🌻OITO🌻
Logan
Era tarde demais.
Tarde demais para segurar em seu braço e dizer a ela que estava tudo bem, que tudo iria ficar bem.
Porque ela saiu correndo antes mesmo de eu dizer o quanto eu a amo.
Em vez disso, escutei vozes a minha frente, e quando me deparei, tudo foi por água abaixo.
Chloe a observava correr, com muito ódio em seu olhar, e quanto mais eu me aproximava, mais a fúria se enchia dentro de mim.
- Chloe! - Berrei, me aproximando dela rapidamente e puxando-a, fazendo nós dois ficarmos cara a cara. - Que merda você fez?!
Com os olhos arregalados, e punhos cerrados, ela começou a cuspir as palavras na minha cara, expressando todo o seu ódio:
- Eu fiz o que tinha de fazer! Essa garota mal chegou na cidade e você fica dando mole pra ela! E eu? Será que você se esqueceu do nosso beijo?! - Ela me empurrou, me olhando com seriedade.
Eu sabia, e sentia a culpa no fundo da minha alma, que nunca deveria ter aceitado aquele desafio tosco.
Era sexta-feira, no ano passado. O sol escaldante raiava de trás das nuvens e surgia no meio do pátio do colégio, fazendo com que a maioria dos alunos fossem até lá, apenas para jogar algumas partidas de pôquer, xadrez, e outros jogos de mesa. As garotas costumavam pular corda, jogar vôlei e ficarem dando risadinhas entre si, enquanto fofocavam qual garoto era o mais bonito, o mais popular, entre outros assuntos idiotas.
Havia um garoto chamado Jake, ele era o mais popular entre todos os garotos da escola. Aliás, por que não seria? Fazia parte do time de futebol, era musculoso, rico, levava bebidas não autorizadas e as vendia por um preço justo. E também sabia como fazer jogos.
No corredor, enquanto eu e os gêmeos caminhávamos para jogar pôquer com os outros, Jake esbarrou em nós, e da mesma maneira, nos convidou para uma partida de "gire a garrafa", mais conhecido como "verdade ou desafio". Já que Eliza e Jasmine não estavam conosco, aceitamos jogar.
Pois é, fiz uma péssima escolha. Quem dera que Jasmine estivesse ali para dar uma bronca em nós, dizendo que não podíamos aceitar, que isso teria consequências, blá, blá, blá.
Garotos de todas as salas estavam reunidos numa só roda, todos com o ar tenso e respiração pesada, lançando olhares de desconfiança uns para os outros. E com total razão. Quando Jake planeja um jogo, esse jogo é pra valer.
A partida começou. Jake girou a garrafa, que caiu com a tampa para um garoto loiro com sarnas no rosto. Ele escolheu verdade, e acabou confessando que espionou Courtney se despindo no vestiário feminino depois de um treino de vôlei. "Ela tinha peitos enormes!" Confessou.
Isso era apenas o começo, depois a garrafa foi girando em várias outras pessoas, menos para mim.
Já estava desistindo e indo jogar pôquer com os outros garotos, quando a garrafa finalmente parou em mim.
Eu ia escolher verdade, mas Jake me obrigou a fazer um desafio, pois tinha explicado que "houveram verdades demais", e que "se o jogo é dele, as regras também são dele".
O que eu poderia fazer? Aceitei.
Ai, Logan...você poderia ter dado uma de mané ou careta, até medroso. Mas tinha que aceitar?!
- Beije a Chloe. - Jake ordenou, concluindo: - Intensamente.
Todos do círculo cochichavam entre si, pois Chloe era bastante persistente.
Ela já teve vários ex namorados, pois sempre queria atenção e carinho. Beijos e muitas carícias. Qual é, acho que nenhum garoto a aguentaria. Ela era muito...grudenta e possessiva.
Alguns ela terminava por conta própria, pois não conseguia o que queria de um namorado perfeito. Outros terminavam com ela porque não a aguentavam.
Não podia dizer não, já tinha topado participar do jogo, não podia amarelar.
Além disso, era só um beijo.
Me levantei da roda, e fui em direção da Chloe, que ria absurdamente alto perto de suas amigas.
Agarrei Chloe pela cintura, pegando ela de surpresa, e a prensei contra a parede, beijando ela "intensamente", como Jake havia pedido.
Nem foi tão longo, e além disso, não foi prazeroso. Seu hálito tinha gosto de gloss e bala de caramelo, Chloe não faz meu tipo.
A partir daquele dia em diante, ela não largou do meu pé, e eu tentava, juro que tentava, explicar a ela sobre o desafio, e pedi muitas desculpas por aquilo. Mas ela não estava nem me ouvindo, então comecei a evitá-la.
- Eu já te expliquei um milhão de vezes que aquele beijo foi forçado! Não foi um beijo com prazer! Foi um desafio idiota Chloe! Um desafio na qual eu nunca deveria ter aceitado! Agora saia do meu caminho, você me fez perder a Emma! - Gritei, afastando ela de lado e correndo em direção a casa da Emma.
Emma
A primeira coisa que fiz ao abrir a porta, foi correr em disparada ao banheiro.
Passei pela minha mãe, que estava descendo as escadas, e ela me observou assustada:
- Filha! O que houve?!
Ignorando completamente sua pergunta, me tranquei no banheiro.
Abri a tampa do vaso, e vomitei.
Todo o cereal que eu havia comido no café da manhã estava ali, um líquido branco cheio de pontos indecifráveis.
Dei descarga, e enquanto minha mãe batia na porta perguntando se eu estava bem, abri o armarinho e peguei álcool em gel.
Foi um selinho Emma! Por que você não consegue líder com a merda de um selinho?!
