Capítulo 2

Capítulo 2

Novembro de 2008

Alyssa

— Você é inacreditável! Às vezes penso que talvez você nem seja uma pessoa de verdade. — Gaspar diz todo irônico.

Ainda era difícil entender como a Duda aguenta o Gaspar há tanto tempo, agora compreendo quando dizem que o amor é cego e surdo. Se bem que ele era bem meloso e ela adorava isso, e também certinho demais e isso me dá nos nervos.

— Vou fingir que não entendi seu comentário, Gaspar, porque eu sei que você é um cínico, que adora bancar o imaculado Deus da perfeição — falo no meu melhor tom debochado e provocador.

— Vocês não vão começar? Por favor, crianças, me deem uma trégua hoje, pode ser?! Não comecem a discutir. — Duda fala, enquanto termina de fazer o suco.

Sempre considerei o tempo como saltar de paraquedas, nos parece lento no início, até abrirmos o paraquedas e colidirmos com o solo, e termos a percepção que tudo foi muito mais rápido do que imaginávamos, se bem que nunca saltei de paraquedas na vida, mas sem dúvidas esse é um item na minha lista de coisas que preciso fazer antes de morrer.

Depois de mais de um ano de amizade com o Gaspar e Henrique a relatividade do tempo era algo irrelevante, parecia que eu conhecia aqueles dois há muito mais tempo. Duda e Gaspar começaram a namorar depois do primeiro encontro, o que achei um pouco radical, mas ela disse que estava perdida de amor e tinha certeza que era ele, então quem sou eu para fazer julgamentos? Os dois começaram a morar juntos seis meses depois, outra loucura da Duda, mas se ela estava feliz eu também estava. Mesmo o Gaspar sendo o cara mais chato que eu conheço, não que ele fosse um completo sem graça, até que ele era bem divertido quando queria, só que às vezes ele me dava nos nervos como neste exato momento.

— Então pede para o seu namorido parar de implicar comigo — falo fazendo uma careta para o Gaspar.

— Agora eu estou implicando por falar a verdade? Fala sério, Lys! Nunca conheci ninguém em toda minha vida, que tem tanto mau gosto para homens. E o que estou falando é um fato, desde que nos conhecemos que você vem provando que minha teoria é muito válida — ele coloca uma travessa de panquecas em minha frente, nesse momento lembrei mais um ótimo motivo para aguentar suas chatices. Ele prepara o melhor café da manhã do mundo. Na verdade, ele também prepara o melhor jantar e almoço o que não é muito surpreendente, já que ele era Chef de um dos melhores restaurantes de Blumenau.

— Só não digo onde você pode enfiar sua teoria porque essas panquecas estão com um cheiro muito bom, senão você ia escutar — ele me dá um sorriso de deboche, detestava aquele sorriso dele. A verdade era que mesmo adorando ser o rei das lições de moral, éramos amigos. Ele coloca em minha frente um prato para que eu possa me servir, vira-se e volta sua atenção para o fogão. Não tinha a menor ideia do que ele estava preparando, mas o cheiro estava incrível.

— Lys, vocês dois ficaram juntos por cinco meses, se ele não consegue enxergar a garota incrível que você é, então eu acho que não vale a pena continuar investindo nesse relacionamento. Além do mais, não é a primeira vez que ele mente para você. — Duda fala sentando ao meu lado no balcão. O apartamento deles é pequeno, mas muito confortável, com quarto, cozinha, sala, banheiro, área de serviço e sacada, que ficava nos arredores do centro de Blumenau. Eu ainda morava no mesmo apartamento que dividi com Duda, mas agora dividia com outra colega da faculdade, foi necessário para que pudesse bancar as despesas.

— A primeira vez não foi exatamente uma mentira, foi mais uma omissão — não queria que minha voz parecesse estar tão na defensiva.

— De acordo com você, mentir e omitir são a mesma coisa, então a meu ver, você deu chances de mais ao Ricardo — sabia que a Duda tinha razão e por mais que eu detestasse admitir o Gaspar também tinha razão, eu verdadeiramente tenho o dedo podre para homens.

— Você acha que ele pode estar me traindo? — Pergunto tomando um gole enorme de café, cafeína era o meu melhor remédio, sempre me ajudava a pensar melhor e o café do Gaspar parecia ter vindo direto do Monte Olimpo.

— Eu não sei! Detesto julgar as pessoas sem ter certeza ou provas, mas caso ele esteja traindo, é apenas mais um imbecil que não soube dar valor a você, portanto não te merece.

— Caso ele esteja? — Gaspar questiona voltando sua atenção para nós duas, coloca o que estava cozinhando no refratário e caminha até o balcão. — Amor, você é razoável demais — o conteúdo do refratário parecia ser mines omeletes, o cheiro estava incrível, assim que ele coloca na mesa, pego duas.

— O que está querendo dizer com isso? — Duda pergunta com a testa franzida. Eu estava curiosa também.

