Logan

 O cheiro de massa invadiu minhas narinas, me deixando com fome.

 Meu celular que estava ao lado do meu travesseiro começou a vibrar, e quando fui ver era Nathan.

 — Ah, e aí cara? — Bocejando, balbuciei a frase que dizia todos os dias.

 — E aí, Logan? Eu e Christian tivemos uma idéia pra hoje! — No fundo conseguia ouvir Christian pedindo dicas de moda:

 — Ei, Nath! Essa boina combinou com a cor da minha camisa? Charlie disse que ama esse look! — Nathan arrumou o celular na mão, e por fim falou:

 — Tenho que ir cara, te conto essa idéia no colégio, pode ser?

Enquanto vestia a camiseta, exclamei:

 — Claro! Nos vemos lá!

  Assim que coloquei o tênis, peguei minha mochila e fui para a cozinha.

 Quando me sentei a mesa, minha mãe colocou três waffles no meu prato, seguido do melaço e suco de laranja. Comecei a comer, mas minha mãe me olhou com um ar de reprovação, confidenciando:

— Não está se esquecendo de algo? — semi cerrou os olhos e olhou para mim.

Me levantei, dando um beijo em sua bochecha e um bom dia.

Ela assentiu com a cabeça, e colocou dois waffles em seu prato.

 — Onde está o papai? — Perguntei.

— Foi no jornaleiro buscar o jornal do dia, e comprar leite. — Ela deu uma leve risada e continuou — Eu ia pedir para ele comprar alguns biscoitos para cães, pois acabou no meu vidro reserva da clínica. Mas aí seria covardia demais. — Sim, minha mãe era veterinária, e se casou com um homem de narinas sensíveis.

 Eu ri também, e quando terminei de comer, me levantei da mesa, despedindo-me da minha mãe.

 — Tenha um bom dia, querido! — Exclamou.

— Você também, mãe!
  
 No caminho inteiro fiquei pensando em Emma.

 Eu ainda não contei aos meus pais que vou levar uma garota nova pra casa. Bom, já levei minhas amigas sim, a Jasmine e a Eliza, mas a Emma é diferente...

 Como vou recebê-la? Eu dou algo de comer pra ela? Vamos no sótão ou no meu quarto?! Aí que complicado...

 Chegando ao colégio, lá estavam os gêmeos e as garotas.

 E a Chloe! Que droga!

 Despistei ela por pouco, e saí como um foguete para a sala de aula.

    Emma

— Candy!! Seu café da manhã! — Me agachei e coloquei um pouco de ração para ela, que veio como um furacão.

 Enquanto ela comia, fui comer também alguns biscoitos na sala, assistindo a um reality show horrível pra falar a verdade.

 Estava tão entediada...que cheguei a esse ponto.

Suspirei fundo, e fui escorregando do sofá até o chão de carvalho. E ali fiquei, trocando de canal pra ver se algum programa prestava.

 Por fim, deixei em uma série da HBO.

 A porta se abriu, e meus pais entraram, cheio de compras embaixo dos braços.

— Oi filha!! Trouxemos seus chocolates favoritos sabor cereja. — Disse minha mãe.

Me levantei com um sorriso estampado no rosto, fui até a cozinha, peguei os chocolates e voltei pra sala.

— Nossa! Que desanimação é essa? — Meu pai olhou para mim, com um meio sorriso no rosto.

 — Nada pra fazer. — Respondi, jogando o controle no sofá.

 — Por que não dá uma volta por aí? Melhor do que ficar no tédio. — Meu pai foi até mim e roubou um dos meus chocolates.

— Ei! — Exclamei, rindo da cara dele. Meu pai sempre conseguia me deixar contente.

 Me levantei do chão, e tirei uma nota de dinheiro do bolso dele.

 Ele se virou para mim e gritou:

— Ei! — Ele riu também, e deu as costas para mim. Mas antes dele ir, respondi:

 — Ahn...Ei pai! — Ele se virou e me encarou com um sorriso. Um sorriso igual o meu. Uma das qualidades que recebi do meu pai. — Vou acatar seu conselho e dar uma volta por aí. — Dei um sorriso vergonhoso, mostrando todos os meus dentes.

