🌻TRINTA🌻
Logan
Uma semana depois:
Eu estava sentado num balanço, chutando a neve fofa e gelada com os meus pés, enquanto pequenos flocos rodopiavam pelo ar e pousavam suavemente no meu casaco.
Era natal, e eu estava no parque atrás da escola, junto com os gêmeos, Eliza, Charlie, Jasmine e Emma.
Enquanto eu balançava, sentia a cartela da Eliquis (o anticoagulante) batendo de um lado para o outro em meu bolso.
Emma estava ao meu lado, toda agasalhada com um cachecol e luvas, encostada na barra de ferro do balanço.
Os outros estavam ao meu redor, e Charlie estava sentado no outro balanço a minha frente, enquanto Chris o balançava.
Jasmine mexia na alça da bolsa que estava em seu ombro. Nela havia morfina e uma seringa, para caso eu precisasse. Sua tia era médica, então ela sabia como aplicar.
Eu me sentia um paciente rodeado de enfermeiras ao meu lado.
Era um saco, mas ao mesmo tempo eu me sentia acolhido.
Dias atrás eles estavam piores.
Os gêmeos não paravam de me dar atenção, Jasmine ficava me perguntando se eu já havia me medicado, Eliza começava a contar piadas a cada dois minutos. A única que estava normal desde o começo era Emma. Bem preocupada, era notório, mas mesmo assim continuava normal.
Nos dias que estavam se seguindo de lá para cá, eles foram se acostumando, assim que eu tive uma conversa com eles.
Eu disse que não queria que me tratassem como se eu fosse de porcelana, ou um bebê recém-nascido.
Então agora tudo estava, na medida do possível, normal.
Anteontem eu tive uma festa do pijama com Nath e Chris, e eles fizeram com que eu me divertisse como nunca.
Também tive uma conversa particular com eles.
Eles disseram que não queriam me perder, que tudo iria ficar bem, e que se eu precisasse, eles roubariam um banco e me dariam todo o dinheiro necessário para os meus tratamentos.
Ri com esse pensamento, e olhei para os dois.
Nath agora estava montando um boneco de neve. Chris levantou do balanço e correu para ajudá-lo.
Eu tinha muita sorte de tê-los comigo.
Também olhei para Jasmine, que segurava a bolsa com as mãos apertadas, como se em algum momento eu fosse ter falta de ar ou muitas dores.
Era isso que eu mais gostava nela: a disposição para ajudar seus amigos, não importa o que acontecesse. Ela e o Nath combinavam.
Tenho certeza de que um dia eles poderão criar uma família juntos. Ambos dariam ótimos pais.
Ao longe, duas sombras se aproximavam, uma mais alta que a outra.
Até que pude enxergar: eram Eliza e Noah.
— O que? A Eliza saí por um minuto e volta com o namorado e uma casquinha de sorvete?! — Jasmine exclamou, surpresa.
— Já era de se esperar, não é? — Enquanto Charlie falava, tirou o celular do bolso e correu até os gêmeos para tirar uma foto. — Essa vai pro Instagram.
— Oi gente! — Noah se aproximou e acenou para nós.
— Eliza, você sabe o quanto faz mal tomar sorvete no frio que está fazendo? Você vai ficar resfriada depois! — Jasmine olhava brava para ela.
— Eu não acredito nessas coisas. Além do mais, qual é o problema? Eu comi neve mas não posso tomar sorvete?!
— Você comeu neve?! — Então ela correu até Eliza e começou a fazer um discurso do quanto faz mal comer neve.
Escutei Emma rindo ao meu lado com aquela situação, e olhei para ela.
— Tem certeza de que não quer passar o Natal com sua família mesmo? — Perguntei.
— Você faz parte da minha família. Além disso, depois nós vamos voltar para sua casa e jantar com seus pais. Tá tudo bem, Logan.
Respirei fundo. Não queria tomar o tempo de ninguém, só por causa do DAC idiota.
Noah se aproximou de mim, e colocou a mão no meu ombro. Ela era firme.
— Fiquei sabendo da sua...ahn... — Ele exitou um pouco antes de completar.
Mas eu completei por ele:
— Da minha doença.
— É. Olha, se precisar de qualquer coisa, pode pedir. Sei lá, jogar ovos na casa de alguém que você odeia, ou atropelar alguém com a minha moto. — Ele viu que eu arregalei os olhos. — Essa última era brincadeira, é claro!
Bom, meio duvidoso.
— Tudo bem. Quem sabe eu queira jogar ovos na casa de uma garota que era obcecada por mim.
— Sério?! — Ele pareceu ficar animado, mas então se acalmou. — Ah, bom, já sabe né?
E se afastou.
E então pensei nisso. Como será que a Chloe está? Talvez ela não saiba da minha doença ainda.
Bom, assim é melhor.
Antes de irmos para a minha casa (pois já era noite e todos iriam jantar lá, menos o Noah) passamos em uma loja de doces, pois Eliza queria comprar balas.
— Quer uma, Logan? — Ela me ofereceu, na metade do caminho.
— Eliza! Claro que ele não quer, esqueceu que ele não pode ficar comendo essas coisas? — disse Jasmine.
— Não, tudo bem, uma não tem problema. — peguei a bala e a levei até a boca.
— Cara, se a gente soubesse antes, não teríamos levado aquela cesta de besteiras pra você... — Nath falou.
— Que bom que vocês levaram. Não aguentava mais aquela comida de hospital. Depois eu só tive que repousar um pouco, só isso. — Era mentira. Eu tive que tomar Eliquis em dobro, e aí sim descansar um pouco.
Chegamos na minha casa, e eu abri a porta.
