🌻DOZE🌻

  

  Emma

Eliza segurava o Jujuba no colo, enquanto Chris puxava a guia de Candy; ele tinha insistido em guiá-la.

— Chris, se você deixar a cachorrinha da Emma escapar, vamos fazer você correr atrás dela, até você se cansar e desmaiar. — Eliza focou seu olhar maldoso em Chris, que revirou os olhos imediatamente.

— Relaxa, eu não vou deixá-la escapar! — Chris deu um sorrisinho malicioso no rosto e completou — Igual o Logan irá fazer com Emma na praia.

Espera, o que?! Que merda esse garoto acabou de dizer?

Fiquei com as bochechas coradas, e só minutos depois, percebi que Eliza estava dando um sermão sobre ele:

 — Emma! O Chris...ele...ahn... — Ela gagueja a cada palavra. — Ele está falando besteira! Típico dele. Não é?! — Eliza deu uma cotovelada em seu ombro, e ele exclamou um "é!" repentinamente.

 Caminhamos pela praça, até cruzarmos uma rua e chegarmos a loja Aloha.

 — Essa loja é perfeita para comprar biquínis meninas! — Disse Chris, dando pulinhos de alegria.

 Entramos, com certa dificuldade, pois os dois estavam com as mãos ocupadas com os pets, e queriam me fazer abrir a porta de vidro.

 Tudo bem, eu ia abrir, mas apareceu uma criança na minha frente e a abriu primeiro do que eu. Com a mão totalmente suja de chocolate.

 Minha não ficou paralisada na hora, mas antes que eu pudesse pegar meu álcool em gel no bolso, os dois puxaram o meu pulso e entramos.

 — Você estava com nojo de empurrar a porta? — Eliza perguntou.

 — Você acha que eu seria louca de colocar minhas mãos ali? Aquela criança certamente colocou suas mãos na boca, cheia de saliva e...eca!! Não gosto nem de imaginar! — Eu falei um pouco mais alto que o normal, e uma mulher começou a me olhar, horrorizada, segurando a mão da criança que havia entrado na minha frente.

 Chris e Eliza arregalaram os olhos, até que Chris tomou a iniciativa:

— Vamos ali amiga, acabei de avistar uma bermuda maravilhosa! — Ele pegou nos meus ombros, e fomos até a parte mais afastada da loja.

 — Emma, nós te entendemos, mas as outras pessoas não! — Eliza encarou a mulher, cerrando os olhos.

 — Tudo bem...Eu já estou acostumada com esses olhares pra cima de mim. Era melhor eu nem ter vindo. — Tentei pegar a guia da mão de Chris, mas ele se desvencilhou rapidamente, dizendo:

 — Não! Claro que não! Você vai ficar aqui com a gente, somos os seus amigos! Vem, eu vou te ajudar a escolher o biquíni. — Ele pegou a minha mão, e Eliza foi atrás de mim, com os dois fazendo uma barreira.

 Quando fomos até uma bancada, avistei inúmeros biquínis, a maioria floridos.

 Chris não perdeu tempo, já foi retirando das prateleiras várias peças, jogando todas em meus braços.

  — Você acha que é necessário tudo isso?! — Exclamei, pois ele estava amontoado de bermudas, roupas de banho, maiôs, e outras peças de praia.

 Eliza, que ainda pairava atrás de mim, me ajudou a segurar a pilha de roupas, enquanto observávamos Chris.

 Ele parou de mexer na bancada, pegou uma bermuda com estampa de lírios azuis, e sorriu.

 — Já escolhi o meu, meninas. — Ele se aproximou de onde estávamos, e me observou por um instante. — Agora vamos ver o seu...

 Chris começou a vasculhar nas duas pilhas, e então seu olhar parou em um biquíni.

 Ele o estendeu para mim, e com graça, falou:

 — Aqui. Experimenta esse, garanto que você vai amar Emma.

 Eu peguei o mesmo, e caminhei até os vestiários.

 Sem que eles vissem, abri a tampa do tubo de álcool em gel e esfreguei uma quantia generosa em minhas mãos.

 Então abri a porta da cabine, entrei e a tranquei.

 Assim que comecei a observar o biquíni, não pude deixar de apreciá-lo e sorrir.

 Não era vulgar, mas era fofo ao mesmo tempo. Tinha um tom azul claro, com estampas de flores brancas. Na parte de trás, haviam tiras em linhas retas, com rendas brancas.

 Assim que eu o experimentei, ouvi uma batida na porta e a voz de Eliza:

 — Gostou Emma?

— Sim! É muito lindo. Vou apenas me trocar de novo e já saio. — Retirei o biquíni do meu corpo e coloquei minhas roupas novamente.

