🌻VINTE E SETE 🌻

  

Emma

 Assim que entrei no meu quarto, me deparei com uma xícara de chá em cima da minha escrivaninha.

 Peguei a xícara e a levei até minha boca, bebericando um pouco do líquido quente.

 Era uma noite fria, e podia ouvir meus pais conversando lá embaixo.

 Parecia que estavam falando sobre minha psicóloga, ou algo assim, até que eu me lembrei que amanhã tinha um horário marcado, de novo.

Merda.

 Eu não estava nem um pouco afim de ir. Pouco me importava agora o meu TOC. Já aceitei que isso estaria comigo pro resto da minha vida, eu só estava o diminuindo. E quer saber? Não foi graças a nenhuma psicóloga, foi graças ao Logan.

E então eu suspirei e tomei o último gole, colocando a xícara sobre a escrivaninha novamente.

 Minha cama já estava pronta para mim, parecia me chamar.

 Subi em cima dela, e olhei para a cômoda a minha frente. Tinham algumas coisas desorganizadas, como alguns lápis de cor espalhados por ela fora da ordem em que eu sempre os coloquei.

Minhas mãos coçaram por um instante, mas mesmo assim eu me deitei na cama.

 Cansaço? Talvez, como qualquer outra pessoa teria.

Mas eu não era como qualquer outra pessoa.

  Meus olhos se abriram rapidamente, e minha visão começou a se acostumar com o escuro.

 Esfreguei meus olhos, e levei minhas mãos até o criado mudo ao lado da minha cama, onde peguei meu celular e olhei a hora.

 06:12.

 Ainda nem tinha dado o horário de eu ir ao consultório.

 Observei o meu quarto, até meus olhos pousarem na janela.

 A luz que aos poucos se formava no céu, mesmo acinzentado, iluminava um pouco o chão, e o formato das vidraças faziam uma sombra discreta no carpete.

 Por que não consigo dormir? Eu estava morrendo de sono, e agora parece que levei um susto, na qual meu coração não disparou.

 Coloquei meu celular de volta no criado mudo, e me levantei.

Fui até a janela, e repousei meus braços sobre o batente, olhando ao redor lá fora.

 Daqui alguns dias o Logan estaria de volta, e a primeira coisa que eu faria seria ir até a casa dele.

 Mas como fazer ele me contar o que está acontecendo? Eu sei que ele está escondendo algo.

 Eu poderia pressioná-lo, ou até mexer nas coisas dele e...

 Que ideia é essa Emma? O que... minha nossa, a que ponto você chegou.

 Eu me aproximei da minha cama novamente e me deitei.

 Fiquei com os olhos abertos durante meia hora, e quando finalmente consegui dormir, passado vinte minutos depois, meu pai bateu na porta do meu quarto.

 — Filha, tá na hora.

 — Já tô indo pai... — O respondi com a voz rouca.

 Peguei qualquer roupa no guarda roupa, e vesti, com bocejos e murmúrios.

Quando entrei no banheiro, Candy estava lá mordendo sua bolinha favorita, e então me aproximei do espelho e comecei a pentear meu cabelo.

 Minha cara estava horrível, e minhas roupas também não eram uma das melhores combinações: uma calça bege e uma blusa azul de manga comprida com listras brancas.

 Mas que se dane, minha paciência já tinha esgotado naquela manhã. Provavelmente nem ia conversar muito com a Susan.

Escovei meus dentes o mais rápido que eu pude, e desci as escadas, super desanimada.

 — Nossa, você não dormiu bem? — Meu pai perguntou, com uma xícara de café nas mãos.

 Fiz que não com a cabeça, e olhei pra cozinha. Haviam biscoitos de mel em cima da mesa, assim como frutas e uma jarra com suco de melancia.

 — Não vai comer nada? — Meu pai perguntou.

— Não tô com fome.

 — Eu sei que você está preocupada com o Logan, mas seria bom se você se alimentasse pela manhã. — Então ele colocou a xícara de café vazia dentro da pia. — Eu vou te esperar no carro, enquanto isso pegue uma fruta e alguns biscoitos pra comer no caminho.

Ao passar por mim ele bagunçou meu cabelo, mas eu gostava quando ele fazia isso, então eu sorri comigo mesma depois que ele saiu.

 Alisei meus cabelos com os dedos, e como meu pai pediu, peguei dois biscoitos e uma pêra.

Quando abri a porta me deparei com alguns flocos de neve salpicando o chão, assim como o capô do carro estava coberto com poucos também.

