🌻TRINTA E TRÊS🌻

  

Logan

 Eu entrei em casa, e meus pais me abraçaram.

Foi um abraço caloroso, e eles sorriam para mim. Fazia um bom tempo que eles não sorriam.

Eles estavam felizes que a cirurgia iria ser semana que vem, e mais felizes ainda que eu estava bem com tudo isso.

 Eu subi as escadas para o meu quarto.

 Eu tentei, tentei ao máximo não tremer as mãos, e talvez se eu as tremesse era por conta da noite fria de inverno, que não podíamos controlar o frio que sentimos.

 Mas no meu caso, eu sabia que era outro tipo de frio, e não o frio daquela noite.

 Minhas mãos geladas e meu corpo quente por causa do suor não eram uma boa combinação. As escadas então, pareciam milhões de degraus até eu chegar na maçaneta da porta e abri-la.

 Eu apenas a encostei, assim como fiz com o meu corpo na escrivaninha, na qual continham várias cartas escritas a mão por mim.

 Uma delas não estava ali, pois eu sabia onde deveria ficar.

 Eu tentei.

Tentei respirar fundo, tentei me apoiar em algo.

 Mas meu corpo começou a estremecer.

 Coloquei minhas mãos sobre o peito, e senti meu coração palpitando fortemente, e muito devagar.

 Meus olhos se arregalaram, como girassóis se abrindo na primavera.

A janela estava aberta, e a luz da lua preenchia parte do chão do meu quarto, na qual eu me encontrava agora.

 Comecei a tentar respirar fundo pela boca, mas só piorava.

Não tinha mais forças para nada, apenas meus pensamentos estavam me conectando a realidade naquele momento.

 Eu olhava para a noite estrelada que pairava diante da minha cabeça.

A morte é algo silencioso. Um silêncio barulhento, um silêncio que gritava, mas ninguém conseguia ouvi-lo, pois esse era o seu trabalho: silenciar dores.

Ela vinha como um sopro gelado em sua mente, era inevitável, ela puxava seus pensamentos.

 Talvez eu devesse guardá-los agora. Numa caixa, na qual a única chave dela estava em minhas mãos, gélidas e pálidas, como meu rosto.

 Minhas lembranças, meus sentimentos e sensações, tudo isso começou a esvair para dentro da caixa, com girassóis e estrelas.

 Essas estrelas, eu as via agora.

Elas brilhavam no céu escuro, os meus olhos as encontravam, e ambos dançavam sobre o luar enigmático do céu.

 A escuridão tomava conta de mim, assim como meu coração que contava com sua última batida.

 Um suspiro, e agora eu não via mais nada, a não ser as estrelas.

Lindas estrelas.

A noite está linda hoje.

    Emma

Eu gritei.

 Foi o grito mais agonizante da minha vida.

 Eu nunca tinha sentindo tanta dor como naquele momento.

 Eu não estava com nenhum ferimento, nenhum arranhão, nenhum machucado ou dano físico.

 Mas naquele momento, parecia que o meu corpo inteiro estava em chamas.

 As lágrimas quentes não paravam de escorrer dos meus olhos, e meu corpo estremecia. Meus joelhos estavam dobrados e eu tocava o chão com uma mão, e com a outra apertava fortemente minha blusa na região do peito.

Eu não conseguia raciocinar as palavras que meus pais diziam para mim, a única frase que eu me lembro claramente de ter ouvido da boca da minha mãe, foi:

Ele se foi, Emma. Logan morreu.

  Quando descobri que ele morreu, eu estava no meu quarto, quase dormindo, quando comecei a ouvir vozes vindo lá debaixo.

 Comecei a estranhar, pois a essa hora já eram para os meus pais estarem dormindo.

 Então eu me levantei, calcei um par de tênis sem cadarços que estavam jogados ali, e abri uma fresta da porta do meu quarto para tentar ouvir.

 Meu coração gelou quando ouvi o nome do Logan, e parecia que era minha mãe que tinha dito.

 Pelo que estava parecendo, ela falava no telefone com alguém, enquanto meu pai andava de um lado para outro na sala.

