43 - UMA BRIGA QUASE FATAL

Any Gabrielly Urrea

Acordo e já é tarde. Estou com o estomago em brasas e a fome grita. Me visto com um vestido qualquer e desço para a cozinha. Eu preciso urgentemente de um bom café!

Assim que termino de descer as escadas, vejo Noah sentado à mesa, com uma xícara que usa diariamente na mão, mas ele nem ao menos, tira os olhos do jornal para me encarar e eu também o ignoro, passando direto para a cozinha.

Preparo um sanduíche e pego minha caneca cheia de café e vou para o sofá, assistir os desenhos animados antigos que estão passando. Meu sanduíche está maravilhoso e me divirto ao rever Tom & Jerry, mas sinto tudo amargando quando o vejo sentando na outra ponta do sofá, mantendo a maior distância possível de mim. Ele pega o notebook e coloca seus óculos de grau... e pelos céus, eu havia me esquecido o quão bonito ele fica quando os usa. Não, que merda eu estou falando? Droga! Novamente, ele não fala nada e apenas se concentra no que faz.

Toda a sessão acaba e vou até a cozinha e lavo tudo que sujei. Vou até o sofá novamente e pego meu celular que eu havia esquecido ali em cima. Desligo a TV e vou em direção as escadas, para voltar para o quarto, mas pela primeira vez, em mais de três meses, eu ouço sua voz e sinto seu olhar direcionado a mim.

— Nós temos alguns assuntos pendentes. — diz — Vá até o escritório amanhã!

— Pra quê? — pergunto, apenas virando o rosto para trás.

— Esse casamento não passa de um negócio e é lá que tratamos sobre esses assuntos. — diz — Não quero trazer trabalho para casa... — tira o olhos do notebook e me encara — É, eu já trouxe! — diz me olhando.

— Ainda bem que você sabe o seu lugar. — digo e começo a subir as escadas — Até amanhã!

Entro no quarto e me deito, e não paro de pensar no que ele há de querer falar comigo. Achei que nem ao menos, queria me olhar na cara e agora me chama para uma reunião? Isso está estranho, mas a ansiedade não vai me ajudar em nada, mas descansar por todo o dia, vai.

Pego minha mochila, ligo para Carol e pergunto se ela quer ir até a praia e ela topa. Obviamente, liguei para Carla e já está marcado de eu ir buscar ela e a pequena Isis. Dois dias longe e eu já estou morrendo de saudades.

No closet sobrou uns duas peças de um maiô rose e me visto com ele. Pego meu chinelo, o protetor solar e parto para a casa de Carla e quando saio, nem Noah nem seu carro estão.

Dirijo em torno de vinte minutos e chego no destino e já estou ansiosa para ver minha pequena afilhada, mas infelizmente, Pedro vai conosco e só descubro isso no momento que chego na casa de Carla.

Deixo meu carro na garagem da casa e vamos todos no carro de minha amiga, já que só o dela tem a cadeirinha adequada para a bebê. Carla dirige e Pedro vai no banco da frente com ela, e eu vou no banco de trás, junto com Ísis.

Chegamos na praia e eu amo sentir esse sol gostoso no rosto. Sinto minha alma aquecida.

Estendo a toalha na areia e Jean e Pedro vão dar um mergulho, enquanto Carol, Carla, a pequena Ísis e eu ficamos na areia. Assim que os garotos voltam, vejo que Pedro tenta uma aproximação, mas eu o evito. Já tive problemas demais com toda essa história e não quero alimentar qualquer ilusão ou esperança que ele tenha em relação á mim.

Ao nosso lado, há um grupo de garotas que olham para trás todo o tempo e acenam para os rapazes que correm pela orla. Carol me cutuca e eu olho para trás e adivinhem quem é que tem causado todo esse alvoroço nas garotas? Sim, meu ''esposo'', mas ele nem olha para o lado e o vejo de longe. Ele continua correndo, sem camisa e em um short preto e esportivo e com fones no ouvido. Sinto também o olhar de fúria de Pedro. Só não digo que está me seguindo ou vigiando, porque ele corre todas as tardes.