— Muito simples. Homens só têm dois motivos básicos para mentir ou omitir para uma mulher. Primeiro, provavelmente se sente mal por ter culpa no cartório e em segundo, pode ser que esteja escondendo algum segredo que não queira que você descubra. Seja qual for o motivo, ambos podem envolver um motivo central "mulher". — Nós duas ficamos encarando-o, se pensasse logicamente ele poderia ter razão.

— Se o que você disse é verdade, acaba de nos revelar um segredo do universo dos canalhas, amor. — Duda fala com ar de riso, Gaspar beija-a, apenas um encostar de lábios, porém terno. Era incrível ver os dois juntos, e me fazia ter esperança de quem sabe um dia encontrar um amor assim ou pelo menos parecido.

Continuamos a tomar café da manhã e a debater sobre minha trágica vida amorosa, chego à conclusão de que o melhor era pôr um fim no meu relacionamento com o Ricardo, as mentiras/omissões dele já estavam se tornando frequentes e sempre que eu o confrontava ele acabava inventando alguma desculpa ou história mirabolante. Em alguns momentos notei que a Duda parecia um pouco inquieta, não pude deixar de me perguntar, por quê? Depois que terminamos o café, Gaspar foi até os fornecedores do restaurante e a feira livre da escola agrícola, quem disse que Chef trabalhava apenas durante a noite! Depois que ele saiu e finalmente ficamos sozinhas, voltei minha atenção para uma Duda inquieta e agora com o semblante preocupado.

— Vai me falar o que está te deixando assim ou vai querer que eu adivinhe?

— Está tão na cara assim? — Pergunta jogando-se em um pequeno sofá de canto que ficava na sala.

— Relaxa, os homens são meios lerdos para algumas coisas, além do mais você é minha melhor amiga, eu te conheço melhor que a mim mesma — me sento no sofá que fica de frente para onde ela estava sentada. — Agora me fala por que você está tão inquieta? — Duda senta-se ereta no sofá e me encara.

— Ontem tive uma leve tontura, me pareceu algum tipo de vertigem, não sei. Até me dar conta que minha menstruação está atrasada quase vinte dias, um pequeno detalhe que eu não tinha notado, por estar preocupada demais com as provas da faculdade — se encosta ao encosto do sofá, respira profundamente, eu seria tia e me achava jovem demais para ser tia de alguém.

— Tem certeza? — Pergunto olhando-a diretamente.

— Certeza ainda não. Não fiz nem um teste ou exame.

— Você se previne, quais as chances de estar grávida? — Mesmo me achando jovem demais para ser tia Duda era ainda mais jovem para ser mãe, ambas tínhamos apenas vinte anos, mesmo assim conseguia facilmente imaginar um lindo bebê de bochechas rosadas e com os olhos dela.

— Lembra quando fui ao médico e ele me pediu um check-up? — Assenti — Nos exames acusou início de anemia, você lembra? — Assenti novamente, mesmo sem entender onde ela estava querendo chegar, isso fazia quase cinco meses que tinha acontecido. — Esse médico me prescreveu algumas vitaminas que eu tomei até pouco tempo atrás, quando me dei conta do atraso da minha menstruação lembrei-me dessas vitaminas e fui ler as bulas e adivinha só? — Me questiona, mesmo eu tendo impressão de que essa foi uma pergunta retórica acabo respondendo.

— Não tenho a menor ideia.

— Também não tinha e me parece que o gênio do médico não tinha também, por que uma dessas vitaminas corta o efeito de medicamento de controle de natalidade, ou seja, eu provavelmente posso estar grávida.

— E posso saber por que em nome de todos os santos existentes, você não foi comprar um teste de farmácia ou fazer o beta HCG? — Duda senta-se ereta na poltrona e nos encaramos.

— Se eu estiver grávida minha vida vai mudar de cabeça para baixo, ainda falta um ano para eu me formar, a bolsa do meu estágio quase não é suficiente para ajudar com as despesas, o Gaspar cobre quase tudo, ainda nem temos uma estabilidade, sem mencionar que no próximo ano ele e o Henrique estão planejando abrir o restaurante. Como vai ser um filho, acabamos de fazer um mês morando juntos — ela pronuncia as palavras rapidamente e sem respirar, ela parecia que ia surtar.

— Ei, respira! — Levanto e vou até ela, coloco sua cabeça entre suas pernas e peço para que ela respire lentamente, que inspire e expire aos poucos, sua respiração melhora e ela se acalma. — Sempre achei o fato de você ter vindo morar com o Gaspar com menos de seis meses de relacionamento uma loucura, sabe disse, te falei várias vezes — ela levanta a cabeça e me encara, ela tenta falar algo, mas antes que pudesse manifestar sua opinião continuo. — Mas aí você me fez perceber que aquele chato te ama, assim como você é maluca por ele e que nada mais importava nem mesmo a minha opinião. Então vou te perguntar mais uma vez, por que ainda não fez o exame? — Ela continua me encarando como se eu tivesse um chifre de unicórnio colorido bem no meio da minha testa.