 Ele riu, e em seguida concordou:

— Tudo bem filha, não vá muito longe para lugares que você não conheça muito bem, okay?  — Meu pai olhou para a mesa da cozinha e depois sugeriu — Compre alguma coisa com o dinheiro que você roubou do meu bolso.

 Concordei com a cabeça e acrescentei:

  — Acho uma ótima idéia!

 Ele acenou para mim, e subiu as escadas, rindo e revirando os olhos. Fiz o mesmo, mais risadas do que meu dia poderia ter.

 E eu então, abri a porta e saí.

  Havia lojas ali perto, com vitrines cheia de brinquedos, porcelanas, etc. A maioria era de artesanatos, e tinham coisas muito fofinhas.

Se quiséssemos alguma coisa mais moderna ou algo do tipo, tínhamos que ir mais para o centro.

 Então, avistei uma coisa que me chamou atenção.

Cheguei mais perto, e vi um mini caderno de anotações, ele tinha um girassol de verdade na capa e bordados amarelos na ponta. Atrás do girassol havia listras neon, que brilhavam no escuro.

 Sabe, toda garota que olhasse para essa agenda ia a querer, mas quando olhei para ela, não pensei em mim. Pensei no Logan.

A agenda não era "feminina", mas me lembrava muito ele. Não pude resistir e fui até a loja.

 Quando a porta de vidro se abriu (Eu a abri com as costas, não ia me atrever a encostar a mão naquele vidro), fez um som de sininho, e um homem de suspensórios roxos veio  me atender:

 — Olá senhorita! O que deseja?

— Hum...Eu vou querer aquela agenda de girassol.

 Ele me encaminhou até a vitrine e apontando para a mesma, me disse:

— Essa aqui? Boa escolha! — Ele retirou a agenda da vitrine, e foi andando até o balcão onde estava o caixa.

— Ei, moço, posso fazer uma pergunta? — Perguntei.

 — Fique a vontade! — Exclamou.

 — Se o girassol é de verdade, como sobreviveu até agora? — Essa era uma grande dúvida que eu estava.

 — Está vendo a vitrine? Essa agenda sempre ficou lá, com raios de luz indo até ela todos os dias, isso mantém o girassol vivo. Muitas pessoas passam por aqui todos os dias, mas ninguém nunca notou ela, até agora. — Ele sorriu para mim, e me entregou a agenda.

 Dei a nota a ele, e antes de sair da loja, fiz uma última pergunta:

— Como você sabe que pode confiar em mim? Tipo, eu posso deixar ela em qualquer lugar e jamais cuidar dessa agenda. — Fiz uma expressão de dúvida, e seus olhos brilharam com a minha pergunta:

— A questão não é confiar, e sim saber. — Fiquei pensativa com aquilo, logo em seguida acenei para ele e fui embora.

    Logan

No final da tarde, quando a aula terminou, eu e a galera fomos tomar sorvete na sorveteria. Na verdade essa era a idéia que Nath e Chris queriam me falar.

 Mas, eu estava esperando Emma, eu sabia que ela viria.

 — Anda Logan! Vamos cara! — Insistia Nathan.

— Podem ir indo, estou esperando ela. — Olhava de um lado para o outro, em todos os cantos, mas nada.

 — Okay, nos encontre lá então, vamos reservar um lugar pra vocês.

Eu assenti com a cabeça, e eles foram.

Fiquei mais cinco minutos a esperando, e já estava perdendo as esperanças, quando de repente:

— Ei! Logan!! — Era a doce voz da Emma. Eu reconheceria essa voz a quilômetros de distância.

 Ela estava linda. Usava uma calça jeans clara, sapatilhas pretas e uma camiseta com estampa de gatinhos, toda cinza.

Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo que se esvoaçava ao vento conforme ela corria. Seu cheiro de lavanda era tão suave que tive a impressão de fechar os olhos por um minuto apenas para senti-la.

E os detalhes do rosto, ah! Aqueles olhos...tão encantadores, tão profundos, combinando com as maçãs do rosto que estavam coradas.

 Ela chegou a mim, e recuperando o fôlego, foi dizendo:

— M-me desculpe pelo atraso... — Sorrindo para mim, retribui o sorriso, e percebi que ela ficou ainda mais corada depois que eu sorri.

— Tudo bem, a galera está nos esperando na sorveteria, vamos?

 — Claro! Por que não? Amo sorvete!— Ela era demais.

Enquanto andávamos, perguntei:

  — Qual é o seu sabor favorito?

 Ela ficou pensando, e respondeu:

 — Bom, eu amo cereja, minha fruta favorita aliás, e acho que ela combina muito com mirtilo.

 Eu olhei para ela durante um segundo. Ela estranhou e interveio:

— O que foi?

 — Mirtilo, além de ser minha fruta favorita  também é meu sabor de sorvete predileto! — Eu falei a mais pura verdade naquele momento, era sim, minha favorita.

 Sua boca fez um formato de "O", e ela sorriu:

— Parece que temos bastante coisas em comum.

   Emma

 Na entrada da sorveteria estavam os amigos do Logan, que talvez, se tornariam meus amigos também.

 Havia mesas e cadeiras fora e dentro do local, onde a pintura se formava em listras rosa e ciano. Parecia uma casa de bonecas, só que moderna.

 Logan e eu caminhamos até o grupo, que conversava sobre tipos de cães...Que aleatórios! Gostei deles!

 Quando perceberam nossa presença, a primeira que começou a intervir foi Eliza:

 — O que vocês estão esperando? Sentem logo aqui! — Ela se levantou da cadeira almofadada e nos puxou.

 Eu me sentei do lado dela, enquanto Logan se sentou do lado da...qual o nome dela mesmo? Jas...Ah! Jasmine, isso.

 — E então, Emma, pronta pra se tornar uma B.L.I.? — Um dos gêmeos anunciou com um sorriso mostrando todos os dentes.

 Eu sorri também, e assenti  positivamente com a cabeça.

 Ele apontou para seu irmão, que pegou um potinho com um líquido dentro.

 Levantei as sobrancelhas, e me adverti antes de fazer qualquer besteira:

— O que é isso aí, hein? Por acaso eu não vou ter que urinar nesse potinho né? — Apontei para o mesmo, enquanto eles riam.

Jasmine abanou as mãos no ar, me garantindo:

 — Claro que não! Isso seria estranho. Você apenas tem que tomar o seu sorvete predileto e cuspir a saliva com o sabor que você escolher.

 Ok. Esse foi o pacto de amizade mais estranho que eu já vi.

Bom, mas tudo isso já está sendo estranho, então...

 — Ahn...Okay, eu faço isso. — Respondi.

A atendente veio até nós e perguntou qual sabor íamos querer.

Eliza pediu de "Arco- Íris" (Na verdade, era de frutas misturadas, que davam a impressão de arco- íris.)  Eu perguntei à ela do porquê ela chamava esse sabor assim, e ela me disse isso.

 Os gêmeos pediram napolitano (faz sentido), enquanto Jasmine pediu de abacaxi com vinho.

 Logan, pediu de mirtilo, me dando uma piscadinha, enquanto eu sorria sarcástica para ele.

 Como eu havia dito à ele, pedi de cereja.

  — Eba! Olha só! Uma mistura de sorvetes com vários sabores! — Eliza estava realmente contente por eu estar fazendo parte dos B.L.I.

Quando os pedidos chegaram, dei uma longa lambida, e rapidamente cuspi no potinho.

 Não sei se era pra mim ter acumulado mais saliva, mas eu não iria fazer isso! Todas as bactérias poderiam estar na saliva da minha bochecha! Ou era no céu da boca?