Decido dar um mergulho para sair dessa situação e o mar começa a ficar um pouco mais agitado, mas eu só vou até a borda... bobagem!

Corro até lá e a água está gelada, mas isso não a deixa menos gostosa. Não sei nadar e nunca aprendi, mas sei até que ponto posso ir. Deixo que uma onda me atinja e me lave dos pés a cabeça. Deixo que a água salgada leve todo o resto de dor que sobrou em mim. Deixo que a maré leve a velha Any e traga uma renovada. Sem medos, sem mágoa, sem passado. Sinto meu cabelo grudado nas costas, e mais uma onda vem e a água salgada queima meus pulmões.

...

Uma luz muito forte atinge meus olhos e água sai de minha boca e nariz. Minha tosse não para e sinto mãos pressionando forte minha caixa torácica. Cuspo mais água e há gritos no fundo... vozes das quais eu reconheço e não deveriam, em hipótese alguma, serem ouvidas no mesmo ambiente, ainda mais, em discussão. Estou deitada na areia e um toque familiar toca minha nuca e gotas de água que escorrem de seus cabelos, caem em minha face, suspendendo meu pescoço e me ajudando a sentar. Minha cabeça gira e os gritos continuam. É Noah!

— Se dependesse de você, moleque babaca, ela estaria morta agora. — grita Noah.

— Eu já disse que eu não sei nadar! — grita Pedro.

— Não sei a que ponto você a conhece, mas deveria saber que ela também não sabe. — Noah diz furioso — Como é que vocês permitiram que ela entrasse em alto mar sozinha e em uma maré alta? Se algo pior tivesse acontecido, a culpa seria de todos vocês.

— Você fala como se fosse o super-homem e a protegesse de tudo. — Pedro fala e Noah parte para cima dele, mas Jean e Guilherme o impede.

— Não foi você que a tirou de lá, foi?! — pergunta Noah, ainda sendo segurado por Guilherme — Pois é, não foi! Quem a salvou fui eu. E sabe por quê? — pergunta irônico — Porque é comigo que ela é casada. É comigo que ela pode contar e é a minha, e só minha, a obrigação de protegê-la. E anota uma coisa, playboyzinho de merda, fica longe dela ou não vai sobrar sequer um osso inteiro nesse seu corpo de imundo.

— Você só pode mantê-la longe de mim se me matar, seu assassino! — grita Pedro e Noah parte para cima dele e eu junto minhas forças e o pouco de raciocínio que tenho e intervenho.

— Vocês dois, por favor, parem! — digo e vejo que Ísis não para de chorar, mas me sinto fraca demais para me levantar e vê-la — Pedro, vá para casa, por favor!

— Any, não! — diz — Me deixe te levar, por favor?

— Ela vai comigo! — Noah diz e a discussão recomeça e novamente, eu intervenho.

— Não precisa, Peu! — digo — Eu vim com Carla e volto com ele. Por favor, me escute!

— Ok! — Pedro diz e sai furioso de perto de nós — Se prefere assim...

Me levanto e Carol me enrola em uma canga, pois sinto muito frio, ainda mais que o final da tarde se aproxima. Me sinto fraca, mas me despeço de Carla e Ísis. Jean pede para que ligue, caso aconteça qualquer coisa e eu confirmo. Noah ainda está distante, mas eu ando em direção a calçada e todos os outros ainda ficam na areia, nos olhando. Ando lenta, me sinto fraca e com frio, mas em um susto, sou suspensa e Noah me pega no colo, passando seus braços por debaixo de minhas coxas e o outro em minha cintura.

— Me ponha no chão, agora mesmo! — exijo — Eu sou capaz de andar.

— Primeiro, você está lenta. Nesse ritmo, só chegaremos no carro amanhã de manhã. — diz e continua andando comigo em seus braços — Segundo, depois de hoje, não confio nas suas habilidades e muito menos nas de seus amigos, então, você aqui, sendo carregada por mim, é mais seguro. — balanço a cabeça negativamente e indignada, mas não falo mais nada. Um rapaz abre a porta do carro e ele me deposita no banco, prendendo meu cinto e fechando a porta em seguida. Ele se senta no banco do motorista e ainda está um pouco molhado, põe seu cinto e dirige para casa e todo o trajeto é em total silêncio. O único som emitido entre nós, é o som das buzinas, do vento e dos meus dentes batendo, devido o frio. Ele até aquece o ar, mas não é o suficiente, pois estou apenas em um maiô molhado e enrolada numa fina canga de praia.

