Emma

 Estávamos na casa do Logan, eu sentada no sofá, Eliza no chão, Jasmine em pé e os gêmeos ao meu lado.

 Os pais dele haviam saído para fazer compras, segundo ele.

 Hoje de manhã Logan tinha me ligado, dizendo para que eu fosse até sua casa, pois ele tinha uma notícia a dar.

 E então aqui estamos, esperando ele voltar da cozinha com biscoitos de avelã que ele tinha feito.

 — Nossa, tô morrendo de fome. Não comi nada quando saí de casa. — Nath bocejou e encostou a cabeça numa almofada.

 Eu estava inquieta. Pouco me importam os biscoitos, eu só quero saber qual é a notícia que ele tinha pra falar.

Ele finalmente voltou, com uma bandeja enorme, cheia de biscoitos marrons claro e avelãs espalhadas.

— Espero que vocês gostem. — Ele estendeu a bandeja e colocou na mesa de centro. — Minha mãe não deixou eu usar chocolate, então eu coloquei avelã.

 Nathan e Chris pegaram cinco de uma vez, e começaram a comer.

— Tá muito bom. — Ambos disseram.

Eu peguei um biscoito, e dei uma mordida. Não sabia que ele cozinhava tão bem assim.

 Ele não se sentou em momento algum, em vez disso, esperou todos nós olharmos para ele, então começou a falar:

 — Bom, eu chamei vocês aqui porque eu tenho uma notícia pra dar. Ela é boa! — disse antes que pudéssemos começar a questionar. — Meus pais não foram fazer compras, e sim no hospital.

 Todos nós começamos a encará-lo, até que ele continuasse.

 — Eu vou passar por um procedimento médico, um Stent, para ser mais preciso.

— O que é isso? — Perguntei.

 — É como se fosse um tubo colocado nas artérias do coração. Isso mantém elas abertas, assim eu posso respirar melhor. Vai facilitar bastante minha vida. — Ele sorriu e pegou um biscoito.

 — Logan, isso é maravilhoso! — exclamou Jasmine.

Eu corri e o abracei. Isso significa que ele poderá ter uma vida melhor, correr como sempre gostou de fazer, não ter mais tonturas, sem dores...

— Quando você vai colocar o Stanley? — Eliza perguntou.

 Todos nós olhamos pra ela ao mesmo tempo.

 — Stanley? — Chris perguntou.

— É difícil falar Srent, slent, sent...

 — Stent! — Nós gritamos.

— Gostei mais de Stanley.

 Nath pegou um biscoito e jogou no Logan.

— Ei!

— Isso significa que você vai poder voltar a comer besteiras com a gente?

— Bom, de certa forma, sim. — Ele respondeu. — Só não conta pra minha mãe!

 — Ei, é verdade, quando você vai colocar o... — Chris vacilou antes de continuar, e olhou para Eliza. — o Stanley?

— Não sei. Provavelmente semana que vem eu acho. Foi pra isso que os meus pais saíram, afinal.

Foi a melhor notícia que ele já me deu.

— E para comemorar isso... — Ele sorriu e entrelaçou seus braços em volta dos meus ombros. — eu queria fazer algo legal com vocês. Como por exemplo, o lago atrás da casa da Emma.

— Bom, é meio impossível, já que o lago está todo congelado...

 — Vamos patinar lá, é claro! — Eliza exclamou, interrompendo Jasmine.

 Ela revirou os olhos e se encostou no peito de Nath, que agora estava em pé.

— Tudo bem pra você? — Ele me perguntou.

— Claro. Por que não? — Por dentro eu ainda tinha arrepios só de pensar em entrar naquele lago com bactérias, sujeira e... respira Emma. Okay, você pode fazer isso. Vocês nem ao menos vão entrar lá, só deslizar por cima.

 Os gêmeos colocaram alguns biscoitos no bolso, pra comerem no caminho.

Íamos dar a volta pelo bosque, era mais fácil.

 Então assim sendo, nós saímos de lá.

Nossos passos afundavam em toda aquela neve grossa aos arredores do chão do bosque.

 As árvores já não tinham folhas, e estavam salpicados daquela massa gelada e branca.

 Não haviam muitos flocos de neve caindo no momento.

 Até que finalmente chegamos.

 Eu não tinha visto aquele lago já fazia um bom tempo. Normalmente em casa eu não arrastava mais para o lado a porta de vidro, apenas passava reto.

 Eu ficava o dia todo deitada no sofá com cobertas e uma caneca de chocolate quente nas mãos.

 Eu geralmente usava o lugar vago para refletir sobre os meus problemas, ou apenas para relaxar, mas esses dias eu estava tão ocupada com o Logan, que nem ao menos fiz isso.

 Eliza correu para o lago, e acabou caindo com a bunda no gelo. Eu ri e joguei um montinho de neve nela.

 — Nossa, t-tá mu-muito gelado aqui! — Ela gritou.