 Quando ia pegar meu celular para pesquisar esse detalhe, Eliza levantou os meus braços e exclamou:

 — Emma! Eu te declaro uma B.L.I!

 Todos aplaudiram com satisfação imitando damas e cavalheiros em um evento chique. Depois riram, e cada um me deram um "toca aqui".

 Eu sorri com isso, com as novas amizades que eu tinha feito, e que ao longo do tempo iriam se manifestar na minha vida.

  Ficamos um bom tempo conversando na sorveteria, e ao decorrer de tudo isso, consegui decorar o nome de todos, aliás não era tão difícil assim. Bom, só dos gêmeos.

 Os garotos disseram que iam na casa do Logan jogar sei lá o que, e Jasmine ia fazer revisões da aula de história porque estava tirando um 8, (uma nota baixa pra ela, por sinal), então só restou eu e Eliza.

Descobri dois fatos sobre ela:

 Primeiro: Ela era super divertida e engraçada, o que a deixava louca.

 Segundo: Ela gostava de um cara dois anos mais velho que ela, e seu nome é Noah.

 — Então Eliza, você tem algum animal de estimação? — Perguntei, mas ela estava ocupada com os olhos fixados em outra coisa.

Estalei meus dedos na sua frente, até ela acordar do transe e olhar para mim.

 — Eu...ahn, oi? — Ela cuspiu as palavras de qualquer jeito, até eu encontrar a "coisa" que ela estava observando.

Em algumas cadeiras no fundo da sorveteria, tinha um cara na qual, pelo jeito que ela descreveu, seria Noah.

 Ele estava de costas para nós, e uma garota o encarava de frente, rindo feito uma boba.

— Eliza, aquele é o Noah? — Perguntei, mesmo sabendo da resposta.

 — Aham...É um sonho não é? Ele tem uma banda de garagem e... — Ela não terminou a frase, que flutuava no ar, feito um balão, que murchava de pouco em pouco.

Sua expressão começou a mudar de apaixonada para magoada, e ela continuou a explicar:

— Mas ele está comprometido a Daisy. — Suas mãos foram para o rosto e afundaram nas bochechas, com os cotovelos apoiados na mesa.

 Poxa, me senti mal naquela hora, vendo Eliza cabisbaixa daquele jeito, por causa daquela garota idiota roubando o amor dela.

 Não podia ficar parada vendo isso.

— Ele não ama você? Por que continua com ela então?

— O pai da Daisy e o dele se conhecem, são de uma família nobre tudo e tals...então os pais de ambos são a favor dos dois ficarem juntos para dar um bom futuro. — Eliza bufou e continuou encarando o casal.

 Romeu e Julieta, pensei.

— Vem. — Puxei Eliza e direcionei ela até a bancada de pedidos.

 — Emma...mas o quê? Eu...

 Quando passamos perto da mesa dos dois, eu assegurei, um pouco alto demais:

 — Eu vou querer uma casquinha de morango, e você Eliza?!

 Ela me observou por um momento, até se dar conta:

 — Oh! Eu vou querer um milk- shake de café!
  
Esboçamos um sorriso e fomos até a bancada.

— Segue meu plano. — Cochichei a ela.

 Assim que pedimos, caminhamos lentamente, e chegando perto da mesa do "casalzinho comprometido" fingi um tropeço e derrubei minha casquinha em Daisy.

 — Ei! Comprei essa saia hoje, garota!! — Ela berrou, se levantando imediatamente me encarando  com um olhar ameaçador.

— Oh! Me desculpe! Vem, deixa eu te ajudar. — E por incrível que pareça, ela aceitou minha ajuda, e fomos ao banheiro.

Antes de ir, cochichei no ouvido de Eliza "Aproveita", e quando estávamos de costas, ela desenhou um coração com a mão direcionado a mim.

 No banheiro, a mesquinha da Daisy não disse uma palavra sequer. Apenas se limpou com vários pedaços de papel, retocou a maquiagem e saiu do banheiro, me atropelando com um belo empurrão.