Chegamos em casa e não espero ele descer e desço antes. Não quero que a cena da praia se repita e ele banque o príncipe encantado, carregando a princesa indefesa nos braços, depois de a salvar do perigo. Subo para meu quarto e peço para que Karina leve meu jantar até o quarto. Me sinto indisposta! Tomo um banho e lavo meus cabelos, os secando quando termino. Visto meu pijama confortável e me deito depois de jantar. Eu só preciso descansar e fazer com que esse frio infernal passe.

[...]

Acordo com o som do meu telefone tocando. Mal leio o nome que aparece na minha ela e atendo.

— Alô? — digo.

— Olá, Srta. Urrea! Bom dia. — diz uma moça — Desculpa ligar tão cedo, mas seu marido pediu para que a senhorita compareça hoje ao escritório às 9h!

— Claro, sem problemas! — digo — Você sabe do que se trata, Liz?

— Infelizmente, não tenho essa informação, senhorita.

— Tudo bem, obrigada por avisar! — respondo.

— Então está marcado para hoje às 9h? — me pergunta.

— Sim. Obrigada e tenha um bom dia! — digo e ela agradece, desligando em seguida.

Remexo na cama e me levanto para um banho. Ainda não me recuperei totalmente de ontem.

Troco de roupa e me passa pela cabeça as motivações de sua ordem para que eu vá até o escritório. Será que é para tratar do divórcio cancelado? Desvio os pensamentos e me visto. Pego meu carro, passo em um café e em seguida, vou para a empresa. Chego poucos minutos atrasada e logo sou convidada a entrar. Uma moça me acompanha até a porta e assim que entro, sinto aquele olhar que me analisa de cima a baixo e me sinto nua diante de um olhar tão analítico e detalhista.

— Sente-se! — diz e eu permaneço de pé.

— Não quero sentar-me. Obrigada! — digo — O que você quer?

— Quero que você se sente para que eu comece a nossa conversa. — ele diz e eu reviro os olhos e mesmo contrariada, me sento.

— Ok, pode falar! — digo.

— Eu te chamei aqui para que nós possamos resolver essa situação desfavorável que nos ronda. — diz — Nós somos casados e gostando ou não, esse não pode ser o nosso comportamento.

— Você sabe que as coisas jamais voltarão a ser como já foram, não sabe? — pergunto e ele cerra os olhos, me analisando.

— Não, eu sei que não. E eu nem pretendo que volte... — diz — Eu não voltei atrás em uma palavra sequer do que disse antes. — continua — Mas acredito que nossa convivência terá que ser no mínimo, suportável. Até porque, andei estudando o contrato e tem algumas coisas a serem discutidas entre nossas famílias, mas isso é assunto para outra hora. — fala e troca de assunto, ao ver que iria questionar — Enfim, o aniversário de Richard está chegando e devemos manter as aparências.

— Eu não quero ir e eu não vou a lugar algum. — digo, pois quero evitar ao máximo o monstro do Richard.

— E quem te deu escolha? — pergunta machista e mandão — Ele é meu irmão, é seu cunhado. Somos uma família, então, sim, você vai!

— Minha família? — pergunto e sorrio — Eu não tenho família! E mais uma, qual aparência que você quer manter mesmo? Aquela que você destruiu? Porque todos sabem que você não parava com uma mulher durante a minha ausência. Aquela garota mesmo, que está lá na recepção, só esperando a minha saída, faz bem o ''seu tipo''. — faço aspas com as mãos.

— A garota tem nome e é Isabela, afilhada de Eduardo, o gerente. — diz e óbvio que não é me dando satisfações — E mais, suas façanhas só não foram divulgadas, porque nada sai daqueles muros. — fala e seu olhar de fúria prende o meu que implora por liberdade — Não tente fazer um papel de santa que não lhe cabe... Any. — fala meu nome pausadamente.

