🌻SETE🌻
Logan
O vento forte vinha do lado de fora do carro, indicando mais chuva. Conforme Noah ia dirigindo, podia ver as árvores com suas inúmeras folhas molhadas delicadamente, com gotas pingando de segundo em segundo. A natureza é tão bela que as vezes gosto de fechar os olhos e apenas senti-la.
Emma estava sentada ao meu lado, observando o movimento do lado de fora, assim como eu. Entre uma vez ou outra, trocávamos olhares, e dávamos risadinhas abafadas. Mas quem se importa? Pois Eliza e Noah não paravam de paquerar um ao outro na frente, enquanto Nath e Jasmine atrás de mim e Emma, conversavam e ficavam corados a cada palavra. Já Chris, teclava rapidamente com o seu celular, obviamente trocando mensagens com Charlie.
A relação entre os dois não era tão complicada assim. Chris descobriu que gostava de garotos no 8° ano, quando acidentalmente derrubou mostarda na camiseta de Charlie.
Era dia de cachorro-quente na cantina, e fomos os últimos da fila. Charlie tinha ido se sentar com sua irmã; ambos tinham a mesma idade, com diferença de oito meses e estudavam na mesma sala. Assim que todos nós pegamos nosso almoço, fomos nos sentar na mesma mesa que Charlie e sua irmã, onde havia mostarda, ketchup e maionese.
Naquela época Chris já passava um tempo observando os jogadores de rúgbi da nossa escola e falando o quanto eles eram musculosos, e até os zoava dizendo que eles se pegavam entre si, mas todos nós achávamos que era apenas um hobby, uma diversão entre amigos, entre nós.
Até que aconteceu esse lance da mostarda.
Passamos a mostarda um para os outros, e quando chegou a vez de Chris, o ar ficou preso dentro do tubo, e não queria sair de jeito nenhum. Então ele teve a brilhante ideia de chacoalhar o tubo com uma fúria total, e o líquido amarelado saiu, mas caiu uma grande linha de mostarda na camiseta de Charlie.
Todos nós ficamos com o olhar espantado, olhando diretamente para os dois, e o silêncio de constrangimento pairava sobre o ar.
Os dois deram sorrisos bobos, e Chris, simplesmente se aproximou de dele, e começou a gaguejar:
— Oh, céus! M-me desculpe... — Então, pegou seu dedo indicador e deslizou sobre o risco de mostarda da camiseta de Charlie e colocou na boca, lambendo o dedo logo em seguida.
Talvez ele tenha feito isso consequentemente, mas quem vai saber? Estávamos ocupados observando tudo aquilo no maior silêncio.
Todos da mesa ficaram vermelhos de vergonha, mas Charlie parecia um trem a todo vapor, enquanto Chris por sua vez, seria o condutor.
Eles começaram a sorrir e dar risadas, e o resto de nós ficou de vela. Estávamos nos sentindo sobras de um almoço que ninguém quis comer.
Os dois praticamente estavam no mundo da lua, dançando nas estrelas e dando piruetas sobre os anéis de Saturno.
Nem parecia que ambos estavam no refeitório da escola.
Assim que comemos em total silêncio, além da conversa que os pombinhos estavam tendo, Chris nos disse no final da aula que achava que era gay.
Wow, que surpresa, sério Chris?
E isso se concretizou, até os dias de hoje, de uma maneira saudável e feliz para todos.
Noah deixou cada um de nós em nossos lares, na mesma sequência que nos buscou: Emma, eu, os gêmeos, Jasmine e Eliza.
Pelo visto, ele queria muito ficar sozinho com Eliza no carro novamente, ou quem sabe em outro lugar mais confortável. Eles eram perfeitos um para o outro: ambos eram atirados demais, ansiosos e com energia de sobra.
Assim que Noah deixou Emma em sua casa, ele me levou de volta para a minha.
— Tchau gente! Nos vemos amanhã ou domingo! — Acenei, e eles acenaram de volta.
Subi discretamente a escada, com muito cuidado para não fazer nenhum ruído, e pulei para a janela do meu quarto.
Tirei meus tênis, e me joguei na cama, com os pensamentos nas alturas sobre o dia seguinte.
Emma
Uau! É incrível como eu consigo ficar acordada a madrugada toda pensando sobre a noite de ontem.
Foi simplesmente fantástica, e meus pais nem notaram que eu saí de casa.
Jogo o edredom de lado e me levanto para tomar um banho.
