35 - UMA TRAMA DE LIBERDADE
Any Gabrielly Urrea
Eu sou mesmo uma imbecil, idiota, que merece sofrer! Fiquei toda a noite acordada e preocupada com ele, dirigi horas para lhe explicar meus complexos e medos, mas ao chegar aqui, revivi uma cena que vi há quase quatro anos atrás..., mas dessa vez, diferente da outra vez, meu coração doeu e o senti sendo esmagado em meu peito.
Noah e Alana, juntos! E eu acreditando que aquele idiota cretino gostava de mim. Como eu sou iludida, meu Deus! Que raiva de mim por acreditar que ele me queria, que raiva de mim por isso estar doendo tanto e eu não consegui parar de chorar. Que ódio de mim mesma por nunca ser suficiente e estar aqui sentada no chão do corredor, enquanto os dois estão lá na sala, fazendo sei lá o quê! Eu sou uma estupida! Por que tem que doer tanto? Por que teve que ser com uma colega de classe minha e que me odeia? Por que eu não ouvi os meus extintos primários? Por que eu duvidei de mim mesma e do meu existindo e acreditei nele? Eu estava certa desde o início, ele só queria me usar!
Eu preciso sair daqui. Preciso ficar longe dele e dessa cidade! Isso não pode estar acontecendo... não pode! Enxugo minhas lágrimas e me levanto, saindo pela recepção rapidamente e indo até o carro. Dirijo até em casa e não posso evitar em chorar por todo o caminho e encontro Sebastian na entrada da casa.
— Sebastian, você poderia deixar o carro que meu pai me deu pronto? — peço, ignorando totalmente o fato de ele notar que andei chorando — Eu mesma vou dirigir!
— Está tudo bem, Srta. Urrea? — pergunta preocupado.
— Está tudo bem, Sebastian. Obrigada! — digo — E me chame de Any ou pelo sobrenome de minha família, Soares. Eu não sou mais uma Urrea! — falo e subo para o quarto.
Pego minha mala e começo a arrumar. Coloco lá apenas o que eu trouxe da casa de minha família, nada além disso. Alguns minutos depois, ouço barulhos na escada e a porta do quarto sendo aberta bruscamente e não me dou ao trabalho de olhar.
— O que pensa que está fazendo? — Noah me pergunta e a raiva em sua voz nunca foi tão presente e eu não lhe dou resposta e ele grita — CARALHO, O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?
— Por acaso é cego? — pergunto e não tiro meus olhos das roupas, muito menos, paro o que estou fazendo — Não vê que estou arrumando minhas malas?
— E para quê está arrumando as malas? — pergunta irado — Diga! Por que está arrumando as malas?
— Você só faz pergunta idiota quando está nervoso ou é do seu feitio mesmo? — pergunto grossa e irônica — Eu estou indo embora!
— Já vai fugir com o merda do seu amante, traidora? — pergunta e o encaro furiosa.
— Amante? — pergunto chorando de raiva — Não sou eu quem tem um amante, seu cretino mentiroso. Talvez, eu deva ir agora mesmo para deixar a casa livre para você não precisar levar a suas conquistas para o escritório.
— E o que foi aquela cena patética no corredor? — pergunta — Eu vi, Any! Eu vi você com aquele moleque riquinho. Pode tirar a máscara de boa moça que agora eu sei bem a sua verdadeira face de vagabunda!
— Você é um idiota! — choro ainda mais pelas palavras ofensivas e nem tento me explicar a respeito de Pedro — E se você viu, deveria aprender com meus erros e com os seus próprios erros e trancar a porta da próxima vez. — digo e sorrio triste — Ou acha que eu não vi você e Alana juntos?
— Alana! — diz — Então esse era o nome da garota que fez comigo tudo que você não fazia... tudo que você fazia com o seu namoradinho. — diz e eu balanço a cabeça para não atingí-lo com um vaso de plantas — A propósito, ela é muito gostosa! Uma das melhores, eu diria.
— Você é pior do que diziam... pior do que eu imaginava! — digo — Pedro tinha razão... ele estava certo em tudo sobre você! Meu coração não tinha como sair ileso nessa história toda, porque você o quebrou Noah. Você o destruiu com seu joguinho sujo. E quer saber? Ainda bem que eu não fui tão boba! Eu jamais iria para a cama com alguém como você!