— Hum! — digo — Não sou eu quem tem tentado bancar a pose de casal mais feliz e realizado do ano. — digo.

— Suas tentativas de me atingir são falhas, docinho! — diz e dá um passo em minha direção e só não caio para trás, porque já estou sentada — E já lhe adianto que não tente escapar... eu vou garantir, pessoalmente, que isso não aconteça.

— Tenta me prender e você vai ver só... — digo — Eu posso até parecer fraca, mas eu te garanto, você vai perder! Agora me dê licença. — digo e me levanto, indo até a porta, mas ele me alcança.

— Venha aqui! — diz e me empurra na parede, me prendendo com seu corpo e suas mãos estão segurando meus pulsos e eu tento soltá-los de todas as maneiras.

— Me solte imediatamente, seu troglodita! — grito e dou socos em seu peito, mas ele nem se move.

— Eu não vou soltar! — diz — Eu e você ainda não terminamos. Ainda temos que ter uma conversinha.

— Eu já terminei! — digo ainda me debatendo — E você pode muito bem conversar sem tocar suas mãos imundas em mim. Agora me solta!

— Você adorava o que essas mãos imundas faziam com você, se lembra? — diz e sorri malicioso.

— Não me lembro de nada, seu maldito! Me solte agora mesmo.

— Permita-me relembrá-la então. — ele diz e começa a por a mão por debaixo de meu vestido de verão, mas eu reconheço esse olhar, não há luxuria, há raiva. Ele não quer me tocar, ele quer me amedrontar.

— Não toque em mim, seu miserável! — digo e tento lhe dar uma joelhada, mas ele prende minha perna no meio de suas coxas — Me solte agora mesmo!

— Não quero! — diz e aperta ainda mais minha coxa entre as suas — Me obrigue!

— Por favor, me larga! — peço e não evito as lágrimas que descem por meus olhos — Deixe-me ir para casa em paz.

— Por que diabos você está chorando? — me pergunta e me olha assustado.

— Você está me machucando. — digo e ele me olha nos olhos por menos de um segundo e me libera de seus apertos.

— Pare de chorar e limpe o resto antes de sair. — diz e assim faço — Vá para casa e fique pronta. Nós vamos sair essa noite.

— Eu não vou a lugar algum com você! — digo.

— Não me desobedeça, inferno! — grita — Eu quero chegar em casa às 20h e quero você pronta. Karina já está instruída de tudo, agora vá e não se atrase!

Ele sai de minha frente, me dando passagem para que eu me retire. Quando passo pela recepção, noto os olhares. Com todo aquele escândalo na sala, é impossível não terem ouvido nossa briga. 

Noah Urrea

Como eu odeio essa mulher! Odeio ser subestimado, e ela é sempre tão rebelde. Odeio quando ela se coloca em risco e odeio ficar preocupado com sua integridade física.

Por que meu corpo ainda tem que reagir ao dela, mesmo depois de tanto tempo? Por que aquele maldito sorriso e aquelas merdas de lembranças ainda surgem em minha mente quando fecho os olhos?

O dia passa com lentidão absurda e quando a hora chega, vou para casa, mas passo raiva já de início. Karina me diz que Any ainda não desceu e que não está passando muito bem e subo para me certificar que não é mais um truque.

Entro no quarto sem bater e a porta está aberta. Ela está deitada, com uma grande calça de cachorrinhos e um moletom cinza, que era de seu irmão. Mas ela de longe está com cara de doente, apenas de birra mesmo.

— O que você tem? — pergunto.

— Não sei. — diz — Não me sinto bem.

— Deixe-me sentir sua temperatura. — digo e aproximo as costas de minha mão em seu pescoço, mas ela a empurra, não permitindo que eu faça.

— Não precisa fazer nada. — diz com birra e eu já estou mais que desconfiado.

— Então eu vou chamar um médico. — digo e pego meu telefone, fingindo ligar e é nessa hora que sua farsa acaba, pois ela se levanta rápido e pega o celular de minha mão.

