🌻NOVE🌻
Emma
— Acorde. — Uma voz sussurrou em meu ouvido.
Minhas pálpebras se abriram bem devagar, até uma mão tocar a minha, e dizer:
— Você dormiu demais, já são 22:30 da noite, Emma. — Então percebi que era minha mãe falando comigo. — Seu pai e eu demos a você o ansiolítico... — Sua voz começou a falhar quando ela citou ansiolítico. A verdade era que minha mãe odiava ter que me dar remédios pelo simples fato de me ver deitada numa cama, praticamente debilitada. Qual é a mãe que gosta de ver seu filho tendo ataques e sofrendo?
Não conseguia enxergar seu rosto no meio daquela penumbra, mas podia sentir o toque de sua mão sobre a minha. Isso me deixava muito mais confortável.
— Descanse querida, eu vou preparar um chá para você.
Minha mãe me deu um beijo na testa, arrebitou o nariz e foi embora. Sempre que ela está nervosa ou preocupada, arrebita o nariz, é uma mania estranha, mas uma coisa que eu aprendi durante todo esse tempo, é que cada um tem uma maneira diferente de expressar que está nervoso, tenso ou preocupado. São coisas normais, como ajeitar os cabelos, roer unhas, ou até mesmo amassar a roupa com as mãos. No meu caso, era beber álcool em gel, surtar e por fim desmaiar. Pois é, um maravilhoso presente que a vida me deu.
Respiro fundo e olho ao redor. A minha única fonte de luz era da tela do meu celular que estava ao meu lado no criado mudo.
De repente escuto algo vibrar, e vejo que meu celular está ligado porque alguém está ligando para mim.
Me deito de lado, e com um grande esforço consigo pegá-lo. Meu corpo está todo dormente, inclusive minhas mãos e dedos, o que dificulta mais ainda eu deslizar pra cima.
Eu esperava uma ligação do Logan, mas na verdade era Eliza me ligando.
— Alô? — Digo, com a língua parada na minha boca. Ah, qual é! Até minha língua está dormente.
— Oi amiga! Como você está? — Pergunta Eliza.
Eu estou péssima. Pensei.
— Estou bem. Por que está me ligando a essa hora?
De repente ouço vozes abafadas na linha.
— Quem está aí com você, Eliza? — Pergunto, tentando mudar de posição na cama e ficar sentada.
Ela respira fundo e diz:
— Logan está aqui, ele me contou tudo que aconteceu. Está preocupado com você...ei, espere, vou passar pra ele. — Antes que eu pudesse detê-la (pois minha voz estava uma droga) ouvi o farfalhar do celular sendo passado de uma mão para a outra, e em seguida, sua voz doce e sincera:
— Oi Emma.
— Oi Logan.
Passaram-se alguns segundos, até que nós dois dissemos ao mesmo tempo um "desculpe" bem rápido.
— Emma, eu realmente sinto muito, deveria ter te contado sobre a Chloe desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Não fique com raiva. — Ele suspirou, e fez-se silêncio total.
— Não estou com raiva. — Era verdade, só estava afim de uma explicação. — Mas eu tenho muitas perguntas.
— Então eu posso respondê-las agora. Pessoalmente. — Não podia ver seu rosto, mas podia sentir que ele sorria. Aquele lindo sorriso que me faz sorrir também. Até nos piores momentos.
Olhei que horas eram: 22:45. Quem sabe se ele subisse pela janela do meu quarto? Os meus pais não iam querer que ele me visitasse agora. Mas estava morrendo de vontade de vê-lo.
Observei por um instante a agenda de girassol que estava na janela. Desde aquela compra na loja não o tirava dali. Ia me culpar o resto da minha vida se aquele girassol morresse.
Seria uma boa oportunidade para entregar ao Logan...
— Você consegue vir sorrateiramente e subir pela janela do meu quarto? — Perguntei a ele.
— Se for para te ver, faço qualquer coisa. Só não me empurre daí de cima quando eu chegar, talvez você esteja com uma pitada de raiva... — Corei de raiva e vergonha.
Mas em vez de gritar ou soltar um trocadilho besta, simplesmente ri.
— Você consegue ser bem idiota quando quer, Logan. — Falei com graça e desdém.
— E você consegue ser bem fofa quando está com raiva, Emma. Admita, você está com raiva sim. — Okay! Talvez eu esteja com um pouquinho de raiva, não dele, mas sim daquela garota.
De repente escutei passos subindo as escadas.
— Venha logo, estou te esperando. Não faça barulho!!! — Exclamei, e por fim, encerrei a chamada.
Assim que coloquei meu celular de qualquer jeito no criado mudo, minha mãe abriu a porta com um pires e uma xícara na mão.
Ela se aproximou de mim, e me entregando o chá, cochichou:
— Boa noite filha. Quando tomar o chá, deixe aí do lado que de manhã venho buscar. Vou dormir, amanhã as 08:00 tenho uma cliente. — Ela me deu um beijo na testa, se virou e saiu, fechando a porta atrás de si.
Olhei para a janela, e nada do Logan. Se passaram cinco minutos, até que ouço três batidinhas na janela.
Estreito meus olhos no meio da escuridão do meu quarto, e fixo meus olhos em duas íris cor de avelã, me observando.
Me levantei da cama e vou em direção a janela, tirando a agenda da mesma. Abro a janela, dando espaço para Logan entrar.
Assim que me virei, observei Logan por um momento.
Ele usava as mesmas roupas que estava vestindo no nosso encontro no bosque, só que com um moletom cinza por cima.