 Assim que abri a porta da cabine, Chris usava sua bermuda, e "desfilava" pelo corredor mostrando-o para nós.

 Eu e Eliza rimos por suas posições de modelo.

 — Você ficou incrível Chris! — Eliza correu em sua direção e o abraçou.

— O que você tá esperando Emma? Vem aqui também! — Ele exclamou, me chamando para o abraço.

 Corri em sua direção, para o abraço em trio.

Assim que terminamos o abraço, notei algo que deveria ter notado muito antes.

— Onde está a Candy?! — Me retirei entre os dois e comecei a olhar ao redor.

 — Ahn...Candy? Ela está... — Chris olhou em todas as direções possíveis, e então admitiu — EMMA! EU SINTO MUITO!

Ele colocou as mãos nos meus ombros e começou a me chacoalhar, totalmente desesperado:

 — EU PERDI A CANDY!! NÃO ACREDITO!

   Eliza, que estava atrás de mim esse tempo todo, lançou a Chris um olhar de "Eu te avisei".

 — Fique calmo! Candy não conhece o lugar direito, mas tenho certeza de que ela não foi muito longe. — Disse, tentando acalmá-lo. — Aliás, e se ela ainda estiver dentro da loja?

— Acho que não, a atendente nos olhou feio desde que chegamos com os nossos animais. — Eliza revirou os olhos, e fixou-se na atendente, que estava com os olhos cheios de raiva por baixo dos óculos de armação quadrada. — Se a entrada para animais  fosse proibida, teria um aviso do lado de fora. Mesmo assim, é bem capaz daquela monstrenga ter colocado a Candy na rua.

 — Melhor não precipitarmos. — Olhei para o biquíni em minhas mãos, e em seguida para Chris, que estava com um olhar triste. — Vamos pagar nossas roupas de banho logo, e depois procuramos a Candy.

 Pagamos tudo o mais rápido possível, e saímos da loja as pressas.

Primeiro começamos a chamá-la, batendo palmas, estalando os dedos, assobiando, mas nada acontecia. Então simplesmente começamos a correr.

 Eu corri em direção a fonte, com Eliza e Chris ofegantes atrás de mim.

Olhava para todos os lados, sem mesmo olhar para a minha reta. Então o pânico começou a me atacar: será que Candy se perdeu realmente? Ela não está familiarizada com o local, ela pode ter se machucado, ou então...

Meus pensamentos foram interrompidos quando esbarrei fortemente em alguém, formando-se um baque surdo no chão, comigo caída com algumas caixas espalhadas ao redor, e juntamente delas, estava ninguém menos do que...

 — Logan? — Eliza balbuciou.

Logan, atordoado no chão, me encarou com espanto, e logo depois para suas coisas esparramadas pelo chão.

 Só quando levantei os olhos, pude perceber que Nathan e Jasmine também estavam ali, encarando um ao outro preocupados.

— Vocês não estavam estudando?! — Eliza exclamou, lançando olhares totalmente estranhos para a dupla que se encontrava parada, sem saber se ajudava Logan a se levantar, ou se recolhiam os objetos das caixas.

 Então eu mesma comecei a ajudá-lo, mas ele negou rapidamente, gaguejando:

— Na-não! Deixe co-comigo... — Suas bochechas estavam mais vermelhas do que pimentas, enquanto ele recolhia...girassóis?

Antes que eu pudesse questionar alguma coisa, senti dois braços puxando os meus ombros pra cima, me colocando em pé.

— Logan! Essas são as coisas para o...— Chris começou a falar espontaneamente, mas foi interrompido por Nathan, que praticamente berrou:

 — ENTÃO, O QUE FAZEM AQUI?! — Ele começou a agitar os braços para cima, enquanto Jasmine ajudava Logan.

 Chris ia dizer algo, mas Eliza tampou sua boca e explicou primeiro:

 — Perdemos a cachorrinha da Emma! Estávamos procurando, nos encontramos depois? — Jujuba se aninhava em seu colo, tentando achar um lugar quentinho para dormir.

 Ela e Jasmine trocaram olhares, então Nathan cerrou os olhos para Chris. Enquanto eu, não estava entendo nada.

De repente, de relance, vi um gato alaranjado correndo de um cachorro que estava o perseguindo. Quando observei mais atentamente, o cachorro era Candy, e latia abertamente.

 Não pensei duas vezes, e saí correndo na direção dos animais, gritando:

 — Candy!! Volte aqui agora!!! — Todos me olharam espantados, até que Logan saiu correndo também.

