🌻ONZE🌻
Emma
Enquanto eu escovava as mechas do meu cabelo, Candy pulava com as patas para o alto e lambia minhas pernas nuas. Eu havia escolhido um vestido azul até os joelhos, com babado nas pontas, por causa do calor que estava fazendo lá fora.
Eu particularmente, prefiro o outono, onde é uma época muito boa para passeios no parque, um cappuccino e roupas bem fofas e estilosas.
Assim que terminei, coloquei a escova sobre a cômoda e desci as escadas para ir até a sala, onde ficava a coleira e guia da Candy, penduradas num gancho.
A mesma cachorrinha espoleta já correu escada abaixo, latindo e rodopiando a minha volta.
— Calma Candy! — Fiquei na ponta dos pés e peguei os dois objetos valiosos para ela. — Prontinho, vem cá. — Agachei e coloquei ambas as coisas na bolinha de pelo.
Reconheço a voz do meu pai na cozinha, mastigando alguma coisa que eu deduzo que seja pizza:
— Você já vai? Não quer beber alguma coisa? — Então vejo uma jarra de limonada nas mãos do meu pai.
Não resisto e vou até a cozinha, com a fera se arrastando para todo lado e latindo para sua dona se apressar.
Faço um sinal de silêncio para ela, que obedece relutantemente, se deitando no tapete.
Assim que puxo uma cadeira e me sento na mesma, percebo que meu pai está com olheiras bem profundas, e o cabelo totalmente bagunçado.
— Nossa, o que houve para você ficar assim, pai? — Pergunto, me servindo com um copo de limonada.
— Fiquei trabalhando a noite toda. Tive que carregar o notebook cinco vezes! Dá pra acreditar nisso? — Responde, tomando um longo gole da limonada.
— Você está se sobrecarregando demais, por que não tenta descansar um pouco hoje?
— Você tem razão, mas tenho que ir ao supermercado mais tarde, não vou ter tanto tempo... — Ele respira fundo e pega a jarra, derramando a bebida dentro do copo.
Então ele olha para mim, e depois para Candy, que está choramingando e arranhando a porta.
— E você? O que vai fazer? — Meu pai pergunta.
— Vou encontrar alguns amigos. Vou aproveitar e levá-la para um passeio. — Digo, me referindo a Candy. Ela está tão entediada que daqui a pouco irá sair da porta e morder meu calcanhar.
— Divirta-se então, pequerrucha. Não se esqueça de que a noite seu professor virá para te dar aula. — Meu pai sempre me chama de pequerrucha.
Balanço a cabeça positivamente, mas aí me vem algo em mente.
— Espera, professor? O que houve com a Rita? — Indaguei, muito duvidosa.
Rita era minha professora particular. Ela me dava aula desde o 5° ano, e em vez de eu ir para o colégio, ela vinha até mim.
Sua pele era parda, e seus cabelos tinham cachos totalmente perfeitos, que dava um volume deslumbrante para ela. A boca era carnuda, e seus olhos eram uma mistura de verde com castanho, que os deixavam o mais claro possível de castanho. Enquanto me ensinava filosofia no ano passado, me contou um pouco sobre sua origem: seu pai era americano, mas sua mãe era brasileira, e quando ela nasceu, eles ficaram com muita dúvida se iam para o Brasil, ou se ficavam aqui mesmo, nos EUA. Decidiram por fim, se fixarem aqui.
— Rita acabou caindo da escada enquanto pintava a janela do andar de cima de sua casa, e quebrou o braço esquerdo. Está de repouso durante um mês. — Meu pai se inclinou para frente e apanhou um jornal. — Contratamos um novo professor temporário para você. Tudo bem?
— Ah, tudo bem. — Dei um último gole na limonada e me levantei.
Candy apurou os ouvidos, deixando suas orelhas para cima.
— Vou indo, pai. — Dei um beijo em sua bochecha e caminhei até a porta, abrindo-a e puxando a guia para Candy vir. Fechei a porta e comecei a caminhar calmamente nas ruas banhadas de sol, com milhares de jardins do lado de fora das casas ao lado.
No bolso do meu vestido, podia sentir meu fiel tubo de álcool em gel. Sorri e continuei caminhando.
A casa de Eliza ficava cinco ruas depois da minha, então não foi tão difícil achar o endereço.
Assim que eu e Candy chegamos, uma mulher de cabelos castanhos saía com muita pressa da casa, e foi para a garagem, abrindo com o controle.
Quando me viu, sorriu para mim e acenou, vindo em minha direção.
Ela usava um vestido bateau preto, saltos altos prateados e seu cabelo estava preso em um coque. Era bem bonita, talvez ela deveria ter uns 30 anos ou quem sabe 34. Estava maquiada perfeitamente, então não havia sinais de quaisquer rugas ou muito menos olheiras iguais as do meu pai.