—Então esse é o nome dele? Pedro! — diz e sorri sombrio — Você acha que isso me comove, Any? — pergunta e gargalha e não lhe dou mais resposta. Pego minha mala e desço as escadas, encontrando já meu carro pronto e graças aos céus, Noah nem ao menos, tentou me seguir. Sebastian abre o porta-malas e coloco minha mala lá, rapidamente. Ele fecha a porta do porta-malas e eu sorrio e ele me encara.
— Boa sorte, menina! — diz.
— Obrigada, Sebastian! — digo e o abraço — Mande um beijo para Karina! — o solto e enxugo minhas lágrimas — Diga a ela que não deu tempo para eu me despedir.
— Claro! — diz e sorri e vejo que seu olhar é de pura pena. Sebastian abre a porta e eu entro, prendo o cinto e pego a estrada.
Dirijo até o campus na intenção de conversar com a diretora e o coordenador. Estou disposta a voltar atrás e haverá uma votação entre o grupo para escolher quem deve entrar na fila de espera. Mas o coordenador me diz que não será necessário, já que surgiu uma vaga e fico furiosa ao saber que o nome de Pedro foi retirado da lista.
— Como assim retirado, Sra. Keller? — pergunto — Quem retirou o nome dele da lista, Sr. Morgan?
— Seu marido, Srta. Urrea! — diz o coordenador.
— Não pode ser! — digo e uma raiva gigante me consome — Coloque o nome do Sr. Burgh na lista novamente.
— Não podemos desobedecer a uma ordem direta do financiador, Srta. Urrea. Desculpe! — diz a diretora Keller.
— Pode confiar... meu marido faz tudo que eu quero! — digo e eles ficam receosos, mas colocam de volta e eu, vou tratar agora de tê-lo na palma de minha mão. Ele pisou no ponto fraco de uma Soares e ele verá que não se brinca. Posso não conhecer sua verdadeira face e caráter, mas sei muito bem como manipulá-lo e ele não cederá se não tiver nada em jogo e é exatamente disso que eu vou tratar.
Pego meu telefone e ligo para um número específico. Saber ouvir nos traz muitas vantagens. Disco o número e no segundo sinal, o telefonema é atendido.
— Consultório da Dra. Nobel. Com quem eu falo? — pergunta a moça do outro lado da linha.
— Boa tarde! Eu me chamo Any Gabrielly Urrea e eu gostaria de uma consulta de urgência com a Dra. Nobel. Se possível, para a próxima hora! — digo e consigo marcar com facilidade por conta de meu sobrenome. Em poucas horas, chego ao consultório e logo sou recebida.
— É um prazer enorme recebê-la, Srta. Urrea! — diz — Só a atendi, porque é urgente e para você.
— Me chame de Any, por favor! — digo e sorrio.
— Sente-se, por favor, Any! — diz e assim faço — No que posso ajudá-la?
— Bom, doutora, eu tenho uma viagem longa a se fazer e decidi fazer consultas de rotina. — digo — Eu viajo no máximo amanhã e gostaria de fazer tudo com uma médica de confiança e séria, principalmente, uma que foi médica de minha falecida mãe.
— Claro, filha de Marrie Soares! — diz e sorri — Que eu mal lhe pergunte, Any... há quantos anos ela partiu?
— Dezesseis anos, doutora. — digo — Ela partiu e eu tinha três anos e meu irmão doze.
— Sinto muito, querida! — diz.
— Obrigada, doutora Nobel! — digo e sorrio.
— Então, vamos começar? — diz e eu aceno positivamente, escondendo meu nervosismo — Pode ir até a sala se trocar, por favor!
Vou até a sala e me troco e assumo que estou muito nervosa. É a primeira vez que venho ao ginecologista sozinha, pois em todas as outras vezes, Cat estava comigo..., mas dessa vez, eu teria que vir sozinha.
— Deite-se aqui e posicione suas pernas separadamente na parte suspensa, ok? — ela diz e assim eu faço. O exame começa e ela faz algumas coletas. Vejo que ela tem me olhado estranho e eu sei o motivo, mas me calo. A doutora Nobel é uma médica responsável, mas desde sempre, tem uma fama de conservadorismo extremo por conta de sua religião e isso atinge suas filhas. Alana Nobel e Esther Nobel. Não foi por qualquer motivo que eu a escolhi.
— Pode descer, querida! — diz quando termina — Pode ir se trocar e quando voltar, a gente conversa. — diz e assim eu faço. Espero que tudo saia como o planejado... não posso falhar! A vaga de Pedro depende disso. Volto para sala e ela me encara — Sente-se, por favor.