— Eu já disse que não é necessário. — diz e me devolve o telefone.

— Pare de bobagem agora mesmo, Any! A quem acha que está enganando com esse teatrinho barato?

— Eu não quero convencer ninguém a nada! — ela diz e eu perco minha paciência, a puxando pelo tornozelo e a jogando no ombro, enquanto ela dá socos em minhas costas — Me solte, seu troglodita!

— De forma alguma! — digo — Você não está doente? Pois é, minha mãe sempre diz que a água cura qualquer coisa.

— Eu já disse para você me soltar! Eu não preciso de sua ajuda para absolutamente nada. — fala.

— Se é assim... — digo e a jogo mais para baixo das costas, fingindo vacilar para que ela caia e seus braços circulam minhas costas, mesmo estando praticamente, de cabeça para baixo e seus cabelos quase arrastam no chão.

— Você é um imbecil! — diz e eu chego no banheiro. A tiro de minhas costas e a prendo em meus braços, a jogando na banheira de roupa e tudo.

— Se arrume logo. Te vejo em 1h. — digo e ela me joga água e saio do ambiente, a deixando lá, brava e molhada.

Desço para meu mais novo quarto e me arrumo. A hora que combinei está chegando e nenhum sinal dela. Se ela não me aparecer aqui, pronta, em quinze minutos, eu subo e a busco, nem que seja amarrada. Mal encerro meus pensamentos e ela aparece, desfilando em um vestido preto e sandálias de saltos, com pequenas tiras. Em seu rosto, há um batom vermelho vinho e um risco preto nos olhos, como os de um felino. Seu cabelo está solto, com grandes cabos nas pontas e lhe alcançam a cintura.

— Minha mãe estava certa. O banho lhe fez bem. — digo — Ou será que é apenas uma mentirosa compulsiva?

— Não, não sou você! — responde — E até minha doença foge com a sua arrogância. Grande prodígio para os médicos. Deveria testar! — não lhe dou resposta, apenas viro-me, pego a chave do carro e desço até a garagem e ela me acompanha. Escolho meu Porsche vermelho e ela entra no carona, sem nem ao menos, olhar-me na cara.

Chegamos à festa e ela anda na frente, para não ficar ao meu lado, mas eu a puxo pelo braço e a mantenho por perto.

— Fique perto de mim e não saia! — digo

— Ótimo, vai me prender o evento todo. — diz baixinho e sorrindo para as pessoas — Explendido!

Entramos e noto muitos olhares e em muito tempo, e neste momento consigo ver um resquício daquela garota que um dia ela foi, tímida e envergonhada.

Somos guiados até a mesa de jogos e aqui, há só os mais bem-sucedidos de todo o estado.

Ao lado de Any, há um velho que já vi em convenções e ele a observa, sem ao menos tentar disfarçar.

Há alguns amigos meus presentes na mesa e alguns, conversam com ela e fico admirado com a sua facilidade de comunicação e desenvolver assuntos de diversas espécies. Ela é obviamente a mais jovem presente aqui, mas isso não a deixa por baixo em nível de conversa.

Na mesa também está presente pessoas das quais não tenho conhecimento e entre elas, há uma mulher de meia idade e fica bem claro sua implicância com Any, pois a olha torto e lhe dar respostas grossas, mas ela não fica por baixo, não deixando a elegância de lado em momento algum. Em uma das conversas, ela deu a entender que por ser do meio, teve vantagens no curso, mas ela rebateu com classe.

— Na verdade, Sra. Moraes, o dinheiro de minha família ou meu marido nunca me proporcionou vantagem alguma sobre concursos públicos. — diz — Até porque, com esse tipo de insinuação, a senhora põe em xeque a seriedade e profissionalismo de um dos maiores institutos de pesquisa de todo o país. — fala e sorri — O dinheiro de minha família me trouxe sim benefícios de ensino, como boas escolas e todo o auxílio necessário, mas nada além disso. Se passei no curso, posso lhe garantir que foi por puro mérito meu e de meus colegas! — fala e a mulher a olha brava e em silêncio — Garanto que se fosse um homem a passar em primeiro lugar, esse tipo de questionamento não seria feito, pois a cultura machista prega que nós mulheres somos inferiores e incapazes de sermos tão boas ou até melhores que homens, mas eu digo que não e sou a prova disso. E se me dão licença, vou até o toalete! — fala e se levanta da mesa, deixando todos admirados.