 Revirei os olhos assim que ela saiu, e antes que eu faça o mesmo, passei álcool em gel em minhas mãos.

 Andei alguns passos até a porta, mas aí:

 Banheiros são os lugares mais sujos da Terra! Passa mais uma vez,  eu não vou passar mais uma vez a droga do álcool em gel! Ah, você vai sim! Não vou! Vai sim! Não vou! Vai sim!!!

É sempre assim, sério! Eu não aguento mais esses pensamentos intrometidos!

 Dei meia volta e passei uma dose extra de álcool em gel em minhas mãos e braços.

 Antes que essas pragas me controlassem de novo, peguei um pedaço de papel e girei a maçaneta da porta com ele.

 Eliza estava de pé conversando com Noah, que entregou um post-it discretamente para ela, enquanto ambos acenavam um "tchau."

Fui até ela, que imediatamente começou a pular de alegria:

 — Isso que você faz foi incrível Emma!!!

 Olhei para ela com carinho e dei um sorriso de afeto, e continuamos a conversar do lado de fora da sorveteria.

 Eliza explicou que tinha que ir para casa urgente, pois havia se esquecido completamente de alimentar seu porquinho da Índia, o Jujuba.

 — Seu porquinho da Índia se chama Jujuba?! — Gritei, pois ela estava correndo.

 — Sorvete de creme com caramelo e Jujuba rosa! Mas pode chamá-lo de Jujuba! — Ela sorriu e foi embora.

 Eu ri sozinha, enquanto pensava no nome do seu porquinho...sério? Que nome estranho, mas fofo!

 De repente, me dei conta de que o Logan tinha me convidado para sua casa essa noite.

 Peguei meu celular que estava no bolso da minha calça, e olhei as horas: 17:38. Bom, acho que irá dar tempo de jantar com os meus pais e depois ir até sua casa, ele tinha me mandado uma mensagem explicando o endereço, e por mais que eu não conhecesse muito as ruas daqui, acho que podia me virar sozinha.

  Assim que terminei de jantar, avisei meus pais que iria visitar um amigo. Claro, meu pai ficou com ciúmes, perguntando o nome dele, o que eu iria fazer essa hora da noite, que horas eu iria voltar, pois é, coisas de pai. Já a minha mãe disse para eu me divertir e me arrumar bem fofa, passando um perfume leve de rosas.

 Entre os comentários do meu pai e da minha mãe, acatei o dela.

 Tomei um banho bem quente, pois a noite esfriava, e então me enrolei na toalha.

 Me enxuguei e vesti uma calça jeans clara, com um bordado de um lírio no bolso. Peguei uma blusinha verde marinho, com estampas floridas, nela estava meu cheiro de lavanda, na qual eu me sentia muito confortável.

 Assim que me vesti, lembrei de um colar que minha mãe havia me dado de presente no ano passado. Quando você o admirava, parecia uma lua minguante, mas se você virá-lo do lado oposto, se torna uma lua crescente. Depende da maneira como cada um o vê.

Desci as escadas, me despedindo dos meus pais e prometendo a eles que iria voltar às 22:00

 Na rua só se percebia a luz do meu celular, pairando junto com a lua. Nossa! Estava uma noite magnífica!

 Assim que me deparei com a casa do Logan, apenas caminhei em direção a porta e toquei campainha.

 Do lado de fora habitava ali um pequeno jardim, com margaridas, que  combinavam com a cor da casa, creme. Logo meus pensamentos foram interrompidos pelo (assim eu acho), pai do Logan.

 — Boa noite, Emma-a-a...Atchim!!! — Ele deu um espirro tão alto que acabei arregalando os olhos.

Ele fungou o nariz e voltou seu olhar a mim.

 — Me desculpe, sou alérgico a pelos, pó, e tudo que cause irritações nas narinas. Meu filho ja deve ter te avisado sobre isso. —  Ele esboçou um sorriso e abriu espaço para eu passar.

 — É, ele me falou sim.

A casa estava brilhando, todos os móveis reluzentes feito bolas de cristal, sem nenhuma partícula de pó ou sujeira.