— Obrigada! — digo e me sento, tentando fazer meu coração se acalmar. Ela não para de ler os documentos em suas mãos e me olha — Há algo de errado, doutora? — pergunto.
— Não exatamente! — diz — Qual foi a sua última consulta ao ginecologista, Any?
— Acho que há uns sete anos. — digo — Acredito que eu deveria ter uns treze anos.
— Ok! — diz e anota — Quantos anos você tem?
— Eu fiz vinte não há muito tempo. — respondo e ela anota.
— E a quanto tempo está com o Sr. Urrea? — questiona.
— Ao todo, quatro anos. — digo — Mas de casamento, pouco mais de cinco meses.
— É um longo tempo! — diz — Então me esclareça uma dúvida, Any. — diz e eu aceno com a cabeça para que ela continue — Por que ainda é virgem?
— Por que... por que eu nunca fiz sexo!? — digo irônica e sem graça.
— Obviamente! — diz — O que me intriga é o tempo juntos. Você não vem de uma família religiosa, muito menos seu marido. Não é segredo para ninguém a fama de mulherengo dele.
— Sim, eu sei! — digo.
— Admiro sua postura de esperar até o casamento. Mas continuar virgem mesmo depois de casada, é pecado! — fala e eu continuo constrangida — Seu marido é um homem rico, muito bonito e chama bastante a atenção desde muito jovem. Você também é belíssima! — ela diz e eu agradeço — Ele não a busca na cama?
— É complicado, doutora! — respondo.
— Há algum problema com a masculinidade dele? — pergunta — Eu posso o encaminhar para especialistas.
— Esse não é o problema, doutora Nobel. — rebato.
— E qual é o problema? — pergunta — Fui amiga de sua mãe e me sinto na obrigação de ajudá-la, como se fosse uma de minhas filhas. Se continuar assim, perderá seu marido pra uma biscate qualquer.
— É por isso que vim até aqui. — digo, criando coragem — É por isso que eu tenho uma substituta para essa função.
— Substituta? — questiona — Que absurdo, Any! — fala indignada.
— Sim! — respondo — E eu garanto que a doutora a conhece muito bem. — digo e ela me encara, confusa — Alana Nobel, sua filha!
— Que conversa é essa, Any? — ela se exalta — Minha filha é uma moça decente e pura! Jamais se envolveria com alguém casado.
— Mas fez, doutora! E Alana é minha colega de classe. — digo — Eu descobri que ela tem um caso com Noah, meu marido. E sinceramente, eu não me importo! E eu também não estou aqui para prejudicá-la, pois foi Noah quem me prometeu fidelidade, não ela.
— Any, isso é... — a interrompo.
— Deixe-me terminar, por favor! — ela faz que sim com a cabeça e eu continuo — O meu casamento não foi convencional... eu me casei com uma pessoa que eu mal conhecia e eu cheguei perto de me apaixonar, mas eu descobri tudo antes. E como eu disse, não quero prejudicar Alana, muito pelo contrário.
— Prossiga, por favor! — diz a doutora Nobel.
— Doutora, eu me esforcei muito para ganhar a bolsa que vai nos levar até a especialização. Todos ali merecem, inclusive Alana, mas a senhora pode ver isso no projeto... quem mais se esforçou foi Jean, Pedro e eu. E agora, por pura birra, Noah quer excluir Pedro, porque ele acha que temos um caso, mas não é verdade e a senhora mesmo pôde comprovar no exame. Eu nunca estive com ninguém... nem Noah e muito menos, Pedro, que é meu amigo — começo a chorar — O que eu quero dizer, doutora, é que sei que a senhora criou suas filhas de uma forma conservadora e também sei que no fundo, a doutora sabe do caráter de suas filhas... e eu não estou aqui para julgá-las. — continuo — A questão é que de longe, Noah foi o primeiro de Alana, mas pode ser o último. Ela faz exatamente o tipo dele!
— Ele jamais a trocaria por minha filha. — diz — Você está certa, eu conheço a minha Alana! E é por isso que sei que um homem de respeito não trocaria uma mulher que é só dele por uma que já foi de muitos.