Enquanto a água escorria pelos meus ombros, ouvi minha mãe me chamando para o café da manhã. Enrolei a toalha no meu cabelo molhado, vesti o roupão de banho e calcei minhas pantufas. Desci as escadas e fui para a cozinha.
Meu pai estava com uma caneca ao lado, transbordando de tanto café, e mexia no notebook. Já minha mãe, folheava uma revista, com uma xícara de chá em suas mãos.
Me sentei, e peguei uma tigela cheia cereal e leite. Comecei a comer, e minha mãe levantou seu olhar para mim.
— Por que você está com olheiras? — Ela perguntou, fazendo eu cuspir todo o leite de volta para a tigela bem discretamente.
Sério? Estava tão ruim assim? Eu não fiquei acordada a noite toda, talvez eu tenha dormido trinta minutos, ou talvez quinze.
— Eu... — Assim que fui inventar uma desculpa qualquer, ouvimos uma batida na porta.
Aproveitei rapidamente para escapar da mesa.
—Eu atendo! — Exclamei, levantando-me rapidamente.
Assim que abro a porta, me deparo com um garoto vestindo calça jeans, uma camiseta preta e um enorme sorriso no rosto.
Logan.
Em suas mãos ele segurava uma caixa quadrada, toda branca, e de papelão.
Fechei um pouco mais o roupão, e o encarei.
Tinha me esquecido completamente que ele viria aqui, mas mesmo assim, sua presença me alegrou naquele momento.
— Oi garoto! Se veio aqui para vender seus biscoitos de avelã, saiba que eu prefiro os de chocolate. — Digo, esboçando um sorriso sarcástico e arcando a sobrancelha direita.
— Nossa! Tem razão, acho melhor eu dar meia volta e ir embora então. — Ele respondeu, dando passos para trás.
Segurei em seu braço, e não me aguentei, rindo:
— Entra logo, bobo.
— Com o maior prazer. — Entrando, ficou parado enquanto eu fechava a porta.
Peguei em sua mão, e apresentei Logan aos meus pais:
— Mãe, pai, esse é o Logan. — Ambos sorriram calorosamente e responderam:
— Muito prazer, Logan — Meu pai se levantou e foi até nós.
—Onde e como vocês se conheceram? — Perguntou, encarando Logan como se fosse um animal.
É, as vezes meu pai exagera um pouco.
Logan parecia nervoso, mas engolindo em seco, falou:
— Sua filha me salvou de me afogar no lago, senhor. — Vendo que meu pai esperava mais respostas, completou: — Eu e nossos amigos estávamos passeando no bosque do outro lado do lago, e enquanto eu nadava, acabei indo um pouco mais fundo.
Um pouco mais fundo? Aham, tá bom. Logan só não queria dizer ao meu pai que ele foi dar um mortal e caiu no lago, se debatendo feito um peixinho fora da água.
Mas, fiquei orgulhosa quando ele disse nossos amigos, isso me lembrava mais ainda de que eu fazia parte de um grupo que me aceitava.
Assim que meu pai o analisou, assentiu com a cabeça e voltou a sorrir.
Antes de subirmos as escadas, pude ouvir um suspiro de alívio saindo entre seus lábios.
Logan
Nossa! O pai da Emma era bem severo quando necessário. Fiquei torcendo para que Emma e sua mãe não ouvissem as batidas frenéticas do meu coração, foi por pouco!
Conforme Emma ia subindo as escadas, eu a seguia, com a caixa de papelão embaixo dos meus braços.
Assim que ela abriu a porta, aquele cheiro de lavanda suavizou totalmente minha respiração ofegante. Seu quarto inteiro continha esse aroma.
No caminho da minha casa para a casa da Emma, senti alguns passos atrás de mim, e pensei instantaneamente que alguém estava me seguindo.
Mas quando eu me virava, não havia ninguém. Até que eu a peguei de surpresa.
Depois que eu me virei pela quarta vez, me virei de novo bem rápido, e adivinha? Chloe estava me seguindo.
— Chloe! Eu já disse para você parar de me seguir! Qual é o seu problema? — Brandei de raiva, mais cansaço do que raiva.
— Bom, você nunca para no lugar! Sempre está saindo com aquela garota idiota! E eu? E o nosso beijo?! — Chloe gritou, em alto e bom tom.
Eu fiquei furioso naquele momento, ninguém chama a Emma de idiota. Ninguém.
Me aproximei dela, enquanto a mesma me encarava com um ar preocupado.