— Medo eu acho! — Responde por fim.

Levanto-me, vou até onde tinha deixado minha bolsa, pego minhas chaves em cima da mesinha de canto e caminho até a porta.

— Lys! Onde você está indo? — Ela pergunta ao me chamar com a voz alta e meio trêmula.

— Onde você acha que eu vou? — Devolvo sua pergunta e antes que pudesse responder, eu mesma o faço. — Vou até a farmácia comprar um teste de gravidez para termos certeza e para quando seu namorado chegar você contar a ele que terão um filho. — Abro a porta e saio, antes que ela inventasse alguma desculpa, para não me deixar ir.

Pego meu carro e enquanto me dirigia até a farmácia mais próxima, penso sobre como a vida da Duda iria mudar, depois que o bebê nascesse. Ela sempre teve o desejo de construir sua própria família, preferencialmente bem grande e barulhenta, esse era um dos pontos que ela e Gaspar tinham em comum, já que ele descendia de família italiana. Quando ele soubesse sobre o bebê ficaria maluco, uma pena que o pânico não deixa minha amiga enxergar isso.

Construímos uma amizade sólida nos últimos doze anos, éramos acima de qualquer coisa uma irmandade, Duda havia perdido o pai antes de completar cinco anos, por isso a mãe dela tinha mudado para Blumenau, e quanto a mim, fui abandonada pelo meu pai quando tinha oito anos, conheci a Duda algumas semanas depois dele ter pedido o divórcio à minha mãe e ter saído de casa. Recordava-me de muitas coisas daquela época. No pouco tempo em que convivemos ele tinha sido um bom pai, só que aparentemente ao se divorciar da minha mãe ele também se divorciou de mim, mesmo tendo me prometido que sempre me amaria e sempre estaria presente em minha vida. Chego à farmácia e em menos de dez minutos estou voltando para a casa da minha amiga, esperando que ela estivesse mais calma e controlada. Felizmente sinto-me aliviada ao chegar e me deparar com a antiga Duda, a garota equilibrada e sensata que eu conheço a vida toda, ela abre um sorriso assim que me ver.

— Meio que surtei não foi? — Fala meio sem graça.

— Sim, mas voltou ao seu normal e é isso o que importa, além disso, também teria surtado com a possibilidade de ser mãe — ela cai na risada e acabo me contagiando também. — O que acha de fazer xixi no palitinho e confirmamos de uma vez se serei titia? — Falo, assim que me recupero da crise de riso. Duda prende a respiração por um segundo antes de soltá-la lentamente.

— Vamos lá! — Fala e caminhamos para seu banheiro, fico esperando na porta até ela sair.

— E então, deu positivo ou negativo? — Pergunto, agora quem estava ansiosa era eu.

— Na bula diz que temos que esperar de cinco a dez minutos para o resultado, se for negativo aparecerá apenas um palitinho na cor rosa e se for positivo dois palitinhos na cor rosa — entro no banheiro, ela coloca o teste em cima da pia e senta-se na tampa do vaso sanitário, enquanto fico de pé de frente para ela. — Lys, se o resultado for positivo como vou contar para o Gaspar? — Pergunta parecendo insegura, mas permanecendo tranquila.

— Esperando-o chegar em casa hoje depois do trabalho e falando "Amor, estamos grávidos!", muito simples, não acha? — Sorrio para ela e pisco um olho, tinha a intenção de quebrar o gelo, só que não deu muito certo.

— Tudo parece simples para você, só que algumas coisas não são tão simples assim — fala com seriedade.

— Qual é, Duda! Quantas vezes você me disse dos planos que fazia com o Gaspar, que ele queria ter uma família grande, com uma casa grande de jardim, inclusive eu ouvi esse discurso inúmeras vezes da boca do próprio senhor certinho. Ele vai ficar muito feliz. — Falo de modo confiante, se eu tinha uma certeza nessa vida, era de que o Gaspar ficaria feliz ao saber que seria pai.

— Você está certa, eu é que estou entrando em parafuso.

— Certo, hora da verdade! Quer que eu veja ou quer ver sozinha?

— O que acha de olharmos juntas? — Fala segurando minha mão, ficando de pé e pegando o teste sobre a pia.

— Ok! Pronta? — Assenti e viramos o teste para podermos ver o resultado. — Parabéns! Para nós duas. Você vai ser mamãe e eu serei titia. — Duda levanta seu olhar e nos encaramos, seus olhos estão repletos de lágrimas e sinto sua emoção ao abraçá-la.

— Você tem toda razão, ele vai transbordar de tanta felicidade quando souber — fala ainda abraçada a mim.