— A doutora está enganada! — digo para convencê-la — Noah tem muitos defeitos sim e agora, eu o odeio, mas ele não é o tipo de homem que separa mulheres em grupos de ''para casar'' e mulheres ''para se divertir''. Ele não se importa com esse tipo de coisa... e ele nem sabe que eu sou virgem e nem vai saber! E se ele me deixar em paz, é o caminho para Alana fazer um bom casamento. Mas pra isso, eu preciso da sua ajuda. A senhora sabe que nenhum homem de sua igreja se casará com Alana. Por favor, doutora!
A doutora fica em silêncio, como se pensasse na proposta e finalmente, aceita me ajudar.
Combinamos de que ela irá até a casa de Noah e ameaçar contar para todos o que aconteceu entre ele e sua filha. Sabemos como ele preza a boa imagem de família e coincidentemente, eu estarei lá, para buscar uma mala que esqueci acidentalmente antes de viajar e assim, somente eu, conseguirá fazer um acordo com a doutora Nobel, mas não sem antes, fazer um acordo com o ''meu marido''.
Saio do consultório e sigo o plano. Vou para casa e ele está sentado no sofá e falta dar um pulo quando me vê, mas eu o ignoro e subo as escadas e finjo procurar algo. Desço novamente e vejo Karina.
— Karina, boa tarde! — digo e ela responde — Por acaso você viu minha mala menor?
— Srta. Urrea, eu acho que aquela mala foi doada. — ela responde e a campainha toca e já sei que é a doutora. Então, subo correndo para o quarto e de lá, ouço a gritaria e desço, para amenizar a situação, como foi o combinado.
Acho um milagre a casa não estar lotada de seguranças, já que a gritaria está muito alta e vejo que Noah já dispensou Karina e está muito vermelho. Sinal que está com muita raiva ou muito nervoso.
— Eu já disse que não quero dinheiro, seu moleque! — diz a doutora — Todos na cidade vão saber a verdadeira face dos Urrea!
— O que está acontecendo aqui? — pergunto, começando a minha parte da trama.
— Suba agora, Any e não desça! — Noah diz — Eu resolvo isso aqui.
— Primeiramente, eu não sou nenhuma criança e você não manda em mim. — digo — E eu estou vendo muito bem como você resolve as coisas. — digo e desço o restante das escadas.
— Não se meta! — ele diz e me encara de frente, mas não abaixo o olhar.
— Eu já estou metida nisso até o pescoço e foi você quem me meteu nessa situação. — digo — Eu posso falar com ela.
— O que te faz pensar que ela ouviria você? — pergunta ainda bravo.
— Eu sou mulher, ela é mulher. — digo — Ela é mãe eu sou filha!
— Que justificativa admirável, Any! — diz — Agora suba!
— Me deixa tentar! — falo — E se eu conseguir, quero duas coisas de você!
— Você vai falhar... — diz — Mas se conseguir, te dou essas duas coisas. Contanto, que nenhuma seja o divórcio.
— O quê? — pergunto assustada — Por que não?
— Porque eu não vou te liberar. — diz — É pegar ou largar! Qualquer coisa, menos o divórcio. — Penso em recusar, pois a primeira coisa era exatamente o divórcio, mas eu não posso arriscar e estragar a chance de Pedro, então eu aceito.
— Ok! — digo e saio, levando a doutora para uma poltrona mais afastada e fingimos fazer um acordo e pelo visto, Noah caiu feito um patinho. Pego na mão dela e a acompanho até a porta e pelo visto, deu mais que certo e vejo que ele me observa e o estranho é que não reconheço esse olhar. É como se fosse outra pessoa aqui, na minha frente.
— Por que você fez isso? — pergunta — Por que você me ajudou e o que você disse pra ela?
— Não importa! — digo — E eu fiz porque você me deu a sua palavra de que me daria duas coisas em troca de minha ajuda.
— E o que você quer? — pergunta com os dentes travados.
— Eu quero que você libere as autorizações para que Pedro e eu possamos ir á viagem de especialização que ganhamos. — digo.
— Você acha mesmo que eu vou deixar você fugir como seu amante? — pergunta — De forma alguma! Você é minha! — diz e segura meu braço.
— Me solte agora mesmo! — digo — E entenda de uma vez, eu não sou, nunca fui e nunca serei sua! — ele me encara e me analisa.
— Eu não vou assinar nada. — ele diz.
— Bom, então divirta-se e se entenda com sua mais nova sogra. — digo e ele aperta meu braço e por um instante, ele se aproximou demais.
— Eu assino! — ele diz.
Notas finais:
Por hoje é só ♥️
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