— Sr. Urrea, sua esposa é uma mulher admirável! — diz Loggie, o dono do evento.

— Sim, ela é mesmo! — digo e observo que a mulher que estava a provocar Any se retirou e isso não me cheira nada bem.

Alguns minutos se passam e ela ainda não voltou. Passo meus olhos pelo salão a sua procura e vejo ela conversando com uma moça, perto da saída. Apesar de parecer se garantir no assunto, vejo que ela está incomodada, pois está raspando as unhas nas palmas das mãos. Levanto-me e vou até lá.

— Atrapalho, meninas? — pergunto.

— Não, de forma alguma! — diz — Essa é Esther, Noah!

— Prazer, Esther! — digo e estendo a mão e a garota aperta, se insinuando e me analisando.

— O prazer é todo meu, Sr. Noah Urrea. — diz.

— Então. Do que estavam falando? — pergunto.

— Ah, nada demais! — Any diz — Ela só estava me contando de como a irmã dela ficou arrasada quando você a dispensou.

— Irmã? — pergunto confuso.

— Sim, a irmã dela. — diz — Essa é Ester Nobel, Noah. Filha mais nova da doutora Nobel e irmã de Alana Nobel, minha querida colega de classe.

— Ó! — digo — Mas passado é passado, garotas!

— Parece que minha amiga Ester não entende isso muito bem, não é mesmo, Ester?! — pergunta e sorri — Já que está me culpando por você ter abandonado a irmã dela.

— Ela vai superar! — digo e sorrio, deixando a tal Ester furiosa — Vem Any, os anfitriões estão a nossa espera. — digo e a puxo pela a mão discretamente, mas ela tenta se soltar e quando nos afastamos, ela diz:

— Me solte imediatamente!

— Não, querida! Você vai comigo até aquela mesa, colocar o seu melhor sorriso, tratar todos bem como sempre e só falar quando for convocada. — ela me lança seu pior olhar, mas me acompanha e se senta novamente.

— Sua esposa é belíssima, Urrea! — diz o velho que está sentado ao seu lado.

— Obrigada! — ela responde e eu agradeço em um gesto simples de um balançar de cabeça.

Os jogos continuam e não passa muito tempo, até que Any se levanta rapidamente e se coloca de pé ao meu lado, pegando minha mão e me olhando aflita.

— Eu quero ir pra casa. — diz.

— Ainda não. Está muito cedo! — respondo.

— Por favor! — pede, mas eu faço que não com a cabeça e ela solta minha mão e sai do salão rapidamente. De início, achei que era pirraça e que havia ido no banheiro para me provocar a ira com toda a demora, mas ao observar seu lugar vazio, vejo o homem que estava ao seu lado cochichar algo para um dos garçons e sorri e algo me diz que não vou gostar nada de saber as palavras que ele proferiu. Levanto-me e vou em busca dela, mas não a vejo em lugar nenhum. Pergunto a mestre de cerimonias e ela me informa que a viu indo até a saída e dou alguns passos para ir atrás dela, mas um dos garçons me chama em um canto e estranho a atitude.

— Eu preciso falar com o senhor. — diz o rapaz muito bem-educado.

— Sim, pois diga! — falo.

— Eu só preciso que o senhor me dê a certeza de sigilo e que ninguém saberá que essa informação saiu de minha boca.

— Claro, Edson. Você tem a minha palavra! — falo.

— Tudo bem! — diz e olha para os dois lados antes de falar, para certificar-se que não há ninguém nos observando — Eu vi o velho Marques, o que estava ao lado de sua esposa, a assediando por debaixo da mesa.

— Como é que é? — pergunto, já com o sangue borbulhando.

— Quando fui servir as fichas, eu o vi colocando a mão na perna de sua esposa. Pensei que talvez, estivesse enganado, mas ele comentou com um outro garçom e ele contou lá na cozinha então, tive certeza do que vi. — ouço e não espero nem ele terminar a história.

