🌻TRINTA E CINCO🌻
A casa estava com as luzes apagadas. Apenas a da sala estava acesa.
Me aproximei da porta, e ouvi vozes vindo lá de dentro.
Toquei a campainha, e demorou alguns minutos até alguém abrir.
Era a mãe de Logan:
— Ah, olá Emma. — Ela estava com uma aparência bem acabada. Haviam olheiras em seus olhos, sua pele estava pálida e o cabelo um pouco despenteado. — Entre, por favor.
Entrei na casa, e ela não parecia a mesma em que fui várias vezes.
O sofá estava com cobertores espalhados e almofadas fora do lugar. Na mesa de centro da sala haviam copos, alguns com água ainda dentro.
No geral, ela estava sem luz, sem vida.
— Oi, Emma. — O pai de Logan me cumprimentou, sentado no sofá. — O que te trouxe aqui agora?
— Eu vim dar meus pêsames, novamente. — Respondi. — Mas também vim perguntar outra coisa.
— Diga, querida. — A mãe dele disse.
— Bom, eu vi que Logan havia deixado cartas para todos. Mas...por acaso vocês esqueceram da minha?
Eles se olharam, e percebi a cara de decepção no rosto de ambos.
A Sra.Patterson tocou meu ombro.
— Emma, se Logan tivesse deixado uma carta para você, já teríamos te dado. Eu sinto muito.
Meu coração apertou. Não. Não era possível! Ele tinha que ter deixado algo para mim!
Eu olhei para ela.
— Talvez ele tenha deixado algo no quarto dele? Será que eu posso...?
— Oh, mas é claro que sim. Por favor, pode ir. — Ela respondeu.
Eu subi as escadas, em direção ao seu quarto.
A porta estava fechada.
Eu toquei a maçaneta, e suspirei fundo.
A imagem de Logan sorrindo para mim, em frente a sua janela, com girassóis em suas mãos me veio a mente. A voz dele, doce e calma, se dirigindo a mim, dizendo meu nome.
Foi o que eu queria ter visto em vez de apenas um quarto vazio.
Sua cama estava arrumada, assim como o resto do seu quarto: a escrivaninha, a cadeira, tudo praticamente.
Entrei, e comecei a olhar ao redor.
Olhei embaixo da cama, dentro do armário, na qual não haviam mais suas roupas, e em seguida para a escrivaninha, que não havia mais nada a não ser uma finíssima camada de poeira.
Me aproximei da janela.
A luz fraca vindo de fora pairava sobre o chão, deixando uma sensação única de solidão e calmaria.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
As dúvidas começaram a surgir como um cardume de peixes fugindo de um tubarão imenso e feroz. Eles passavam me jogando para longe, me deixando ali, sozinha e perdida, me afogando no meu próprio mar de pensamentos.
Apesar da calmaria daquele quarto, por dentro eu era um furacão, pronto para destruir tudo que viesse em minha frente.
Eu me ajoelhei e cerrei meus punhos.
— Droga, Logan! Que droga! — As lágrimas escapavam dos meus olhos e eu gritava para mim mesma, batendo as minhas mãos no carpete. — Por que você fez isso?!
Eu queria respostas mais que tudo nesse mundo.
Por que ele havia me deixado sem nada? Tinha algo a mais nisso tudo?
Olhei pela janela.
Começava a nevar. Flocos de neve delicados pousavam sob o chão na minha frente.
Eu me levantei e olhei para fora.
Suspirei, e fechei a janela, cassando a passagem fria de neve que entrava lentamente ali.
O quarto já estava frio o suficiente para entrar mais neve.
E eu não me referia ao frio gelado do inverno.
Sozinha.
Eu estava sozinha ali, na sala, sentada no sofá, olhando para o vazio.
Eu não tinha ligado nem respondido as mensagens que o grupo tinha me enviado.
Eu já não ligava para os pêsames das pessoas sobre mim, dizendo que sentem muito ou que gostariam que eu tivesse tido mais tempo com ele. Ou que Logan era jovem demais para morrer.
Eu já sabia de todas aquelas merdas. E sinceramente, eu não me importava com nenhuma delas.
Eu me levantei do conforto do sofá, e minha visão foi até o lugar vago.
Quando percebi, eu já colocava minhas mãos sob a porta de correr e a puxava para o lado, abrindo a mesma, e a fechando em seguida.
Agora a neve tinha parado de cair.
Nuvens de fumaça saíam da minha boca enquanto eu respirava, e então eu me sentei sobre a neve fofa e gelada.
O lago estava totalmente congelado. Uma fina camada de gelo o cobria, possivelmente se quebraria facilmente. Principalmente agora, que ele estava mais frágil depois de todos nós patinarmos sob ele e Eliza cair sentada ali.
Eu olhei para ele.
Não era possível que Logan não havia deixado nada para mim.
Eu era teimosa. Não acreditava nisso.
Ele disse algo antes de morrer?
Logan estava agindo estranho dias antes da cirurgia, isso era óbvio. Mas acho que preferi evitar acreditar na realidade e me concentrei na fantasia maravilhosa em que eu havia criado na minha mente.