 Acho que até o final de semana esse lugar vai estar coberto de neve.

  Como sempre, meu pai havia me deixado ali sozinha, enquanto fazia as compras da semana.

 O ar condicionado estava desligado por causa do frio, então admito que estava bem aconchegante ali na recepção.

 Mas como dizem, a felicidade dura pouco, pois tive que levantar do banco e ir até a sala de Susan.

 Assim que entrei, acho que ela reparou na minha aparência, porque parece que eu a vi arregalar os olhos, por mais pequenos que fossem.

 — Oi Emma, como está se sentindo?

Cruzei os braços e me joguei na poltrona.

 — Bem. — Murmurei.

 Ela se sentou também, e continuou a falar comigo:

— Parece que nos encontramos mais rápido dessa vez não é? Você não se perguntou isso?

 — Não.  — Meu olhar estava além do seu rosto, para a janela atrás dela.

 Susan pareceu perceber minha distração e olhou para trás.

— Ah, parece que o inverno chegou mais cedo esse ano. — Ela sorriu e se voltou para mim. — Eu sei que deve ser cansativo pra você vir aqui de novo, mas precisei adiantar essa consulta, pois faltam dois meses para o Natal, e o consultório vai fechar um mês antes, para as férias dos outros psicólogos aqui.

 Não respondi. Na verdade não precisei responder nada, pois ela continuou falando:

 — Como anda o seu transtorno? Teve algum ataque durante essas semanas?

 — Não tive. Está tudo normal. — Minha nossa, ela só me chamou aqui pra isso?

 — Estou te achando meio quieta hoje, está tudo bem mesmo? — Ela olhou para os meus olhos e depois fez algumas anotações. — Bom Emma, meu trabalho aqui é te aconselhar e cuidar da sua saúde mental, se tiver alguma coisa te incomodando...

— Não tem nada me incomodando. — A interrompi, secamente. Então percebi meu erro quando ela franziu a testa. — Só estou com mau humor, só isso.

 — Ah sim. E como você tem reagido as manias de limpeza, organizações...

 Ela continuou falando, e eu fiquei quieta na maior parte do tempo, apenas a respondendo simples e direta para algumas perguntas.

Até que ela me liberou cinco minutos antes do horário em que eu deveria sair, já que eu não estava muito afim de papo.

 Era a mesma coisa toda vez: conversas, receitas de remédios, perguntas sobre minha saúde, minhas manias, meu dia a dia...

 Já estava cansada de tudo aquilo. Só queria descobrir o que o Logan tem para ajudá-lo.

  Meu pai havia me buscado dez minutos depois, e agora eu estava em casa, sentada no sofá com um burrito nas mãos, e parte dele na minha boca.

 A TV estava desligada, e meu pai havia saído novamente para comprar um outro pendrive para o seu notebook de trabalho.

 Eu encarava a tela totalmente preta da TV, e as vezes meus olhos se distanciavam e focavam na neve lá fora, que parecia cair cada vez mais.

Começou a ficar mais frio dentro de casa, então eu também estava coberta com uma manta roxa, que cobria minhas pernas e parte dos meus braços.

Meus olhos pesavam, e então eu percebi que estava encarando o nada.

 Enfiei tudo o que restava do burrito na boca, e mastiguei devagar, até que olhei para trás, para o lugar vago.

 Fazia um bom tempo que eu não ia pra lá.
  
 Pensei durante uns instantes, e me levantei do sofá, andando até a porta de correr feita de vidro, abrindo-a.

 Uma lufada de neve e vento entrou na cozinha, e eu coloquei meus pés — que estavam cobertos com meias coloridas — na neve, gelada e macia.

 Caminhei, e parte dos meus pés afundaram naquela massa branca e engraçada, na qual eu achei uma sensação maravilhosa.

 Parei, e olhei para o lago.

Parte dele estava se congelando, formando camadas de gelo espesso.

 Então eu fechei meus olhos e me joguei para trás.

 Meu corpo caiu como se eu estivesse caindo em milhares de cobertores, só que frios.

Abri os meus braços, e segurei a neve com as minhas mãos, tão fofas, tão congelantes.

 Abri os meus olhos.

 Minha respiração pairava no ar como almofadinhas brancas, enquanto meus olhos se focavam nos inúmeros flocos de neve que agora caíam sobre a neve, daquele céu gelado e cinzento.

   Capítulo 27 concluído ✓
   Capítulo 28 🔽
  

  
  

  

   

  
  
  

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