— Obrigado por me contar, Edson! — digo já me virando para sair — E fique tranquilo, isso ficará entre mim e você, mas aquele filho da puta vai me pagar por esse constrangimento e falta de respeito.

Saio irado e volto ao salão, mas o maldito já não está mais lá. Procuro seu rosto imundo em toda a sala e o vejo flertar com uma outra moça casada e é nítido o incomodo dela. Me aproximo e o pego pelo colarinho e ele arregala os olhos.

— Eu só vou falar uma vez e espero que você e essa sua mente idosa decore, velho filho da puta! — aperto mais sua gola e seus pés quase saem do chão — Não encoste mais suas mãos imundas em minha mulher se não quiser que eu as arranque agora mesmo.

— Bom, não sei por que tanto estresse. — diz o velho me desafiando — Por que não dividir a carne nova? E ela parecia estar bem interessada em minhas intenções. — diz e eu perco o controle e é agora que eu vou arrancar todos os dentes desse velho asqueroso, mas ouço a voz de Any e sinto seu toque em meu braço, me pedindo para parar. Olho pro seu rosto e ela chora e me encara assustada.

— Noah... por favor! — pede em um sussurro e eu, com muito esforço, solto o pescoço do velho maldito e o deixo desabar sobre as próprias pernas.

— Ele tocou em você? — pergunto gritando, não lembrando de todas as pessoas que assistem a cena.

— Noah, para! — ela pede baixinho.

— Fala, droga! — grito nervoso — Esse desgraçado tocou em você? — pergunto mais uma vez e ela me implora com o olhar — RESPONDA, PORRA! — grito, mas ela continua calada e chora ainda mais, mas em silêncio e isso me faz respirar fundo e tentar acalmar o demônio raivoso e descontrolado dentro de mim. Pego em seu braço e a guio até a saída para irmos embora, mas ouço a voz do velhote gritando.

— É muito egoísmo de sua parte, Sr. Urrea não querer dividir uma mulher como essa para todos nós. — ouço suas palavras e nesse momento, arranco meu braço das mãos de Any e parto para cima do filho da puta.

— Isso é pra você aprender a respeitar mulheres comprometidas. — lhe dou um soco no rosto e ele cai no chão— Esse é pra pensar duas vezes antes de tocar o dedo em uma mulher sem consentimento — lhe dou um murro no maxilar — E esse é pra aprender a nunca mais tocar, pensar ou olhar pra minha esposa ou algo que me pertence! — lhe dou mais dois socos na face e saio de cima, o deixando sangrando no tapete caro — E da próxima, eu mato você! — digo e vou em direção a Any, que ainda continua parada, no mesmo lugar, em choque. Pego em seu braço e ela acompanha, com o olhar perdido e calada — Entra no carro! — ordeno.

— Não! — diz e balança a cabeça negativamente e encolhida — Não com você nesse estado.

— Entra agora no carro, droga! — digo e a empurro para dentro e bato a porta com força, entrando pelo o outro lado. Ela encolhe as pernas e as põe em cima do banco, as abraçando e escorando a testa nos joelhos.

O caminho que duraria vinte minutos, eu fiz em cinco. Chego em casa e ela desce do carro e corre para dentro, mas eu a alcanço ainda na sala e minha raiva ainda não diminuiu em nada.

— Ele tocou em você? — pergunto e ela ainda está chorando, com seu rosto borrado de preto.

— Eu não quero falar sobre isso! — ela diz e sobe as escadas correndo, mas eu vou atrás dela e entro como um furacão.

— Você gostou do toque dele, Any? — pergunto furioso — Responda, porra! — grito.

— Noah, para! — ela diz e eu a encosto na parede.

— Você gostou da merda do toque dele? — pergunto gritando e ela ainda chora compulsivamente. Estou irritado e ela não está me ajudando em nada com esse silêncio e dou um soco na parede e minha mão atravessa a base de madeira — RESPONDE A MERDA DA MINHA PERGUNTA, ANY! VOCÊ GOSTOU QUANDO ELE ENFIOU A MÃO DENTRO DA SUA SAIA? — ela me encara e fica em silêncio — Para de chorar e me responda!