— Oi, você é aquela garota que a Eliza me contou? — Ela sorriu com os dentes muito brancos.
— Ahn...talvez? A Eliza têm falado de mim? — Então me toquei que não tinha me apresentado ainda. — Meu nome é Emma.
— Emma? Emma... — Ela diminui a voz num tom bem baixo, na qual estava tentando recordar de algo. — Ah, sim! Emma, a nova B.L.I!
Espera, ela sabe dos B.L.I?
— A senhora sabe do nosso grupo? — Que idiotice Emma! Chamá-la de senhora? Sério?!
Ela riu tão alto que eu podia jurar que sua risada ecoou por toda a rua. Então tornou a falar:
— Senhora? — Riu de leve. — Me chame de tia Rachel! E sim, eu sei. Foi até eu que ajudei a escolher o nome! — Ela beijou minhas bochechas, deixando marcas de batom vermelho escarlate.
— Hum, okay, tia Rachel. — Sorri o máximo que pude, e perguntei — A Eliza está?
— Está sim, Chris também está lá em cima. Pode entrar, pequena rosa. — Ela caminhou até o carro, deu marcha ré e saiu.
Puxei a guia para frente, e caminhei com Candy até a porta da frente.
Espera...pequena rosa? De onde ela tirou isso?
Empurrei a porta com o antebraço, enquanto Candy entrava, farejando tudo ao seu redor.
Assim que entrei, pude sentir cheiro de muffins e bolo. Olhei em volta e lá estava, na bancada da cozinha haviam vários desses cakes maravilhosos, alguns com creme inglês, outros com merengue de morango, e alguns confetes de chocolate.
Não queria ser intrometida, então já fui logo chamando por Eliza:
— Olá! Eu cheguei!! — Puxei a guia novamente, pois Candy estava quase atacando os cakes.
— Amiga! Sobe aí, cuidado com os brinquedinhos do Jujuba nos degraus! — Passei pela sala, que também cheirava a bolo e muffins, e subi degrau por degrau, tomando cuidado com os brinquedinhos. Entre eles havia um coelho de pelúcia com mordidas, cascas de melancia espalhadas por todo lado e algumas folhas de aipo.
Assim que cheguei no topo, avistei a entrada do quarto de Eliza, onde uma coisa estava grudada com fita adesiva na porta.
Me aproximei mais um pouco, e era um pacotinho com vários chicletes dentro, das cores azul e rosa. Embaixo dele, estava escrito em um post-It amarelo: "Pegue rosa se quiser entrar, e azul assim que sair."
Okay, eu achei divertido. Peguei um chiclete rosa sabor morango, e a Eliza abriu a porta.
— Desde quando você tem isso na porta do seu quarto? — Perguntei assim que entrei.
— A coisa dos chicletes? Ela tem desde de sempre. Nunca tirou dali. — Chris respondeu, com um pirulito de abacaxi na mão. Ele estendeu a vasilha com vários dentro, me oferecendo. — Quer um?
Claro que eu não recusei, e peguei um de laranja.
O quarto de Eliza era um quarto bem bipolar, digamos assim. Sua cama estava bagunçada, o que me deu arrepios e meus dedos estavam coçando para poder arrumar. Mas me lembrei do que Logan me aconselhou, então desviei o olhar e observei o resto. Uma prateleira acima da cama estava repleta de esmaltes e canetas, com alguns vasinhos de jasmim. Uma escrivaninha estava no canto, em frente a porta, com inúmeros doces em cima, como balas, pirulitos, jujubas, chicletes, as famosas balinhas azedas Nerds, e até biscoitos S'mores com marshmallows. Um criado mudo com um abajur de unicórnio, e a cortina rosa com estampa de arco-íris.
— Uau, Eliza! Pra que uma doceria se já temos o seu quarto, não é mesmo? — Eu disse, rindo e admirando tudo ao meu redor.
— Você gostou? Pode pegar a vontade, eu ainda tenho um estoque lá embaixo na cozinha. — Ela respondeu, pegando uma balinha Nerds.
— Eu falei com sua mãe lá embaixo. Ela é bem parecida com você. — E era verdade, quem fala pequena rosa?
— Tia Rachel? Ah sim! As duas parecem até gêmeas. — Chris exclamou, tentando jogar uma jujuba em sua boca.
Enquanto eu terminava o pirulito de laranja, fui me sentar nas inúmeras almofadas na cama de Eliza, até que ela grita:
— Não senta aí! Tá querendo matar o Jujuba?! — Ela correu até onde eu estava e pegou seu porquinho da Índia.
