olhares e beijos que não acreditou que veria pessoalmente.

Enquanto conversavam, Edward sorria e Ashley ficava cada vez mais próxima dele. Quando se despediram, depois de aparentemente terem marcado alguma coisa, ele colocou uma mão em sua cintura e a outra em suas costas. Aproximou seu rosto lentamente do dela, quase a tocando. Um beijo era o desfecho mais adequado.

Nada daquilo era novo para Danielle, mas agora era real. Seu estômago se revirava com a expectativa de que ficariam ali na frente de toda a escola. E ela, bem idiota, usando o casaco dele toda orgulhosa.

Quis se esconder, sair correndo. Era bobo pensar assim, mas sentia que ele poderia ficar com qualquer uma, exceto Ashley. A garota que já havia ficado com Nolan e com Elliot, o ex-namorado de Taylor. A garota que era capaz de conquistar qualquer garoto que quisesse, como num passe de mágica, mas que preferia pegar os que já estavam em algum relacionamento.

Para surpresa da plateia que aguardava o desfecho final daquela cena romântica, o beijo não aconteceu: Edward, que estava quase tocando os lábios de Ashley, contornou seu rosto, chegando ao seu ouvido como para contar algum segredo quente, mas, a cada palavra do garoto, a expressão dela, que antes era de felicidade e orgulho, virava medo. Até lágrimas brotarem em seus olhos, escorrendo enquanto ele terminava de falar. Nesse momento, ela o empurrou o mais forte que pôde, saindo aos prantos pelo portão, em direção à rua, em uma cena digna de novela mexicana.

A plateia decepcionada, logo se dissipou. Edward estava escorado à parede, cabeça baixa. Taylor fez sinal para que Danielle fosse falar com ele. A garota relutou um pouco, mas foi, tanto pela preocupação para com o amigo quanto pela curiosidade em saber o que ele poderia ter falado para a Ashley para deixa-la daquele jeito.

— Está tudo bem? — perguntou, colocando a mão no ombro dele. A escola já estava vazia naquele ponto, apenas Taylor fingindo não assistir a conversa dos dois.

— Sim, só cansado.

— E o que você disse à Ashley? O que aconteceu?

— Eu falei apenas a verdade. Acho que todos aqui sabem qual é — ele ergueu o rosto, deixando Danielle ver sua expressão triste e cansada. Seus olhos pareciam de um azul mais sombrio.

— Não sei do que você está falando — no fundo, ela queria ter a certeza sobre que o pensava. Queria que ele falasse as palavras mágicas. Mas talvez ainda estivesse cedo. Cada pessoa tinha seu próprio tempo.

Ele olhou fixamente nos olhos dela, esperando alguma reação. Como não veio, suspirou.

— Eu combinei de sair com a Ashley, mas deixei claro que seria apenas como amigos, queria dar essa chance a ela, de se mostrar uma boa pessoa...

— Mas foi só isso? Por que ela fez toda aquela cena?

— Eu não sei! Não entendi nada, parece que a ofendi terrivelmente.

Ele parecia desesperado; Danny entendeu que ele jurava ter feito alguma coisa de errado para a Ashley, mas acreditava no que ele dizia, sobre não ter falado nada demais para a garota.

— Tá tudo bem Edward. Você não tem culpa sobre como as pessoas reagem — pegou na mão dele, deixando ambos surpresos pela atitude. Sua mão estava quente, era agradável de tocar. Um choque estático tomou conta deles, através das peles, fazendo com que se olhassem surpreendidos. Existia algo ali os ligando, uma força invisível fazendo com que quisessem estar juntos.

Ficaram assim por um tempo, mas poderiam ficar assim para sempre. Danielle acreditava, no fundo de seu coração, que agora seria diferente, pois o elemento Ashley não existia.

Taylor abanou para os dois, indicando que estava na hora de irem embora. Soltaram-se rapidamente, mas sorrindo. Foi quando ela percebeu que ainda estava com o casaco dele. Tirou e o devolveu a ele.

— Sério, muito obrigada, salvou minha vida.

Edward riu.

— De nada, Danielle. Até amanhã — e, mais uma vez, aproximou-se dela e lhe deu um beijo suave e delicado na testa.

Antes que ela pudesse perguntar por que ele sempre a cumprimentava desse jeito, ele já estava virando a esquina.

No caminho para casa, Danny nem se abalou com as perguntas infinitas de Taylor porque já estava preparada. Depois de contar tudo que haviam conversado e o que ele tinha dito à Ashley, Taylor bateu palmas como em um desenho animado.

— Danny, sinceramente, eu acho que ele também está bem a fim de você.

— Por que você acha isso?

— Você não viu como ele te olhou? Sem contar essa coisa de "Acho que todos aqui sabem qual é". Só você não sabe o que é.

— Para com isso, Taylor! — estava sorrindo — Para ele eu sou só uma amiga.

— Ah sim, super amiga. inclusive ele me trata exatamente igual — revirou os olhos dramaticamente — Ele gosta de você também, pode acreditar. Eu estou vendo isso, tá na cara de vocês dois!

Queria ter essa certeza também.

— E se eu fosse você, falaria o que você sente por ele — Taylor continuou, arqueando as sobrancelhas.

Depois de se despedirem, Danny conversou com seu pai sobre a demora de Daniel aparecer. Não que quisesse que ele aparecesse tentando matá-la. Mas tudo aquilo era muito estranho.

E, quando foi dormir, sabia que não conseguiria sonhar com nada além de Edward e Daniel. Era incrível como os dois a deixavam estupidamente aterrorizada, mesmo que de modo completamente distintos.

Olá meus Fantasmas!

Como vão? Surpresa! Capítulo novo, sem revisão!

Queria muito voltar, mas não consigo escrever como e quando quero, assim que possível , vou postando!

Beijos!!