Se naquele dia, eu tivesse jogado na megassena, sem sombra de dúvida, teria ganhado. Duda me pediu para ir jantar com eles naquela noite, acho que ela me queria lá para dar apoio moral ou algo do tipo, sabia que seria desnecessário, mas como ela disse que se sentiria mais segura resolvi ir. Antes, fui até o projeto onde eu dava aulas de música para crianças carentes, precisava acertar meus horários já que estaria de férias da universidade em algumas semanas, de lá fui direto para o apartamento dos meus amigos. Como imaginei, Gaspar não apenas ficou imensamente feliz, ele também surtou de tanto entusiasmo, e como a Duda falou sabiamente "transbordou de tanta felicidade". Obviamente isso aconteceu assim que compreendeu que seria papai, antes disso ele me pareceu meio catatônico e estranho, mas essa reação não durou nem dez segundos. O paspalho girou a Duda, falou com o bebê, que para mim parecia mais com uma barriga, me agarrou e me girou também. Estava imensamente feliz por eles, tinham certeza de que seriam muito felizes juntos.

**********

Os dias passavam com uma velocidade assustadora, e com eles veio também a correria do fim do semestre. Além de me preocupar como meus projetos e provas tentava ajudar a Duda no que eu podia, ela estava tentando fechar o semestre com as disciplinas completas, para que no próximo pudesse respirar tranquila. Mesmo nossos cursos sendo diferentes e possuírem uma grade acadêmica diferente tentei ajudá-la no que pude. No final das contas depois de falar com o orientador pedagógico e o orientador do seu curso, Duda conseguiu fechar as disciplinas que seriam cursadas nas férias, conseguiu também adiantar um dos estágios obrigatórios, com a solicitação de acompanhamento especial.

Algumas semanas depois da notícia do bebê, Gaspar pediu Duda em casamento. Dois meses depois do pedido eles trocaram alianças, a cerimônia foi simples, apenas para as famílias e os amigos mais próximos, tudo foi muito bonito. A família da Duda se resumia a sua mãe Laura, que era minha tia do coração, uma tia que morava no Rio de Janeiro e minha família, é claro, vovó Clara e tia Liliana que a tinham como parte da nossa família. Já a família do Gaspar era outra história, eles tinham um pé na Itália, então eram numerosos, barulhentos e assim como a Duda eu amava-os. Todos eles eram incríveis. Ettore e Lívia, pais de Gaspar, eram umas figuras, super bem-humorados, simpáticos e o amor que sentiam um pelo outro refletia na família que tinham construído. Samara era a irmã mais velha e já tinha construído sua própria família com o Caíque, eles tinham uma filha linda chamada Savana de quase oito anos. Mael era o irmão caçula também conhecido como o adolescente rabugento. Gael era irmão de Ettore e pai do Henrique que era seu filho único. Quando Duda começou a sair com Gaspar acabei conhecendo a família aos poucos, o primeiro foi Henrique com quem construí uma amizade, que tenho certeza levarei para o resto da vida.

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No dia 23 de agosto de 2009 com 2,850kg medindo 48 centímetros nasce Isabella Leal Bianucci. Uma coisinha rosada, molenga, tão frágil e delicada como um cristal. Foi uma verdadeira gritaria na sala de espera, para ver quem entraria primeiro no quarto para conhecer o mais novo membro das famílias. Assim que Ettore pôs ordem na bagunça, um por um, todos entraram para conhecê-la. Em poucos segundos a pequena Isa, como foi carinhosamente apelidada pela prima Savana, tinha todos os membros de todas as famílias caídos de amores por ela.

O tempo passou como se guiado por uma flecha, pelo menos tão rápido quanto. Em um fim de tarde, quando tinha saído da faculdade um pouco mais cedo para ir até o apartamento da Duda com o único objetivo de mimar um pouco minha bonequinha, fui surpreendida por um pedido vindo da Duda.

— Você tem muito jeito com crianças, ela sempre fica assim quando você a segura — olhei para minha amiga, que dobrava as roupinhas da filha e sorri.

Sempre que eu segurava a Isa quando estava agitada ou chatinha por causa das cólicas, e começava a cantarolar alguma sinfonia de Bach, Beethoven, Mozart, Mojola, o mestre Yo-Yo Ma ou qualquer um dos inúmeros grandes musicistas que estudava incansavelmente dia e noite, a pequena se acalmava, era instantâneo e nem eu conseguia entender.

— Não tenho "jeito com crianças" como você colocou no plural, tenho uma conexão com a sua filha e só. Sabe bem que eu nunca fui muito maternal — Duda abre um enorme sorriso com meu comentário.

— Pode até ser! — Fala ainda sorrindo, e fica em silêncio por alguns segundos contemplando a filha em meus braços. — Nunca imaginei que sentiria um amor assim, é como se eu estivesse incompleta ante de envolvê-la em meus braços pela primeira vez. — Fala com seriedade. — É difícil até de explicar, entende? — Não conseguia nem dimensionar esse tipo de amor, mas sempre tive bons exemplos, apesar da negligência dos meus pais — Daria minha vida pela dela. — Ao pronunciar essas palavras desvia sua atenção da filha e me encara sorrindo. — Um dia quando você for mãe vai entender.