Nossa, a cama dela estava tão desorganizada que eu nem tinha percebido que o Jujuba estava deitado ali.
— Emma, te apresento o Jujuba! Jujuba, essa é a Emma! — Eliza passou seus dedos nos pelos dele, que estava completamente repleto de laços azuis.
— Ah! Os laços foram eu que coloquei. — Exclamou Chris, que estava bem orgulhoso do penteado do Jujuba.
Candy pulou sobre as pernas de Eliza e lambeu o porquinho, que estava se divertindo afinal.
Eliza sorriu, e me olhou explicando:
— Quando o Jujuba fica alegre, em geral os porquinhos da Índia soltam um chiado bem de leve, como uma risadinha. — Então, ela começou a fazer cócegas em sua barriguinha peluda. — Quem é o bebê da mamãe? Ah, sim! É você.
Ele era tão fofo! Aposto que a Candy e o Jujuba iam se dar muito bem, tanto pelo nome e por causa dos inúmeros pelos.
— Quer mais doce Emma? — Chris perguntou, apontando para a escrivaninha.
— Acho que vou querer um biscoito S'mores. — Caminhei até ali, peguei o biscoito e coloquei um marshmallow. — Como você consegue tantos doces, Eliza?
— Meu pai é dono de uma fábrica de doces, se chama Yummy sugary. — Ela deu uma mordida em um biscoito, em seguida deu um pedacinho ao Jujuba.
— Isso é incrível, eu tenho uma amiga que tem uma casa repleta de doces! — Exclamei de alegria, pegando uma bala de menta.
— Seu pai é o Willy Wonka, Eliza, admita. — Brincou Chris.
— Bom...você sabe que meu pai se chama Willian, Chris. — Eliza falou. — E Emma, somos melhores amigas, não só "amigas."
— Nós somos melhores amigos você quis dizer, não é Eliza? Somos os B.L.I. — Chris interveio, com umas 10 jujubas na boca.
— Chris você vai se engasgar desse jeito. — Eu ri, e depois perguntei — Mas e sua mãe Eliza? O que ela faz?
— Bom, você deve ter visto que ela estava toda arrumada e chique não é? Então, ela estava procurando um emprego. Na verdade antes ela era aeromoça, mas se casou com meu pai, e então eles se mudaram para cá, e eu nasci. Desde então minha mãe ajuda meu pai em algumas coisas da fábrica.
— Ah, entendi. Espera, isso não vem ao caso. O que vocês queriam me contar? — Perguntei.
Eliza e Chris se entre olharam, com um risinho do canto da boca.
— Pronta para ir a praia semana que vem? — Disse Eliza.
— O quê?! Como assim, Eliza, me explica direito! — Exclamei, com emoção.
— Simples — Chris começou a contar. — O Noah tinha dito para a Eliza que estava sendo obrigado pelo pai a levar Daisy para viajar para algum lugar, como um "Bom namorado faria." — Ele deu uma mordida na bala, e Eliza continuou:
— Mas, ele não queria ficar sozinho com ela de jeito nenhum. Ele queria me levar! Dá pra acreditar Emma? — Ela deu um sorriso tão largo, que até eu tive que sorrir. — Só que ele me disse para levar alguns amigos também, para não ficar ruim para o lado dele de estar levando mais uma garota para a viagem. Ele me contou que Daisy fala tudo para o pai. — Ela respirou fundo. — E se ele fizer qualquer coisa errada para a Daisy, ele contará aos pais do Noah, que tirarão tudo o que ele tem de direito. Inclusive seus ensaios com a banda de garagem, o carro emprestado, e até o celular! — Ela se jogou na cama, com Jujuba na sua barriga.
Apertei a guia, pensando no que deveria fazer a respeito.
Será que eu vou? Eu nunca tinha ido viajar assim com amigos. Até porque eu nunca tive amigos de verdade.
Bom, para tudo se tem uma primeira vez, não é?
— Você tem que vir com a gente Emma. Vai ser um fim de semana tão legal! O Charlie também vai! Será como se fosse um encontro de casais. Aliás, vai ser inesquecível pra você, porque... — Então, como se alguém tivesse dado um choque em Eliza, ela se levantou da cama e rapidamente tampou a boca de Chris, que estava prestes a terminar a frase, e a encheu com umas 20 jujubas.
Minhas sobrancelhas arquearam imediatamente, e comecei a deduzir:
— O que foi hein? Por que eu tenho que ir? Vocês nem deram tempo de eu pensar. — Apertei mais forte ainda a guia, enquanto Candy tentava subir na cama.