 Ela era quente e aconchegante, aquele tipo de casa calorosa que te fazia se sentir em seu lar instantaneamente.
  
Logan desceu as escadas correndo, quase tropeçando no último degrau, e me olhou de cima abaixo, fixando seu olhar no meu colar.

— Oi, garoto que não sabe nadar. — Sorri para ele, e ele me devolveu esse sorriso, fazendo meu coração derreter na mesma hora.

— Olá, novata do TOC. — Pois é, touché. — Vamos subir?

 Acenei um tchau para seu pai, um homem alto e magro, usando uma camisa social surrada depois de um longo dia de trabalho, com cabelos castanhos lisos. Mas os olhos eram azuis, então Logan só poderia ter tido os olhos de sua mãe. Olhos cor de mel.

 Enquanto subimos a escada para seu quarto, perguntei:

 — Onde está sua mãe?

 — Ah! Ela queria muito te receber, mas estava cansada demais então acabou indo dormir. Ela é veterinária  — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou — Sim, eu sei, é irônico porque meu pai tem narinas sensíveis, mas enfim. Somos uma família fora do normal.

Rimos baixo para não acordar sua mãe, e ele abriu a porta do seu quarto.

As paredes eram de um tom cinza claro, com listras brancas na horizontal, e estrelas de papel por todo o teto do quarto, enfeitados com planetas pendurados por fios em toda parte, como Júpiter, Saturno, Urano, e até mesmo o Sol.

 — Uau, Logan! Isso é incrível!

— Pois é, acho que isso tudo já deixa uma dica da minha futura profissão. — Enquanto falava comigo, ele mexia no telescópio que estava encostado na parede.

 — Então, posso ver? — Perguntei.

 — Claro! Vem cá.

Ele estendeu um banquinho para eu me sentar, e assim que fiz isso, ele envolveu seus braços em volta da minha cintura, me fazendo dar arrepios.

Sabe, quando as pessoas ficam muito próximas de mim eu me sinto desconfortável, por causa do TOC, é a mesma coisa quando algo ou algum lugar está uma total bagunça e desordem, eu fico obcecada em arrumar aquilo. Poxa, queria tanto perder essa mania...

 Mas quando ele se aproximou de mim, percebi que estava usando uma máscara, para sua respiração não vir no meu rosto. Sinceramente, me senti muito lisonjeada, e esbocei um enorme sorriso. Ele me entendia, era como se ele me compreendesse.

 — Ali, está vendo? — Ele disse, apontando diretamente para algumas constelações. — Aquela é a ursa maior.

 — Nossa, ela é linda. — Me mexi um pouco no banquinho, e encostei minha cabeça em seu ombro.

Olhei para ele durante um minuto, e enquanto Logan observava as estrelas no telescópio, brotava um sorriso em seus lábios, um sorriso doce e encantador, que me fazia sorrir também, de um jeito carismático.

— Obrigada por ter me convidado.

— Não foi nada, você pode vir aqui quando quiser, além do mais, agora você é uma B.L.I! — Ele se afastou da janela e foi até sua cômoda.

 Retirou lá de dentro da primeira gaveta um colar, que em sua ponta tinha um girassol, com pétalas douradas e o centro de bronze.

Ele veio até mim, afastou meus cabelos do pescoço, e encaixou o colar no mesmo. Logo em seguida levantou meus cabelos jogando-os no mesmo lugar, da forma mais delicada possível.

— Você nos encontra amanhã no mesmo lugar em frente o colégio? —Perguntou, voltando para a mesma posição de antes e me encarando alegremente.

 Assenti com a cabeça e voltei a encostá-la no mesmo lugar de antes.

A única coisa que eu queria agora,  era observar as constelações com um garoto de máscara, um garoto que me entendia e respeitava as minhas manias esquisitas, com um garoto que não sabia nadar.

No silêncio da noite, com Logan.

   Capítulo 5 concluído ✔

   Capítulo 6 ⬇️