🌻UM🌻

Emma

 Eu agarrava com força em minhas mãos o tubo de álcool em gel, enquanto olhava o movimento do lado de fora do carro.

 Passamos por um lago, cheio de árvores em volta dele, enquanto estávamos na auto estrada.

  Era um tempo neutro, meio frio, as vezes calor, bom, é melhor eu me acostumar com a temperatura de lá, pois se na viagem já é assim, em São Francisco deve ser pior, ou melhor se eu me adaptar bem.

 Bom, eu espero que todo esse esforço valha a pena, por mais que seja por apenas um ano e meio.

 Eu abri o tubo e passei ao redor do meu pulso o álcool em gel, enquanto o vento batia em meu rosto e mãos, dando mais frescor do que já estava sentindo.

 Algumas bolsas com coisas pessoais chacoalhavam no porta malas, fazendo um som repetitivo à cada lombada que passávamos, enquanto o caminhão de mudanças seguia atrás de nós.

 Candy, a minha cachorrinha, estava deitada sobre o meu colo, ficando bem relaxada pelo carinho que estava fazendo. Eu tinha ela já fazia um tempo, no meu aniversário de 13 anos ganhei ela dos meus pais. Como eu já tinha o TOC naquela época, ela sempre é bem cuidada por nós, para um Cavalier king ela é dócil e comportada.

 — Faltam apenas mais alguns minutos para chegarmos até lá — Minha mãe abriu um sorriso, e continuou — Como hoje estaremos ocupados com a mudança, você pode aproveitar para conhecer o lugar Emma.

   — Mas — Dei uma pausa — E a psicóloga?

   — Mary agendou pra você amanhã —  Disse meu pai.

 Eu fiquei em silêncio, depois disso, e continuei observando a vista.

 Em São Francisco tinham bastante lagos pelo que vi ao longo do caminho. Estava curiosa pra saber como seria minha nova e temporária casa.

 Entramos numa rua quase deserta, era bastante bonita, como se fosse uma daquelas ruas privadas, que tinham poucas casas, uma afastada da outra.

 O caminhão de mudanças parou em nossa nova casa, e Candy já começou a abanar se rabinho todo felpudo.

— É Candy, quase 5 horas de viagem não é fácil.

 Eu abri a porta, e Candy já pulou do meu colo indo direto para a entrada da casa.

 Ela tinha um gramado verde na frente, e alguns degraus para subir até a porta, que era de madeira com janelas de vidro. Tinha uma sacada, tanto na porta da frente como no andar de cima. Sim, ela tinha dois andares.

 Ela era bem elegante por fora, e eu queria imediatamente entrar para ver o lado de dentro.

Enquanto meus pais conversavam com o motorista do caminhão, eu abri a porta e entrei.

A casa tinha um cheiro reconfortante de carvalho e lavanda; o piso era de madeira, creio eu, de carvalho, isso justificaria o cheiro; tinha uma lareira na sala, e logo do lado, uma cozinha com balcões de mármore. Logo depois da cozinha, tinha um "quintal". Na verdade, quando andei mais um pouco para lá, era mais um espaço vago, com gramado, e bem na minha frente, como já era de se esperar, um enorme lago, com árvores logo depois dele. Era incrível a aura dali. Eu respirei fundo, e o único cheiro que eu senti foi de chuva, por mais que não tivesse chovido.

 Eu não queria sair dali nunca mais, mas quando me dei conta, meus pés tinham me levado para a escada, e eu estava subindo para ver os quartos.

 O primeiro quarto era meu. Tinha uma janela de vidro logo a frente, com o mesmo piso da sala e da cozinha, com papel de parede todo azul claro, bem leve, digamos, um azul bebê. O espaço ainda estava vazio, pois meus pais e o motorista ainda estavam lá embaixo.

 Na porta do meio havia o banheiro, que como todos os banheiros no mundo, havia um vaso sanitário, uma pia de mármore, e um box de vidro.
 
Havia também um espelho, em frente a pia, e o piso agora era laminado, estilo nevada, que dava ao banheiro um toque de frescor e perfume.

 A terceira porta era, obviamente, o quarto dos meus pais, que era quase igual o meu, apenas o tamanho era maior por ser de casal. O piso era de ipê, da cor âmbar, e o papel de parede cor de vinho dava harmonia e combinava com o piso.

 Enquanto fechava a porta, ouvi os homens que estavam no caminhão entrarem na casa carregando os móveis. Fiquei totalmente perdida naquela hora, pois vinham móveis em toda a direção.

 — Ahn, com licença... —  Eu dizia, a cada passo que dava para descer as escadas.

 Quando finalmente cheguei, Candy veio correndo em minha direção, latindo de felicidade e pedindo colo.

 Não aguentei de tanta fofura e a peguei.