— Ahn...porque? Esse passeio será muito bom pra você Emma! Lá tem o mar, a areia, Logan, e você estará com a gente! Não é, Chris? — Ela apertou o ombro dele, que a olhou, e instantaneamente engoliu as jujubas.
Ela estava certa, por mais que lá no fundo, eu estava insegura.
Mas então, lembrei do Logan. E de um final de semana inteiro com Logan, e na praia. Com Logan!!
Okay Emma, se acalme, não fique tão animada também. Pensei.
Olhei para os dois, e concordei:
— Está bem! Eu aceito!
Os dois correram na minha direção, e me abraçaram. Chris na verdade estava me esmagando, de tão forte que era o seu abraço.
— E então meninas?! Vamos comprar a roupa de banho? — Perguntou Chris, animado.
— Sim!!! Vamos, quero escolher o biquíni perfeito! — Eliza exclamou, dando pulinhos de alegria.
Ela cutucou o meu braço, e então me rendi:
— Okay! Vamos. — Sorri.
— Vou pegar o Jujuba. — Eliza caminhou até ele e o pegou.
Puxei Candy com a guia, pegamos o chiclete azul e descemos as escadas, desviando dos restos de aipo, melancia e bichinhos de pelúcia.
Logan
— Não Logan, suas equações estão totalmente erradas. Você não me ouviu explicando?! — Jasmine exclamava, irritada comigo.
— Jasmine, eu já te falei! Matemática não é comigo. — Me intervi.
— Não interessa se matemática não é para você, o importante é que você tem de aprender. — Ela puxou do pulso o amarrador, e o levou até o cabelo cheio de cachos, o amarrando num rabo de cavalo.
Claro que Nathan estava apenas babando em Jasmine, e eu que levava as broncas dela. É pra isso que servem os amigos. Além disso, precisava da ajuda dele para uma coisa.
— Ei, Nathan, você tá prestando atenção? — Jasmine chamou sua atenção, estalando os dedos.
Ele acordou na mesma hora que viu a expressão de raiva no rosto dela, e começou a se explicar:
— Ah, eu tô sim, por que não estaria?
Ela nos olhou com uma expressão cética, e cruzou os braços, dizendo:
— Eu nem sei porque vim aqui. Vocês não estão prestando atenção em mim.
— Ah, pode apostar que o Nathan está sim, e muito. — Falei.
Nath olhou para mim com um olhar de reprovação, e em seguida, começou a inventar desculpas:
— N-não! Eu não estava te olhando! — Então Jasmine ficou com mais raiva:
— Então você não estava prestando atenção em mim! — Ela se levantou e começou a pegar os materiais do tapete.
— Não Jasmine! Não é isso, eu só estava...hum... — Enquanto Nathan pensava numa resposta, Jasmine batia o pé apressada no chão.
— Sabe do que precisamos? — Ela perguntou. Não esperou nós respondermos e completou — Sorvete. Vamos lá!
Um sorriso abriu-se em seu rosto, e Nathan deu um suspiro de alívio.
Nos levantamos do tapete azul do quarto de Nath, e descemos as escadas.
— Por que essa mudança tão repentina de humor? — Perguntou Nath, se referindo a Jasmine.
— Eu penso melhor quando tomo sorvete. Além disso, acho que merecemos depois de eu tanto falar com o vento, não é garotos? — Eu e Nathan demos olhares rápidos um pro outro. — Andem, vamos logo.
Andamos até a sorveteria, que por incrível que pareça, estava vazia.
Entramos e pedimos 3 casquinhas: 1 de baunilha para Jasmine e 2 de chocolate para Nath e eu.
Escolhemos a mesa que sempre sentamos, e fomos até lá.
A água da fonte jorrava cristalina como todos os dias, um pouco longe de onde estávamos, mas mesmo assim ainda sentia o frescor.
— E então, Logan? — Nathan deu uma lambida no sorvete, e me encarou.
— O que foi? — Perguntei.
— Sobre a praia. Já está tudo pronto? — Perguntou.
— É melhor que você já tenha comprado tudo o que você quer, Logan. Precisa ser perfeito! — Exclamou Jasmine, pegando uma colher de plástico e retirando um pouco de sorvete da casquinha.
— Eu vou comprar o que falta hoje. E, Jasmine? — Ela olhou para mim, então ironizei — Por que você faz isso com o sorvete?
— Isso o que Logan? — Ela perguntou, revirando os olhos.
— Tomar sorvete de casquinha com colher. Que pessoa faz isso, hein?
— Uma pessoa que sabe guardar segredos, Logan. — Ela colocou uma grande quantia de sorvete na colher e levou a boca. — Torça para que Chris não conte nada para a Emma. Ele não é muito bom em guardar segredos.
Capítulo 11 concluído ✔
Capítulo 12 ⬇️
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