— Não chame mais ela de idiota Chloe! Aquilo entre a gente nem foi um beijo de verdade! Que coisa estúpida! — Cerrei os punhos, e olhei diretamente em seus olhos. Ela esbravejou:
— Ela que é uma coisa estúpida! Ridícula e idiota! Por que você está saindo com ela?! Que droga!
Ela me empurrou, e deu meia volta emburrada.
Então segui meu caminho com a caixa em minhas mãos.
Olhei ao redor, seu quarto era bem arrumado, e aquele cheiro era capaz de transformar a mente de alguém em uma total confusão. Um bolo de pensamentos misturados sabor lavanda.
— Bem vindo a minha toca! — Ela deu um giro e se sentou na cama.
— É muito bom! Mas só falta uma coisa para ficar perfeito! — Exclamei, aproximando-me dela com o olhar sobre a caixa.
— O que é isso que você trouxe? — Emma perguntou.
Entreguei a ela, e ri com a expressão de dúvida que ela fez.
— Mas é só uma caixa vazia. — Declarou.
— Exato. E é essa caixa que vai te ajudar com o TOC. — Eu sabia que ela iria ficar confusa com isso, mas continuei a explicar: — Imagine que essa caixa é sua mente. — Ela concordou, e por fim falei: — Nós dois vamos preenche-la!
Ela me olhou espantada, e com muitas dúvidas.
— Emma, nessa caixa vamos guardar coisas que fazem parte da nossa lembrança, mais sua do que minha. Nela você irá guardar coisas, sejam objetos, desenhos, ou até flores e plantas, conforme você vive aqui em São Francisco. Você não vai ficar aqui para sempre. — Dei uma pausa, e olhei para ela, triste por ela não ficar comigo para todo o sempre. — São os momentos que tornam a vida especial. Então aproveite como se não houvesse amanhã.
— Você está dizendo que devo esquecer esses meus pensamentos que eu chamo de pragas, tirá-los da minha mente que é uma caixa ruim, e guardá-los nesta caixa que você trouxe que é uma caixa muito mais espaçosa? — Ela perguntou.
— Isso! É como se sua mente fosse uma caixa, só que essa sua caixa já está velha, rasgada, e sobrecarregada com esses seus pensamentos que o TOC te deixa. Emma, está na hora de você criar uma nova caixa. Uma caixa com pensamentos bons que eu vou te ajudar a preencher. Com pensamentos dentro da caixa.
Seus olhos estavam brilhando, estavam cheios de água, e eu sabia que ela gostaria de chorar, de sorrir, mas as únicas palavras que saíram de sua boca, foram:
— São pensamentos dentro da caixa.— E então ela sorriu.
Uma lágrima escorreu de seu rosto, e caiu em cima da caixa branca de pensamentos.
Emma
Eu me sentia única naquele momento, com uma sensação que jamais sentira. Logan queria realmente me ajudar! Foi uma comparação incrível que ele fez da minha mente com uma caixa. Eu me sentia presa dentro de uma caixa minúscula, fria e pequena, até ele trazer uma nova, grande, calorosa, e cheia de pensamentos bons. Pensamentos que nós dois íamos preencher.
Depois de sua explicação, deixei a caixa embaixo da minha cama, e fomos passear no bosque depois do lago.
Subimos a colina, que rodeava flores e grama fresca; era praticamente um labirinto florido.
Resolvi fazer uma gracinha.
Assim que Logan chegou no topo da colina, e não estava nem um pouco cansado, já que era ótimo em corridas, apertei um pouco mais o passo.
Cheguei no topo super ofegante, e ele debochou da minha cara:
— Ora ora, o filhote de lesma se cansou? — Okay, essa foi boa.
Eu não me aguentei e ri, com ele rindo junto.
Tenho certeza de que minhas bochechas estavam rosadas. Toda vez que corro quando está sol, é assim. Além disso, estávamos em junho, ou seja: verão.
Olhei de relance para Logan, que estava agachado pegando uma flor. Pareciam mini girassóis, que estavam em fase de crescimento. Todos eles estavam de costas para o lado escuro e frio, e de frente para a luz quente e harmoniosa. Eu deveria tentar ser como eles.
Peguei um, e coloquei no meu cabelo.
— Você combina com girassóis. — Elogiou-me.
Eu sorri para ele, mas logo em seguida o empurrei em flores alaranjadas.
— Obrigada pelo elogio, mas isso foi por você ter me chamado de filhote de peixe. — Ri e fiz uma careta.