— Eu avisei! — Mas antes que Jasmine pudesse dizer mais alguma coisa, Nathan jogou uma enorme bola de neve nela.

 Ele se encolheu, rindo, pensando que ela ficaria brava, mas em vez disso todos nós a ouvimos rir bem alto, e ela jogou outra bolinha de neve nele.

 E em questão de segundos, todos nós estávamos repetindo os mesmos gestos.

A neve no meu corpo me dava arrepios, não por causa do TOC nem nada, mas sim porque estava super gelada.

Olhei de relance para o Logan duas ou três vezes, e ele estava se divertindo.

 Isso me fez sorrir.

 Era ótimo ele estar se divertindo tanto assim, e era ótimo estar perto dele o tempo todo.

Eu empurrei Logan na neve fofa, e subi em cima dele.

— Sou eu quem deveria estar fazendo isso! — Ele riu e jogou neve em mim.

 Eu gritei e ri ao mesmo tempo, até que ele conseguiu se desvencilhar dos meus braços e me jogou na neve, fazendo o movimento que eu fiz.

Assim que ele o fez, ele colocou uma das mãos no peito e respirou fundo.

— Você tá bem? — Perguntei, preocupada.

— Eu... tô sim. — Logan tossiu, e voltou a rir.

Eu dei um leve sorriso.

 Ouvi um barulho nesse momento, e era Chris escorregando no gelo ao lado de Eliza.

Pensei comigo mesma o quanto aquele gelo suportava.

  Estávamos todos sentados, encostados em árvores e olhando para o lago.

— Foi aqui que a gente se conheceu, lembram? — Jasmine perguntou.

 — Ué, mas nós não nos conhecemos na escola? Lembra, primeiro dia de aula, a professora disse pra você me levar até a sala do diretor porque eu tinha jogado chiclete na...

— A Emma, Eliza, a Emma! — Ela jogou uma bola de neve em Eliza.

 — Eu lembro. — disse Chris. — O Logan ficou todo bobão quando a Emma salvou ele de morrer ali no lago.

 — Ei, não exagera!

— É verdade, ele não parava de falar nela depois disso! — Nathan o provocou.

 Eu ri e me abracei mais em Logan.

— Você me chamava de "a garota do lago".

 — Isso é verdade. E você continua sendo, pra mim.

 — Você estava falando coisa sem sentido aquele dia, Eliza. — Chris falou.

 — E quando ela não tá falando? — Jasmine se ajeitou e pegou um dos biscoitos de avelã que tinham sobrado do bolso de Nath.

— Você sabe que isso estava no meu bolso, não sabe?

 Jasmine fez uma careta e jogou o biscoito na neve, cuspindo o mesmo.

 Nós rimos, e Eliza, por motivo nenhum, jogou mais neve nela, gritando "revanche!"

Logan olhava para mim.

 — Sabe, eu gosto daqui.

 — Eu também. — Concordei.

— Se eu não tivesse tido a ideia maluca de ter dado um salto mortal no meio do lago, em cima de uma árvore nem um pouco segura, nós não teríamos nos conhecido.

— Pois é. Eu quase não te salvei, sabia? Por causa do nojo e agonia que eu estava daquela água.

 — Eu vi, você saiu correndo depois. — Ele sorriu e fez uma pausa, ainda olhando para o lago. — Sabe Emma, se eu fosse plantar uma flor, eu plantaria aqui.

 — O que...

 Mas nesse momento todos começaram a se levantar.

 — Acho que em breve irá cair uma nevasca, é melhor a gente ir. — alertou Jasmine.

 E então voltamos pelo menos caminho em que viemos.

    Logan

 Era noite. A neve agora caía pesadamente na janela, quase a tampando por completo.

 Meu quarto estava todo escuro, na mais repleta escuridão.

 Minha cama ainda estava arrumada, eu nem sequer tinha aberto o cobertor.

 Eu havia terminado de tomar banho, e estava com um pijama, e uma caneca de leite quente com marshmallows flutuando nas minhas mãos.

 E que agora não estavam mais, pois eu coloquei a caneca em cima da escrivaninha.

 Me sentei na cadeira, assim como eu fiz na noite passada, peguei os papéis.

 Papéis que agora estavam completos, e eu os chamava de "garantia".

 Eu dobrei com cuidado, pensando sobre o dia de hoje, em todas as coisas que me levaram a fazer o que eu estou fazendo agora.

Minhas mãos não tremiam, nem estava com o corpo doendo. Isso era bom.

 Mas a minha respiração por outro lado, bem, digamos que eu não estava conseguindo respirar fundo.

 Assim que acabei, olhei para a janela.

 Em algum lugar, eu sei. Ela ia conseguir.

Naquele lugar.

 Minhas garantias estavam prontas, e agora eu só precisava concluí-las.

 Ou melhor, apenas uma.

    Capítulo 31 concluído ✓
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