Logan

 Meu corpo estava cansado. Exausto pra falar a verdade.

 Mas eu não podia perder mais tempo do que já perdi.

 Eu sei que uma hora ou outra eu teria que contar a verdade para a Emma. Bom, pelo menos parte dela.

 E essa hora chegou.

 Eu teria que sair escondido. Meus pais nunca deixariam eu sair de casa a noite nessa situação.

 A melhor hora era quando eles estivessem dormindo, pois como ambos estão mega cansados, tenho certeza de que nenhum dois irão acordar.

 Além do mais, se eles me vissem deitado na cama dormindo profundamente, não iriam querer me acordar.

Então só me resta colocar vários travesseiros embaixo do cobertor, e pronto.

 Estava vestindo um moletom cinza, quando meu celular vibrou.

 Era a Emma:

"Estou saindo agora. Nos vemos lá..."

 Respondi um "ok", e assim que terminei de me vestir, olhei para a cômoda.

 A agenda que Emma tinha me dado estava aberta, com algumas páginas arrancadas.

 E a coisa que eu mais valorizava naquele quarto: o girassol colado na capa.

 Ele continuava vivo, assim como eu.

 Abri a janela, e comecei a me contorcer para sair.

Eu fazia isso as vezes, mas estava mais difícil agora.

 Fiz uma pausa duas ou três vezes, mas deu certo, e pulei da parte mais baixa do telhado.

 Era uma noite gelada, a conforme eu respirava e apressava meus passos, nuvenzinhas de fumaça saíam da minha boca e flutuavam no ar.

 Depois de alguns minutos de caminhada, avistei árvores mais a frente, e juntamente a elas, uma sombra de uma pessoa sentada sobre o gramado.

 Assim que me aproximei, vi que era a Emma.

   Tinha me esquecido o quão bom era apreciá-la de longe, sem ela perceber que eu estava a olhando. Toda vez que ela percebia, ficava com vergonha e se mexia toda.

 Ri com esse pensamento, e antes de continuar a caminhar, fiquei a olhando.

 Eu não queria dar mais nenhum passo. Queria ficar ali parado, observando tudo como se eu fizesse parte daquele mundo.

 Seu cabelo estava solto, e ela vestia uma blusa de gola alta salmão com uma jaqueta jeans por cima. Calçava tênis brancos e uma calça preta de lã.

 Se eu pudesse ficar ali para sempre, ficaria.

 Eu sei que eu tinha que encarar a verdade. Ir até lá e tirar toda aquela preocupação dela, porque a Emma não merece isso.

Não demorou muito para ela ouvir os meus passos, então ela se virou e me olhou.

 — Oi.

— Oi. — Respondi enquanto me sentava ao seu lado.

 Assim que o fiz, percebi que estávamos ao redor dos mesmos girassóis na qual tivemos o nosso primeiro beijo desastroso.

 Na verdade, era o mesmo lugar, exatamente o mesmo.

 Nenhum de nós dois disse nada. Apenas ficamos nos olhando sob a luz da lua cheia que pairava sobre o bosque.

 Antes de eu começar a falar, peguei um pequeno girassol e coloquei em sua orelha.

— Lembra daqui? Foi aquele terrível beijo. — Eu ri.

— Eu não achei terrível. — Ela sorriu. — Apenas a Chloe ter chegado que deixou tudo terrível.

 — Pois é.

 Ficamos minutos em silêncio novamente. Parecia que ela não queria ouvir uma resposta, como ao mesmo tempo queria. Até que eu o quebrei:

 — Emma, acho que você sabe o porquê eu te chamei aqui. Não sabe?

 Ela assentiu com a cabeça.

— Tem algo errado com você Logan, eu sei. Mas por que você não me fala logo de uma vez? Eu posso te ajudar assim como você me ajudou!

— Porque isso não é algo que você possa me ajudar. Eu gostaria, e muito, mas não dá.

Ela continuou me encarando. Seus olhos brilhavam.

 — Não é nada das coisas que a Jasmine disse hoje mais cedo. Não é diabetes, nem câncer, nem nada daquilo. — Não sei porque tanta enrolação para eu dizer, acho que eu mesmo não queria me ouvir dizendo aquilo. — Eu contraí uma doença coronariana, você deve conhecer ela como DAC.

 Ela arqueou as sobrancelhas, e esperou eu terminar de falar.

 Mas eu não disse mais nada.

 — Não vai falar mais nada?

 — Eu sei que você tem várias perguntas. Então pergunte.

 Ela começou a esmagar a grama com os seus dedos, e mordeu a boca.

 Eu sei que ela queria chorar. Talvez ela já até saiba o que é isso.

 — Bom, eu sei o que é. Mas eu nunca estudei isso a fundo. Ela... — Então ela fez uma pausa. — ela tem cura?