— Tenho a Isa para mimar, enquanto você e Gaspar educam. Para que vou inventar de ter filhos se tenho essa bonequinha? Não é amor? — Dou um beijo em sua cabecinha e inspiro seu cheirinho gostoso de bebê. Duda apenas sorriu.

— Sei que a ama e é por isso que depois de muito conversar com Gaspar, decidi que você seria a madrinha dela. — Fiquei em estado de choque com aquela declaração, seria uma honra, é claro, mas ser madrinha de alguém era muita responsabilidade. Não consegui falar nada, apenas fiquei encarando minha amiga, enquanto ela continuava dobrando as roupinhas da Isa, como se não tivesse me dito nada de mais.

— Tem certeza, Duda? Quer dizer, é uma grande responsabilidade. — Ela volta a me encarar.

— Quem amaria minha filha tanto quanto eu ou quanto o pai dela? Pensei muito sobre isso. — Ela estava certa, eu amava aquele pedacinho de gente mais que tudo, ainda me encarando, ela continua. — Quero uma pessoa que a ame tanto quanto nós, alguém que esteja presente em sua vida e que fique ao seu lado quando eu e o Gaspar não estivermos. Tenho certeza absoluta que você é a pessoa certa. — Sorrimos uma para a outra, ela se aproxima de mim e me abraça com Isa entre nós.

— Obrigada, por confiar em mim, farei tudo o que estiver ao meu alcance para ser a melhor madrinha do mundo. — Falo e voltamos a nos abraçar.

*********

Algumas semanas depois do batizado da Isa, recebi o resultado de uma inscrição que eu havia feito quase um ano antes para uma especialização fora do país. Eu havia sido aprovada, ganhei uma bolsa de estudos integral de intercâmbio, para fazer especialização em Teoria da Música na Faculdade Berklee de Música uma das maiores faculdades independentes de música do mundo, não tinha a menor ideia de como isso tinha acontecido, bem, claro que eu tinha. Compus uma sinfonia para violoncelo, gravei com a ajuda do meu orientador, me inscrevi no projeto sem fronteira, mandei meu currículo acadêmico, juntamente com minhas partituras e gravação, quase um ano depois chegou o resultado da minha aprovação. Minha cabeça apena girava e girava. Muitas emoções diferentes tomaram conta de mim, felicidade, êxtase, realização, medo e várias outras. Sair do meu país para outro completamente diferente, deixar minha família e amigos, outro sentimento que veio à tona dentro de mim foi o pânico.

— Não parece feliz com a notícia! É uma grande oportunidade, Alyssa, milhares de estudantes de faculdades federais, em todo o país se inscreveram nesse projeto, apenas alguns passaram — ouço o orientador do curso de Música, Cássio, falar sem saber bem como explicar minha reação. — Mas, obviamente, a escolha é sua.

— Estou imensamente feliz, Cássio, nunca imaginei que seria escolhida — finalmente consigo sorrir. — Fiquei surpresa, apenas isso, e também não é fácil saber que vou ficar longe da minha família por dois anos. Mas, estou muito contente, extasiada na verdade. — Felicidade era pouco para definir meus sentimentos. Depois que o medo e o pânico passaram, comecei a enxergar todas as possibilidades que se apresentavam a mim. — Tenho algumas dúvidas, Cássio! — Meu coordenador, professor e também amigo dos últimos quatro anos de faculdade sorriu.

— Ficaria surpreso se não tivesse! — Sorrir para mim e pergunta quais são minhas dúvidas. Conversamos por quase uma hora em sua sala, ele me explicou com muita paciência como seria e o que eu teria que fazer a partir de agora. Depois que terminamos nossa conversa, nos despedimos e me retiro de sua sala com minha mente funcionando a mil por hora.

Milhares de coisas passaram por minha cabeça. Minha primeira providência era contar a minha família, e era exatamente por esse motivo que estava dirigindo até à chácara da minha avó. O caminho não era tão longo, apenas vinte e cinco minutos, aproveitei esse tempo para pensar. Assim como a Duda, minha família era pequena. Éramos basicamente apenas eu, minha avó e minha tia, elas eram tudo para mim. Foram meu pai e minha mãe desde que eu tinha oito anos de idade. Naquela época, tia Liliana ainda era casada, meu avô Pascoal ainda era vivo, assim como minha mãe Clarissa. Vovô morreu alguns meses depois do meu aniversário de dez anos, foi um ataque cardíaco fulminante que o levou de nós. Já minha mãe, que nunca foi muito presente em minha vida, uma situação que piorou consideravelmente depois que meu pai nos abandonou, adoeceu alguns anos depois e se entregou à doença e à tristeza, faleceu quando eu tinha quinze anos.