 Isso não me parecia bem, porque meu pai só fazia aquilo quando estava ansioso.

Então as vozes cessaram.
  
 Meu pai começou a dizer algo como "contar a ela", e minha mãe respondeu "não sei".

 Meu coração palpitava naquele momento, e eu acabei não aguentando.

 Abri a porta do meu quarto e fiquei em pé parada na escada.

 Eles me olharam, e depois meu pai cerrou os punhos. Minha mãe suspirou.

 — O que foi? — Perguntei — Andem, me falem! É sobre o Logan, não é? O que aconteceu?!

 A voz da minha mãe estremeceu enquanto ela falava:

 — Emma... — Ela parecia querer engolir o choro — O Logan...ele...

— Mãe, o que aconteceu? Por favor...  — Parecia que ela queria desistir de falar a todo momento, então eu insisti.

 Até que enfim, a frase que me queimou foi dita:

— Ele se foi, Emma. Logan morreu.

E foi assim que eu explodi em chamas, que eu me queimei com o fogo e desabei no chão.

Eles correram até mim, e senti minha mãe me abraçando pelas costas.

 Meu pai colocou a mão no meu ombro e o apertou de leve.

A única coisa que eu pensava era como isso tinha acontecido.

 Ele iria fazer a cirurgia na semana que vem, como assim ele literalmente acabou de morrer?!

Depois de alguns minutos chorando, eu me levantei com tudo do chão.

 Desci as escadas correndo, indo direto para a porta.

— Emma! Volta aqui agora! — Meu pai gritou.

Eu não o ouvi, pois já havia aberto a porta e saí correndo por ela.

 Sei que eles iriam me seguir, mas eu não me importava.

Minha respiração estava pesada, e eu não conseguia parar de chorar.

 Era difícil correr e imaginar o ar dos pulmões de Logan se esvaindo enquanto ele tentava recuperar o fôlego, como eu estava fazendo naquele exato momento.

 Eu gaguejava:

 — Logan...n-não, como? O que...

As luzes da rua estavam embaçadas por causa das lágrimas, que eu tentava enxugar sem sucesso.

Não demorou muito para que eu chegasse, e sinceramente, não queria ter visto o que eu tinha acabado de ver.

 O corpo de Logan estava sendo retirado numa maca, e indo direto para a ambulância por dois homens.

Eu gritei um "não!" E corri até lá.

Eu consegui chegar perto dele, e o toquei por cima do lençol branco que o cobria.

 Lágrimas escorriam por ele, e eu só queria arrancar aquele lençol e ver o seu rosto.

Mas senti dois pares de braços me agarrando, enquanto eu me debatia.

Enquanto Logan era colocado lá dentro, me debrucei sobre o chão.

Mas aqueles braços não paravam de me segurar, como se eu pudesse começar a correr pra dentro da ambulância.

 Os pais de Logan entravam lá dentro, e a ambulância ia embora.

 Olhei para trás para ver de quem eram os dois pares de braços, e percebi que eram os gêmeos.

 Os rostos de ambos estavam vermelhos, e eles me olhavam.

 Eles me abraçaram, e percebi duas  garotas vindo na nossa direção.

Eram Eliza e Jasmine.

 Eliza estava aos prantos, e Jasmine a abraçava, que também chorava, só que baixo.

 Agora eu estava encostada nos gêmeos, enquanto eles me seguravam, e nós três estávamos sentados no meio da rua.

No fim dela, pude observar a ambulância levar o corpo, sem vida de Logan, para onde quer que estivessem o levando.

 Eu só sabia chorar naquele momento, e meus olhos se encontraram com o céu naquela noite.

 Ele estava estrelado, brilhando como meus olhos brilhavam de angústia.

 Como uma cortina escura, as estrelas me cobriam, pois naquele dia, elas haviam se apagado para mim.

 Mas, sei que se o Logan estivesse comigo, naquele momento, ele diria que a noite estava linda hoje.

   Capítulo 33 concluído ✓
   Capítulo 34 🔽
  

  

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