 Não pude ouvir muito bem o que estava acontecendo atrás de mim, mas escutei as vozes exclamando diversas frases:

 — Eu te ajudo Emma!! — A voz de Logan chamou atenção de várias pessoas ao redor, que nos observavam correndo.

 Chris, gritava que Logan havia esquecido as caixas, e corria atrás de nós com elas nas mãos, e com várias sacolas com nossas roupas de banho.

 Nathan, pelo que parecia, se irritou com o que Chris havia dito sobre as caixas, e corria atrás dele, pedindo para ele voltar.

Já Eliza, estava tentando nos alcançar, dizendo que ia "chegar primeiro".

Enquanto Jasmine, resmungava que estávamos sendo irresponsáveis e que deveríamos voltar para a fonte.

Entrei numa rua sem saída, e de longe, pude ver Candy cercando o pobre gato, que tremia assustado.

Peguei ela bem a tempo, que ainda rosnava para o gatinho.

Todos chegaram ofegantes ao meu  redor, e Chris ainda teve coragem de dizer:

 — Suas caixas, Logan. — E recebeu olhares de reprovações de todos. Menos de Eliza, que estava se segurando para não rir. — O que foi?

 — Candy está bem? — Logan perguntou, se aproximando.

Afirmei positivamente com a cabeça, e todos suspiraram aliviados.

  Assim que saímos daquela rua, Jasmine, Nathan e Logan foram embora, dizendo que tinham que estudar.

O sol já estava se pondo, e eu tinha que estar em casa daqui uma hora para a minha aula.

 Assim que chegamos na praça, eu lhes contei sobre o meu novo e temporário professor, então eles começaram a questionar:

 — Nossa, tudo é temporário pra você não é? Professor temporário, lar  temporário... — Chris ditava.

 Então parei para pensar sobre isso. Se tudo o que eu tenho aqui em São Francisco é temporário, nossa amizade também será temporária, não é?

O sorriso que estava em meus lábios foi se desmanchando, e eu me perdia novamente em meus pensamentos. Até que Eliza me acordou:

 — Emma? Você está me ouvindo?

Balancei a cabeça, espantando essas nuvens imaginárias, e então me dei conta de que não tinha ouvido nada do que ela havia dito.

 — Eu disse que ainda dá tempo de comermos algo. Não é? — Ela sugeriu.

Bom, digamos que eu ainda tinha um tempinho. Acho que meu pai não iria se importar se eu me atrasasse alguns minutos para a aula.

 — Hum, sim. Ainda tenho algum tempo. — Confirmei.

 — Ótimo! Vamos para aquela lanchonete. — Chris apontou para o estabelecimento, e caminhamos até lá.

Nos sentamos nos bancos de espuma vermelha, e Chris foi fazer o pedido no balcão.

 Depois de 5 minutos, ele voltou com nossa comida.

 Candy, que estava sentada ao meu lado, começou a farejar em cima da mesa.

— O que você pediu para nós? — Eliza perguntou, olhando por cima dos braços de Chris, enquanto ele se sentava na mesa.

— Três hambúrgueres, duas porções de batata frita média, e três milk-shakes. — Ele respondeu.

— Para mim de baunilha, para Eliza de cranberry, e para você... — Ele entregou a bebida para mim, e completou — de morango com nozes.

Espera, como ele conseguiu acertar o meu sabor favorito de milk-shake?! Eu nem tinha dito ao Logan.

 — Como você acertou? — Perguntei, tomando um gole.

   Mas foi Eliza que respondeu:

 — Chris tem um gosto bem peculiar pra isso, ele adora adivinhar os sabores prediletos das pessoas. — Ela estendeu o braço e pegou uma batata frita.

— Uau! — Eu falei, sorrindo.

 Talvez eu estivesse enganada sobre nossa amizade ser temporária. Por mais que eu fosse embora algum dia de São Francisco, tenho certeza de que sempre vou ser uma B.L.I.

  Assim que cheguei em casa, meu pai estava na cozinha, conversando com alguém.

 Soltei a guia da coleira de Candy, e ela foi verificar quem mais estava na casa, em direção a cozinha.

Assim que meu pai me viu, ele me chamou:

— Filha! Que bom, você chegou na hora de conhecer seu novo professor. — Ele passou o braço em volta dos meus ombros, e fiquei de frente para um homem alto, magro, de cabelos castanhos bem bagunçados.  Parecia ter uns 30 anos. — Esse é o John.

 John estendeu a mão para mim, com  um sorriso fino em seu rosto. Devolvi o aperto de mão, agora reparando em suas feições.

 Seus olhos escuros demonstravam cansaço, acompanhados de olheiras profundas. Ele usava uma camiseta polo, com calça cargo marrom. Ambos amarrotadas. Mesmo assim, ainda emitia um ar sábio dentro de si. Ele também usava um sobretudo preto.