Passei por muitas perdas ao longo dos meus vinte e um anos de vida, acredito que cada uma delas me ensinou o tipo de pessoa que desejo ser e mesmo tendo sido dolorosas, todas elas me trouxeram alguns ensinamentos. Chego à casa da minha avó, mais rápido do que imaginei, foram vinte minutos apenas, ao chegar em frente ao portão buzino e as luzes da frente se acendem, olho no relógio são 20h18min, ainda era cedo. Minha tia entreabre a porta menor e sorri, fecha a porta para abrir o portão. Tia Liliana era uma mulher linda, no auge dos seus quarenta anos tinha um corpo alongado e curvas nos lugares certos, cabelos escuros abaixo do ombro e olhos castanho escuros. Casou-se muito jovem, sua união teve um início repleto de amor e companheirismo, as coisas mudaram quando a única filha do casal morreu vítima de um acidente, minha tia e o marido passaram a se tornar estranhos um para o outro e então se separaram, pelo menos foi a história que vovó Clara me contou. Depois do fim do casamento, tia Liliana mudou-se para a chácara da mãe, não tocamos no assunto sobre a perda da sua filha, é muito doloroso. Entro na garagem e enquanto minha tia fecha o portão, estaciono e saio do carro.

— Oi, meu bem! — Fala ao me abraçar, ela sempre tinha um ar leve e relaxado, com as roupas manchadas de terra — Devia ter ligado avisando que vinha para mamãe ter feito bolo de chocolate — sorri feliz, aquelas duas mulheres eram meu alicerce. Antes que eu pudesse responder ouço vovó Clara.

— Quem é Liliana?

— É a Lys, mãe, veio nos fazer uma visita! — Minha tia fala e já sai me puxando em direção a casa.

Lembro com carinho da minha infância naquele lugar, todas as minhas memórias estavam vinculadas diretamente aquela pequena chácara, com um jardim tão bem cuidado, repleto de flores, o perfume era muito familiar para mim. Amava aquela casa.

— E por que não me avisou? Teria feito seu bolo preferido. — Falava ao sair de dentro da estufa de tia Liliana, que era paisagista, uma das melhore. — Venha cá, minha menina, estava morrendo de saudade, devia ter me avisado que vinha. — Me envolve em seus braços ao se aproximar. Minha avó nem parecia ter sessenta e três anos, possuía uma vitalidade e vivacidade que poucos jovens tinham, seu sorriso fácil, assim como seu bom humor era contagiante. A única coisa que entregava sua real idade eram seus cabelos brancos platinados, que ela adorava espalhar que eram naturais, só que todos sabiam que ela ia pelo menos duas vezes por mês ao salão de beleza para realçar a cor dos seus fios.

— Resolvi vir de repente, vovó, tenho uma notícia para dar e não podia esperar até amanhã, porque estou muito feliz. E não estou com fome, obrigada!

— Bem, se está feliz é coisa boa, então fico contente por não conseguir esperar até amanhã — vovó fala abrindo um sorriso.

— Então vamos até a estufa, estava preparando algumas mudas para o trabalho amanhã — nós três seguimos e caminhamos em direção ao "escritório" da minha tia, como eu costumava chamar, tia Liliana dizia que era "Seu pedacinho do paraíso".

Adorava o aroma de terra molhada daquele ambiente. As duas grandes mesas de madeira estavam repletas de vasos com mudas de vários tipos diferentes de flores e plantas, algumas delas eu reconhecia, já tinha passado inúmeros verões ajudando-a em seu trabalho. Vovó senta na cadeira em uma das bancadas, onde ela parecia reenvasar algumas mudas de plantas, vovó era formada em Música, deu aulas durante muitos anos, herdei dela o amor pelas partituras. Dona Clara adorava ajudar tia Liliana na estufa, dizia que era sua terapia preferida. Sentei-me ao lado da minha tia, que estava realizando podagem de algumas mudas de flores.

— E então, minha querida, que notícia tão maravilhosa é essa que não pode esperar até amanhã? — Vovó pergunta ainda concentrada em sua tarefa de reenvasamento, mas não tinha dúvida de que ela estava bem atenta a qualquer coisa que eu viesse a falar.

— Também estou muito curiosa, Lys!

— Vou explicar do início então, para que vocês recebam a notícia com um menor impacto — as duas pararam o que estavam fazendo e direcionaram sua atenção para mim. — Lembram-se daquele projeto de intercâmbio do governo? Onde eles ajudariam alguns jovens talentos a realizar uma especialização fora do país? Mencionei com vocês algumas vezes! — Ambas assentiram e continuei narrando tudo como aconteceu desde a minha inscrição até a conversa que tive há pouco com o coordenador do curso de Música.

— Minha querida! Parabéns, esta notícia é maravilhosa. — Vovó fala assim que termino de contar a novidade. — Quando tem que começar? — Vovó parecia muito animada, mas minha tia não disse nada, apenas continuou em silêncio.