Sempre que falávamos sobre a cirurgia, os tratamentos ou remédios, ele agia de forma estranha, como se quisesse evitar o assunto.
Isso é normal para uma pessoa doente, mas mesmo assim...ele parecia que já aceitava que iria morrer. Ele nem sequer considerava o que iria fazer depois de se tratar e ficar melhor. Ele não pensava adiante.
Durante os últimos dias de vida dele, Logan também ficou mais participativo com a gente. Saindo com todo mundo, patinando aqui, rindo e...
Passando um tempo comigo aqui, no lugar vago.
O lugar vago.
Olhei para o outro lado do lago.
Meu coração palpitou de ansiedade quando avistei algo que me chamou a atenção.
Tinha algo no meio da neve, na mesma árvore que tínhamos ficado encostados no dia da patinação.
Então me lembrei imediatamente, do que ele havia dito enquanto estávamos sentados embaixo da árvore:
— "Sabe Emma, se eu fosse plantar uma flor, eu plantaria aqui."
Fiquei sem entender na hora, mas agora...
Cerrei os meus olhos para aquela coisa no meio da neve.
Eu me levantei no mesmo instante em que percebi que aquela coisa — aquilo no meio da neve, amarela — era um girassol.
Mas não era um girassol qualquer, era o girassol da agenda em que eu tinha dado a ele.
Sem pensar duas vezes, com a ansiedade por todo o meu corpo, fui correndo atrás dele.
Mas assim que pisei no lago congelado, e dei quatro passos, ouvi um grande estalo.
O gelo começou a se quebrar, lentamente.
Fiquei paralisada naquele momento. Se eu andasse mais um centímetro, o gelo iria rachar.
Eu prendi a respiração.
A adrenalina no meu corpo naquele momento era surreal. Tudo o que eu mais queria era poder tocar naquele girassol.
Meu corpo era como uma estátua. Meus pés estavam grudados ali, eles não se moviam, e meus pensamentos começaram a me rodear. Eles penetravam a minha mente como facas afiadas, dizendo para eu voltar para o lugar seguro, que era atrás de mim, ali na neve fofa onde eu sempre fiquei quando queria segurança e calma.
Ultrapassar dali seria loucura.
Mas naquele momento, eu soube, que a minha maior loucura foi ter amado o Logan.
E no mesmo instante eu arranquei as facas que estavam cravadas na minha mente, e meus pés ultrapassaram a segurança e a calma.
Agora toda a raiva e a ansiedade dominavam o meu corpo, e eu corri o máximo que pude.
Ouvi um grande estalo, e no mesmo instante, na metade do outro lado, eu me tornei novamente a "garota do lago", pois eu pulei ali pelo Logan, pelo "menino que não sabe nadar", e nada me deteria naquele momento de enfrentar os meus pensamentos novamente.
A água gelada entrou pela minha roupa, e eu senti o frio congelante invadindo todo o meu corpo, enquanto eu me afundava na profunda escuridão daquele lago.
Eu tentei respirar, mas me faltava o fôlego.
Eu havia rachado o gelo por quase toda a metade do caminho até o outro lado, e então a fúria tomou meu corpo.
Comecei a nadar rapidamente, respirando fundo, e a quebrar o gelo que passava pela minha pele.
Consegui alcançar a neve da beirada do lago e me agarrei nela, saindo do frio cortante da água.
Recuperei o fôlego, e comecei a tremer de frio. Agora ele me atacou com uma força gigantesca, mas meu único objetivo era tatear aquela neve em busca de algo.
Então fui controlando o frio do meu corpo até estar apenas gemendo com o gelado do ar.
Eu segurei o girassol nas minhas mãos. Ele estava intacto, desde a primeira vez em que eu havia o comprado. Como isso era possível?
No meio da neve vi algo um pouco grande.
Comecei a tatear ali, formando um buraco, e meu coração começou a bater rapidamente quando minhas mãos tocaram uma caixa.
Era a caixa de pensamentos. Nossa caixa.
Nela estava escrito "Para Emma, do menino que não sabe nadar."
No mesmo instante eu abri um sorriso, e coloquei minhas mãos sob a tampa.
Puxei com os meus dedos, abrindo a caixa.
Nela haviam várias coisas que tínhamos colocado lá dentro, e algumas delas Logan que havia colocado.
Havia um pedaço de fita do caminho que ele tinha feito na praia, para me pedir em namoro.
Um dente de leão estava ali também, em um cantinho, representando a colina.
Haviam vários objetos que representaram o decorrer da nossa trajetória, e conforme eu mais olhava mais um pequeno sorriso no meu rosto surgia.
Até que eu a vi.
No fundo da caixa, havia um envelope branco.
Eu o segurei, e nele não estava escrito nada, como se o conteúdo do que havia dentro já dizia o bastante.
Respirei fundo, abri o envelope e de lá retirei uma carta.
Era a letra do Logan, obviamente.
Enquanto meus olhos corriam por ela, mais lágrimas se formavam neles.
Então era isso.
E continuei a ler.
Capítulo 35 concluído ✓
Capítulo 36 🔽
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