Lágrimas escorreram do meu rosto, caindo no tapete bordado no chão do banheiro.
Me agachei, até ficar de joelhos, com a mão direita apoiada na pia e com a esquerda, um saquinho de álcool em gel.
Rasguei o plástico com os dentes, ainda chorando, e bebi todo o líquido que continha dentro da embalagem.
Não sei o que deu em mim, talvez a ansiedade estivesse chegando, junto com a total tensão que eu demonstrava especificamente nos meus olhos, que além de molhados, não paravam de latejar.
Mais um dos meus inúmeros ataques de pânico.
Senti o álcool ardendo em minha garganta, depois queimando meu intestino, como chamas dentro de mim, que soltavam as fumaças de incêndio pelos meus olhos.
A ânsia de vômito voltava, e depois ia embora novamente, ainda ajoelhada no chão, destranquei a porta do banheiro, caindo imediatamente no chão do corredor em posição fetal.
A tontura vinha sobre mim como um enxame de abelhas, pronta para te encher de dor, sofrimento e angústia.
Lembro-me da minha mãe agachada ao meu lado, gritando no corredor, sua voz ecoando chamando pelo meu pai.
Meu pai trouxe algo em suas mãos, mas até aquela altura eu não enxergava mais o que era, só me lembro de algo sendo colocado em minha boca, com um gole de água e gritos.
Minhas pálpebras foram ficando pesadas, até que se fecharam completamente.
Meu mundo se fechou para mim.
Logan
Quando cheguei, bati na porta da frente.
Foi a mãe de Emma que me atendeu. Ela usava o cabelo amarrado em um rabo de cavalo e não conseguia sorrir para mim.
- Ah, Logan, não é? - Perguntou, fixando seus olhos nos meus.
- Sim, gostaria de saber se a Emma está...
- Minha filha está em repouso agora. Não sei se ela te falou, mas Emma tem TOC, e as vezes pode ser difícil pra ela. Você entende, não é? - Ela me interrompeu, agora com o corpo apoiado no batente da porta e braços cruzados.
- Ah, ela me disse sim. Obrigado então. - Eu disse, angustiado e com a boca amarga.
Quando ia dar meia volta, ela me chamou novamente:
- Logan, você é um garoto bom. Mas, Emma talvez não conseguirá acompanhá-lo. Eu e meu marido esperamos todos os dias por alguém que compreenda ela, e parece que ela encontrou. - Esboçou um sorriso, e finalizou - Só não force a barra.
Compreendi o que ela quis dizer. Sorri gentilmente, e fui embora.
Emma
Quando finalmente abri os meus olhos, senti algo fofo e macio em cima da minha barriga.
Com todas as forças que me restaram, arquei meu pescoço para frente e vi minha companheirinha peluda.
Candy dormia tranquilamente, me fazendo companhia naquela cama fria, onde apenas o pôr do sol se infiltrava pela janela do meu quarto, sumindo de minuto em minuto.
Por quanto tempo eu adormeci? Pensei.
Ao lado da minha cama, no criado mudo, observei atentamente uma caixinha azul claro, com o desenho de uma flor rosa no meio, e depois de alguns segundos decifrei o que estava escrito: ansiolítico.
Claro, o ansiolítico causa muito sono, por isso deveria ser agora 17:00, ou quem sabe até 18:00.
Minhas mãos estavam geladas como as mãos de um defunto, então as coloquei embaixo das cobertas, para me esquentar, e virei a cabeça para o lado da janela.
Fiquei observando-a, e ao mesmo tempo fiquei pensando nessa situação totalmente constrangedora.
Aquela garota conhecia Logan? E por que ela estava me insultando daquele jeito? E por que eu o beijei?!
Essas perguntas ecoavam na minha mente, como marteladas que a cada batida, doíam cada vez mais.
Queria pedir desculpas ao Logan por ter fugido, mas ele também deveria pedir desculpas para mim! Eu queria saber muito quem era aquela garota, e ele me deve uma boa explicação.
A noite foi chegando devagar, os ventos arrastando folhas pelo chão, fazendo sons suaves de sopros pelo ar. Assim como o céu foi ficando escuro, as estrelas foram surgindo de pouco em pouco, acompanhando a lua, cuja sua luz refletia pelo vidro da janela, na qual eu poderia ver o meu próprio reflexo.
Rosto pálido, olheiras, olhos inchados e boca seca. Muito seca.
Meu coração ia acelerando e desacelerando aleatoriamente, e não há nada que eu possa fazer para impedir esses ataques de pânico.
Bela noite Emma, olhe o que você é. Olhe o que você fez. Você própria não consegue se sustentar, depende que as pessoas cuidem de você, que suas manias estranhas sejam convividas por pessoas que não gostariam de estar com você, uma completa esquisita doente.
Comecei a pensar nisso a cada minuto, enquanto meus olhos se fixavam na janela. Eu realmente era assim? Eu tentava ser uma boa garota, uma boa filha para os meus pais, uma boa amiga para os meus amigos, uma boa paciente para minha psicóloga. Mas será que eu consigo? Me sinto fraca.
Sem eu perceber, uma lágrima de sofrimento escorreu pelo meu olho esquerdo, me obrigando a fechar os olhos e adormecer novamente.
Naquela cama fria, com a pele pálida e o rosto gélido. Onde nem o meu coração poderia esquentá-la, pois estava mais frio do que a neve.
🌧 Curiosidade: pra quem não sabe, ansiolítico é um remédio que diminui a ansiedade e tensão, muito usado em ataques de pânico para quem tem TOC. 🌧
Capítulo 8 concluído ✔
Capítulo 9 ⬇️
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