Minha mãe estava colocando pratos e talheres na mesa, enquanto meu pai colocava um grande pernil assado com legumes, no centro.
— Que bom, vocês chegarem bem na hora! — Minha mãe estava com uma aparência abatida, mas mesmo assim sorriu. E estava bem arrumada, como sempre faz no Natal.
Já meu pai disse apenas um "Olá a todos", e se ocupou em pegar uma grande jarra de limonada na geladeira.
— O cheiro está ótimo Sra.Patterson! — Jasmine se adiantou a frente e ajudou com o resto das coisas.
Todos eles cumprimentaram meus pais, em seguida se sentaram à mesa.
Emma se sentou ao meu lado, e os outros fizeram o mesmo gesto, lado a lado do seu respectivo par. Menos Eliza, ela se sentou na última cadeira, na ponta da mesa retangular e bem preenchida de comida.
Meu pai estava do outro lado, e minha mãe finalmente se sentou ao lado dele também.
— Então, como foi o dia de vocês? — Ela perguntou, enquanto cortava o pernil em fatias e as servia em pratos para cada um.
— Foi ótimo, nós ficamos no parque, e depois demos uma volta. — Chris respondeu, enquanto bebia limonada.
Um tempo se passou com todos nós conversando sobre diversos assuntos. E nenhum deles era sobre mim.
Eu achei isso um alívio, pois hoje mais cedo relutei um pouco em deixá-los virem aqui para comer, porque achei que seria muito ruim ver a minha mãe toda preocupada comigo e me tratando como se eu estivesse no jardim de infância.
Meu pai por outro lado, não demonstrava preocupação. E eu sabia o motivo.
Ele apenas comia lentamente, e tomava um gole de vinho tinto a cada garfada.
Pensei comigo mesmo que talvez ele quisesse se embebedar aos poucos.
— Se me permite Sr.Patterson, será que nós poderíamos... — Nath aponta para a garrafa.
— Nathan! — Jasmine da uma cotovelada no namorado, que resmunga.
— Ah, o que? Ah... — Meu pai parecia meio perdido, mas estendeu a garrafa para Nath.
Ele começou a se servir, e de pouco em pouco todos começaram também. Inclusive Jasmine que tinha reclamado minutos antes.
Emma por outro lado, parecia querer, mas não fez nenhum movimento de estender o copo vazio ou segurar a garrafa. Até que eu entendi que ela estava me esperando, pois se eu não pudesse tomar, ela me acompanharia.
Olhei para a minha mãe. Ela estava distraída conversando com o meu pai, que pela expressão em seu rosto, estava bem sonolento.
— Psiu... — fiz um sinal para que alguém colocasse vinho no meu copo, e estendi o braço.
— Logan, não é uma boa... — Emma começou a questionar, mas então minha mãe viu.
— Logan! Não, você não pode...
— Só dessa vez, mãe, por favor.
Ela me olhou durante alguns instantes, e depois suspirou.
— Apenas um gole.
Charlie encheu o copo bem pouquinho, e então quando ela se virou novamente, sinalizei para que ele enchesse mais um pouco.
— Tem certeza? Não quero me responsabilizar por isso...
Assenti que sim com a cabeça, e então ele encheu.
Como eu já esperava, Emma também começou a beber alguns minutos depois.
Eliza, bêbada e com a língua toda enrolada, começou a contar várias piadas, que apesar de serem sem graça e sem sentido algum, todos nós começamos a rir. Isso é, tirando os meus pais.
Passado duas horas meu pai foi se deitar. Ele parecia exausto, e só murmurou um "boa noite" para as pessoas.
Foi uma noite agradável. Não, foi um dia agradável.
Ainda nevava lá fora, e em breve começaria a aumentar.
— Bom, acho melhor nós irmos antes que fique mais tarde e a neve comece a cair mais forte. — Que propôs isso foi Jasmine, é claro.
E para a minha surpresa, Nathan concordou:
— Isso é verdade. Também tenho que chegar em casa para ver como os nossos pais estão. — Ele olhou para Chris, que caminhou até a mim e me abraçou bem apertado.
— Foi bom passar esse dia com você, Logan.
— Também foi bom pra mim, Chris.
E em segundos todos estavam me abraçando.
— Atlé mais Lohan... — Eliza quase tropeçou, e se jogou em mim para me abraçar.
Eu ri e me despedi dela. Adoro o fato da Eliza ficar bêbada apenas com um golinho de álcool. Se bem que acho que ela bebeu quase metade da garrafa, creio eu.
A última a se despedir foi a Emma, enquanto todos saíram pela porta.
— Até mais, Logan. — Ela me abraçou e me deu um beijo longo.
Acho que foi o beijo mais longo que ela chegou a me dar.
Seu perfume chegou até as minhas narinas, fazendo eu me sentir confortável.
Então todos foram embora, me deixando apenas com a minha mãe, que lavava a louça quando me virei.
— Acho melhor você ir dormir, não é querido? — Ela veio até mim e me puxou para um abraço.
— Boa noite, mãe.
Respirei fundo e subi as escadas.
Enquanto eu subia os degraus fiquei um pouco tonto.
Deve ser o vinho.
Me apoiei na parede.
Naquele momento vários pensamentos começaram a me ocorrer.
Eu voltei a subir as escadas, e abri a porta do meu quarto.
Entrei e fechei a porta.
Olhei para a janela.
A neve começava a engrossar realmente agora, e os flocos dançavam uns com os outros lá fora.
Olhei para a escrivaninha, repleta de folhas arrancadas. Tentativas falhas.
Me sentei na cadeira, peguei uma caneta e comecei a escrever em novos papéis.
Papéis que não dariam errado dessa vez.
Capítulo 30 concluído ✓
Capítulo 31 🔽
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