🌻DOIS🌻

  Emma

 Meus olhos estavam fechados, o cheiro de chuva preenchia todo o espaço, e meus cabelos estavam soltos ao vento.

 Aquela sensação era maravilhosa.

 De repente, ouvi algumas vozes  distantes, abafadas, mas dava pra ouvir o que estavam dizendo:

— Ei! Você vai cair Jasmine — Dizia um garoto, parecia ter a mesma idade que eu. — Cadê o Logan?!

 O grupo de amigos corria pra lá e pra cá do outro lado do lago, enquanto gritavam "Cadê o Logan?!", "Logan! Cadê você?", e mal notavam minha presença do outro lado.

 Eu fiquei observando toda a cena que se ocorria naquele momento, e percebi que era o mesmo grupo que eu tinha visto saindo do colégio.

Eram duas garotas, uma parecia bem louca, pois estava subindo numa árvore pra pegar uma borboleta, mas até lá o pobre inseto já deveria ter voado para bem longe.

 A outra garota era morena, e tinham cachos perfeitos, que davam volume aos seus ombros e sua cabeça.

E os dois outros garotos eram gêmeos, bom, nem preciso falar que eu me confundia a cada passo que os dois davam.

Ambos estavam gritando por esse tal Logan, que creio eu, tinha se escondido no meio das árvores ou algo do tipo.

 Mas aí eu me enganei, porque assim que pensei nisso, ouvi Logan, que fez uma grande merda em seguida:

— Galera! Uhuuul! Olha eu aqui! — Gritou o garoto, caindo do topo da árvore e indo direto para o lago.

 Mas ele não quis fazer um "pulo mortal". Ele caiu por acidente, e tenho certeza de que não sabia nadar, pois estava gritando por socorro.

 O resto do grupo gritava por ajuda, pois nenhum deles sabia nadar.

 Bom, eu tinha feito aulas de natação quando eu tinha 5 anos de idade. Mas nunca perdi a prática.

 — Droga...Não acredito que vou ter que pular naquela água cheia de micróbios pra salvar um garoto que nem conheço... —  Cochichei, me levantando da grama.

 Eu respirei fundo e tirei minha jaqueta jeans, entrando na água bem devagar.

Escutei a garota louca gritando:

— Ei! Olhem gente! Aquela garota está entrando na água pra salvar o Logan! — Ela apontou pra mim, e todos gritaram de alegria.

 Eu dei um meio sorrisinho pra eles, pois estava me concentrando em não espalhar micróbios para minha boca com os espirros de água.

Mas não adiantou nada, pois o garoto não parava de jogar água pra todo lado.

 Até que não me aguentei e gritei:

 — Droga! Para de espirrar água! Ela tá cheio micróbios e bactérias!!

Eu prendi a respiração e comecei a nadar mais rápido, até que não teve jeito, fiquei toda encharcada, dos pés a cabeça.

 Cheguei até ele e o peguei pelos ombros, levando-o até a margem do espaço vago.

 Soltei o garoto, e respirei fundo, soltando todo o ar que tinha prendido.

Ele fez o mesmo, e começou a dizer ofegante:

 — V-Você...Você me salvou... — Ele tossiu e continuou — Qual é o seu nome?

Eu arregalei os olhos, e olhei para o meu corpo, ensopada dos pés a cabeça de micróbios.

 E as pragas vieram à tona.

É só água, são bactérias Emma, Você está infectada dos pés a cabeça, não estou. Eu estou bem, é só água do lago...você não bem, você precisa de um banho, é eu preciso de um banho.

Eu dei ouvidos a praga, mais uma vez. Merda.

 — Droga, bactérias — Eu falei — Banho. Rápido.

 — Como? — Perguntou o garoto, se levantando.

Eu não respondi e entrei correndo dentro de casa.

 Eu corri até o andar de cima, abrindo a porta do banheiro e fechando o mesmo atrás de mim.

 Eu me olhei no espelho por um instante.

 O que era para ser uma tarde tranquila de mudança, se transformou no resgate em um lago cheio de bactérias.

 Respirei fundo e comecei a me despir, pois precisava de um banho urgente. Comecei tirando a camisa, depois a calça, e por fim os tênis, que também estavam encharcados.

 Empurrei de leve o box de vidro, e entrei.

 Liguei o chuveiro, e como todas as garotas fariam, começariam a se lavar, tanto o cabelo como o corpo. Mas eu não.

 Eu sentei no chão, enquanto a água escorria sobre meus cabelos e rosto, enquanto eu formava uma "barreira" com minhas pernas, bem juntas do meu corpo.

 Então, eu peço aos meus pensamentos apenas um minuto de silêncio. Apenas um. Para eu respirar fundo e pensar sobre minha existência.

 Sobre tudo.

Isso se chama solidão.

 Existem dois tipos de solidão, a boa e a ruim.

 A ruim é quando há várias pessoas ao seu redor, e você está lá, sozinha sentada num banco tentando disfarçar mexendo no celular, no cabelo, olhando com cara de paisagem, mas no fundo você tá tipo:  "Deixa eu mexer em qualquer aplicativo aqui no celular só para as pessoas não pensarem que eu estou sozinha". Viu? Essa é a solidão ruim.

Agora a solidão boa é quando você está sozinha, num lugar que você deseja estar. Em um lugar, seja um jardim, no quarto, em um bosque, numa praça, ou até sentada no chão de um banheiro vendo a água escorrer pelo seu corpo, pensando nas possibilidades que você vai ter na vida, e o que você vai fazer depois de se enrolar na toalha e sair correndo para o quarto, com a água pingando pelo caminho.
  
  Sim, eu tinha me esquecido de levar minha roupa para o banheiro.

Depois de me trocar, peguei um pano para enxugar as poças de água que fiz ao longo da caminhada do banheiro para meu quarto.