Ele me encarava com doçura, e seu olhar pairava sobre mim e as minhas roupas.
Até que eu me dei conta de que estava de pijama. Minha mãe deve ter trocado minha roupa, depois de eu ter derramado álcool em gel e vômito na minha camiseta.
— Pijama legal. Gosta de doces é? — Caçoou, pois eu estava com o meu pijama favorito.
— Muito engraçado. Vamos lá, você me deve uma explicação. — Eu revirei os olhos e me sentei na cama, de braços cruzados. Só ia dar a ele a agenda assim que ele explicasse toda aquela situação.
Seu sorriso foi se desmanchando aos poucos, enquanto ele caminhava em minha direção, se sentando ao meu lado.
Então, ele começou:
— Okay, vou te explicar tudo, mesmo que você não queira me ver nunca mais.
Eu ouvia atentamente cada palavra, para não perder nenhum detalhe. A todo momento seus olhos se fixavam no chão, como um cãozinho que fez bagunça e precisava ouvir a bronca de seu dono.
Admito que fiquei com um ponta de ciúmes quando ele relatou o momento do beijo, mas fiquei com muita raiva dessa garota chamada Chloe.
Quem ela pensa que é para não deixar o Logan em paz? Como se ela fosse namorada dele! Que idiota... Pensava, enquanto ele terminava de explicar.
Mas quem sou eu para falar uma coisa dessas? Eu e ele não namoramos, impossível eu ter um ciúmes assim de um amigo... Esses pensamentos flutuavam em minha mente, enquanto meus olhos penetravam nos seus, que já não estava olhando para o chão e sim para mim.
Espera, eu estou mesmo apaixonada pelo Logan? Não, Emma você o beijou! Suas bocas se encostaram...foi nojento! Qual é o garoto que quer namorar uma garota que não consegue beijar?
— Creio eu que você esteja com raiva de mim agora, não é? — Logan perguntou, respirando fundo e tocando a minha mão. Seu toque foi capaz de esquentá-la em um segundo.
Logan
Eu toquei em sua mão, esperando uma resposta. Eu queria tanto abraçá-la e dizer "eu gosto de você". Nunca falei algo assim para uma garota, e muito menos senti algo assim por uma. A Emma era única, e por mais que ela se achasse diferente ou estranha, eu não a via desse jeito. Eu quero ajudá-la a superar isso.
Assim que seus lábios se abriram, eu fiquei tenso, esperando sua resposta.
— Já disse que não estou com raiva. Apenas queria respostas, e você as me deu. — Então ela sorriu, e eu fiquei aliviado. — Só mais uma coisa: por que você foi para a casa da Eliza e não para minha logo de uma vez?
— Eu fui direto pra sua quando você correu, mas sua mãe disse que você estava dormindo e não estava bem. Então fui para a casa da Eliza ligar pelo celular dela, assim talvez você me atenderia. — Respondi.
Ela assentiu com a cabeça e se levantou.
No começo eu pensei que ela apontaria para a janela me mandando embora, mas em vez disso ela foi até a cômoda e retirou de lá uma agenda.
— Aqui. Para você. — Ela cochichou, e estendeu o presente para mim.
— Você a comprou para mim? — Comecei a tocá-la e a sentir a capa. Havia um girassol nela, mas não parecia falso. Era verdadeiro. — Uau! Emma, esse girassol é verdadeiro?!
— Sim, vi na vitrine de uma loja e comprei. Achei que combina com você. Eu percebi desde que cheguei na cidade, os girassóis estão em toda parte, e sempre seguem a luz, não para sobreviverem, mas sim para viverem. Eles sabem como viver a vida de uma maneira feliz, estão sempre juntos e sua beleza sempre será magnífica. — Ela deu uma pausa, e olhou para mim, com os olhos lacrimejados. — Você é o meu girassol Logan. Você sabe viver, mas eu não. Me ensine a viver como você.
Ela inclinou a cabeça para baixo, e olhou para os pés. Seus cabelos cobriam seu rosto, que estava rosado e com as bochechas molhadas pelas minúsculas e poucas lágrimas que escorriam de seus olhos. A janela aberta iluminava sua feição, e refletia sua sombra.
Me aproximei dela, onde a luz da lua cobria nós dois com o seu véu. Afastei os cabelos de seu rosto e coloquei uma mexa atrás de sua orelha com meu dedo indicador, e com a outra, levantei seu queixo em minha direção, dizendo em um sussurro:
— É isso que estou tentando fazer desde que te vi, e desde que descobri que você tem TOC, Emma.
— Sério? — Ela perguntou, enxugando suas bochechas com a manga da blusa.
E eu respondi:
— Essa é a coisa mais séria que eu já disse em toda minha vida. — Em uma questão de segundos, realizei o que queria fazer desde que coloquei meus pés dentro de seu quarto: abraçá-la.
Nossos corpos se aconchegaram, e ela sussurrou:
— Hoje a noite está tão linda.
Olhei para trás, com nossas mãos entrelaçadas, e me deitei no chão, com as pernas levantadas e os pés na parede. Emma fez o mesmo que eu, e voltou a entrelaçar sua mão na minha.
Ficamos ali, deitados, tendo uma ampla vista do céu estrelado, a lua iluminando nossos corpos, e nossas sombras trêmulas no chão.
Olhei para ela, e ela olhou para mim. Então respondi a sua afirmação:
— Está sim. A mais bela de todas.
Capítulo 9 concluído ✔
Capítulo 10 ⬇️
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