— Noah, por favor... eu imploro... por favor! — ela pede e me afasto, mas ela corre e eu a pego a tempo, a jogando na cama e a prendendo com meu peso, mas ela não para de se debater.

— Para por favor! — chora desesperada — Por favor...— grita — Por favor... você está me machucando! — ela pede e minha ficha cai. Eu jamais a machucaria. A solto e no desespero, ela cai da cama continua chorando, tentando se levantar. Estendo minha mão para ajudá-la, mas ela não pega e se levanta, escorando as costas nos pés da cama. Ela fica de pé e eu seguro em seus ombros, fazendo com que ela me encare e os empurro para baixo, para que ela sente e assim ela faz, sentando-se aos pés da cama e eu me ajoelho a sua frente, para poder olhar em seu rosto.

— Por favor, responda à pergunta que lhe fiz. — falo mais calmo —Só responda a merda da pergunta.

— Você está me assustando... — ela gagueja pelos prantos do choro — Eu estou ficando com medo de você!

— Só responda e eu saio. — digo — Eu prometo! — falo e pergunto mais uma vez — O maldito Marques tocou em você? — ela balança a cabeça em sinal de positivo receosa — Quero ouvir sua resposta verbalizada.

— Sim! — ela diz — Ele... ele me tocou.

— O que ele fez? — pergunto e não obtenho respostas — Diga logo! O que ele fez?

— Tentou colocar a mão dentro de minhas roupas. — diz.

— Ele enfiou aqueles dedos imundos dentro de você? — pergunto e cerro os dentes de ódio por temer a resposta.

— Não! — diz — Eu me levantei e sai no segundo em que senti a mão dele em minhas pernas.

— Eu vou matá-lo! — digo e me levanto, mas ela segura meu braço.

— Não, por favor! — ela pede — Eu imploro por tudo que é de mais sagrado, não faz isso!

— Por que não? — questiono cheio de ira — Por acaso gostou do toque dele?

— Não! — ela fala bruscamente — Claro que não! — fala e passa as mãos pelo rosto, enxugando todas as lágrimas que derrama — Mas já foi. Isso passou!

— Passou? Isso está longe de acabar. — digo — Aquele velho infeliz verá o demônio ainda hoje e eu mesmo, o mandarei pessoalmente. — levanto-me e ela tenta me seguir, mas fecho a porta e a tranco lá, para que não me siga e tente me impedir.

[...]

Duas horas depois...

Sai disposto a matar o infeliz, mas a sorte dele é que não tirei da cabeça os gritos de Any presa no quarto, pedindo para que eu não cometesse um crime. Penso também que talvez, no meu momento de ira, eu posso a ter machucado, quebrando a promessa que fiz a Carolina e também ferindo a minha ética de homem. Respiro profundamente e apesar de minha alma pedindo o sangue daquele desgraçado em uma taça de vinho e sua cabeça em uma bandeja, adio tudo e volto ao quarto para vê-la!

Abro a porta lentamente e ela ainda permanece no mesmo lugar, sentada no chão, chorando, com as mãos na cabeça.

— Vá se deitar! — digo me ajoelhando ao seu lado e ela me olha assustada, levantando rapidamente e me olhando nos olhos.

— Graças à Deus você voltou! — ela diz e por um segundo, um único misero segundo eu pensei que ela fosse me abraçar — O que você fez?

— Nada! — respondo — Ele vai pagar sim pela audácia de tocar no que é meu... — digo e tenho certeza que se fosse em outra ocasião, ela rebateria — Eu te machuquei? — digo, olhando seus pulsos e braços, para ver se há alguma marca.

— Não. — diz.

— Tudo bem! — falo e suspiro — Vá dormir e descanse. Hoje foi um longo dia. — digo e me levanto, saindo do quarto em seguida, vendo que ela continua no mesmo lugar, em choque. Entro em meu quarto e um ódio tão grande me consome que sou incapaz de dormir por um mês inteiro. 

Notas finais:
LEIAM: MEU PROFESSOR

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