— Então, tenho que terminar o bacharelado primeiro, preparar uns documentos e realizar alguns procedimentos. Pelo que o Cássio me explicou, eles querem que os alunos do intercâmbio cheguem na segunda semana de janeiro para iniciar o semestre. — minha tia continuou em silêncio. — Vou ter um mês e meio para organizar tudo e partir logo depois das festas de fim de ano. Meu trabalho de conclusão de curso está quase finalizado, falta apenas a revisão final do meu orientador a e minha apresentação está programada para a primeira semana de dezembro, espero que tudo dê certo. — vovô sorriu e me abraçou.

— Claro que vai dar, tenho certeza.

— O que você acha, tia? Até agora não disse nada! — pergunto já um pouco nervosa pelo seu silêncio.

— Você sabe o quanto te amo, tudo o que eu desejo é que seja feliz! — Assenti. O amor delas era uma das poucas certezas que eu tinha em minha vida — Mas, Lys, o mais longe que você foi de Santa Catarina foi quando se apresentou em São Paulo e enquanto seu lugar na orquestra sinfônica jovem da faculdade, como vai ficar? — parecia ter escolhido bem as palavras antes de tê-las pronunciado, entendia os receios dela, sabia que minha partida seria complicada para ela. — Meu bem, é do outro lado do atlântico, estará sozinha em um país estranho e... — antes que ela pudesse continuar vovó a interrompeu.

— Pelo amor de Deus, Liliana, pare de falar tantas bobagens. Não ouviu o que Lys falou? Ela ficará na casa de uma família adotiva, eles vão ajudá-la a se adaptar e vão dar todo o suporte, ela não estará sozinha, além do mais, Lys já não é mais uma criança, já é uma mulher e tem que viver. Conhecer novos lugares, novas pessoas e se dedicar a sua carreira. — Não consigo evitar e abro um enorme sorriso, vovó era como uma força da natureza, um ser livre. Todos dizem que tenho muito dela em mim e tenho muito orgulho disso. — Não seja tão negativa! — fala por fim.

— Não é negatividade, mãe, apenas preocupação, mas sei que a senhora está certa — fala com um suspiro de resignação.

— Tia, ligarei todos os dias, é uma oportunidade única. Em relação à minha vaga na orquestra, quando eu voltar poderei escolher onde e com quem irei trabalhar. A Faculdade Berklee de Música é uma das melhores escolas de Música do mundo. — ela faz que sim, me abraça e parabeniza.

Fico mais uma hora conversando com elas, explicando todos os detalhes, fazendo planos, eu estava tão feliz. Era uma grande oportunidade e eu seria a melhor aluna do programa, a melhor da faculdade inteira ou eu mudaria meu nome. Dirigindo de volta para casa pensei na Duda, na pequena Isa, em Henrique, Samara, Savana, Caíque, nos meus amigos, nas pessoas da ONG onde eu dava aulas, nas minhas crianças, Gaspar, sentiria saudade até mesmo dele, seriam dois anos muito longos. Precisava conversar com Duda para contar a novidade, ela ficaria feliz por mim.

No dia seguinte, antes de ir para a faculdade como de costume, passo no apartamento da Duda para tomar café da manhã e dar a grande notícia. Não vinha sempre que podia durante a semana e às vezes nos fins de semana, não era minha culpa, se minha melhor amiga tinha um marido Chef de cozinha, que fazia o melhor café da manhã do mundo. Chego pontualmente às 7h30min.

Que bom que chegou! — Duda fala me puxando para dentro do apartamento pelo braço. — Gaspar já está fazendo o café da manhã. Pode ficar com a Isa para eu poder tomar banho? — Passo pela cozinha, acenando para Gaspar que parecia muito concentrado, enquanto Duda continua me arrastando pelo apartamento.

Claro que sim! — Entramos em seu quarto e Isa está bem desperta mexendo os bracinhos, ela começa a procurar a mãe, assim que escuta sua voz. — Oi, meu amor! Cadê a coisa mais linda da tia?! — A cada dia Isa estava mais espertinha e linda. Vejo quando Duda entra no banheiro gritando "muito obrigada" e fecha a porta. Começo a fazer graça para a Isa que se desmancha chupando as mãozinhas e tentando sorrir ao mesmo tempo. A única coisa que me deixava um pouco triste era saber que não veria o crescimento da minha afilhada. Ainda no banheiro ouço Duda gritar novamente.

Você disse que tem uma novidade para contar, estou curiosa.

— Tenho, mas só vou falar quando estivermos todos juntos.

Nossa! Que misteriosa, entrou para alguma seita, desde que nos falamos pela última vez? — Fala ao sair do banho com um sorriso brincalhão.

Sua mãe virou piadista, Isa! A maternidade muda as pessoas, bonequinha! — Falo fazendo cócegas em sua barriguinha e ela se desmancha toda.

