🌻TRINTA E SEIS🌻
Um mês depois.
O vento batia no meu rosto, me forçando a cerrar os meus olhos, também pelo fato de a luz do sol estar refletindo sobre todos nós.
Eliza, Jasmine e os gêmeos estavam sentados ao meu lado, e estávamos no bosque, observando o nascer do sol.
Eliza estava com uma das mãos entrelaçada na minha, e eu olhava para os inúmeros girassóis e margaridas que começavam a se abrirem lentamente.
Ainda era um ar um pouco úmido, pois a neve tinha começado a derreter durante o mês todo.
E agora, ela estava chegando ao seu fim.
Assim como eu.
— É lindo, não é? — Jasmine perguntou, não sei bem a quem. Acho que a todos nós.
— Seria mais bonito se a Emma continuasse aqui. — Disse Eliza.
Eu respirei fundo. Foi uma decisão minha.
— Vocês sabem. — Eu respondi. — Eu tenho sorte de ter vocês ao meu lado.
— Nós sempre estaremos aqui, Emma. — Chris se levantou e me abraçou, de joelhos.
— A gente não queria isso, mas... — Nathan se juntou ao abraço. — se é o que você quer, estamos com você.
Jasmine não esperou Nathan terminar de falar, e me abraçou também.
Logo, estávamos em um abraço coletivo, e sabe, acho que esse foi o melhor que eu já recebi.
É claro que faltava uma pessoa ali.
Mas eu sei que Logan gostaria daquele abraço.
— Esse foi o melhor lugar que poderíamos ter vindo hoje. — Eliza sussurrou. — Por ele.
Sim, de fato ela tinha razão.
O mundo era tão diferente pra mim naquele momento.
Parecia que o tempo havia parado, que por mais que eu quisesse, eu não queria sair dali, porque eu sei que em algum momento tudo iria acabar.
O sol agora brilhava no céu, com sua luz imensa que marcava qualquer presença habitável naquele bosque.
Meus olhos brilhavam.
Todos eles estavam ali, comigo, como prometeram desde o começo. Desde que eu vim pra cá, para São Francisco.
Mas havia uma pessoa que não estava.
E eu não podia conviver com aquilo.
Os minutos se passaram, e chegou a hora de eu voltar.
As sombras de todos ficaram para trás, aos poucos, conforme eu caminhava eu olhava para trás de vez em quando, e seus braços continuavam esticados.
— A gente te vê daqui a pouco! — Chris gritou.
Minha casa estava uma bagunça.
Haviam caixas por todo lado, e alguns homens estavam ajudando meus pais com os móveis maiores e mais pesados.
Candy veio correndo em minha direção.
Fazia um bom tempo que eu não passeava com ela.
— Vem cá, Candy. — Eu estiquei meu braço e peguei sua guia, na qual coloquei na coleira.
Ela começou a latir de alegria, e então abri a porta novamente e saí.
Meu objetivo era ir até o outro lado do lago com ela.
Eu estava indo para lá praticamente todo dia desde que eu achei a carta.
O caminho não era tão longo, até porque Candy corria bem rápido e em consequência disso eu tinha que acompanhá-la.
A grama estava úmida e quente. O sol não batia muito ali, e o vento era fresco e deslizava como uma pluma em minhas bochechas.
Caminhei com Candy um pouco ao redor das árvores.
Depois de ela caminhar e correr bastante por ali, sentamos embaixo da árvore que eu desenterrei a caixa.
— Seu último passeio aqui em São Francisco... — Olhei para ela, que ofegava com a língua de fora, sem entender absolutamente nada do que eu estava dizendo.
Eu achava isso engraçado. Nós, seres humanos, conversamos com os animais como se eles pudessem nos entender.
Talvez isso seja uma válvula de escape para o que você não pode falar para as outras pessoas.
Como eu estava fazendo agora.
— Sabe Candy, eu sei que o corpo do Logan está no cemitério agora.
Candy abanou seu rabo e se deitou na grama.
— Mas eu sinto que é aqui que eu deveria me despedir dele. Onde nos conhecemos. Onde tudo deveria terminar, pois não há um fim sem um início. — Fiz carinho em sua cabeça. — E foi aqui onde tudo começou.
Tirei do meu bolso um canivete que eu havia colocado justamente para esse objetivo.
No tronco da árvore escrevi com letras grandes "Logan Patterson, o menino que não sabe nadar".
E em seguida tirei do bolso do meu sobretudo um pequeno girassol que eu havia arrancado do bosque aquela manhã.
O coloquei sobre a grama lentamente, e suspirei, sussurrando:
— Eu espero que onde quer que esteja, você se lembre de mim. — Uma lágrima começou a escorrer da minha bochecha lentamente, por mais que eu quisesse contê-la ali. — Eu te amo, Logan.
Eu enxuguei meu rosto rapidamente, e puxei a guia de Candy para que fôssemos embora.
Pode parecer loucura, mas assim que disse aquelas palavras e saí daquele lugar, me senti muito mais leve.
O caminhão estava pronto para partir, e meus pais estavam do lado de fora da casa, me esperando.
— Você já se despediu deles, querida? — Minha mãe perguntou.
— Sim, mas... — Então ouvi uma voz familiar gritando.
— EMMA!!! — Eliza vinha correndo em minha direção, com uma cesta cheia de doces e bilhetes.
Atrás dela vinham os outros, ofegantes, correndo em minha direção também.
Em seguida todos me deram um abraço super apertado, que quase me fez cair.
No fundo, eu vi que Noah, o namorado de Eliza, acenava com as mãos para mim, assim como Charlie, que pulava e acenava.
