Capítulo 46 - Fim

Sua consciência ia voltando aos poucos, antes de abrir os olhos Helena sentiu estar deitada em algo úmido e ouviu um som crepitante perto de sua cabeça quando se mexeu, isso a assustou a fazendo abrir os olhas, estava deitada no meio da floresta, em pânico tentou levantar, mas percebeu que tinha os pés e as mãos amarradas com cordas em pregos fincados na terra.

Antes que seu cérebro pudesse processar todo o terror da situação, ouviu passos acima de sua cabeça, olhou para cima, viu um vulto preto se aproximar e abaixar ao seu lado.

Agora já com um sorriso totalmente diferente do que Helena conhecia, David estava muito mais sombrio, seu sorriso parecia um anuncio do seu fim.

"Acordou querida, pensei que demoraria mais, quase tive que começar sem você, seria uma pena você perder todo o show."

Helena o encarava com raiva, por um momento esqueceu o medo, esqueceu a dor, e deixou-se consumir pela raiva.

"Não é você, você não é o David! O que fez com ele?!"

Ela cuspiu as palavras em gritos. Ele riu desdenhoso.

"Sobre isso, eu contei a verdade. Eu sequestrei e o deixei preso, na verdade meu erro naquele dia foi o subestimar, aquele garoto tinha fibra e queria mesmo viver, ele me confrontou e nós dois morremos naquela noite."

"E agora você foi atrás do espírito dele e fez com que ele fosse banido em seu lugar."

"Não."

Ele passou as costas da mão no rosto de Helena, que virou tentando se afastar.

"Não foi isso, na verdade, David nunca esteve aqui, ele nunca voltou."

O baque da informação caiu como uma pedra em seu estômago.

"Não... eu... não pode ser... eu os vi... vi os dois juntos."

Ele fez uma expressão confusa, depois seu rosto se iluminou como se tivesse tido uma ideia.

"Ah sim, aquele dia na estufa, pense bem Helena, lembre daquele dia, você realmente viu nós dois juntos?"

Helena vasculhou sua mente lembrando, se lembrou que quando viu o espírito do assassino, foi assim que David falhou e sumiu, e depois que caiu no poço, quem apareceu foi somente David.

Depois tentou se lembrar de todos os outros momentos e percebeu em choque, que ele realmente dizia a verdade, ela nunca havia visto os dois lado a lado, nem se quer no mesmo ambiente.

"Não."

Sua voz não passou de um sussurro fraco.

"Sim, essa sempre foi a verdade minha queria Lena, você nunca conheceu David, ele nunca esteve aqui, sempre fui eu."

"Mas como?"

Helena não conseguia entender, sua mente girava tentando encontrar uma solução. Ele levantou abrindo os braços, sua imagem tremulou mudando de David para a do assassino que Helena viu, depois para de um outro homem, depois para um outro rapaz e ele fazia isso enquanto falava.

"Alguns truques e vantagens em ser um espírito, eu tentei isso de muitas formas acredite, mas essa foi a primeira vez que consegui acertar, a aparência de David era realmente a ideal."

Por último retornou à aparência de David.

"Bem agora como pode ver, não sou mais um espírito, mas algumas habilidades muito úteis, eu consegui manter."

Ele parecia orgulhoso de si mesmo e voltou a se abaixar para perto de Helena.

"Não entendo, tudo era mentira? A ligação, tudo o que me disse sobre eu ter o coração que você precisava?"

Ele pareceu ponderar.

"Não tudo, mas sinto muito, aquela parte de ser o coração escolhido, isso sim era mentira, na verdade minha querida Helena, eu já venho tentando há muito tempo realizar esse ritual, desde que meu corpo se decompôs em pó, eu vago por esse mundo fugindo da danação eterna, passei anos e anos nas sombras, ouvindo os sussurros dos mortos, conhecendo as magias sombrias e assim descobri esse ritual, onde eu poderia retornar ao plano dos vivos em carne e osso."

Fez uma pausa.

"Acontece que a pessoa tinha de dar a sua vida de bom grado, teria que querer me trazer de volta e tinha de ser alguém com uma boa força vital. Tentei diversas vezes completar o ritual, mas ou eu consumia a energia rápido demais e drenava a pessoa cedo demais, ou aqueles malditos guardas apareciam para frustrar meus planos."

"Os guardas, mas eles... tentaram me matar..."

"Eles tentaram te salvar, bem de forma meio bruta claro, mas eles estavam cortando a ligação entre nós, por isso você sentiu aquela dor, sentiu que seu coração seria arrancado, estou certo?"

Ela não respondeu.

"O que sentiu foi eles quebrando a nossa ligação, foi doloroso por causa do tempo que ficamos ligados, mas eu não podia deixar, não dessa vez quando finalmente já estava tão próximo. Tenho que agradecer muito a você, se não completasse o ritual para bani-los, eu nunca teria conseguido."

"Aquele ritual era para banir os guardas e não... você?"

"Exatamente, você e seu amiguinho foram realmente úteis."

Quando ele mencionou Dan, Helena arregalou os olhos lembrando de ter tentado ligar para o amigo naquela noite e ele não ter atendido, será...

"Dan, por favor, não machuque ele, por favor."

"Shiiii."

Ele chiou acariciando sua face.

"Não se preocupe, em breve se juntará a ele."

Ele se levantou novamente, caminhando em volta ele indicava ao redor com as mãos.

"Alias, chegamos finalmente no motivo de tudo isso. Não lhe contei toda a verdade sobre o ritual, não bastava você dar a sua vida de bom grado, para concluir a minha volta a esse mundo, também preciso consumir seu coração."

Não tinha mais o que dizer, não queria mais perguntar nada, Dan se foi, talvez aquele fosse seu último consolo, saber que o encontraria seja pra onde eles fossem, seu último consolo egoísta, pois preferia que ela tivesse sido a única a perder a vida com seu erro.

Chorou em silêncio, sentindo as lágrimas escorrem por seu ouvido, molhando seu cabelo, ela não lhe daria o prazer do seu choro desesperado, nem imploraria pela sua vida, naquele momento a sua única certeza era de que sua vida já havia encontrado seu fim.

Vou poder te ver de novo mãe, senti muita saudade.

Teve o amor de sua mãe envolvendo seus últimos pensamentos e fechou os olhos aceitando seu destino.

***

Observou sua vítima, tinha sentindo que ela chegou a seu fim, chegou aquele momento em que ela entendeu que só havia uma única saída, que havia um único desfecho para aquela história.

Sorriu se aproximando, agora tinha outras pequenas habilidades, além de mudar de forma, podia criar algo mais mortal do que jamais foi em sua antiga vida, seu sorriso se rasgava em sua face, seus dentes se projetavam afiados à frente, suas unhas cresciam como garras disformes.

Passou uma garra pelas lágrimas dela, um rosto tão incomum, nunca havia tido uma que nem aquela, deslizou a garra pelo pescoço, como uma carícia desceu até chegar em seu coração.

"Vai acabar logo, não se preocupe."

Disse com uma voz rouca e abafada e assim enfincou suas garras em seu peito, ele pode sentir o coração pulsando em sua mão, foi uma sensação única de prazer que nunca viveu antes, mas que agora, ansiaria pela próxima vez.

O grito de horror que escapou da garganta dela enquanto ele dilacerava sua carne, adentrou na floresta, por entre as árvores, até se dissipar totalmente e nada mais ser ouvido.

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