 Agora sou eu quem queria chorar.

— Tem um tratamento que pode ajudar, mas ela não tem cura. — Minha voz falhou.

— Quando você descobriu isso?

— Um tempo não muito grande. — Eu respirei fundo e apertei a grama como ela estava fazendo.

 — Dói muito? Quando você respira.

 — Sabe, é como se fosse um balão. Quanto mais ar, mais ele se enche, até estourar. E com bônus, eu começo a suar mais rápido também.

 — Eu não entendo...você é tão jovem, ela normalmente só acontece em pessoas mais velhas, não é?

 — Que sorte eu tenho. — Dei um meio sorriso, e olhei para baixo um instante.

 — Os gêmeos disseram que estavam achando você meio estranho quando corria, ou quando fazia um certo tipo de esforço. — Ela já não olhava mais pra mim, e sim para a lua.

— Eu...Emma... olha pra mim. — segurei seu queixo e o levei até perto do meu rosto.

Agora sim uma lágrima escorria. De ambos os rostos.

— Me desculpa. Eu só...não queria encarar a verdade.

 — E qual é a verdade Logan? — Ela de fato estava chorando agora. — Qual é?!

 — Eu vou morrer, Emma. Mas eu quero acreditar que não. Essa é a verdade.

 Eu a puxei para um abraço, e ela começou a chorar sem parar.

 Nós dois, na verdade.

 Enquanto eu abraçava, eu olhava para as estrelas, enquanto milhões de lágrimas escorriam pelas minhas bochechas.

 E então me ocorreu que um dia eu me tornarei uma estrela: algo morto, mas que ao longe, aos olhos de muitos, ainda tem uma beleza única.

   Emma

 Acordei na cama do Logan, deitada ao lado dele.

 Eu estava com as minhas roupas de quando fui ao bosque, e... aconteceu tudo aquilo.

 Meus olhos estavam inchados e vermelhos, assim como os de Logan.

Dormir ao dele me fez me sentir um pouco melhor. É como se eu agarrasse aquele momento e não soltasse nunca mais.

 E é isso que eu vou fazer. Ignorar o fato de que Logan possivelmente vai morrer, e simplesmente viver ao máximo cada segundo ao seu lado. É meio clichê, mas é a minha vontade.

Só que a minha vontade foi quebrada assim que a porta do quarto dele se abriu, revelando sua mãe entrando com uma bandeja com o café da manhã dele e um comprimido com um copo de água ao lado.

— Emma? — Ela ficou surpresa ao me ver. Não julgo, até ontem a noite eu nem sequer estava aqui. — O que está acontecendo?

Se eu não estivesse tão cansada e pra baixo, teria dito que ela ficou com um pouco de raiva, mas então Logan começou a acordar, e tentou se explicar:

— Ah, mãe! Desculpe, a Emma veio passar a noite aqui, esqueci de te avisar. — Que mentiroso descarado.

— Ah, tudo bem, só me avise da próxima vez, assim eu faço um café adequado. — Ela se aproximou da cama e depositou a bandeja aos pés da mesma. — Bom Logan, não se esqueça de descansar okay?

Ele olhou para mim, e depois disse:

 — Na verdade mãe, eu prefiro passar um tempo com a Emma.

— Mas... — e então ela percebeu que seu filho já havia dito a notícia pra mim. — Tudo bem então.

 Ela fechou a porta e desceu as escadas.

 — Agora... — Ele se levantou e me puxou pela cintura. — Nós vamos tomar sorvete, correr pelo parque, dar uma volta por aí...

 — Logan. — Eu tirei suas mãos da minha cintura e as segurei. — Acho melhor a gente apenas passar o dia aqui, no seu quarto. Conversando, desenhando coisas aleatórias, jogando algum jogo. Sei lá, qualquer coisa que não envolva prejudicar sua saúde...

 Depois da noite passada eu não conseguia pensar em outra coisa.

Eu sabia que ele estava me escondendo isso, mas ele morrer... é uma história completamente diferente.

 Eu sinto como se o chão aos meus pés tivesse desabado, e a única coisa que me segurasse agora eram as mãos do Logan. Mas se ele morrer, eu vou cair lá embaixo. E eu não sei o que vem depois disso.

 — Você acha mesmo que eu vou ficar trancado aqui? Não mesmo. Se eu já estou todo ferrado, qual a diferença? E sabe, um sorvete de mirtilo agora realmente cairia muito bem.

 — Tá bom. Mas se eu perceber que você está passando mal ou algo assim... — Eu o abracei. — Logan, eu não quero te perder. Você mudou a minha vida.

Senti sua respiração pesada. Eu sabia que ele estava tentando ser otimista, mas no fundo não podemos evitar.

 Estamos caindo juntos.

Capítulo 29 concluído ✓
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