 Me agachei, esfregando o chão e limpando toda água, enquanto pensava.

 O que eu fiz pra tomar banho mesmo?

 Fiquei raciocinando, até que me lembrei.

 Ah é! Salvei um garoto que estava se afogan...Espera! Minha jaqueta! Eu tirei ela para pular dentro da água!

 Eu me levantei imediatamente, descendo as escadas indo para o espaço vago.

  deve estar cheia de gaivotas rasgando ela, que besteira! Lógico que não! Você sabe que gaivotas são quase iguais pombos, elas transmitem doenças Emma, Ah! Qual é?! Me deixa em paz!

 Cheguei ao espaço vago, onde olhei por todos os lados e não encontrava minha jaqueta.

 Então, meu pé bateu em uma coisa, e quando olhei pra baixo, adivinha? Minha jaqueta.

 Mas ela não estava só. Em cima dela havia um bilhete.

  — O garoto... — Cochichei para mim mesma.

 Desdobrei o papel, e comecei a ler em pensamento:

"Bom, você não me disse seu nome, mas, obrigado por ter me salvado. Dobrei sua jaqueta pra não ficar amarrotada.
Espero te encontrar novamente.
Logan, o garoto que não sabe nadar."

  — Então seu nome é Logan. — Disse em um tom baixo. — O garoto que não sabe nadar.


 Sentada no mesmo lugar que havia encontrado minha jaqueta, fiquei pensando no Logan.

 Eu mal o conhecia, não podia esperar vê-lo de novo, pois não sabia se ele voltaria a me ver.

 Também não sei se devia me enturmar com aquele grupo; acho que eles me achariam estranha, por causa do TOC, principalmente o Logan. Aí eu ficaria conhecida como "A louca do TOC", ou "A nojentinha". Pois é, sempre é essa impressão que se dá aqueles que têm TOC.

 Se pelo menos alguém me entendesse...

  O caminhão de mudanças já havia ido embora, e todos os móveis estavam no seu devido lugar.

 Minha mãe tinha preparado o jantar, pois já era 19:30, e meu pai, tirava um cochilo na sua poltrona vermelha que se destacava na sala.

 — Emma, pode acordar seu pai? — Minha mãe perguntou, concentrada em tirar o pernil com batatas do forno.

 — Tá bom. — Respondi, me levantando do sofá e cutucando meu pai com o dedo indicador.

 Ele se assustou um pouco quando o acordei, mas típico do meu pai se assustar com pequenas coisas. Normalmente a "corajosa da casa" é minha mãe, em termos específicos: matar baratas voadoras.

 Me lembro de uma vez que estava assistindo TV, e meu pai estava preparando um lanche na cozinha, até que apareceu uma barata.

 Ele começou a pular e se debater, e gritou para eu chamar a mamãe.

 Eu a chamei, e imediatamente só vi um chinelo voando e caindo direto na barata, que morreu no mesmo instante.

 A partir daquele dia minha mãe virou a "matadora de baratas da casa".

 Eu e o meu pai fomos até a mesa e sentamos nas cadeiras, enquanto minha mãe colocava os pratos, talheres e o pernil na mesa.

Ela se sentou, cortando um pedaço para cada um e colocando as batatas. Depois nos serviu um pouco de vinho.

 Na minha taça ela colocou apenas um dedo dessa bebida maravilhosa, e comecei a balbuciar para eles:

— Por que não me deixam tomar a quantia que vocês tomam?  Qual é! Já tenho 16 anos!

Meus pais se entreolharam, e disseram:

 — Quando você tiver dezessete, pode tomar a nossa quantia. — Eles voltaram a comer, e riram baixinho.

 Até que minha mãe perguntou:

— O que você fez hoje? Foi legal? — Ela não parava de me olhar, então disse a verdade:

 — Um garoto quase se afogou no lago, aí eu salvei ele. — Fiquei com as bochechas coradas assim que falei.

 — Hum, um garoto é? Qual o nome dele? Ele te chamou pra sair? — Meu pai começou a fazer perguntas sem parar, e os dois não paravam de me encarar.

— Ahn...n-não! Na verdade não aconteceu nada e... — Meu pai me interrompeu e falou:

 — Qual o nome dele? Emma, nós compreendemos que você está com os hormônios avançados, se quiser namo... — Dessa vez eu que o interrompi:

— Pai!!! Não foi nada demais! Eu só o salvei! Para se falar sobre hormônios! Eca... — Essa conversa sobre hormônios me lembrou germes e micróbios. Fiquei até sem fome, e me sobrepus:

 — Eu vou vestir meu pijama. Estou morrendo de sono... — Fingi um bocejo e me retirei da mesa, subindo as escadas depressa, antes que eles pudessem falar mais alguma coisa.

 Fechei a porta do meu quarto e me sentei na cama, olhando pela janela a noite estrelada. Realmente estava uma noite deslumbrante.

 Se eu tivesse um telescópio poderia observá-las a noite inteira.

 Mas eu não tinha um.

 Me levantei e comecei a me trocar, talvez se eu deitasse na minha cama e me enrolasse com o cobertor até a cabeça, eu poderia ficar com sono e acabar dormindo.

 Não deu certo minha idéia, então fiz o que eu poderia fazer de melhor: mexer no celular.

 Fiquei assistindo à alguns tutoriais na internet, alguns de como fazer artesanatos, culinária (uma coisa que sou péssima), jogos, etc.

 Até que cheguei num vídeo tão chato de como fazer pudim, que acabei dormindo.

 Mas antes que eu dormisse, pude olhar novamente o bilhete do garoto.

 Será que eu irei encontrá-lo de novo?

   Capítulo 2 concluído ✔

   Capítulo 3 ⬇

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