 Como toda retardada de cachorros, comecei a falar com ela:

— Você gostou né, meu anjinho? — A cada frase que eu dizia eu fazia cafuné em sua cabeça e cosquinha em sua barriga. Ela amava cosquinha na barriga.

 Meus pais começaram a tirar as bolsas que deixamos no porta malas, e eu coloquei Candy no chão para ajudá-los.

— Sua bolsa ainda está lá Emma, você vai buscá-la? — Perguntou meu pai.

— Vou sim — Olhei para a Candy, que estava correndo pra lá e pra cá de tanta felicidade. — Ah, fiquem de olho na Candy, alguns dos homens pode acabar não vendo ela e bom, machuca-lá.

 Minha mãe acenou positivamente com a cabeça e subiu as escadas, assim como meu pai.

Eu caminhei até o lado de fora, e fui até o porta malas buscar a bolsa. Não tinha colocado muita coisa nela, apenas roupas íntimas, algumas pulseiras e cremes para limpeza.

Peguei a bolsa e dei uma visualizada na rua, enquanto andava bem devagar para voltar pra dentro.

 As outras casas eram quase iguais a minha, algumas tinham janelas maiores, outras menores, mas nada que fazia muita diferença.

 Quando entrei de volta, o sol começou a surgir lá fora, já que era horário de almoço. E aí, começou a me dar fome.

 — Mãe! Pai! Podem vir aqui?! — Gritei, pois queria perguntar o que iríamos comer.

 Quem desceu foi o meu pai, que estava cheio de caixas na mão, que formavam uma pilha. Quase não dava pra ver seu rosto.

 — O que foi Emma? — Ele perguntou, mas quando eu ia falar ele já adivinhou o que eu queria — Ah! Horário de almoço. Sim, vamos comer, mas...estamos muito ocupados com a mudança. Por que não vai comprar algo? Ali na praça tem algumas barracas de fast food.  — Ele me entregou uma nota de R$ 20,00 e subiu (tropeçando no meio do caminho) lá pra cima.
  
Não que eu não queira sair de casa, mas eu mal conheço São Francisco...não sei muito bem como interagir com as pessoas.

Conforme eu fui andando fui notando a beleza daquele lugar.

Além do cheiro de chuva por causa dos enormes lagos, tinha flores (normalmente margaridas) pelas casas em vasos enfeitados com detalhes cerâmicos.

Havia a praça em que meu pai tinha falado, e ela era linda. Tinha uma fonte de água no meio dela, e em volta as barraquinhas.

 Estava vazia naquela hora, pois eu acho que a maioria das pessoas estavam trabalhando e as crianças e adolescentes estudando.

Vi uma que estava vendendo batatas fritas, e além disso tinha um suporte de álcool em gel para passar na mão antes de comer. Era ali mesmo que eu ia comprar.

 Andei até lá, e quem me atendeu foi uma mulher de cabelo curto bem escuro, com uma mecha roxa no cabelo. Ela tinha tatuagens nos dois braços, e um piercing no nariz, também tinha alargadores nas orelhas. Digamos que ela tinha o estilo meio punk.

 — Oi! Qual batata vai querer? Temos a tradicional, a mega, a apimentada, frita, cozida e a grelhada. — Ela mal olhava para mim, pois estava ocupada lendo uma revista em quadrinhos.

 — Pode ser a grelhada, por favor. — Olhei para o panfleto depois de fazer o meu pedido, e estava todas as opções que a mulher punk havia dito. Isso significa que ela devia estar trabalhando ali com fast foods faz um bom tempo, para decorar todas as opções.

 O cheiro das batatas invadiu minhas narinas, o que me deixou com mais fome ainda.

 Assim que ela terminou de preparar minha batata grelhada, passei o álcool em gel nas mãos, e peguei meu pedido, pagando logo em seguida.

 Quando me virei para ir embora vi um grupo de amigos saindo do colégio  e indo em uma direção oposta à minha. Na verdade, eles estavam indo para o bosque que tinha depois do lago da minha casa.

 Não liguei muito pra isso, pois estava com fome e queria ir logo para casa, para me aconchegar naquele espaço vago, apenas observando o canto dos pássaros e o cheiro de chuva.

 Fui comendo as batatas até chegar lá.

 Joguei a caixinha de papelão na lixeira, e entrei, indo direto para o espaço vago.

 Meus pais ainda estavam lá em cima, de certo arrumando o quarto deles, enquanto Candy brincava com sua bolinha favorita. Ela tinha listras roxas, enquanto havia desenhos de vários doces, como balas, pirulitos, chicletes, etc. Por isso dei o nome de Candy a ela. Ela nunca largava essa bolinha, de jeito nenhum.

 Me sentei de "pernas de índio" no gramado, e fechei meus olhos sentindo o maravilhoso cheiro e ouvindo o canto dos pássaros.

Às vezes a solidão pode ser uma coisa fantástica.

   Capítulo 1 concluído ✔
   Capítulo 2   ⬇️

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