— Ah é? Então é assim? — E ele de repente me pega de surpresa, puxando minha perna, fazendo eu cair entre as flores junto a ele.
Ele ficava lindo de todos os jeitos, até nas flores.
Eu estava deitada sobre ele, nós dois rindo feito loucos, até que eu notei suas mãos em minha cintura.
Nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância, bastava apenas um toque para nossos lábios se encontrarem.
Emma! O que deu em você? Esqueceu das bactérias?! Eu não vou beijá-lo...
Pragas malditas!
Mas aí eu me lembrei do que ele havia dito:
"São os momentos que tornam a vida especial. Então aproveite como se não houvesse amanhã."
Logan olhava diretamente para os meus lábios, não tirava seu olhar deles, e quanto mais ele olhava, mais ele tinha a esperança de poder tocar os seus nos meus.
Eu também sentia a mesma coisa, por mais que essas pragas me dissessem sobre as bactérias, germes, doenças, e até feridas eu as espalhava pelo ar novamente, como se não existissem.
Quando estou com ele, sinto que meu TOC não existe, que estou flutuando nos ares, com borboletas no estômago e a brisa sobre nós dois, fazendo com que o mundo parasse só para contemplar o amor.
Amor? Então é isso? É assim que é ser amada por uma pessoa que não seje seus pais e seu cachorro? Ser feliz e esquecer os seus problemas como se fossem nuvens nebulosas prestes a serem levadas pelo vento?
É, eu acho que sim.
Continuávamos nos observando, buscando esperança e alegria nos olhos um do outro, como se ela estivesse ali, em algum lugar, perdida nos nossos pensamentos, ligados à uma tomada que fazia nossa mente brilhar de emoções e sentimentos que só nós sabíamos descrever.
Aproximei minha cabeça mais próxima da sua, nossos lábios quase se encostando, quase sentindo a energia que cada um tinha a oferecer.
Até que essa energia se espalhou pelos nossos corpos, prestes a soltarem faíscas.
Nossos lábios se chocaram juntos, e cada calor se manifestou.
Foi um selinho pra falar a verdade, não foi um beijo de língua, nem com saliva, mas foi um beijo doce e delicado, me fazendo sentir arrepios por todo o meu corpo.
Eu estava bem, não tive receio de me aproximar, porque ele também não teve. Nós apenas sentimos juntos.
Mas toda alegria dura pouco. Muito pouco.
Pensei em quantas garotas Logan poderia ter beijado, mas não só garotas como outras pessoas também, parentes, animais, e quem sabe...objetos?
Arregalei meus olhos e meu coração quase saiu pela boca. Dei um pulo e me levantei desesperadamente.
— Emma! Meu Deus! Desculpe, eu não queria... — Mas não dei tempo de ele terminar aquela frase, pois saí correndo descendo a colina.
Não era culpa dele, era minha. Era por causa do meu TOC. Minha existência me incomodava.
Lágrimas começaram a brotar dos meus olhos, eu tentei segurar o máximo que pude, mas eu me sentia fraca. O mundo não favorecia na minha vida.
Continuei a correr pela colina abaixo, enquanto ouvia Logan me chamando.
De repente, esbarrei em alguém.
— D-desculpa... — Me desculpei, gaguejando e com a voz rouca.
Comecei a correr novamente, mas a garota agarrou o meu braço, impedindo-me de desvencilhar.
— Saia da vida do Logan! Você não merece ele, sua esquisita! — Ela cuspia as palavras com muita ira na voz, e pelo que parecia, conhecia Logan.
Mas o fato de ela conhecer ele não me incomodava. Ela me chamou de esquisita.
Faz muito tempo que as pessoas não me chamam assim. Por mais que elas pensassem elas nunca disseram isso na minha cara.
Até hoje.
Fiquei encarando a garota com o olhar ameaçador, a garota loira com batom nude em seus lábios, olhos verdes mais escuros que os meus.
O mundo girava, e eu estava ficando tonta. O bile subiu a minha garganta, e depois me contive para não vomitar ali mesmo.
Me desvencilhei dela, e corri o mais rápido que consegui, ainda ouvindo vozes atrás de mim.
A única coisa que eu queria era vomitar, me encher de álcool em gel, e ir para o único lugar que me deixava completamente calma:
— Preciso ir para minha casa, para o lugar vago.
Capítulo 7 concluído ✔
Capítulo 8 ⬇️
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