Eu acenei de volta com uma mão — a única que estava livre, pois a outra tinha sido esmagada no abraço coletivo — e parei quando todos eles me soltaram.
— Isso é pra você. — Eliza estendeu a cesta para mim.
— Nós que fizemos. Tem doces, bilhetes e algumas outras coisas que você gosta. — Explicou Jasmine.
— Sentiremos sua falta, você sabe né? — Disse Nathan.
— Você tem que nos ligar todos os dias! Entendeu?! — Chris segurou meus ombros, e me deu outro abraço, sendo bem afirmativo na palavra "todos".
Eu sorri para eles.
— Vocês sabem que sim. Eu só... só preciso de espaço durante um tempo, e é claro que eu vou ver vocês quando der para eu vir pra cá.
— Emma, vamos? — Meu pai me chamou, entrando dentro do carro.
— Vou sentir sua falta, bolinha de pelos. — Chris acariciou a cabeça de Candy.
Eu me despedi deles, e entrei no carro com Candy, exatamente como na primeira vez que eu estava indo para São Francisco.
A decisão foi minha.
Eu decidi ir embora. Não foi porque acabou o tratamento nem nada do tipo. Na verdade, eu até cancelei as consultas, que estavam sendo irrelevantes.
Eu não conseguia mais sair de casa sem pensar em ir ver o Logan, e em seguida desse pensamento ocorria o mais sombrio de todos, que era o fato dele ter morrido.
Meus pais disseram para eu pensar bem na minha decisão, e eu já havia a tomado.
Olhei para trás, e vi que todos eles corriam em minha direção, acenando com as mãos e sorrindo.
Eu nunca me esqueceria do que eles fizeram por mim durante desse tempo todo também.
Eles me deram uma amizade em um ano, que eu não consegui a vida toda.
Assim que o carro virou a esquina, eu me virei pra frente novamente.
Aquele dia no bosque, do outro lado do lago, eu havia encontrado a carta.
E não fui eu que toquei nela. Foi Logan que me tocou. Aquelas palavras...eu fui tocada com a verdade.
A verdade que ninguém, nem ao menos Eliza, Jasmine ou até os gêmeos sabiam.
Era uma verdade que eu manteria comigo.
Para sempre.
Tirei a carta do meu bolso.
Eu a levava comigo para todo lado desde que eu a encontrei.
Meus olhos correram por ela, enquanto eu a lia, com uma expressão profunda e neutra:
Emma,
Se você estiver lendo isso, parabéns! Eu sabia que você iria achar nossa caixa. E significa também que eu morri. Eu já sabia que estava morrendo.
Me desculpe por não ter te dado a carta antes de eu morrer, não queria arriscar de ninguém ler sua carta ou achar nossa caixa, ou melhor, sua caixa.
Durante todo esse tempo em que te conheci percebi que não fui eu que te ajudei com o seu TOC, mas na verdade o contrário.
Emma, durante todo esse tempo eu sempre tive DAC.
Eu quis contar desde o início, mas sempre que eu te olhava, os seus olhos verdes profundos tão lindos, eu... simplesmente não conseguia.
A verdade é que eu herdei isso do meu pai. A questão para ele ser assim todo sensível o tempo todo é por causa disso. Ninguém sabe. Nem Eliza, nem os gêmeos e muito menos Jasmine. Quero que guarde isso pra você.
Me desculpe ter guardado isso o tempo todo. Não sabia que iria piorar algum dia, eu estava tão bem...
É por isso, que durante esse tempo todo foi você Emma, que me ajudou a esquecer e me distrair disso. Foi você que entrou na minha mente como uma tempestade, e a tomou da sua forma mais bonita que eu já presenciei, porque eu gosto de me molhar com as gotas dessa chuva.
Se você está lendo isso, sei que conseguiu abrir sua caixa. E eu não me refiro a essa caixa que você tem em mãos, mas sim a caixa de pensamentos, seus pensamentos.
Não tinha nada que eu poderia fazer. Eu sabia que uma hora eu iria partir.
Viva a sua vida da melhor maneira possível, e se lembre de mim quando olhar para as estrelas, pois são nelas que estão infinitos outros mundos e fantasias onde estaremos juntos pela mais bela eternidade.
Eu sempre vou te amar, garota do lago.
Eu sempre te amei.
- Logan, o menino que continua não sabendo nadar.
Fechei os olhos depois que terminei de ler.
Desde o início eu me apaixonei por alguém que já estava destinado a morte.
Como ele conseguiu esconder isso durante todo esse tempo?
A minha mente estava rodeada de perguntas, mas todas elas precisavam ser esquecidas.
O Logan morreu.
Mas isso não me impede de continuar o amando.
Coloquei a carta sobre meu peito, enquanto meus olhos estavam fechados.
Respirei fundo enquanto o carro começava a atravessar a enorme ponte que eu sempre achei bonita, desde que chegamos aqui.
Como eu disse, todo final tem um começo, assim como todo início tem um fim.
E naquele momento, eu pude ter certeza que senti uma sensação única, de algo novo, uma vida nova.
Depois de dias, semanas talvez, eu finalmente abri um sorriso verdadeiro.
E ele não não era um sorriso por fora, mas sim por dentro.
Eu já sabia da verdade, já sabia de tudo.
Eu não posso fazer nada, e tudo bem com isso.
Talvez eu nunca me recupere, do TOC, do Logan, de mim. Mas eu posso ver a verdade delas.
Não podemos fazer coisas inalcançáveis, apenas aceitá-las como elas são.
E eu aceito minha vida agora.
Espero que Logan tenha aceitado a dele.
Capítulo 36 ( e último) concluído. ✓
Agradecimentos na próxima página.
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