Muito engraçadinha! Vamos logo tomar café que estou morrendo de fome. Vem com a mamãe, meu amor. — Fico impressionada com a destreza que a Duda pega a filha, ela tinha nascido para ser mãe.

O cheiro que vinha da cozinha era divino, o sabor devia estar incrível também, Gaspar cozinhava extremamente bem. Pelo que Henrique havia comentado comigo eles estavam procurando um ponto, para finalmente abrir o restaurante. Fiquei muito feliz em saber que eles estavam mais perto de realizar esse sonho, economizaram muito para isso. Na bancada tinha comida para um batalhão de infantaria, Gaspar sempre exagerava. Nos sentamos, enquanto Duda colocava Isa no carrinho, assim que ela se junta a nós começo a me servir e eles também. Adorava tomar café da manhã com eles, era sempre muito divertido.

E então! Que novidade é essa que tinha que ser falada pessoalmente? — Duda pergunta depois de alguns instantes.

Até eu estou curioso para saber, desde que você ligou falando dessa tal novidade, Duda não fala em outra coisa. — Gaspar fala com uma careta meio estranha, que me deu vontade de rir, mas me seguro e decido contar logo de uma vez.

Vou resumir para economizar tempo, ganhei uma bolsa de estudos para fazer especialização fora do país — os dois me encaram, um parecia incrédulo, a outra com um enorme sorriso.

Foi aquele projeto que se inscreveu no ano passado? — Duda pergunta ainda sorrindo.

Esse mesmo! Fiz aquela composição para a inscrição e deu certo.

— Mas é claro que deu, você é uma musicista incrível, tinha certeza que conseguiria — ela parecia uma mãe orgulhosa, falando com a filha que passou no vestibular, esse pensamento me faz sorrir. — Estou muito feliz por você. — Fala já me abraçando.

— Não vai me dar os parabéns, Gaspar? — Pergunto ao perceber que ele ainda parecia incrédulo.

— O mais longe que você já viajou foi até São Paulo e quer ir morar do outro lado do oceano? Como vai se virar? — Minha nossa, ele parecia minha tia falando.

— Primeiro, já sou bem grandinha, falo inglês fluentemente e sei me cuidar. Segundo, vou ter o apoio da faculdade e irei morar com uma família adotiva, que são casais aposentados que se inscrevem em programas de intercâmbio para hospedar jovens estudantes de outros países, então não estarei sozinha. — Gaspar coloca as mãos para o alto em sinal de rendição.

— Só fiquei preocupado, você sempre foi meio... — antes que ele continuasse Duda o interrompe.

— Amor! É melhor você não continuar.

— Tudo bem, estou feliz por você, Lys, meus parabéns. — Fala por fim abrindo um sorriso nada convincente e que decido ignorar.

— Obrigada, estraga prazeres!

Duda me pergunta mil coisas, quando iria viajar, como funcionava o projeto, se eu estava animada. Conversamos bastante, expliquei tudo em detalhes, Duda me prometeu que mandaria vídeos e fotos da Isa sempre, que eu não perderia nada do crescimento e desenvolvimento da minha afilhada.

************

E mais uma vez os dias passaram, as semanas se seguiram e os meses voavam, cada um deles me aproximando mais da minha partida. O Natal e o Réveillon foram repletos de lágrimas e com sabor de despedida. Tudo já estava pronto para minha partida, todas as providências foram tomadas.

O dia do meu embarque finalmente chega, uma passagem apenas de ida, depois que entrasse naquele avião, começaria a escrever uma nova página da minha vida. Chego ao aeroporto, com todos os meus familiares e amigos mais próximos, me despeço de todos em meio a lágrimas, beijos e abraços apertados.

— É bom você me ligar, sua doidinha! — Henrique fala me dando um abraço de urso esmagador.

— Pode deixar, vou ligar sempre que eu puder, prometo — repito mais uma vez a fala que venho dizendo há semanas. — Me dá aqui minha sobrinha/afilhada! — Duda me estende a Isa. — Vou morrer de saudade de trocar sua fralda, te colocar para dormir e de te mimar. Mas prometo voltar em um piscar de olhos. — Beijo o topo da sua cabecinha, ela tinha crescido tão rápido, tinha acabado de fazer cinco meses. Entrego Isa para Gaspar, me despeço de todos uma última vez.

Abraço firme vovó Clara, tia Liliana, tia Laura, mãe da Duda, depois Gael, Samara, Caíque, Lívia, Ettore, Mael, Henrique, um por um vou me despedindo pela milésima e última vez. Seria difícil ficar tanto tempo distante deles, amava-os muito. Duda e Gaspar foram os últimos, abracei os dois, fiz prometer mais uma vez que mandariam fotos e vídeos da nossa bonequinha, e finalmente segui meu caminho até a área do embarque.

Enquanto o avião taxiava, pensava em como dois anos passam rápido e que em breve estaria retornando.

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