— Bom Emma, sua mãe ficou de me encontrar ali na doceria. Se precisar de alguma coisa, não hesite em me ligar, tudo bem John? — Perguntou meu pai, vestindo seu casaco e pegando as chaves da casa.

 — Tudo bem Sr.Gray. — Assentiu John.

 — Por favor, pode me chamar de David. — Meu pai sorriu, abriu a porta e saiu.

 Assim que meu pai saiu, John começou a retirar vários papéis de sua bolsa.

 Ele se sentou a mesa, e eu fiz o mesmo. Até que ele me perguntou:

 — Em que matéria sua antiga professora parou? — Ele entrelaçou seus dedos um no outro, e me encarou gentilmente.

 — Em filosofia. — Respondi.

 Então ele pegou outro livro de dentro de sua bolsa. Li de relance o que estava escrito: "A Coragem da Verdade, de Michel Foucault."

 — "A tese parte do interesse de Michel Foucault, pela questão da parrhesía na cultura antiga e
das suas reflexões sobre a construção ética do indivíduo..." — Ele começou a ler os primeiros trechos do livro, me fazendo perguntas de vez em quando sobre a matéria, enquanto eu anotava os parágrafos importantes.

 Admito que estava começando a ficar cansada, e comecei a deixar que  meus pensamentos tomassem conta da minha mente, durante a aula:

 Por que será que o Logan estava carregando caixas com girassóis dentro? Seria para algum jardim?

 Agora, John fazia anotações em um bloco, e retirava algumas folhas do mesmo, me entregando como atividades extras.

 — Consegue fazê-las e me entregar na próxima aula? — Ele perguntou.

 Balbuciei um "aham", e voltei a me focar na escolha que eu havia feito de ir a praia.

 Será que fiz certo de dizer que ia? Eu nem contei aos meus pais ainda, e se algo der errado no meio do caminho? E se o carro acabar derrapando no meio da estrada? E se eu acabar me afogando na água? Não, o que deu em você Emma?! Você sabe nadar! Espera...e se eu acabar pegando algum vírus de alguma pessoa? E se dentro da água de coco tiver algum bicho? Hum...é só não beber...não é?

— Por que a vida nos dá escolhas tão difíceis? — Então percebo que falei isso em voz alta.

 John levanta seus olhos dos papéis e me observa com atenção. 

 Fico envergonhada com o que eu disse, então simplesmente abaixo meus olhos para as minhas atividades, torcendo para que ele ignore o que eu havia falado. Mas isso não acontece, muito pelo contrário:

  — Sabe... — Ele começa a dizer algo, então fecha o bloco de anotações, e volta a dizer — A vida nos dá escolhas porque são necessárias. Se elas não existissem, o que seria do nosso futuro?

 Eu levanto o meu olhar para observá-lo. Seus olhos agora estavam exalando compaixão.

— Acho que nada. — Respondi a sua pergunta.

 — Exato. O mundo é como se fosse um professor. Ele nos ensina as lições da vida, nós que decidimos se iremos aprendê-las ou não. — Ele ajeitou suas coisas de volta na bolsa — Se você fizer a escolha errada, pelo menos você aprendeu uma lição com ela. Agora se você fizer a escolha correta, significa que você está indo pelo caminho certo.

 Neste momento, ouvi o som do carro sendo estacionado no gramado, e meu pai abrindo a porta.

 — Terminamos por hoje, Emma. — John sorriu, e em seguida se levantou, estendendo a mão para mim novamente.

 Em vez de dar um aperto de mão, lhe abracei de leve. Olhei para ele, e talvez tenha sido coisa da minha cabeça, mas parecia que seu rosto se iluminou instantaneamente.

 — Oh, John. Já acabaram aí? — Minha mãe perguntou, segurando sua "bolsa de negócios" como costumava chamá-la, e várias sacolas.

— Sim, a aula já terminou. — John respondeu — Te vejo na próxima aula Emma.

Ele acenou para mim, e saiu.

 — Hum, ele parece ser um ótimo professor. — Encorajou minha mãe, me olhando.

 — Sim, ele é. — Talvez não tenha sido tão ruim ele ser meu professor temporário, eu estava mesmo precisando daquelas frases motivacionais. E ele daquele abraço.

 — Hum...mãe? — Comecei, enquanto ela colocava as sacolas sobre a mesa. — Posso te pedir uma coisa? — Ela me olhou, esperando pelo meu pedido. — Posso ir a praia semana que vem, com Logan e meus amigos?


   Capítulo 12 concluído ✔
   Capítulo 13 ⬇️
     
  

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